— Está tudo bem, querida — uma senhora de cabelos grisalhos conclui ao terminar de apalpar minha barriga para ter certeza de que não tem nenhum ser vivo/monstro dentro dela. — Deve ter sido uma cólica ou algo parecido.

Não. Não foi uma cólica. Eu vivo tendo cólicas e muitas outras dores, mas nenhuma delas pode ser comparada à dor que senti quando Draco começou a se aproximar de mim ontem à noite. Posso perceber pelo olhar da enfermeira que ela não sabe o que fazer, parece que estou com algum tipo de doença assintomática que faz eu ter que ficar longe daquele menino. Pensando bem... não é algo tão ruim.

— Pode se sentar e eu vou pegar seu remédio — obedeço e ponho minhas pernas para fora da cama. Esfrego os olhos e inclino a cabeça para trás. Essa dor de cabeça está me matando.

Madame Pomfrey — acho que esse é o nome dela. — sai andando e me deixa sozinha. Estou mexendo na minha unha quebrada quando uma das portas da ala hospitalar se abre e por ela passa um garoto alto e moreno.

— Ethan — digo, sorrindo, o que não acontece há um tempo.

— Que deu em você? — ele exagera na atuação de garoto bravo. — Eu, por algum acaso, mandei você passar mal?

— Bobo — rio enquanto ele atravessa a sala e vem até mim.

— Mas então? Está melhor?

— É — dou de ombros. — Estou no processo.

— Te trouxe uma coisa — ele diz, pondo a mão no bolso da sua calça. Deste ele tira uma caixinha roxa em forma de estrela e me entrega.

— Que é isso? — pergunto enquanto aceito a caixinha e a analiso.

— Abre. — obedeço.

— Ah, meu pai! — grito de susto quando um sapo marrom salta da caixa. — Ethan, o que é isso?

— É um sapo de chocolate — ri ele enquanto pega o sapo saltitante. — É muito gostoso. Quer?

— Mas você simplesmente come ele? Ethan, isso é um sapo! — tento disfarçar a cara de nojo, mas é bem impossível.

— É bom, eu juro. Todo mundo come isso por aqui — o olho, desconfiada. Ethan ergue o braço até mim com um pedacinho de chocolate na mão. Continuo o olhando da mesma maneira, mas abro a boca e nela ele coloca o pedaço de chocolate.

— Hmmm, nossa — saboreio lentamente; o chocolate é fantástico. — Fantástico. — ele ri da minha rendição contra o doce e põe a caixinha na cama. — Onde posso comprar mais desses?

— Dedos-mel, lá em Hogsmeade.

— Ah, uma coisa, eu vi uns alunos conversando sobre essa Hogs... Hogwma...

— Hogsmeade — interrompe-me ele, rindo do meu erro. Nossa, esses nomes são complicados. Castelobruxo é tão mais fácil.

— Isso, o que é isso?                                         

— É um vilarejo aqui próximo, só bruxos moram lá. Tem muitas lojas, cafés... lojas... cafés... é basicamente isso.

— Ah, entendi — fico olhando para os meus pés.

— Geralmente vamos lá em vésperas de feriados ou datas comemorativas. Os professores que decidem. Mas você precisa da autorização dos seus pais para ir. — aquele silêncio constrangedor de quando o assunto acaba vem à tona e continuo olhando os meus pés. — Vai ter uma saída até lá no próximo final de semana. Quer ir?

— Hm... Só nós dois?

— Ah, não, não. O resto do pessoal vai também — rimos de nervoso e o assunto acaba de novo. — Já escolheu o seu vestido?

De início, não me lembro do que ele está falando. Mas então vem à minha mente: eu vou ao baile com ele.

— Nossa! Verdade — ponho a mão na testa e Ethan ri. — Tem loja para comprar vestido nessa... nessa Hogma... Hogsmi...

— Hogsmeade — corrige-me ele, calmamente.

— Isso. Dá para comprar vestidos lá?

— Deve ter alguma coisa ou outra lá — ele dá de ombros. — Mas cá entre nós... — Ethan faz sinal para eu me aproximar, para ele poder sussurrar algum segredo por mais que só nós dois estejamos na sala. — Algumas meninas vão comprar de última hora e vai ter gente com o mesmo vestido; você não quer participar dessa guerra. — rio muito da seriedade dele.

— Então vou comprar em alguma loja normal. Ãhm... onde tem corujas aqui?

— Lá no corujal — Ethan aponta para uma torre alta do lado de fora da janela. — Quer que eu vá com você?

— Não... não precisa — sorrio, desconsertada, e volto a me deitar. — Vou esperar a moça da enfermaria...

— Madame Pomfrey — me corrige ele.

— Madame Pomfrey — concordo num riso. — Vou esperar ela vir com o meu remédio e depois vou mandar umas cartas lá para casa.

— O.k., então... Tchau.

— Tchau.

Percebo que Ethan sai rápido da ala. Pego meu caderno e uma caneta.

“Oi, mãe.

Quanto tempo. Desculpa não ter dado notícias mais cedo, mas as coisas aqui são tão fantásticas, que não vi o tempo passar. Novidades? Bem... Fui colocada na Grifinória e sou goleira da Casa. Sabia que vai ter um baile de outono? Então... é disso que eu queria falar; preciso de um vestido! Queria mesmo poder ir até em casa e ir comprar com você, mas não posso sair sem sua autorização por escrito, isso é outra coisa que queria pedir. Tudo está bem por enquanto, fiz novos amigos e também estou conseguindo me virar falando inglês nas aulas, estou indo bem! Catriona melhor ainda, ela nunca aparece sem uma roda com mais de cinco amigas, ela foi colocada na Lufa-Lufa.

Para o vestido do baile, pensei em algo vermelho, longo e que marcasse minha cintura. Não sei bem... mas confio no seu senso de moda, me mande fotos ou recortes de revistas, aí vamos combinando, o.k.?

Estou morrendo de saudades de você e do papai também, diga a ele que quero vê-los logo!

Beijos,

Rose.”