Caçadora Pelas Circunstâncias escrita por Cris de Leão


Capítulo 21
Cap.21 - A Filha Rejeitada




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ALASCA

No Alasca Hera reaparece numa floresta, ela abre os olhos e se depara com várias árvores cobertas de neve. Ela se levanta e olha ao redor para se localizar. Onde estou? — ela se pergunta. Olha para cima e consegue ver o céu, ainda estava dia, apesar das nuvens espessas.

De repente ela se arrepia, estava frio, muito frio e só então olha para si. Estava vestida com roupas leves, feitas para lugares quentes.

— Maldito Zeus – praguejou.

Então tenta conjurar uma roupa adequada, mas não consegue, se sentia muito fraca.

— O que você fez seu maldito – praguejou.

Ela abraça o corpo, tinha que sair dali, mas para onde? Resolveu ir para qualquer lado, tinha que se mexer ou ficaria congelada.

Ela anda até uma colina, sobe para ver se encontra alguma referência. Foi então que ouviu um urro. Ficou parada apurando os ouvidos. Outro urro. Resolveu seguir o som, andou cautelosa até encontrar a fonte do som. Era um alce que estava preso em uma armadilha. Hera ia dá meia-volta quando o animal urra de desespero, ela sentiu algo estranho dentro do peito, suspirou e resolveu ajudar o pobre animal.

Ela se aproxima e se põe a frente dele que a olhava com esperanças. Hera podia jurar que viu uma lágrima escorrer dos olhos do bicho.

— Eu vou te ajudar está bem? – ela o rodeia e nota que a pata esquerda traseira estava presa numa espécie de garra metálica. Ela se agacha e verifica a situação. – Isso vai doer um pouco – disse ela fazendo força para abrir o dispositivo.

O animal ao sentir sua pata livre a retira e se afasta mancando. Hera solta a armadilha que se fecha imediatamente.

— Prontinho – disse ela, notou o ventre inchado do animal. – Ora você é uma garota e vai ser mamãe – disse ela sorrindo. A essa altura já tinha esquecido o frio. O animal urra baixinho e se afasta. – Vê se olha por onde pisa viu?

O que Hera não sabia é que tinha alguém lhe observando. Esse alguém viu quando um raio atravessou o céu e caiu na floresta, correu para lá e então viu uma mulher de bela aparência de olhos e cabelos castanhos e pele clara usando uma roupa de verão. Esse alguém reconheceu a mulher como a rainha dos deuses – o que uma deusa olimpiana estará fazendo aqui?  - se perguntou. Resolveu ficar de olho nela.

Hera depois que ajudou o animal seguiu caminho. Precisava encontrar um abrigo e logo, pois ela via que estava ficando escuro. Chegou às margens de um lago congelado, ponderou se atravessava ou não, resolveu que não, então seguiu pela margem até que encontrou uma caverna. Entrou para se abrigar do vento frio, esfregou as mãos uma na outra produzindo calor suficiente para mexer os dedos, olhou ao redor e viu alguns gravetos espalhados. Parece que alguém esteve aqui — pensou. Pegou alguns gravetos e os colocou dentro de uma roda de pedras, depois pegou duas pedras batendo uma na outra para produzir faíscas, mas não tava dando resultado.

— Hestia como você faz falta – disse ela.

Fez mais uma tentativa até que um dos gravetos acendeu. Ela o assopra devagar até que o fogo aumenta e os outros queimam. Hera se alegrou, pois o ambiente ficou mais quente. Colocou as mãos perto da fogueira, mas sabia que não ia durar muito tempo, por isso queria aproveitar enquanto durasse.

Do lado de fora a pessoa observava a deusa, ela a seguiu até a caverna. Estava indecisa em se revelar, não tinha nada contra a rainha. Seu problema era com a irmã dela, Deméter, por isso estava num impasse. Não queria que os olimpianos soubessem que ela estava ali. Por isso se afastou de todos. No entanto, a rainha estava ali, não sentia os poderes dela. Isso era muito estranho, tinha que fazer alguma coisa, pois a fogueira não ia durar e logo ia anoitecer.

Tomou uma decisão.

No interior da caverna Hera estava pensativa quando de repente um vento frio entra na caverna apagando a fogueira, ela começa a tiritar de frio e quase chorando de frustração. Quando ouve uma voz.

Olá tia — disse uma voz feminina em sua cabeça.

Quem é? — ela responde do mesmo jeito, pois falar era impossível.

Venha para fora da caverna e verá — respondeu a voz.

Hera fez um esforço para ficar de pé e andou para fora da caverna. Ao sair uma jovem muito bonita de cabelos brancos e olhos verde mar e pele muito branca a olhava com um sorriso. Hera já tinha visto aquela jovem, ela parecia com Deméter, então caiu a ficha. Essa era Despina, filha de Deméter e Poseisdon e sua sobrinha. Despina era também conhecida como a deusa desprezada, pois nunca recebeu um carinho da mãe que a desprezava por ser fruto de um estupro e Poseidon nunca a reconheceu. Por isso, para se vingar ela arruinava as plantações e as flores de sua irmã Perséfone com um inverno rigoroso que impedia as plantas de crescerem e também congelava os lagos com uma grossa camada de gelo impedindo o oxigênio e a luz do sol de chegar às criaturas marinhas.

— Despina!

— Olá titia. O que faz em meus domínios?

— Onde estamos?

— Alasca.

— Maldito Zeus! – ela pragueja. – É por isso que estou me sentindo fraca. Ele sabe que o Alasca, nos enfraquece, por isso ele me enviou para cá. Assim, eu não poderia usar meus poderes para fugir.

— Fugir? Do que está falando?

— Ele fez isso porque eu agi sem a permissão dele durante a guerra.

— E parece que ele quer que se dê mal – disse a deusa do inverno olhando para as roupas da tia.

— Ele tem senso de humor – disse Hera irônica.

Despina mexe as mãos e as roupas de verão de Hera são substituídas por roupas adequadas ao ambiente invernal.

— Obrigada – disse ela sorrindo. Já estava achando que ia virar picolé. – Eu não sabia que o Alasca era o seu domínio.

— Andei pela terra a procura de um lugar para morar, mas em todo lugar que eu ia já tinha uma deidade do inverno. Quando cheguei aqui não existia ninguém, então resolvi ficar por aqui – disse ela. – Não sendo uma olimpiana esse lugar não me afeta.

— Sorte sua – disse Hera feliz por encontrar a sobrinha.

— Venha comigo, você precisa de um lugar pra ficar – disse Despina.

Hera a seguiu feliz da vida com o seu novo modelito.

Ambas chegam a uma cabana feita de toras. Despina entra e dá passagem para a tia que olha ao redor. A cabana era pequena com apenas quatro cômodos. Sala com uma lareira, cozinha com fogão a lenha e duas portas, sendo uma o quarto e o outro o banheiro.

— Fique à vontade – disse a deusa do inverno. – A cabana é minha.

— Você vive aqui há muito tempo? – Hera pergunta.

— Sim. Desde que eu nasci praticamente – disse a deusa. – Eu quis ficar longe de tudo e de todos, principalmente dos deuses.

— Dos deuses, você quer dizer dos seus pais? – perguntou.

Despina se vira pra ela, Hera viu um brilho de fúria nos olhos da sobrinha.

— Deles também – disse ela. – Espero tia, que a senhora não diga a ninguém que eu estou aqui.

— Não se preocupe ninguém saberá – disse Hera sorrindo. Achou melhor não falar mais nada, Despina era uma deusa vingativa, se quisesse sobreviver a sua “prisão” era melhor não provocá-la.

— Pode acender a lareira se quiser, eu vou preparar um chá – disse ela indo para a cozinha e Hera se dirigiu à lareira.

Quando acendeu o fogo Hera tirou as luvas e o casaco e ficou usufruindo o calor que emanava da lareira. Ficou pensando na sorte que teve em encontrar a sobrinha, se não fosse ela, ainda estaria naquela caverna com frio, e faminta.

— O chá está pronto! – gritou Despina da cozinha.

Hera se levanta e se senta à mesa, Despina coloca duas xícaras e um prato de biscoitos.

— Desculpe não ter muito a oferecer – disse a deusa do inverno. – Faz tempo que não recebo visitas.

— Você já recebeu visitas? – pergunta Hera curiosa.

— Somente um lenhador chamado John Boyle – disse ela.

— Um lenhador?

— Ele podia ver através da névoa, ele me viu várias vezes – disse ela. – Ele que fez essa cabana. Isso foi há dois séculos.

— Desde então não tem recebido visitas?

— Meu irmão Árion de vez em quando vem me visitar, mas ele não é humano – disse ela.

— Se está aqui há muito tempo, então deve ter visto os semideuses que vieram pra cá – afirmou Hera.

— Sim, eu os vi – disse ela. – Era uma legião romana. Tolos! Vieram pra morrer – disse ela.

— Eles estavam seguindo uma profecia que não era para eles – disse Hera.

— Eles se estabeleceram nas geleiras – disse Despina. – Construíram um forte e ficaram lá por um bom tempo até que houve uma revolta entre eles. Os que conseguiram sair do forte tentaram atravessar o mar gelado. Era a época do degelo e o bloco em que eles estavam se desprendeu e virou com todos eles. O peso das armas e das armaduras os levou para o fundo juntamente com a águia e todos eles morreram. Somente um soldado escapou, mas não viveu para contar a história, morreu de hipotermia. Os que ficaram no forte foram mortos por Alcioneu.

— Agora eu posso entender o que aconteceu – disse Hera. – Todos pensavam que a Quinta Coorte era amaldiçoada, por isso muitos não queriam fazer parte dela.

— Eu também vi os outros que vieram depois – disse Despina. – Um deles era grego e dois romanos, uma garota morena que montava Árion  e um garoto asiático metamorfo.

— A garota é filha de Plutão e o asiático é filho de Marte – disse Hera – e o grego é...

— Filho de Poseidon – completou Despina olhando para o chá que esfriou dentro da xícara. – Eu o vi produzir um furacão enquanto lutava com os soldados zumbis e depois ele caiu no mar gelado e ao voltar trouxe consigo a águia dourada. Ele ficou sentado esperando os outros voltarem.

— Percy Jackson é o nome dele – disse Hera. – Graças a ele o Acampamento Júpiter foi salvo.

— Aposto que ele é o orgulho do papai – disse ela com desprezo. – O que um grego estava fazendo junto com romanos?

— Eu fui a responsável por isso – disse Hera. – Era necessário que gregos e romanos se juntassem para combater um mal maior. Por isso, eu apaguei a memória de Percy e o mandei para o acampamento romano e o filho de Júpiter para o acampamento grego. Assim, os dois líderes poderiam ser a ponte para unir os dois acampamentos.

— Isso foi muito perigoso – comentou Despina.

— Eu sei, mas foi necessário – disse Hera. – E por causa disso, Zeus me puniu.

— Parece que meu tio não vê as coisas de um modo prático – disse Despina.

— Infelizmente – disse ela. – Eu não fui a única punida, Apolo e Percy também.

Despina levantou a sobrancelha.

— Ele transformou Apolo em mortal e o enviou para o acampamento e Percy ele o baniu de ambos os acampamentos.

— Por quê?

— Porque Zeus o considera perigoso, visto que Percy se tornou muito poderoso – disse Hera. – Ele matou uma deusa no Tártaro.

— Ele fez isso? – perguntou chocada.

— Sim, mas não por vontade própria. Nós achamos que ele tenha sido possuído, por isso fez o que fez – disse ela. – Percy disse não se lembrar de nada.

— E Zeus ficou com medo – comentou Despina.

— Pois é. Zeus nos proibiu de prestar qualquer ajuda a ele. Agora ele está à própria sorte.

— E Poseidon deve está desesperado porque o filhinho herói dele está em perigo – disse Despina séria.

Hera a olhou com olhar crítico. Despina era rancorosa, se ela tivesse a oportunidade de atingir Poseidon de um jeito que o deixasse muito mal era através de Percy. Assim que nasceu, Despina procurou pela mãe implorando carinho e amor por parte dela, mas a única coisa que recebeu foi desprezo e então se voltou para o pai que não a queria por perto. Por causa disso, ela passou a odiar os dois, fazendo tudo para prejudicá-los, descontando sua fúria nos domínios de seus pais, visto que ela possuía os atributos de ambos.

— Percy é muito importante para Poseidon – disse Hera cautelosa – e também para todos nós. Ele é um grande herói e uma pessoa excelente.

— Se você diz – disse ela dando de ombros. – Não tenho nada com isso – disse ela colocando mais chá na xícara. – À propósito, obrigada por ajudar o alce.

— Você viu?

— Sim, eu estava lá – disse tomando um gole. – Aquela mamãe alce ficou muito grata a você por tê-la ajudado.

— Você consegue entender os animais?

— Sim. O período de caça já acabou, mas muitas armadilhas como aquela foram deixadas para trás e muito animais tem caído nelas.

— Quando eu ouvi os urros do animal, fiquei com pena – disse Hera.

— Mesmo assim, obrigada.

As duas ainda ficaram conversando até que o sono chegou e ambas foram dormir.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo.



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