Mesmo acordada, Émaci manteve os olhos fechados apenas aproveitando o calor de baixo das cobertas, sua ultima memoria era de um homem mascarado a batendo na cabeça com uma pedra, pensando ser um sonho ela ignorou todo mau pressentimento que tinha e decidiu se levantar e foi quando ela percebeu que algo não estava certo.

Certamente, tudo não estava certo, ela não estava em seu quarto, olhando seu reflexo na penteadeira viu um curativo em sua testa que resolveu não tocar, se levantou da cama, um pouco tonta se apoiou na janela e olhou pelo vidro um pouco sujo, o céu estava nublado e a única coisa possível de se ver pela janela era arvores. Émaci um pouco melhor, saiu do quarto tropeçando um pouco em seus passos, depois de atravessar o quadro da porta ela se encontrava em um corredor com cara de abandonado, a moquette no chão estava tao suja que a cor não é reconhecível, o papel de parede se descolava ou estava rasgado, os moveis e lampadas estavam todos cheios de teia de aranha e poeira. Émaci já estava no meio do corredor quando escutou passos e dois homens conversando, assustada , ela correu de volta pro quarto batendo a porta acidentalmente e pulou na cama se cobrindo esperando que eles pensem que esteja dormindo. Escutando a porta batendo os dois homens correram para ver o que aconteceu, eles fizeram uma erupção no quarto o que fez Émaci pular.

— Ela continua dormindo...- Disse um deles que tinha a voz estranhamente grossa, como se não fosse humano.- Deve ter sido só o vento.
 

O outro concordou de maneira irritada.

— Provável,-Ele falou calmamente- Hoodie, vai na frente, eu só vou dar mais uma olhada.

Um deles saiu do quarto fechando a porta atrás dele, Émaci escutou o outro puxando a cadeira da penteadeira e supostamente sentado.

— Eu sei que ta acordada- ele disse um pouco seco comparado a antes- eu vi o traço da sua mão na janela.

Émaci se levantou imediatamente e pressionou seu corpo contra o muro segurando as cobertas como se fossem a única coisa que podia a salvar desse homem. Ele estava sentado de maneira relachada, cabelos castanhos curtos bagunçados, uma jaqueta laranja com um par de jeans desgastados e a coxa esquerda enfaixada, ele tinha cara de ter perto dos 20 anos e ainda usa aquela mascara branca com detalhes femininos. Ela abaixou os olhos pensando estar encarando e o silencio pesou na atmosfera do quarto.

— Então – Ela pulou quando o estranho quebrou o silencio repetidamente- eu não gosto de você e você provavelmente não gosta de mim, então que tal se nos dois fizermos um trato?- Émaci apenas o olhou nos olhos, e ele aceitou isso como um sim – eu respondo todas as tuas perguntas e você obedece sem reclamar, ok?

Émaci olhou para os lados, pensando e concordou com a cabeça voltando logo para encarar a mascara do estranho.

—bom, quais são tuas perguntas?

—...- Émaci respirou fundo, tentando acalmar seu pulso que parece querer explodir- quem é você?, o que vai fazer comigo? o que esta acontecendo aqui? onde é que estou?....

— WOW!- ele a cortou- mais devagar ai que não escutei nem metade do que disse!

De volta respirando fundo, Émaci o perguntou mais lentamente.

— Quem é você?

— Bem mais fácil assim!- ele se ajeitou na cadeira- meu nome é Tim, mas todo mundo aqui me chama de Masky.

Émaci pegou seu tempo, processando a resposta dele

— todo mundo?- Ela disse surpresa, pontos de interrogações em seus olhos. Existem outros como ele?” pensou.

— É, outros, acha que é porque que meu chefe me pediu pra te colocar nessa área abandonada?- ele disse como se fosse obvio.- os outros que moram nessa mansão são um tanto mais violentos que eu, ou seja, é melhor você não andar por ai se não quiser ter uma faca em algum lugar de teu corpo.

Émaci  estava um tanto chocada com essa resposta, ela apenas encarou o chão antes de o perguntar de novo.

— O que vai fazer comigo?

— Eu não vou fazer nada, a pergunta certa é o que meu chefe vai fazer com você, e de qualquer forma eu não sei.

Isso não ajudou muito a situação de Émaci.

— Onde estou?

— Simples! Nos estamos na mansão do meu chefe onde vive outras pessoas como eu disse antes.

O quarto ficou em silencio novamente. Émaci não conseguia pensar em outra coisa, ela apenas ficou encarando seus joelhos. Masky se levantou um pouco desajeitado, assustando Émaci.

— Então, cumpri minha parte o trato- ele se encostou no quadro da porta – então é a tua vez de cumprir a tua.

Ele apenas fez um movimento com a mão a dizendo para seguir ele e ela o fez sem questionar nada, apenas admirando o lugar em sua volta. Passando por uma serie de corredores, vendo apenas traços e sombras de outras pessoas em alguns quartos que passava pela frente. Masky acabou trancando ela em um quarto no subsolo daquele lugar imenso, o lugar era bem parecido com o quarto em que acordou, apenas não tinha janelas e chão, paredes e teto eram de pedra o que deixava o quarto mais frio do que normalmente é.

— Durante algum tempo você vai ficar aqui, ou seja apenas te faço pra não fazer muito barulho porque possa ter gente que te escute do lado de fora.– Ele apontou para o gaveteiro encostado na parede – tem um par de roupas ali, ponha elas e sente-se na cama esperando meu chefe vir te explicar direito o porque esta aqui.

Falando isso, ele saiu do quarto e com um barulho metálico trancou a porta.

Émaci olhou no gaveteiro, e apenas viu uma regata branca e um short azul claro. Fazendo careta, ela colocou as roupas, se é que pode chamar isso de roupa, e colocou seu pijama dobrado no gaveteiro. Ela se sentou na cama, tentando desviar os olhos de suas pernas e suas marcas vermelhas e roxas.

Já fazia perto de meia-hora que ela estava no quarto, ela escutava passos e algumas pessoas falando do lado de fora. Émaci fechou seus olhos, aproveitando o silencio do quarto e o ar gelado do lugar, uma musica tocou em sua cabeça e seus lábios repetiram;

Mayday! Mayday!
O navio esta lentamente afundando
Eles acham que sou louco mas não conhecem o sentimento
Eles estão a minha volta
Me rodando como abutres
Eles querem me quebrar e lavar as minhas cores.

O barulho da porta abrindo a arrancou de seu momento de conforto, esquecendo qual era a musica que cantava, ela olhou rapidamente para a figura que entrou pela porta. Seu coração pulava de seu peito, sua visão se embaçava e um leve barulho de estática zumbia em suas orelhas. Ela tentava se afastar se arrastando pelas cobertas da cama, caindo da cama e foi engatinhando com as mãos doloridas até a parede a frente da pessoa ainda na porta do quarto.

Ela apenas ficou encarando aquela figura alta, de terno, pálida e sem rosto. A mesma figura que a perseguiu em seus pesadelos. Émaci tentou não gritar quando a criatura se aproximou dela. Ela tem que sair dali e ela sabe disso, mas seu corpo apenas se recusa a mover.

— Émaci...