Black Annis: A Coisa que Nos Uniu escrita por Van Vet


Capítulo 1
O Corpo na Caverna


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores!
Olha eu aqui de novo com outra fanfic UA de Harry Potter :)

Essa fanfic é baseada em IT- A Coisa, livro de Stephen King. Vamos seguir o mesmo esqueleto, mas vou deixar minha imaginação ir para outras ideias e adaptações.

Espero que curtam, acompanhem e me tragam feedback.

Boa leitura à todos! :*



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Rony esperou para ver se a área estava “limpa”. Era imprescindível que Percy estivesse dentro do banheiro ou na sala, bancando o intelectual assistindo ao noticiário noturno na companhia do pai. O adolescente ruivo avançou em passos cautelosos pela lateral do jardim da casa espiando pela janela, vasculhando por algum sinal da cabeça de cotonete do irmão, enquanto Harry o esperava no fim da esquina. Somente quando ele viu o dono da bicicleta, que estava prestes a pegar emprestado sem sua permissão – ele nunca deixava mesmo - contornar o sofá e sentar-se diante do televisor, foi que subiu em cima do silencioso veículo de duas rodas, saindo a pedaladas frenéticas rua adentro.

Harry ajeitou os óculos de grau no nariz e forçou um pouco à vista para ter certeza se era Rony, seu velho amigo do jardim de infância, que vinha em alta velocidade no fim da rua. A bicicleta do garoto alcançou a dele numa questão de segundos, tornando óbvio o motivo pelo qual Rony precisava de tanta estratégia para pegá-la do irmão. Pivetes da idade deles não tinham acesso a uma beleza daquela.

Demorou dessa vez… ─ bufou Harry, impaciente.

E a culpa lá é minha? ─ resmungou o outro ─ Aquele cabeçudo não dava brecha hoje ─ justificou-se para, a seguir, acompanhar o amigo, voltando ao plano original de atravessar cinco quadras até o quarteirão das garotas.

Na noite quente de verão, uma brisa oportuna bagunçava os cabelos dos dois ciclistas, ambos precisando de um aparo em suas madeixas juvenis. Os fios de Harry cresciam de forma desordeira, acumulando um redemoinho revolto no alto da cabeça; já o de Rony cobriam-lhe os olhos e abafavam suas orelhas.

Eles eram bons em pedaladas, amavam estar em cima da bicicleta e explorar a pequena cidade agrícola que pertenciam desde bebês. Quando o sol caía, o exercício se transformava em aventura. Eles preferiam as trilhas noturnas, embora fossem alertados à não saírem do bairro. Twinbrook possuía a fama de ser um lugar seguro, calmo e tranquilo, e isso às portas dos anos dois mil. Contudo, estranhamente, algo vinha mudando naquela cidadezinha pitoresca por possuir dos rios gêmeos cortando-a ao meio.

Algo que nunca aconteceu em Twinbrook e que transformaria a paz dos habitantes tacanhos dali, em pânico nos próximos meses… E o início era precisamente aquela noite…

Os garotos contornaram a primeira quadra do bairro seguinte e brecaram com suas magrelas debaixo de um arvoredo, diante de uma bela casa de classe média alta, padrões arquitetônicos modernos e luzes do térreo completamente acessas. Harry sacou o walkie talkie da parte de trás do cós da calça e esticou a antena, enquanto buscava o canal, sintonizando-o as garotas. Após muito chiado, finalmente a voz dela surgiu em alto e bom som aos os ouvidos deles.

Que demora foi essa?

A culpa não foi minha, foi do Rony ─ Harry adiantou-se na explicação. Era tão raro revê-la, não queria passar aquela má impressão.

Eu já disse que… ─ o menino ruivo armou uma carranca contra o amigo, mas este havia lhe virado as costas, encarando a varanda na ânsia de ver alguém.

Estamos saindo… ─ Gina afirmou desligando a comunicação abruptamente.

Um minuto depois duas exemplares do sexo feminino abriram a porta principal da casa e despontaram na varanda. A mais baixa ainda falava com alguém dentro da residência, despedindo-se e prometendo não demorar, ao passo que a mais esguia e alta, aquela responsável por fazer as mãos de Harry suarem, descia o curto lance de escadas para os jardins, pegando uma bicicleta que repousava na grama, para si. Logo, Hermione e Gina se aproximavam dos garotos montadas em suas bikes.

Vamos indo! ─ Hermione exclamou, dirigindo um breve olhar para os dois e emparelhando na amiga ruiva.

Os quatro pedalavam em sintonia, formando um cordão harmônico se o tráfego permitisse, ou debandando pelas ruas e avenidas em duplas. O comércio fechara há mais de duas horas e a quantidade de carros desfilando pelas vias diminuía a cada minuto. Atravessando centro da cidade encontraram apenas os estabelecimentos mais indispensáveis, como o supermercado e o posto de gasolina do Sunny, ainda em funcionamento.

Alguém conhece ele? ─ Gina, curiosa, quebrou o silêncio entre o quarteto, perguntando. Eles acabavam de cruzar a estradinha de terra paralela aos trilhos do trem.

Ele morava na minha rua até o ano passado ─ Rony afirmou, metade da atenção para a conversa, metade na concentração para alcançar Hermione e ultrapassá-la ─ Era um cara normal.

Um cara normal… O que seria um cara normal para você? ─ desdenhou a adolescente de cabelos escuros e fartos.

Alguém que não passa o fim de semana todo fazendo lição de casa extra, que os professores sequer pediram ─ ele alfinetou, provocando um muxoxo nela.

Eu estou apenas me adiantando, não há problema nenhum em estar à frente nas tarefas escolares.

Se carapuça serviu…

Olha aqui, Ronald Weasley… ─ Hermione o interrompeu, aumentando as pedaladas para não ser ultrapassada por aquele boçal preguiçoso.

E lá retornava a velha dinâmica… Aqueles dois brigando o percurso inteiro e Harry e Gina na lanterna, se fitando com cumplicidade. Gina esboçou um meio sorriso para o colega e desejou não ter falado tão duramente com ele, no walkie talkie, mais cedo. É que ela se sentia, de fato, impaciente por chegar muito depois de todos ao local de destino.

Com a primeira dupla avançando alucinada na vanguarda, não demorou para a clareira do vale surgir aos adolescentes. E, como esperado, o lugar estava apinhada de gente. A morte se tornava ainda mais macabra quando se transformava em um evento midiático.

Havia um cordão de isolamento montado mal e porcamente pela polícia local, a polícia acostumada a prender ladrões de galinha e fichar a molecada nos arredores da cidade por consumo excessivo de álcool ou racha. Os moradores de Twinbrook mais bisbilhoteiros, os que não aguentaram acompanhar apenas pela televisão, furavam o cerco em conjunto com os repórteres do jornal da região, levando os oficiais obesos, de meia-idade, a loucura. No miolo de tudo isso, a polícia científica – emprestada do estado - e os bombeiros, prosseguiam na árdua tarefa de resgatar o corpo de Adam Fuller das entranhas da caverna tão conhecida entre a garotada como “Boca do Diabo”.

Acho melhor a gente subir o morro ─ Harry sugeriu nem um pouco inclinado a estar entre os civis rechaçados pelas autoridades.

Sim, bem melhor ─ Hermione anuiu, saindo da bicicleta e imitando os outros que contornavam por detrás das árvores para um caminho alternativo pelo íngreme terreno, objetivando o morro.

Ainda que eles experimentassem a primavera de seus quatorze anos, treze no caso de Harry, seus corpos saudáveis chegaram arfantes e cansados ao cume. Abandonaram os veículos no meio da trilha e caminharam sorrateiros para o mirante natural. Procurando a melhor visão, cada um deles se sentou na relva e se debruçou sobre o que acontecia metros abaixo, agora sim, num ângulo privilegiado de tudo que se passava.

Holofotes, instalados por todo o lado, incidiam sobre a clareira, trazendo o máximo de luz possível para a floresta escura. Havia um caminhão dos bombeiros estacionado ao lado da caverna, diversas árvores cortadas para dar espaço àquele mastodonte vermelho-sangue, enquanto uma espécie de guindaste se projetava do caminhão diretamente para o miolo da Boca do Diabo. Um agente do corpo de bombeiros paramentado de modo semelhante aos filmes, descia através da corda num rapel sinistro de encontro ao cadáver.

Quantos metros têm a caverna? ─ Hermione perguntou ao grupo.

Meu irmão mais velho disse que uns cem, pelo menos ─ Rony deu a informação.

Ele deve ter caído e quebrado o pescoço, foi isso ─ Gina adicionou sua opinião sobre a dúvida pairante na mente deles.

Mas por que ele estava aqui? No meio do nada? Sozinho? ─ Rony quis saber.

E como é que eu vou saber ─ a menina deu de ombros, após refletir brevemente.

Vai ver ele quis se matar… Só pode ser isso ─ Harry ponderou ─ A corda tá subindo ─ apontou com o queixo para a clareira.

Quatro pares de olhos na escuridão do morro acompanharam em tensão o corpo sem vida do rapaz Fuller subir numa maca. Ele era um boneco de madeira, completamente duro e inerte, amarrado as faixas elásticas do suporte para não cair novamente. O bombeiro responsável por resgatar o corpo continuava lá embaixo.

Por que o bombeiro teve de ficar lá dentro da Boca do Diabo? ─ Rony murmurou, assombrado.

Como subiria ele e o corpo junto, ô cabeçudo?! ─ Hermione revirou os olhos.

Ah, não enche.

De qualquer forma, o cara é corajoso ─ Harry admitiu, abraçando os joelhos após sentir um calafrio repentino.

E o que tem demais nessa caverna, gente? Caverna é só uma caverna ─ Hermione disse racionalmente.

Não é só isso, Mione ─ Gina, para surpresa da outra garota, a contradisse. Então Hermione lembrou-se que a amiga também pertencia a Twinbrook e, naturalmente, armazenava as mesmas lendas locais enraizada em suas crenças ─ Essa caverna serviu de rituais para bruxaria na época da colonização. Muita coisa do mal aconteceu ali dentro e tem relatos, muitos, sobre aparições e vozes nessa região.

De repente, os meninos olharam ao redor, incomodados por estarem no auge do morro, na escuridão. Hermione permanecia cética.

Se hoje, pleno 1996, nós precisamos que um caminhão dos bombeiros desmate algumas árvores para alcançar o fundo da caverna, como naquela época, muito mais de cem, duzentos, anos antes, as pessoas conseguiam descer lá embaixo?

A pergunta era lógica e sagaz. Hermione sorriu, sabendo que levantara uma questão sem argumentos, até Harry dizer…

Existe uma outra entrada para a Boca do Diabo. Fica na floresta ─ e apontou para as dezenas de hectares de verde e escuridão à direita deles ─… mas ninguém sabe ao certo aonde fica…

Então, por que…

Arg, chega de “porquês”, Hermione ─ Rony intrometeu-se, irritado.

Só estou tentando ser sensata ─ argumentou com superioridade.

Algumas coisas não tem sensatez… Ou respostas… ─ Gina deu de ombros, observando a corda do guindaste apoiar o corpo do morto na grama para, minutos depois, resgatar o bombeiro, um tanto pálido, da goela da escuridão.

Na semana seguinte, Twinbrook havia perdido sua fama de cidade segura e feliz. Um repórter vazou a informação para os jornais de domingo, de que no relatório da polícia estava escrito que Adam Fuller não se suicidou ou se acidentou. Havia evidências bem óbvias, evidências compatíveis com as de práticas de “rituais satânicos”, que o rapaz fora assassinado.


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