Damery Lane escrita por Demiguise


Capítulo 4
A casa do gigante


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! Não esqueçam de ler as notas finais ;)



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A primeira semana foi estranha. O trio tinha muito tempo livre, sim, (Clementine era a mais feliz com essa mudança de rotina) culpa das adaptações na grade de horário promovida pelas provas da N.O.Ms e a reorganização das matérias. A maioria das aulas acontecia de manhã, o que deixava as tardes quase sempre livres, de tarefas de fato, mas é claro que ninguém no castelo conseguia permanecer desocupado por muito tempo. As tarefas e trabalhos triplicaram suas quantidades e quadruplicaram suas dificuldades, o que significava horas e horas a fio, passando a limpo arquivos, respondendo questionários dissertativos e memorizando capítulos inteiros, para o que o Professor Binns, de História da Magia, gostava de chamar de “Arrematação’’, nada menos que perguntas orais que-devem-ser-respondidas-em-menos-de-cinco-segundos. Ele costuma ser bem violento com essas, dizia Clementine.

O dia predileto de Damery ficou sendo sexta feira, em disparado, principalmente por conta de ser o dia mais livre de todos, e sua única matéria ser a de Defesa Contra a Arte das Trevas, justamente a que possuía uma aptidão nata, além do valiosíssimo apresso da Professora Galatea Merrythought. Jeremiah e Clementine a consideravam louca por genuinamente gostar de passar tempo com a bruxa, a verdade é que Damery sempre teve muita curiosidade na vida de Merrythought, senta-se incomodada com rumores que sobre ela criavam, e esses eram o que não faltava; e entre os seus alunos menos talentosos estes chegavam ao nível de absurdidades. Coisas como longas viagens para a América do Sul e Ásia em busca de bestas malditas para matar e usar como casaco; além de as trazer para guarda-las na sua enorme sala (porque Merrythought possuía uma sala ridiculamente grande em comparação com a dos outros professores, comportando até uma cozinha própria).

Havia ainda um outro fator responsável por tornar a primeira semana incomum, e esse, com sorte, diluiria sua própria estranheza à medida que os dias fossem passando; tratava-se da presença agradavelmente densa do novo diretor ocupando sua cadeira diretorial na grande mesa dos professores, em todos os jantares que o castelo oferecera naquela semana. Alvo Dumbledore causava sim um impacto, ainda que mínimo, em grande parte aos alunos da Sonserina. Armando Dippet, o antigo diretor, era um orgulhoso sonserino, o que garantia aos alunos da Casa um sentimento não somente de conforto, mas de desejo subentendido de controle sobre as outras Casas. Os alunos sabiam disso, os professores, muitas vezes, fingiam não saber, já os funcionários, eles simplesmente não se importavam.

Por vezes, ocorriam situações de predatismo, a união moral dos sonserinos permanecia forte e crescendo, e não necessariamente de uma forma positiva. Haviam gangues secretas que se juntavam contra alguma “ameaça” que pudesse se formar no corredor. Prestar contas com eles automaticamente tornava-se uma experiência tenebrosa pra qualquer aluno. Com a tomada de rédeas de Dumbledore, os sonserinos certamente retraíram-se, e toda a escola sentia um alívio, como se uma cinta asfixiadora tivesse desatando-se repentinamente as torres, os corredores, as salas, os pátios, tudo.

 Uma possível razão para o impacto inquietante da imagem de Dumbledore no posto de diretor, era o fato de que se Dippet, em seus últimos dias do cargo, desse as caras por aí uma vez por mês, então era muito. Quando Damery e seus amigos cursavam o segundo ano, o então diretor trancafiou-se no escritório durante o inverno inteirinho, mantendo contato apenas com os elfos domésticos, que entravam no seu recinto diariamente, para levar-lhe as refeições. O natal daquele ano tornara-se inesquecível por ser o primeiro a contar com a ausência da figura mais importante da administração escolar. O Profeta Diário e as outras revistas de fofoca cobriram essa falta com muito gosto, coisa que já era de se esperar, uma vez que adoram qualquer indício de desordem que possa vir a acontecer envolvendo o nome de Hogwarts. E isso por conta do contínuo afastamento da instituição, das mãos do Ministério da Magia; por conta também do sentimento de independência para com os outros Corpos da comunidade bruxa europeia. Essa é uma característica inerente à Hogwarts, ela nunca se curva nem nunca se curvará para qualquer outra coisa. O que a mantém viva é independente e rebeldemente indiferente a qualquer força. O castelo respira, enxerga, vivencia, se destrói e se reconstrói com a mesma velocidade. Seus fantasmas sempre tem o que falar e falam por ele; O Lago Negro o alimenta e o refresca, assim como a Floresta Proibida. Hogsmead o vigia constantemente, garantindo-lhe a isenção da solidão, e caso ela o acometesse, não seria grande problema, uma vez que vida é o que não falta para o preencher.

Dumbledore havia chegado para reforçar isso. Já era íntimo de natureza de Hogwarts, já que lecionou Transfiguração ali mesmo por mais de vinte anos. Viu os alunos chegarem e irem embora. Viu Grindelwald crescer e depois viu-o cair. Ajudou-o a cair. No final das contas havia uma coisa que o Ministério não podia negar, independentemente de seu desprezo por Dumbledore e por suas ações: aquele era o bruxo certo para o trabalho. E Damery reconhecia isso também, na verdade, não era difícil de perceber. Bastava olhá-lo, sentado, comendo, conversando aqui e acolá com os professores ao seu lado. Os alunos olhavam Dumbledore, seu antigo professor, com quem tinham deliciosas conversas nos corredores, sobre as mais variadas curiosidades que lhes apeteciam; com quem sentavam á tarde para tomar um chá adocicado e admirar os limoeiros nas paisagens próximas, com quem, por vezes, ajudavam em sua jardinagem e cultivo das abóboras na orla da Floresta Proibida. Os mais antigos alunos recordavam de seu amigo professor, como se ele estivesse a milhares de quilômetros; mal sabiam que ele estava ali. Apenas ali, pronto para retomar o encontro de onde havia parado. O que mudou foi a sua posição profissional e isso somente.

Essa era a hipótese que Damery construíra na sua mente para explicar as entradas inadvertidas de Dumbledore nas salas de aula, quando este as interrompia com um sorriso singelo e pedia com delicadeza para que o professor ou professora, assim como os alunos, relevassem sua presença, e que estava ali apenas para checar o tudo mais. 

— Mas ele pode usar algum encantamento de camuflagem! Ele é o Dumbledore, ora! – Dizia Clementine, na tarde em que o diretor entrara na sua aula de Feitiços pela manhã, a fizera desconcentrar-se e, sem querer, pintar o próprio cabelo de azul em um feitiço que ricocheteou.

— Exatamente, ele poderia usar alguma magia, mas sequer faz isso. Não tem porque se incomodar e agir assim, às escondidas – retrucava Damery, compreendendo a amiga, mas defendendo a atitude do diretor.

— Clementine é a grifinória mais estranha do mundo. Falando desse jeito parece que não está feliz com a nomeação de Dumbledore. – Jeremiah sempre contestava Clementine, na maioria das vezes era pra irritá-la, mas dessa vez, nem mesmo ele não sabia o grau de seriedade da sua afirmação. Pouco importava.

— Estou feliz, muito feliz, acredite. Ninguém despreza mais Dippet do que eu, aquilo não é gente, é um fantasma emplastado - dizia Clementine, fazendo as mais engraçadas feições para si mesma.

— Pronto! Aí uma coisa em que concordamos – completou Jeremiah.

— Calem a boca. Os dois sem cérebro. Em algum momento Dippet foi sim um bom diretor, mas... – Damery não sabia como terminar sua frase.

— Viu! No fundo até você concorda. – Disse Clementine em tom acusatório, enquanto desviava de um pilar no corredor aberto do quinto andar. Estavam os três em direção ao pátio do Salgueiro Lutador. Com sorte, a aula de Trato das Criaturas já teria acabado e a árvore estaria sem companhia pelo resto da tarde.

Durante o seu quinto ano, o trio não tinha tempo para momentos de lazer. A Corvinal estava em último lugar na Copa das Casas e faltavam apenas dois jogos da Casa para a temporada terminar, o que fez Ardillac, a Capitã do time, pressionar seus jogadores de forma absurda, mantendo a dinâmica através de métodos de tensão e treinos ferrenhos; Jeremiah nunca esteve tão mentalmente pior por conta disso. Já Damery, se lhe permitissem levar um cobertor e um travesseiro para biblioteca para que pudesse dormir entre os livros, ela com certeza não negaria; não haviam forças na Terra que a fizessem sair de seu posto, queria ter certeza de que seus resultados nas N.O.Ms seriam impecáveis, para não ficar remoendo-se de culpa durante todo o verão. Clementine, por outro lado, acompanhou Damery ao longo de todo o processo de estudo, permanecia ao seu lado na biblioteca, nem sempre atenta aos livros de fato, como a amiga (é claro que o ambiente da biblioteca também servia como um refúgio eficiente para Clementine fugir dos excessos do cargo de monitora, que tanto a enchia o saco).

Lembranças como essas faziam Damery agradecer de forma profusa, principalmente nos calmos eventos dessa primeira semana no castelo, todo e qualquer momento de tranquilidade; havia esquecido qual era a sensação de se sentir acolhida pela Escola, como uma aluninha do primeiro ano quando pisava por ali pela primeira vez. Agora via os corredores vazios ou poucos transitados e ria ao recordar das tantas e tantas vezes que tivera de atravessá-los correndo, atrasada, desesperada, tropeçando aqui e ali.

Chegando ao lado de fora, viram que o Salgueiro estava calmo. Damery e Jeremiah entreolharam-se, e como se compartilhando os pensamentos, os dois disseram: incomum. Ao passo que Clementine, que se distraíra segundos antes, apenas varria com o olhar, a paisagem em busca daquilo que os amigos acharam estranho.

A árvore fora enfeitiçada, e assim havia permanecido, já que ninguém estava lá para ver o ato de domação e ela não fazia esforço algum para livrar-se da magia que a acometia. A impressão que dava, era a de uma brisa leve e pacífica, guiando seus galhos afiados como chicotes na água.

Estava enfeitiçada, mas não estava sozinha. Na sua base, um corpo jogado, inerte, cobria os olhos com um livro aberto e apoiava sua cabeça com a mochila, que fazia papel de travesseiro. Pelas vestes, tratava-se de um garoto.

Clementine aproximou-se o máximo que pôde, não sabia se o Salgueiro Lutador estava ou não apenas pregando uma peça para golpear sua próxima vítima com uma investida mortal.

— Não vai atacar, Clementine – disse Damery, chegando logo atrás.

— Vai tentar a sorte?

— Vou, não vê que está sob efeitos de um feitiço? – Entrando confiante na área de alcance do Salgueiro, Damery postou-se na frente do garoto adormecido.

— ...Se eu a tivesse enfeitiçado, entraria? – Perguntou Clementine em tom de resmungo.

— Eu não – Jeremiah respondeu, e seguiu adiante.

Damery então cutucou o corpo como se cutuca uma água viva na praia, e este saltou com um susto, deixando o livro cair e batendo de costas no tronco da árvore. Jeremiah recuou, ficara com medo da batida, e de que o Salgueiro pudesse, de alguma forma, acordar de seu estado imóvel.

— Você! – Clementine exclamou, entrando com uma pressa cuidadosa na área de alcance. – Como conseguiu acalmar o Salgueiro?

— Eu o que!? Não fiz nada! – Era Edgardo, a dupla de Jeremiah para a tarefa de poções. Procurava sentar-se no chão, de modo que não parecesse extremamente ridículo, como alguém que cochila embaixo de uma árvore que ataca por vontade própria.

— Como fez ele se acalmar? – Damery perguntou genuinamente curiosa; nunca soube que o Salgueiro era afetado por mágica, deduzia (erroneamente) que a sua natureza fosse mais forte do que qualquer ação bruxa.

— Foi um feitiço de imobilização... é bem simpl... ah, oi, Jeremiah.

— Oi

— E a poção? – Perguntou Edgardo.

— Não fui ver hoje, nem ontem.

— Não fui vê-la a semana inteira. Esqueci a senha da sala.

A Poção Polissuco requeria mexidas periódicas, ora no sentido horário, ora no anti-horário. Em condições bem específicas também; tomando como exemplo sua necessidade de, antes do pôr do sol do sétimo dia de sua fervura, quatro voltas cuidadosas e calculadas para a direita, afim de não esverdear ou engrossar.

— Aranhona – Clementine se prontificou a responder, Edgardo agradeceu logo em seguida. – Quer dizer então, que se deu o trabalho de enfeitiçar uma árvore assassina só para dormir no pé dela?

— Não! Não faço esse tipo de esquisitice! – O trio olhou Edgardo com um riso contido. Querendo ou não, ele estava fazendo exatamente “aquele tipo esquisitice”.

— O que fazia então? – Perguntou Jeremiah.

— Queria ver o gigante!

Damery e Jeremiah novamente entreolharam-se e novamente acharam a situação incomum.

— Tá, tchau – Clementine virou-se para ir embora, decidida. Não acreditaria mais nos absurdos de Edgardo, e também não queria ter nada a ver com gigantes. Temia-os.

— Espera – Damery segurou o braço da amiga, com o olhar fixo na cara de Edgardo.

— Não ficaram sabendo? – Edgardo agora levantava-se – Calye comprou uma Bola de Cristal no verão passado.

— Calye Embry? – Clementine soltou-se da mão de Damery, já sabendo de quem se tratava.

Jeremiah sabia de quem estavam falando, e se pronunciou.

— Não foi ela que apostou na vitória da Grifinória na Copa das Casas e fal...

— ...sim, falou pra todo mundo que eles iam vencer de 287 a 260 em cima da Sonserina... – Edgardo completou.

— ...mas o resultado foi exatamente o mesmo, mas quem venceu foi a...

Os garotos responderam ao mesmo tempo “Sonserina”, segundos depois, Edgardo continuou sozinho.

— Bem... de qualquer forma... ela usou a Bola segunda feira e disse viu um gigante entrando pelos portões no dia de hoje. Tô aqui desde o meio dia esperando o dito e até agora nada. Até dormi de tanto esperar.

O Salgueiro Lutador crescia em uma espécie de pequeno morro, tão pequeno que o relevo elevado só é perceptível de muito longe. Entretanto, sua posição é muito favorecida porque ficava a apenas uns dois metros de uma enorme ladeira, que se planifica novamente em uma clareirazinha vazia, circundada pelo início da Floresta Proibida. Dali uns metros para a esquerda (de quem vê do Salgueiro), encontrava-se um enorme portão de ferro, que era por onde as carruagens entravam na primeira noite e subiam a estrada de terra até o pátio em frente ao Grande Salão. O que o trio e nem mesmo Edgardo previra, era que um gigante, ou pelo menos alguém muito, muito grande já havia entrado por aqueles portões umas horas antes; inclusive ele estava na clareira abaixo, observando o terreno ao lado de ninguém menos do que Alvo Dumbledore e mais alguns bruxos com chapeuzinhos engraçados.

 Bastou apenas um “Shh, Olhem lá” de Clementine para todos estarem investidos.

Os quatro deitaram na grama e ficaram observado de cima da ladeira, no pé do Salgueiro Lutador, o desenrolar do encontro na clareira. Dumbledore fazia os bruxos de chapéu postarem-se eretos em pontos estratégicos do terreninho, como se para demarcar alguma coisa. O “gigante”, que por sinal era excepcionalmente barbudo e cabeludo, ficara o tempo inteiro de costas.

Todos eles apontavam para o vazio, imaginando o que poderia haver ali no futuro que não há agora. O mais investido era, de longe, Dumbledore, que por vezes sacava sua varinha e fazia vinhas crescerem para formarem estreitas colunas verdes no local.

— Será que vão construir uma casa? Vejam – Jeremiah teorizava, já esquecido do que o trio iria fazer inicialmente quando chegou, e Clementine não parava de remexer-se.

— Tem certeza que essa árvore... Ai! Cuidado... espera aí, quem seria louco de construir uma casa tão perto assim da Floresta?

— Alguém que não tem medo dela, eu suponho – disse Damery.

— Não, Clementine está certa. Nenhuma construção seria segura tendo as criaturas da Floresta como vizinha. Deve ser alguma instalação pro Torneio Tribruxo – novamente, Jeremiah teorizou.

— Tá muito cedo pra essas coisas...

Antes mesmo de Edgardo e Jeremiah iniciarem uma conversa novamente, Damery se levantou muito rápido, puxando Clementine consigo, e esta, em seguida soltou um sonoro “ai”, indignada com a brutalidade cômica da amiga.

— Shh, eles estão subindo, olha! – Alertava Damery, ao passo que todos os outros amigos olhavam amedrontados para algo atrás da garota, para a árvore.

— Ah... Clementine. Você acordou o Salgueiro Lutador. Parabéns! – Jeremiah afastava-se pelo chão, o feitiço que mantinha a árvore calma de fato estava dissipando-se, e a mesma já possuía galhos violentos debatendo contra o vento morno; era só uma questão de tempo para todos ali em baixo serem atingidos e voarem pelos ares.

Todos escaparam ao mesmo tempo, um puxando o outro. Em questão de segundos o Salgueiro Lutador estava restituído de suas vontades sanguinárias de simplesmente atingir alguma coisa, e Damery não sabia se fugia delas ou de Dumbledore com o gigante que subiam ladeira acima. Imaginava se teriam sido vistos, pois as chances eram altas.

Entraram castelo adentro com pressa. A tarde já começara a despedir-se com um pôr do sol vermelho e primaveril. Andavam pelos corredores em silêncio, ignorando o estado em que deixaram o Salgueiro (que parecia mais furioso do que nunca). Quando sentiu que haviam distanciando-se seguramente de Dumbledore e os outros bruxos, Damery reuniu coragem para perguntar algo que estava fazendo coçar sua orelha desde o primeiro encontro com Edgardo.

— Há quanto tempo soube do Torneio antes de todo mundo? – Perguntou sem rodeios ao garoto.

Clementine e Jeremiah olharam-na, meio que estavam esperando que essa pergunta entrasse em pauta cedo ou tarde, ao passo que Edgardo suspirou com um ar decepcionado, talvez já tivesse ouvido essas palavras de outra pessoa.

— Foi Jamilia, não foi?

— Sim, no trem ela disse que seu pai havia ficado sabendo do Torneio pelo Departamento de Feras ou algo assim – completou Damery - ... meses antes.

— Não ouçam o que ela diz, ela inventa muita mentira. Não sei o que ganha com isso. Meu pai não sabia de nada, e se soubesse e me contasse, eu com certeza deixaria todos sabendo.

— Amém – bufou Clementine, baixinho. Estava esperando a confirmação de qualquer coisa ruim atrelada ao nome de Jamilia fazia um bom tempo -, espero que ela se retrate depois disso.

— Acho que no fundo ela é inofensiva – disse Jeremiah.

— Com certeza, mas não precisa ficar espalhando aquilo que não sabe só pra poder se promover.

Quando o sol se pôs, não se encontrava mais alunos andando por aí, entretanto, no Grande Salão, alguns ainda comiam lanchinhos ou tomavam um café antes de subir para os seus dormitórios. Quando a noite caiu, os ventos de outubro dobraram sua frieza, e todos estavam com receios de um inverno longo e mais potente. Despediram-se de Edgardo, que desviou seu caminho para a direção da Sala Comunal da Lufa-Lufa, que era a sua Casa, mas antes prometeu a Jeremiah que visitaria sua poção ainda naquela semana, Jeremiah deu um sorriso torto e sem esperanças.

Logo depois foi a vez de Clementine. Todos desejariam passar mais tempo juntos, no início de sua amizade, essas horas eram as piores por terem, os amigos, de se separar em determinada hora e se verem somente no amanhecer; felizmente, a medida que os anos foram passando, aprenderam a lidar com a diferenças de Casas, e até mesmo cultivaram amigos fora de seu nicho confortável.

Já na Sala Comunal da Corvinal, que se encontrava silenciosa e agradável, Damery e Jeremiah atravessaram as mesas reclamando da charada que lhes foi pedida a resposta pela estátua da águia (porque ao invés da Sala da Corvinal ter um quadro na sua porta a pedir uma senha para permitir a entrada, existia uma estátua da águia que solicitava a resolução de um enigma por ela proposto na hora; é claro que o nível de dificuldade variava dependendo do ano em que a pessoa que quisesse entrar estava, e durante o curso de toda a semana, as perguntas para Damery e Jeremiah estavam mais conteudistas e elaboradas do que nunca.

Quando Jeremiah estava quase subindo os degraus para o seu dormitório, afim de separar uma roupa limpa para vestir depois do banho e preparar-se para a janta, percebeu uma pequena inquietação vinda de uma mesa mais afastada onde estavam sentados uns alunos mais novos, numa área pouco iluminada da sala. Olhou Damery, que já havia subido metade da escada do dormitório das garotas, e ela retribuiu-lhe o olhar. A curiosidade foi mais forte para os dois, e, como se incorporando o espirito de monitores (que faltava em Clementine no ano anterior), foram em direção aos alunos. Estavam todos encurvados sobre algo que estava no centro, curiosos e esperando algo acontecer. Damery começou falando.

— Que bagunça é essa aqui? Do que se trata?

Todos se viraram para saber quem lhes dirigia a palavra, quando viram que era Damery e que ela era de uma classe mais avançada, retraíram-se levemente. Um garoto loiro que parecia ser do terceiro ano posicionou-se em nome de todos.

— Não estamos fazendo bagunça nenhuma, é que uma coruja entrou aqui dentro pela janela faz uma hora e deixou isso.

Eles se afastaram e Damery e Jeremiah conseguiram ver o famigerado foco da atenção das crianças. Tratava-se de um envelope verde com as bordas enfeitadas, estava amarrado com um barbante dourado e possuía inscrições em uma caligrafia adornada na face virada para cima, ninguém tocava nem chegava perto o suficiente para ler os escritos. Deduziu Damery, que o que devia ter chamado atenção dos alunos, era o fato do envelope, de vez em quando, tremelicar e dar pulinhos, como se o papel contido dentro quisesse furiosamente sair para fora.

— Ah... até parece que nunca viram um Berrador antes! – Proferiu Damery, ao estender a mão para pegar o envelope.

— Não acho que vá berrar – disse Jeremiah, e Damery parou com a mão no ar, depois a garota o olhou -, e acho que é pra mim.

Damery se tocou na hora, percebeu que o amigo já havia recebidos vários destes anteriormente, mas este era o primeiro do ano, mas ainda tinha ressalvas e então perguntou:

— Você acha que é o seu?

— Não sei, só abrindo pra saber.

Os alunos não desviaram os olhos do discorrer da cena, viam tudo como se estivessem em um jogo de Quadribol, estavam tão investidos quanto a dupla.

Jeremiah pegou o envelope com a ponta dos dedos, virou-o afim de entender o que estava escrito e bastou ver um “J” maiúsculo para apressar-se em desatar o barbante. Esperou um segundo, respirou lentamente e todos ao redor deram um passo para trás, menos o destinatário.

Rasgou, tirou a carta e ela começou a falar na sua mão.

 

Caro Sr. Ace.

 

Mandei minha coruja entregar esta carta na sua própria Sala Comunal, não costumo fazer isso, como sabe bem... receio que outros alunos testemunhem a entrega e sintam inveja! HAHAHA! De qualquer forma, fiz isso porque minha coruja disponível não gosta do corujal e por alguma razão, recusa-se a entrar lá. Curiosos esses bichos... sempre me causam alguma intriga, não gosto de pensar que se trata de algo pessoal.

 

Céus! Minha prolixidade não me deixa terminar nada que começo. Escrevo-lhe pois esta carta é um convite ao primeiríssimo Jantar de Confraternização do ano! Não poderia sedia-lo sem convidar-te, pois, nutro em ti um apreço especial.

 

Espero-te no meu escritório, no dia 22 de outubro, às dezoitos horas, para cearmos um delicioso jantar e pôr em dia as peripécias do último verão, juntamente dos outros membros da Equipe! Porque afinal somos uma EQUIPE!

        

Ah.. mais uma coisinha. Percebo, por vezes, suas andanças com a senhorita Lane e sua amiga loira. Não podia deixar de contatar-te sem solicitar com aferro, para que pedisse às duas que viessem dar uma olhadinha na Poção Polissuco que propus para turma fazer nas minhas últimas aulas. A mistura das garotas está... curiosa, não para de soltar aquele odor desgraçado que empesteia minha classe. Somente um adendo. Há há!

        

Com imenso apreço,

 

Prof. Horácio Slughorn.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler!!! Peço que comente, e pode ser o que quiser, pode ser um "oi" que eu vou pular de alegria, isso motiva demais, vocês não tem ideia.
O motivo de eu estar retornando com essa história (porque ela ficou mais de um ano em hiato... eu tinha mudado de escola e fiquei com muito mais tarefas e etc...) é porque eu me senti inspirado depois de assistir Os Crimes de Grindelwald. Eu não gostei muito do filme e assim que cheguei em casa comecei a pensar em maneiras de reescrever os acontecimentos de forma que ficassem mais... LEGAIS. (sem pretensão da minha parte).
Depois de escrever uns 60% do filme eu lembrei que eu já tinha começado a escrever algo HP related então voltei pra ver onde tinha parado essa fanfic aqui. Eu achei uma folha onde tinha escrito os acontecimentos dos 12 primeiros capítulos; mudei umas coisas e separei os atos (eu sei que ato é uma coisa de teatro mas eu gosto de como soa então...deixa pra lá). Enfim, só queria dizer que vou voltar a escrever isso aqui. Vou procurar postar sempre nos finais de semana e pretendo terminar o ato 1 ainda esse ano (sim, vai ser uma long fic). Toda e qualquer crítica é bem vinda, conselhos também. Obrigado mais uma vez por ler... e obrigado por não desistirem (aos ghosts), até o final de semana que vem, Beijos :)



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