Damery Lane escrita por Demiguise


Capítulo 3
De volta à Hogwarts


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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A primeira noite fora como Damery previra que seria. A garota tinha sensação de que dormira apenas umas duas horas, mas ela não deixou isso incomodar. Estava mais do que ansiosa para começar a velha e agradável rotina de Hogwarts pela sexta vez.

Seu quinto ano fora muito corrido, tinha de estudar feito louca para os exames da N.O.Ms, sabia que este ano ficaria mais tranquila, pois já estava a nível N.I.E.M, e só realizaria os testes ano que vem.

A manhã acordou preguiçosa, o sol não tardou a se instaurar pelas janelas do dormitório feminino da Corvinal. Damery odiava ser acordada, preferia levantar por conta própria, mas o que a despertou (a ela e a maioria das garotas) fora os espirros exagerados de Juju Daugherty. A menina possuía uma sensível rinite alérgica, e as quantidades de livros que ficavam nas cabeceiras das garotas não ajudavam a melhorar sua condição. Ninguém se irritou com Juju, já estavam acostumadas a cinco anos, algumas até riam.

— Rinite é uma doença de trouxas Juju - disse Dakota, desembaraçando os cabelos com uma escova, ainda sentada na cama.

— Você acha que não sou bruxa? É uma doença de HUMANOS. - Juju sempre acordava com um mal humor.

— Hm... acho que não. - respondeu Dakota - Acho que é abortada como Ogg, pelo menos a aparência física é algo que os dois de muito tem em comum

Ogg era muito, muito, muito feio.

Damery colocou seu uniforme da Corvinal usual, e atravessou o corredorzinho que continha uma frondosa estatua de Rowena Corvinal, que ligava o dormitório feminino á Sala Comunal.

A Sala Comunal da Corvinal ficava em um nível extremamente alto em uma torre na Ala Oeste. Era um dos pontos mais altos do castelo, perdia somente para a Torre de Astronomia. A sala era grande, circular, com estantes de livros em praticamente todas as paredes e diversas mesas de estudos espalhadas pelo espaço. Das janelas enormes da Sala, os alunos possuíam uma exclusiva vista de quase todo o terreno de Hogwarts, que se estendia até para lá do Lago Negro. O teto alto e abobadado, decorado com estrelas cintilantes criava uma agradável harmonia com o chão coberto com um tapete aveludado e azul-noite

Jeremiah já estava de pé, e estava parado em frente ao quadro de notícias que era atualizado pelo Prof. Flitwick diariamente. Damery foi ao seu encontro.

— Bom dia - disse a garota, bocejando.

— Bom dia - Jeremiah respondeu, não desviando os olhos do quadro -, temos dois tempos de Feitiços com o Flitwick agora de manhã. Depois Herbologia.

— Não gosto tanto de Herbologia - disse Damery, agora olhando para o quadro - Olhe, quinta é o melhor dia. Dois tempos de Defesa.

Jeremiah sorriu para a amiga. Sabia da sua aptidão para a matéria. Mas Jeremiah possuía dotes impressionantes era para Poções. Era capaz de produzir elixires avançadíssimos mais habilmente do que qualquer outro, feito que o fez garantir uma vaga exclusiva no Clube do Slugue: a sociedade que o professor de Poções, Horácio Slughorn, criou para seus alunos mais inteligentes e talentosos.

— Me pergunto quando começarão os testes pro Quadribol, nosso segundo batedor se formou ano passado - disse Jeremiah.

— Com esse Torneio vindo aí, duvido que ainda acharão tempo pra Copa das Casas - Damery estava apenas sendo honesta.

— Ah... não tem problema, não estava com expectativas mesmo - Jeremiah ficou cabisbaixo em segundos.

— Falando em Torneio, você não estava afim de correr pra biblioteca depois do almoço? Temos um tempo livre entre o meio dia e a aula de Transfiguração hoje. Veja. - Damery falou, apontando para a folha no quadro.

— Hm... Você sempre se afoba. Costuma saber demais, isso nem sempre faz bem, sabia? Me admira que seu cérebro não tenha derretido até esse ponto.

— Está parecendo a Clementine. - Disse Damery, desviando o olhar. Jeremiah virou os olhos.

— Eu vou com você. Talvez possamos arrasta-la juntos. Vamos tomar café.

Os dois amigos desceram as escadas em espiral, era cedo na manhã, o castelo ainda não estava tão populoso como geralmente ficava. 

Para o espantando dos dois, Clementine era uma das poucas pessoas que já se encontravam sentadas nas mesas do Salão Principal, comendo. Foram ao seu encontro.

Clementine estava lendo as cartas que recebera de seus pais. Damery sabia que uma coruja, posta numa das vigas do teto, estava com a sua correspondência da manhã. Ela olhou para o alto, o teto não estava enfeitiçado, e uma coruja marrom pairou sobre sua cabeça, batendo suas asas com suavidade.

— Bom dia - disse um Jeremiah cansado. Clementine sentou-se mais para o lado, dando um lugar para o amigo. O que era esquisito visto que 90 por cento do banco estava desocupado. A loira estava coma boca cheia de torradas e retribuiu com uma olhada.

Damery pegou a correspondência da garra da coruja. Era uma carta de seu pai; a uma altura dessas já deve saber do Torneio, se Ermério e Sr. F. forem rápidos... Ela dispôs um sicle na bolsa da coruja-correio e a mesma saiu voando por uma das janelas abertas do Salão.

Damery, querida.

Sua mãe e eu estávamos com votos de que faria uma viagem tranquila. Espero que tenha tido. Sei o que está se perguntando, sim, já sabemos do Torneio Tribruxo, e mais, ficamos sabendo antes mesmo de você partir.

Damery sentia que seu pai quase sempre sabia das coisas antes mesmo de acontecer. Isso as vezes a irritava. Elador Lane tinha um dom para compreender as pessoas como ninguém.

Tínhamos a opção de conta-la, mas não o fizemos pela simples razão de: não queremos a expor a este tipo de perigo desnecessário. Sabemos as barbaridades que fazem com os competidores nesses Torneios. Ninguém nunca sai ganhando, e quem sai, acaba desmembrado. Acredite quando dizemos que NÃO é uma escolha inteligente se candidatar para ser uma campeã...

O pessoal do ministério esteve virando noites inteiras resolvendo as tramas do Torneio Tribruxo. E teríamos lhe contado se você fosse um pouquinho menos entusiasta quanto a questões de extremo perigo.

Agora, entre pai e filha. Sua mãe não queria que eu lhe contasse isso, ela quer que você aproveite seu ano, mas eu acho importante que se mantenha informada. Ontem de manhã ela recebeu uma carta de demissão do Profeta Diário. Ela perdeu o emprego e está bem desolada, não saiu da cama o dia inteiro... você sabe o quanto ela gostava de escrever aquela coluna sobre práticas insalubres dos bruxos de hoje em dia.... pois é. Ela suspeita que outro bruxo escritor tenha lhe roubado o cargo.

De qualquer maneira, eu sei que você não costuma gastar muito, mas manere em Hogsmeade este ano.

Com amor,

Elador e Agneta Lane.... Mamãe e papai. Mais o papai do que a mamãe, porque mamãe se absteve de pegar na pena por uns dias.

Sua mãe perdera o emprego. Damery se sentou na mesa, meio atônita e pensativa. Nunca imaginou que uma coisa dessa fosse acontecer. A coluna que Agneta possuía no Profeta Diário era sempre muito bem recebida pelos leitores. Centenas de cartas de fãs eram recebidas todo mês, algumas bem engraçadas, como a da bruxa que ficou indignada que o rumor de que xixi de duende conferia um brilho especial para as louças, era uma mentira.

O dinheiro que a família recebia periodicamente graças as vendas dos seis livros já publicados de sua mãe era muito bem apreciado, mas o dinheiro que a mãe recebia da coluna era muito importante para a renda final, apesar da relativa generosidade do salário de Auror de Elador.

Enquanto a mãe permanecesse desempregada, algumas regalias certamente teriam de ser cortadas. Damery pensou por alguns segundos se deveria contar a infeliz notícia a Clementine e Jeremiah.

— Isso é muito incomum, não é? - Clementine a fitava profundamente.

— O que ia dizendo? - Perguntou Damery desconfortável, por um segundo, achara que a amiga lhe havia lido a mente.

— Casal de trouxas mortos nesta madrugada - Clementine estava mostrando agora a página principal do Profeta Diário, Damery se sentiu triste por um momento -, e ainda estavam dentro de casa! Avada Kedavra!

Incomum. Já descobriram culpado? - Damery estava com os pensamentos distantes, apanhou uma pêra da mesa e abocanhou.

— Não. A cena do crime estava praticamente intacta. Diz aqui.

— Me pergunto porque algum bruxo iria querer prestar contas com trouxas... - disse Jeremiah.

— Que pergunta idiota para se fazer! - Sussurrou Damery, olhando de esguelha para Clementine, que estava concentrada na matéria, naturalmente.

Jeremiah deu os ombros e desviou o olhar com rapidez. Deixou escapar um "oh não" quando viu  pequenino Professor Flitwick andar na direção em que estavam os três sentados. Ele carregava um pergaminho coberto por tabelas, pergaminho este que se arrastava pelo chão de tão longo.

— Crianças! Que bom que nos encontramos agora de manhã - dizia Flitwick, consultando seu enorme pergaminho -, preciso passar a sua nova grade de horários...

— Mas... o que.... profess... - Jeremiah se endireitou na mesa, estava praticamente montado no banco, e parecia muito confuso enquanto olhava pro professor. - Lemos a grade de horários lá na Sala.

Flitwick olhou de volta, por debaixo dos óculos.

— Ora Sr. Ace, eu lhe treinei melhor do que isso! É claro que a grade de horários que está na Torra da Corvinal não é a sua! Seus horários agora se adaptam aos das suas respectivas notas nos exames N.O.M que realizaram ano passado.

Os três se olharam.

— E pelo o que vejo aqui... - Flitwick rolou um pouco o pergaminho para baixo, com o intuito de ver a grade de Jeremiah - Suas notas lhe garantiram vaga na  matéria de poções... naturalmente, e a senhorita Lane também! - Flitwick a olhou, parecia estar levemente impressionado. Momentos depois fechou a cara abruptamente, estalou os dedos e enfeitiçou uma pena para escrever a grade que ditaria, no pergaminho mais próximo - Vão querer se lembrar disto mais tarde. Seus horários são extremamente parecidos, veja bem; Segunda Poções, Feitiços e História da Magia. Terça Transfiguração, Duelo e Herbologia. Quarta, dois de Aritmancia, mais Poções e... mais Transfiguração. Quinta, os dois possuem Trato das Criaturas Mágicas, Feitiços e Defesa Contra a Arte das Trevas. Impressionante...

— Hum... professor, o que é impressionante? - Clementine perguntou, estava um pouco insegura pois não pertencia a Corvinal. Teria de ver sua grade mais tarde, com a Prof. McGonagall.

— Não vejo grade de matérias tão amplas assim a anos... Arrisco dizer, Srta. Bryce, que é amiga dos dois alunos mais bem sucedidos nos N.O.Ms de toda a escola este ano! - Flitwick não tirava os olhos arregalados de seu pergaminho.

 Clementine encolheu os ombros e voltou a comer uma torrada.

— Ah... Temos um porém - completara Flitwick, mais uma vez, fechando a cara - Jeremiah Ace, sinto muito mas um "aceitável" não lhe aprova para a Defesa Contra a Arte das Trevas nível N.I.E.M. Entretanto, acho propício o senhor preencher o tempo que sobra em alguma matéria que goste. Poderia treinar Voo, por exemplo. Iria lhe servir bem, uma vez que a Copa das Casas foi cancelada...

— Ah certo. - Jeremiah já sabia que a Copa fora cancelada, mas não escondeu o descontentamento. Era costume que as demais celebrações da instituição anfitriã fossem deliberadamente canceladas, para dar lugar exclusivo ao Torneio Tribruxo.

Flitwick não deixou a situação de Jeremiah tirar-lhe o sorriso no rosto quanto as notas da N.O.M, soltava risinhos periódicos enquanto um silencio constrangedor se instaurava. A pena continuava a escrever sozinha.

— O que está lendo? - Flitwick espiou o Profeta Diário, tevee que esticar o pescoço. - Ah sim, os trouxas assassinados... uma tragédia. - E se virou e saiu andando.

— Será que tem algum jeito de eu prestar N.I.E.M pra Defesa? - Jeremiah perguntou, desconcertado.

— Talvez - Damery se prontificou para responder -, se eu puxar bastante o saco da Marrythought ela pode, quem sabe, considerar ter você de volta.

— Há há há, engraçada. Merrythought não me aceitaria nem cavalgando em um unicórnio.

Damery abriu a boca para responder, mas Clementine foi mais rápida.

— Merrythough só gosta de quem vai bem na matéria dela, posso provar isso... morcega velha, provavelmente não passei em Defesa também. - Clementine enfiou o resto de torrada na boca e se levantou do banco. - Vou procurar a McGonagall. Até mais tarde. - E foi-se, levando consigo o Profeta Diário.

Jeremiah pegou o pergaminho que Flitwick encantou e se focou nele.

— Vamos, poções. - Ele pegou suas coisas, se levantou e esperou Damery fazer o mesmo.

 

 

— Primeira aula do ano, prezados alunos! - Slughorn usava sua toca em forma de quadrado como sempre usava em ocasiões especiais, de acordo ele mesmo, dava uma boa impressão para o seu semblante rechonchudo. - Vamos fazer valer a pena!

Damery sempre se lembraria de Slughorn como excessivamente positivo. Era um bruxo muito contagiante. Todos que o faziam feliz, seja tirando boas notas ou simplesmente parando no corredor para bater um papo (coisa que ele adorava fazer), automaticamente se sentiam satisfeitos consigo mesmos. Era inegável o orgulho que o estudante sentia ao conseguir entrar pro famigerado Clube do Slugue. A questão era que os critérios para participar do tal clube eram extremamente específicos. 

— Ora muito bem, ora muito bem. No primeiro dia de aula dos sextos anos, eu geralmente começo com uma tarefa muito recompensadora.  Este ano não vai ser diferente.

Horácio Slughorn andou até um armário velho no canto da sala e tirou uma caixinha não muito maior do que uma embalagem do Sapo de Chocolate. Todos os alunos estavam ávidos para saber o conteúdo da caixa. Com Jeremiah e Damery, a situação não era diferente. Eles dividiam a sala com alunos da Grifinória, então ainda existia um certo murmurinho de curiosidade quando o professor voltou para trás de sua mesa.

— Este, nada mais é do que meu estoque pessoal de Felix Felicis, a poção que de quem a ingerir, glória e sorte absoluta aguarda, é claro que sabem disso. Geralmente, eu entrego um frasco como prêmio para o aluno que fizer a mais aceitável Poção do Morto-Vivo dentro de uma hora, mas este ano, a proposta é diferente. Hoje organizaremos as duplas que realizarão a Poção Polissuco.

Desta vez, nem os alunos da Corvinal puderam conter sua curiosidade e começaram a falar em cima do professor. Jeremiah foi o primeiro a levantar a mão.

— Sim, Jeremiah. - Slughorn já tinha intimidade com Jeremiah, afinal fazia parte de seu clube desde o quarto ano.

— Professor, está no regulamento...

— Sei muito bem, sei muito bem... Sr. Ace. Mas este ano, tive a total liberdade de trabalhar as matérias que julgo importantes para os Exames com meus amados alunos. Graças, é claro, a algumas revogações do nosso novo diretor. – O bruxo sorriu.

Todos se entreolharam. A resposta do professor parecia decorada. Já estava esperando perguntas daqueles tipo, talvez já até esperava que viria alguma do ”Sr. Ace".

— Dando continuidade a tarefa... vão formar duplas para preparar a poção. Duplas que eu gostaria que se formassem a partir de membros de casas diferentes. - Continuava Slughorn, deixando os alunos ainda mais inquietos com a sua última frase - Acredito que também seja a vontade do diretor Dumbledore, visto que uma de suas metas este ano é a maior união de alunos de Casas distintas... Portanto... Vamos, vamos! Formem duplas, vocês!

Damery e Clementine, é claro, imediatamente se olharam. Como Damery e Jeremiah, até ano passado partilhavam as mesmas turmas e as mesmas tarefas, não haviam dúvidas de que sempre que podiam, se uniam para fazer as atividades mágicas. Tanto que Damery olhou para o colega e o mesmo se encontrava muito confuso e nervoso vendo todos se moverem pela sala procurarem sua metade.

Jeremiah estava quase suando. Levava poções muito a sério para dividir a nota com qualquer aluno mediano, mas até Damery sabia que socialização não era o forte do amigo. Isso o deixava sem escolha alguma.

Clementine chegou um tanto feliz, com seus materiais para a mesa de Damery e Jeremiah. Estava esperando o amigo recolher suas coisas, ceder o acento e se mudar para a mesa de qualquer aluno da Grifinória.

Quando quase todas as duplas já estavam formadas, Clementine, que estava olhando para os lados, procurando alguém, falou para Jeremiah:

— Edgardo quer uma dupla.

— E porque demorou tanto para dizer! - Jeremiah estava decididamente suado. Queria tanto uma dupla a esse ponto que não se importaria se ela fosse um fantasma.

 - Bem... acho que ele quer fazer dupla com você. Está olhando para cá, veja.

Edgardo Ainsley estava olhando mesmo. Estava olhando para qualquer um dos três de forma esperançosa, como se soubesse que um membro do trio estava prestes a se separar. Ele estava num lado particularmente escuro da sala, que já não haviam janelas ou velas suficientes. A atmosfera do canto deixava os olhos de Edgardo maiores e mais escuros e fazia seus cabelos pretos quase invisíveis.

Jeremiah engoliu em seco ao olhar para o garoto e seguiu em sua direção, pesaroso. Estava formada a última dupla.

— A sala de poções poderá ser aberta através da senha que darão para a gárgula falante que ficará posta na porta. ATENÇÃO! Somente vocês saberão a senha, e dá-la á vocês é um enorme voto de confiança - os olhos do professor Slughorn estavam esbugalhados e sérios -, se algum aluno não autorizado entrar, saberei a quem culpar, e acreditem quando digo, que posso não ser Apolíneo Pringle, mas não terei restrições quanto aos métodos que usarei para descobrir o culpado. - Um breve silêncio se instaurou. Ninguém daquela sala jamais havia visto Horácio Slughorn ameaçar, e não gostaram nem um pouco do gostinho. - Mas é claro que como são ótimos e queridíssimos alunos, não teremos complicações, não é mesmo? - O sorriso contagiante retornou para o rosto do professor como um baque irônico. - É que prezo demais minhas misturas... De qualquer forma, a senha é aranhona. — Fazendo carinho, ele guardou a caixinha de madeira de volta no armário. – Vão encontrar a receita da poção na página trinta e sete dos seus livros, acho que por hoje, teremos tempo somente de colocar algumas essências para ferver. Podem começar!

E assim começou. Não é intrigante o fato dos estudantes desejarem tão avidamente a Sorte Líquida, ninguém recusaria algumas chances de simplesmente se dar bem. Jeremiah correu para a prateleira agarrar alguns ingredientes, o que deixou Edgardo entusiasmado; ao contrário de Clementine e Damery, que começaram a sua mistura com o pé esquerdo, e não demorou a abafar a sala com um fedor que ninguém sabia certo de quê.

Para Damery, a proposta da poção da sorte tornava-se mais interessante a cada momento em que pensava nela, principalmente com as notícias do Torneio vindo à tona nas últimas horas, além do recente desemprego da mãe. No final da aula, estava decidida a dar um pulinho na biblioteca para pesquisar mais sobre o tão esperado evento, os dois amigos concordaram em acompanhá-la, por mais que nem fizessem ideia das crescentes intenções da garota para com o Torneio.

Clementine reclamava da demora das horas para o almoço, Jeremiah ficava quieto, mas com uma aura confiante, já que sua poção havia ficado extraordinariamente linda quando saiu da sala. Slughorn certamente a elogiaria quando fosse tomar notas, o que deixava Edgardo quase pulando de alegria.

— Não entendo porque colocar o extrato de lágrima antes das raízes... Era só seguir o livro. – Dizia Jeremiah, não acreditando nas decisões das garotas na aula.

— Essa ideia foi minha! Tenho certeza de que não foi por isso que deu errado, aquele caldeirão tava meio sujo... – Clementine retrucava. De certa forma, a garota sempre tinha uma resposta na ponta da língua, Damery gostava da amiga por isso.

Foram os três silenciados pela atmosfera da biblioteca, enquanto postavam-se em frente da enorme porta de madeira que separava a sala do corredor do primeiro andar. Irma Pince, recém tornada supervisora do ambiente, equilibrava-se no topo de uma enorme escada, apoiada em uma prateleira próxima à entrada. Teve de olhar para baixo (o que a fez balançar violentamente) quando Clementine perguntou sobre os livros referentes ao Torneio. Impaciente, Pince apenas apontou para uma pena em cima de uma mesa próxima. Os três olharam o objeto com curiosidade, e ele não demorou a começar a flutuar. Seguindo a pena como soldadinhos, o trio percorreu alguns corredores formados por estantes, onde livros viajavam livremente pelos ares junto com papeis avulsos, alguns destes sussurravam entre si e logo rasgavam-se em centenas de pedacinhos.

A pena caiu no chão e Clementine estremeceu, temendo que o objeto mágico fosse fazer alguma coisa inesperada, que por sua vez, permaneceu imóvel fazendo seus deveres de pena comum: nada. Na frente de Damery, estava um livro grosso e de aspecto antigo, a capa um pouco roída nas laterais e a borda manchada com o que parecia ser café. Jeremiah agarrou mais uns dois livros mais finos e o trio se dirigiu para uma mesa comprida que ficava entre as estantes. Na capa do livro, o seu nome escrito com um tear singular: Grandes Cerimônias do Século XII e Seus Respectivos Desenlaces. Damery correu os dedos pelas frágeis páginas até o índice, e logo viu um capítulo inteiro exclusivo a nada menos do que o primeiro Torneio Tribruxo da história.

A garota começou a ler.

— Em dezessete de abril de mil cento e noventa e três, com os avanços territoriais na Ásia, promovidos por Genghis Khan, da comunidade mágica da Europa surgiu uma intrigante proposta... blá blá blá, primeiro Torneio Tribruxo tomaria lugar no Durmstrang Institut för... é... alguma coisa, Instituto de Aprendizagem Mágica Durmstrang do Sueco. – Damery engoliu em seco. – Evento mais comentado da década...

— Tá bom, tá bom! Pula pros desafios. – Clementine pulou na cadeira, começou a folhear o terceiro livro.

— Aqui não diz eu acho, é tão antigo que nem o escritor sabia! – Completou Damery.

— Sabia sim, ele não coloca por ser algo muito maldito, feras e feitiços além da compreensão. Esse livro aí que você pegou não é didático, era pra vender para as grandes massas. – Jeremiah não tirava os olhos do seu livro, que era mais fino e novo.

— Para as massas... sei. – Clementine virou a cabeça para contemplar a grossura do livro na frente de Damery.

— Esse aqui diz que nunca houve um Torneio em que todos os participantes sobreviveram até a vigésima sétima edição. – Jeremiah leu e bufou, extasiado.

— E por que diabos eles não pararam com essa bobagem quando perceberam que as pessoas simplesmente não viviam?! – O tom de indignação de Clementine mereceu uma censura irritada da Irma Pince, que estava do outro lado da sala.

— Não faço nem ideia, - disse Damery, fechando o livrão. – Talvez todos fossem um pouco masoquistas naquelas épocas, sabe? Com desejo de sangue.

— Me pergunto o que teria feito esse sentimento voltar. Quem seria tão louco a ponto de permitir algo assim. – Clementine olhava agora para a janela mais próxima, estava tão empoeirada que a visão que ela conferia do lado de fora era sobre uma camada bege e insólita, como um filtro bloqueando o que pudesse haver de lindo dos arredores do castelo.

— Dumbledore.

Foi Jeremiah que disse. Com uma expressão de incredulidade nas suas próprias palavras; mas essa é uma característica do garoto, confia mais no que é lógico e factual do que o que suas percepções lhe dizem.

Clementine, de qualquer forma, havia ficado quieta como um túmulo.


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Notas finais do capítulo

To voltando.



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