Bulletproof Army escrita por Jéssica Sanz, Jennyfer Sanz


Capítulo 25
Suga tem uma catarse


Notas iniciais do capítulo

Desculpa, esqueci de postar de tarde. Só vamo.



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— O cenário é tarefa da turma de pintura — explicou Jimin, enquanto o cenário era rapidamente montado. — Mas a tarefa de mudar o cenário é do time de vôlei. O figurino é responsabilidade das cheerleaders.

Então, entrou uma menina de uns 10 anos. Posicionou-se no meio do palco e começou a falar.

— Boa noite. Hoje é uma noite bastante especial para a Casa Daegu, pois estamos completando dez anos de projeto. — Jimin sorriu por um momento. Sabia que havia todo um discurso preparado para Yoongi, mas era mais uma surpresa que só seria revelada na hora. Mas, ao ver o discurso que se seguiria, seu sorriso sumiu. — Além disso, estamos recebendo uma visita especial. Pela primeira vez, o Juízo do Segundo Mundo veio conhecer nosso trabalho, trazendo junto sua herdeira Sunghee, para quem preparamos…

A menina foi perdendo a voz e focando-se em outra coisa. Yoongi notou que ela estava olhando para Géssyca, que tentava disfarçadamente sinalizar para cancelar o texto. Ela olhou para Yoongi, preocupada. A luz do auditório não deixou ela ver a água em seus olhos.

— O que aconteceu? — perguntou a menina, confusa.

— Está tudo bem — ele disse a ela, e virou-se para Géssyca. — Está tudo bem, Noona. É que… — Yoongi mordeu os lábios, enquanto se levantava. Ele sabia que tinha que fazer aquilo. Virou-se para o auditório, apoiando o joelho em sua cadeira. — Gente, o Juízo provavelmente não vem mais. A Sunghee… Ela não vem mais.

Uma onda de desespero infantil foi invadindo o auditório, o que não facilitou as coisas para Yoongi.

— Por quê? — perguntaram. — Estamos fazendo isso tudo pra ela!

— Eu sei — disse Yoongi, com os olhos ardendo. — E vamos continuar o que estamos fazendo. Só tire essa parte do discurso. Vamos continuar o ensaio geral.

Os questionamentos continuaram, mas Yoongi se sentou para dar prosseguimento. Ele precisava dar um jeito de enxugar os olhos sem ninguém ver. A menina, que ainda estava no palco, continuou, nervosa.

— Sem mais delongas, é hora de começar a nossa história. O que acontece quando três garotos se apaixonam pela mesma menina?

Então, ela saiu do palco, e a peça começou. Entraram sete garotos novinhos, e um deles era simplesmente a cara do Yoongi.

— É parente do hyung? — perguntou Jungkook, impressionado.

— Não. É que a maquiagem foi testada nele hoje. A maquiagem daqui de Casa é muito boa. No dia, todos vão estar assim.

— Nem precisava do seu ator, você pode se misturar.

— Aish, Kookie, isso é hora de fazer piada com a minha altura?

Os sete meninos começaram a atuar. Conversaram sobre qualquer coisa e os três atores foram, aos poucos revelando que estavam apaixonados. Depois de mais alguma conversa, descobriram que era a mesma menina.

— Temos que fazer alguma coisa com relação a isso — disse o Mini Taeyhyung.

— Que tal — propôs o Mini Namjoon — se vocês três se declararem ao mesmo tempo? Aí pedimos para ela escolher.

— Quê? — perguntou o Mini Yoongi, indignado. — Mas que ideia absurda! Qual é a chance de uma bobagem dessas dar certo? Ela não vai se apaixonar por ninguém instantaneamente. Seria melhor se cada um fizesse sua própria declaração e tentasse conquistá-la aos poucos.

— Isso não seria tão justo — opinou Mini Namjoon.

— Seria perfeitamente justo! — afirmou Mini Yoongi. — Só vai conseguir quem realmente se esforçar, quem realmente merecê-la. E quem ela realmente amar.

— Hum, parece uma boa ideia, agora — concordou Mini Namjoon. — Deveríamos fazer duplas, também. Para diminuir a chance de alguém cometer algum erro.

Os sete meninos começaram a se articular para dar início ao plano. A peça mostrou todo o processo de conquista dos três personagens, usando de muito humor com relação às personalidades originais.

— Yoongi Hyung está rindo — disse Jimin, muito feliz. — Ele está precisando rir um pouco.

A peça ficou, obviamente, sem conclusão, assim como as outras apresentações.

— Hora dos comentários — disse Yoongi, tentando parar de rir. — Essa peça está esplêndida, gente. E vocês estão atuando maravilhosamente. Eu tenho certeza de que dará tudo certo na turma de teatro. Agora teria o encerramento geral da dança, mas ainda não foi ensaiado, é isso? — perguntou a Géssyca.

— Isso.

— Qual é a música? Odeio quando o Jimin não vem…

— Não sei. Mas eu ouvi rumores.

— Tá. Precisamos dele para começar a ensaiar o encerramento geral, porque é emendado. Então é isso, por enquanto, gente. Tá todo mundo de parabéns.

— Agora cante pra nós — insistiu novamente a menorzinha. Yoongi olhou para ela, ainda no colo de Géssyca, e sorriu. Ainda estava hesitante.

— Tudo bem, florzinha. Alguém pode trazer meu piano?

A turma de basquete novamente levou o piano para o centro do palco vazio, enquanto todos se acomodavam. Então, Yoongi subiu ao palco devagar. Sentou na cadeira e colocou os dedos nas teclas. Todo o auditório estava em pleno silêncio.

Só o primeiro acorde já foi capaz de pesar o clima. Alguém da turma de natação mudou a luz, deixando o ambiente frio e sombrio do jeito que Yoongi precisava para ter uma boa catarse. Ele tocou mais alguns acordes. O andamento da música não era tão lento como se supunha, apenas o necessário. Yoongi começou.

 

 

Eu me lembro do primeiro dia em que a peguei no colo

Ela era uma criança risonha e inocente

Eu vi seus olhos fechados, suas mãos pequenas e ávidas

Ela tinha uma luz que me puxava

Puxava tudo aquilo que a cercava

Eu não sei como ela era capaz, tinha acabado de nascer

Eu não precisei encará-la por muito tempo para notar

Que ela era extremamente forte

Tinha força para me destruir de uma forma que nunca aconteceu antes

Eu decidi, para minha própria proteção, que deveria me afastar

Porque conheci seu poder devastador

Mas não queria senti-lo

 

Eu dei o braço a torcer por uma noite

Aninhei-a em meus braços, mas me sentia aninhado

Eu queria que ela me temesse. Mas eu a temia

Ela riu e fez sua primeira luz, uma luz muito bonita

Mas, novamente, eu me convenci do perigo que ela representava

Eu decidi que era necessário deixá-la longe, aquela linda e pequena bomba

Eu a entreguei a quem ela não pudesse destruir

 

Me mantive longe, e ela me puxava

Eu sentia-me incomodado quando ela estava por perto

Mas ainda mais quando ela não estava

Tudo pareceu errado por quatro anos

Quando ela apareceu na minha frente novamente

Junto ao meu primeiro amor

Eu a vi tocar pela primeira vez

Me senti tentado a ensiná-la, mas ela era pequena demais

Eu lhe disse que esperasse, e ela me desafiou

Foi a única vez em que senti raiva dela

Eu a repreendi e esperei que ela finalmente me temesse

Mas ela apenas entristeceu-se, e isso foi pior que qualquer coisa

Ela tinha apenas quatro anos, e conseguia me incomodar a cada momento

Seu desejo era aprender, e eu não podia rejeitar esse pedido

Então eu contornei a situação

Pedi um piano do tamanho dela e a disse o que fazer

Eu ainda sentia que precisava me afastar

Mas eu escolhi não ser um egoísta

Escolhi colocar o desejo dela acima do meu medo

Então eu me aproximei dela por ser seu professor

Ensinar tornou-se algo tão gratificante que aquela única aluna não era suficiente

Eu decidi buscar mais, em segredo

Meus novos alunos tornaram-se o maior segredo da minha existência

E também minha maior felicidade

 

 

Eu tentei sorrateiramente me afastar daquela bomba, não tão pequena mais

Mas, como sempre, ela me puxava como uma correnteza fluida

Eu nunca fui seu melhor amigo

Mas não precisava que ninguém me dissesse

Eu sabia que eu era especial

E tinha um lugar no coraçãozinho dela

Yoongi começou a chorar silenciosamente

Ela me mostrou isso

Em seus pequenos sorrisos e gestos

Quando pegava minha mão que escondia a sua

 

A Casa cresceu com ela

Seus sonhos, suas aventuras, suas habilidades

Aquela menina tinha uma alma grande demais para seu corpo imaterial

Sua risada era como uma pequena chaminha

Que acendia meu coração imperceptivelmente

 

Ela aumentou seu piano de cauda conforme ela própria crescia

Cada vez mais próxima de ser mulher

E eu tive cada vez mais medo do que isso poderia significar

 

Ela me desafiou novamente

Queria que eu superasse alguns limites que não existem

Limites que minha Casa me fez superar

Mas eu permaneci em silêncio e superei novamente

Eu assisti seu contentamento com cada passo certo

Sua paciência com cada passo errado

Sua perseverança com cada “eu não consigo”

Seu sorriso com cada vez que eu a segurava

Ela fez algo dentro de mim se mexer e se inquietar

Algo que eu nunca conheci antes, que eu não sabia o que era, e ainda não sei como lidar

Eu sofri um pouco por não me sentir seguro para estar com ela

Mas ela sempre depositou sua confiança em mim

Ela me olhava nos olhos e dizia “sim, você consegue”

Ela foi uma professora melhor do que eu

Ela tornou-se minha motivação para ir além

 

Havia algo preso dentro de mim, que se mexia

Como um pássaro em uma pequena gaiola, e ela o cutucava

Pedia que saísse, enfatizava que ele era livre

Mas eu não conseguia acreditar. Mesmo assim, o pássaro se mexia e me incomodava

Não era um incômodo ruim. Eu apenas me mantinha alerta.

 

Eu fui feliz naquela noite em que dançamos juntos

Tudo estava perfeito. Mas era só um teatro

Senti-me livre ao sair daquele palco, e mais tarde fui levado a uma coxia

Era uma coxia falsa de um palco falso, era só o brilho da festa

Mas é na coxia que somos quem somos. É na coxia que se tira a máscara

Ela esbarrou em mim. Havia gente em volta.

Mas ninguém se importava conosco, e eu retribuí o favor

Eu retirei minha máscara e disse o que senti que precisava ser dito

Ela pegou a chave e abriu a gaiola

E nós finalmente sentimos o que precisava ser sentido

O pássaro bateu as suas asas, agitando-se

Aquele era o verdadeiro significado de liberdade, e era bom

Não havia nada que me prendesse. Ninguém que pudesse me dizer que eu estava errado

Eu não acho que estávamos errados em dar asas aos nossos sentimentos

Tudo pareceu perfeitamente perfeito

 

Até que se estilhaçou, quando uma enorme parede colocou-se entre nós

Eu senti meu coração ser arrancado

Yoongi chorava desesperadamente

Eu tenho ele em minhas mãos

O sangue escorre entre meus dedos

Eu ainda não sei como consigo suportar essa dor

Toda vez que olho pra ela, é como se enfiassem uma agulha

Toda vez que ouço a voz dela, parece que vai se partir no meio

Eu odeio essa dor

Eu odeio ter que amá-la

Tudo o que eu mais quero é que isso pare

Tudo o que eu mais quero é que ela não me faça sofrer dessa forma

Eu sei que ela não tem culpa

Eu sei que ela também está sofrendo

E isso só faz com que eu sofra mais

Eu sempre soube que essa bomba explodiria e devastaria tudo

Eu sempre soube que ela arrancaria meu coração

Mas eu não sabia que ela também seria devastada

E eu não consegui evitar

 

Todos falam muito bem do amor

Como podem gostar de um sentimento que é capaz de fazer isso?

Alguém me diz como faço pra parar de amar

É a pior coisa que já me aconteceu

Eu preciso ser salvo

Eu preciso ser salvo de novo

Eu não consigo suportar ficar longe dela

Não sei por que meu coração tolo e inútil se importa com alguém que não pode ter

Será que ela está sofrendo como eu?

Ela se apossou de um pouco de mim quando pegou aqueles cigarros

Ela deve estar sentindo ao menos um pouco a minha ausência

Eu não quero que ela sofra de jeito nenhum

Mas essa foi a nossa escolha. Escolhemos deixar a parede como está

Eu não posso quebrá-la, embora ela tenha me ferido completamente

Eu tenho poder, mas eu não consigo tomar essa decisão

Mas preciso que essa dor pare

Preciso parar de amá-la

Preciso parar de me importar com ela

Isso está me destruindo

Eu um dia não vai restar nada

Todas as partes de mim foram arrancadas quando surgiu este obstáculo entre nós

Eu sou uma árvore oca

Eu preciso ser derrubada

Eu não tenho razão para estar de pé

Eu também não tenho forças para estar de pé

Eu só finjo que sou forte

Sou apenas uma casca podre

Mas eu prefiro não ser nada do que ser uma casca podre

Eu imploro

Me destrua

Me bata, me queime

Me sufoque

Me mate de novo

Me tire desse inferno

Eu não quero ser imortal se for pra sofrer pra sempre

Arranque minhas asas

Deve doer menos que esse amor

Leve minhas asas, mas não me deixe amar

Eu odeio essa sensação

Eu odeio esse amor inútil

Eu odeio ser a casca podre de uma árvore oca

Eu odeio sentir cada pedaço que falta em mim

E todos os pedaços que faltam em mim

São ela

 

 

O amor me matou uma vez

Quero que me mate de novo

Porque a morte não dói tanto

Eu não sei como eu suporto

Eu não sei como estou de pé

Eu só sei que não vai durar

 

Me faça porcelana e me quebre

Eu sou frágil, eu sei que sou

Você não precisa de muito esforço

Eu só quero que tudo isso acabe

 

 

Yoongi desmontou e caiu em cima das teclas do pianos, chorando muito alto. Uma boa parte das crianças abriu as asas e voou para o palco, cercando-o. Muitas choravam com ele. Elas eram sensíveis o suficiente para sentir sua dor. Holly também choramingava no placo.

As lágrimas finas de Jungkook contornaram a mão que estava na sua boca. Ele não conseguia acreditar que tinha feito aquilo, que aquilo era real. Ele finalmente olhou para Jimin, na certeza de que veria lágrimas verdes em seus olhos, mas havia apenas um olhar atencioso.

— Como você não está chorando?

— Eu já sei disso tudo, Jungkookie — Jimin estava muito sério, de um jeito que Jungkook nunca viu antes. — E já chorei demais com essa verdade. Noites e noites. Eu não tenho mais lágrimas.

— Por que você não me disse?

— Porque é segredo. Além disso, você já está grandinho demais para que eu aponte seus erros. Você tem que perceber sozinho, e foi o que você fez. Era o que faltava para eu te mostrar isso.

Jungkook olhou para o palco novamente, sem receber ao menos um olhar de Jimin. Ele sentiu a decepção que estava omitida, o que não foi difícil. Ele mesmo estava muito decepcionado consigo.

A pequena menina, que não fazia parte da Casa Daegu, tinha ido para o colo de Yoongi. Ela conseguiu fazê-lo chorar um pouco menos. Ele começou a respirar fundo para se recuperar. Sua catarse tinha chegado ao fim. Então, começaram a surgir as perguntas.

— Por que você não quebra a parede, apeoji? Não é mais fácil?

Várias crianças concordaram. Jungkook começou a se sentir horrível. Yoongi apenas sorriu para elas, e disse.

— É muito simples: ele é meu melhor amigo.

— Está falando do Jungkook? — perguntou uma menina. — O APPA da Sunghee?

— Sim.

— Mas ele é ruim assim? — Várias crianças começaram a fazer perguntas do tipo, questionando como um appa poderia fazer uma coisa daquelas. O palco começou a ficar barulhento, e Jungkook se sentia cada vez mais horrível.

— Calma, gente — Yoongi chamou a atenção. — Não é assim. Vocês não conhecem o Jungkook.

— Eu não preciso conhecer. Eu já vi que ele é um idiota! — gritou um menino. Yoongi fechou a cara na mesma hora.

— Não, ele não é.

— Eu não quero mais ser o Jungkook — disse o Mini Jungkook.

— Por quê? Gente, escutem. Acontece que eu não contei pra ele. Ele não sabe de nada. Ele acha que está protegendo a Sun.

— Ele devia perguntar pra ela o que ela sente — palpitou uma menina. — Os appas fazem isso. Você sempre pergunta como nós estamos.

— A Sun é uma excelente atriz. Nós dois somos bons em esconder quando estamos insatisfeitos, então ele acha que está tudo bem.

— Mas por que vocês escondem? — perguntou outra garota, indignada. — Por que vocês não contam pra ele?

— Porque não podemos ir contra ele! Ele tomou essa decisão sem nos consultar, agora só nos resta aceitar.

— E se vocês fugissem? — perguntou um menino, animado. As ideias estavam a mil. — Não precisariam enfrentá-lo.

Yoongi riu. Ele estava se divertindo muito com as crianças. Para elas, tudo é mais fácil.

— Isso é impossível. Eu não posso abandonar o Juízo. Temos a nossa Casa, nossos amigos, somos praticamente uma família. Essa seria a primeira fissura na coluna. Tudo poderia acabar, de novo. Todos nós morremos por atitudes imprudentes. Não podemos cometer o mesmo erro.

Géssyca bateu a mão no pulso, indicando que o tempo tinha acabado.

— Nós temos que ir, gente — disse Yoongi.

— Ele vai pensar melhor nas ideias de vocês. Com certeza encontraremos uma boa solução — garantiu Géssyca.


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Notas finais do capítulo

O que dizer? Sei lá.
Já viram Ep.4?



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