Bulletproof Army escrita por Jéssica Sanz, Jennyfer Sanz


Capítulo 22
Conselhos em série


Notas iniciais do capítulo

Não sei se ainda tem gente que não gosta da Yumii, mas esse é um daqueles capítulos para repensar.



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Era bem cedo ainda quando Yumii reuniu todos os moradores, até mesmo o 7, na Sala do Juízo.

— Muitos de vocês devem estar se perguntando por que reuni vocês aqui hoje, mas alguns já sabem do que se trata. Eu preciso dizer que estamos vivendo uma situação insuportável nesta Casa, mesmo que muitos não notem. Afinal, Omelas sempre foi feliz às custas da infelicidade dos outros. Isso não é nenhuma novidade. Durante esta madrugada, ficou um pouco mais óbvio para todos nós que há algo muito estranho acontecendo aqui. Eu não quero que vocês saibam da desgraça dos outros e fiquem tristes. Quero que alguém resolva essa situação, de preferência a mesma pessoa que criou ela. Eu não fazia ideia de como agir para que isso se resolva, então resolvi pedir um conselho ao Hoseok Oppa. Ele me disse muitas coisas que me incentivaram a tomar minha decisão, que foi reunir vocês aqui hoje. Acontece que eu não posso resolver essa coisa toda sozinha, nem jogar nas costas de quem deu início ao problema. Precisamos fazer isso juntos, como uma família, o que não quer dizer necessariamente que uma ação deve ser tomada por todos ao mesmo tempo. Devemos apenas estar sincronizados. Hoseok me disse o seguinte: Existem momentos em que a razão e a emoção se confundem. Estejam eles juntos ou separados, podem causar erros, porque nossa emoção não nos deixa pensar com clareza em causas e consequências, e nossa razão pode ser influenciada por ideias equivocadas. É assim que o pensamento torna-se confuso, é assim que cometemos erros. Mas temos que lembrar que não estamos sozinhos. Nós somos uma família. Não adianta dizer que o 7 não é, vocês já fazem parte do que nós somos, depois de tantos anos, mesmo sendo considerados servos. Então nós somos 17. Podemos contar uns com os outros. Quando estamos confusos e não sabemos como agir, ou não temos certeza sobre que ações tomar, é preciso tomar a mais importante das decisões: ser humilde. Saber reconhecer que não somos os donos da razão, que cometemos erros. Saber reconhecer que precisamos de ajuda. Hoje eu tive dúvidas, mas eu sei que algo precisa ser feito, então procurei alguém que pudesse me aconselhar. E a ação que eu escolhi tomar para resolver essa situação é pedir que vocês façam o mesmo. Ninguém precisa ficar a par dos acontecimentos para que isso funcione. Quem precisa fazer isso sabe que precisa. Procurem alguém que tenha passado por uma situação semelhante à de vocês, alguém que seja mais experiente que vocês. Contem sua história e peçam um conselho. Por fim, tomem a decisão. Quem não tem nada a ver com a história, basta esperar que alguém apareça. Sejam bons ouvintes e pensem bastante no que vão falar. Deem o melhor conselho possível. É tudo o que precisamos nesse momento.



Michung não tinha nada a ver com a história, e sabia que ninguém ia procurá-la, mas não queria ficar de fora. Decidiu pedir um conselho a Géssyca.

— Unnie, o aniversário do Hoseok Oppa está chegando. Eu quero fazer algo especial. O que me sugere?

— Hum, vamos pensar em algo, Mi. Você já fez tantas coisas boas para o Hoseok…

— E ele para mim.

— Exatamente.

— Pensei em levá-lo para ver a eomma…

— Não!

— Não? Por que não, unnie?

— Porque… Não sei, muito clichê?

— Nós amamos clichês.

— Mas… O que tem de especial onde a eomma dele fica?

— O que tem? Parece que é a tal Ilha das Mães-sem-filhos. Tem muitas crianças lá, e o Hoseok não vai há muito tempo.

— Não sei. Não gosto da ideia, Mi. Você já pensou em levá-lo na Fazenda?

— Na Fazenda? Mas… Não temos nada a ver com a Fazenda…

— Seria algo diferente, pelo menos.

— Não preciso de algo diferente, preciso de algo especial.

— Então torne especial. Olhe, todas as noites tem música ao redor da fogueira. E tem as festas de colheita, e as feiras de confecções artesanais… Mas isso são só as coisas especiais, porque a Fazenda em si já é bem diferente daqui. E tem o lago onde eu e Tae nos beijamos pela primeira vez.

— Hum… Parece interessante, unnie.

— Ah, e lá também tem crianças. Elas ajudam nas plantações e tudo o mais… É muito divertido. Sabe, Michung, você e o Hoseok precisam desestressar de vez em quando. A Fazenda seria perfeita.

— Mas… a Ilha das Mães-sem-filhos também não seria bom para isso?

— Ah, eu não acho. Existem coisas muito mais legais na Fazenda. Pelo que você me disse sobre essa Ilha.

— Tenho ouvido falar muito bem dela, ultimamente. Parece que tem algo diferente, agora.

— Não sei nada sobre isso. Olha, sempre temos alguns eventos especiais, eu vou procurar saber para você. Com certeza alguma coisa vai te interessar.

— Hum, está bem, unnie. Você parece ansiosa para que eu visite a Fazenda…

— Mian. É que esse lugar é muito especial para mim.



Taehyung estava fazendo alguns desenhos quando Mark veio chamá-lo.

— Senhor…

— Já falamos sobre isso, Mark… Umas mil vezes.

— Mianhaeyo. Taehyung, a senhorita… A Sunghee o está chamando.

— Onde ela está?

— No Hall 83.

— Que fica…?

— No último andar. Vou levá-lo até lá.

Quando Taehyung chegou ao Hall 83, Sunghee estava na sacada. Sentada na amurada, apoiada na parede do lado direito. Ele se aproximou e sentou-se também, de frente para ela. Os dois estavam com os pés na amurada, abraçando as pernas. Ela encarava o jardim bem lá embaixo.

— Você está pensativa.

— Já pensou em desistir de tudo, oppa? — perguntou ela, com a voz serena como se estivesse muito longe. Ele riu.

— Olha… Se eu tô aqui hoje é porque desisti de tudo, moça. Você sabe disso.

— Eu sei. Você faria de novo?

— Essa pergunta é difícil. Tudo foi um plano de Abraxas. Nós oito seguimos a influência dele para chegar aqui. Era nosso destino, de certa forma. Digamos que não havia muita opção. Mas você não tem nenhum Abraxas te influenciando. Precisa pensar muito bem nessa decisão. O que faz você pensar em desistir de tudo?

— É que… Como eu posso explicar? Eu sou uma árvore oca.

— Como assim?

— Eu não sei como dizer isso de outra forma.

— Muito bem. Vamos exercitar minhas habilidades de interpretação. Você sente um vazio?

— É por aí.

— Você não quer me contar essa história?

— De forma bem resumida… Eu estava acostumada à presença do Yoongi Oppa, mas desde a festa apeoji decidiu que eu deveria me afastar dele.

— Nem imagino o motivo… Aquela apresentação foi além de qualquer expectativa. Quer dizer que o Jungkook tá com ciúmes?

— É mais que isso. Ele tem medo do que o oppa possa ser pra mim. Por causa dessas escapadas dele. Eu não consigo entender nada dessas coisas. Como eu posso gostar tanto de um oppa como Yoongi?

— Já pensou em dizer ao seu appa o que você sente?

— Eu sei que não vai fazer diferença. Ele acha que meus sentimentos são passageiros. Se for para as coisas continuarem assim, eu espero que sejam.

— Então ele sabe que você está sofrendo?

— Não sei. Eu não quero nem pensar nisso, oppa… Porque se o apeoji sabe que eu estou sofrendo e não faz nada a respeito… Eu não sei nem o que pensar sobre ele.

— Sunghee… Você sabe que tudo o que o Jungkook faz é para o seu bem. Tá certo que ele é meio cabeça-dura e pode ser um pouco imaturo às vezes, mas ainda assim, tudo o que ele faz de ruim também é para o seu bem.

— Você acha que ele não sabe que está me fazendo sofrer?

— Se ele soubesse, acho que ele ao menos te daria algum apoio. Ele tem feito isso?

— Não.

— Então eu acredito que ele não sabe o que está fazendo.

— Nesse ponto que eu queria chegar. Se o meu appa não sabe o que está fazendo… Eu deveria mesmo deixar as coisas como estão?

— Olha, Sun…

— Eu sempre fui ensinada a ser obediente, a não decepcionar os meus pais, e tenho feito isso há muito tempo. Porque sempre me disseram que os mais velhos são os mais experientes. Por isso eu achava que eles sempre estavam certos. Mas agora eu sei que meu appa não está agindo corretamente. Eu preciso mesmo ficar calada?

— Sun, eu não sei o que você está pensando em fazer, mas deve tomar muito cuidado. Você sabe que eu demorei muito para enfrentar meu appa, mesmo sabendo que ele estava errado. E olha que ele estava muito mais errado que seu appa. O Jungkook, pelo menos, acha que está fazendo o bem pra você. Mas apeoji só pensava nele mesmo. Ele fazia coisas terríveis para nós. Mas eu demorei muito para finalmente ir contra ele, e mesmo assim me arrependi. Sabe por quê? Porque, apesar de tudo, ele é minha família. Nós temos o mesmo sangue correndo nas veias. Independente de estar vivo ou morto, eu existo, e é por causa dele. Você entende?

— Sim. Eu entendo. É que é estranho, Tae Oppa… Eu nunca senti nada de ruim pelo meu appa. Sempre achei que ele fosse a pessoa mais incrível do mundo, e agora eu não sei o que sentir. Eu não tenho coragem de tomar nenhuma atitude extrema, mas sinto vontade de fazer alguma coisa. Sinto vontade de sair daqui e ficar por conta própria, enquanto ainda não sou juíza. Porque eu já tenho 15 anos, e sempre ouvi dizer que teria minha liberdade com essa idade. Todo mundo sempre disse que eu teria autonomia para tomar decisões, porque já seria madura o suficiente. Mas ele continua me tratando como criança. Eu tenho vontade de largar tudo, mas é o que você disse. Ele é minha família. Eu nunca poderia enfrentá-lo. Nunca poderia decepcioná-lo. E pelo que eu conheço dessa história… Acho que Yoongi também pensa desse mesmo jeito.

— É, Sun… A situação não está fácil pra você. Eu não sei que decisão você vai tomar, mas pense muito bem. Não faça nada do qual possa se arrepender.

— Esse é o seu conselho?

— Pode ser. Acho um bom conselho pra hoje.

— Acho que eu vou escolher me conter. É a atitude mais segura. — Taehyung assentia em aprovação. — Eu posso sofrer, desde que seja a única. Uma criança aprisionada em Omelas. Uma árvore oca.

— Não acho que isso vá durar muito tempo, com esse grande conselho que a Yumii deu. Alguém tem que fazer alguma coisa. Por enquanto, você precisa aliviar a tensão.

Taehyung colocou as pernas para fora da sacada.

— E desistir de tudo? — perguntou Sunghee, virando-se também.

— Só um pouquinho.

Então, os dois pularam. Passaram em alta velocidade por uma sacada mais abaixo, onde Yugyeom servia café.

— O que foi isso? — perguntou Jungkook, sentindo o ventinho que passou ali.

Os dois só abriram as asas quando estavam quase alcançando o jardim, e voaram por ele.

— Sunghee e Taehyung — constatou Namjoon, antes de comer um biscoito. Yugyeom saiu da sacada e fechou a porta. — Eles sempre fazem essas coisas. Estão sempre se divertindo.

— Que bom. Eu estava com medo de que Sunghee estivesse se sentindo mal.

Namjoon fechou os olhos, lembrando-se dela dizendo que era uma árvore oca. Jungkook parecia incrivelmente cego. Namjoon decidiu não contar, mas precisava dar um conselho. Não foi esse o pedido de Jungkook naquele incomum café da manhã na sacada?

— Por que ela estaria? — perguntou o líder, conduzindo a conversa.

— Porque eu tomei uma atitude. Peguei pra mim as aulas de piano e disse para os dois se afastarem.

Namjoon não conseguiu esconder sua expressão de “agora tudo faz sentido”.

— Hum — disse ele, tomando um pouco de chá. — Então você não quer que Yoongi e Sunghee fiquem juntos.

— Claro que não, hyung! Olha, eu sei que Sunghee é minha filha, Yoongi é meu melhor amigo e tudo o mais… Só que Yoongi tem feito umas coisas suspeitas de uns anos pra cá. Eu não vejo nenhum problema em meu melhor amigo fazer isso, mas não serve pra minha filha.

— Eu achei que você ia deixar a Sun tomar as próprias decisões com 15 anos.

— Eu também achei que ela estaria madura o suficiente para isso. E está, menos quando o assunto é amor. Ela não tem experiência pra isso.

— E claro que ela vai ter se você ficar privando a garota de relacionamentos…

— Hyung… Todo mundo nessa Casa quebrou a cara por causa de amor. Todo mundo morreu por causa de amor. O amor é uma desgraça!

— Você não pode usar isso como argumento quando é casado há 15 anos, Jeon Jungkook.

— Aí que tá. Não é todo amor que é uma desgraça. Eu e Yumii demos certo, mas você acha que a Sunghee daria certo com o Yoongi Hyung? Toda semana ele foge da Casa e ainda diz na nossa cara que vai ficar com as mulheres dele.

— Ele não tem ido ultimamente, tem? Ele foi desde a festa?

— Eu sei lá, hyung, não vou ficar fiscalizando ele, ele já está bem grandinho pra cuidar de si mesmo. Eu tenho que cuidar da Sun, só isso.

“E você tá se saindo muito bem” — Namjoon segurou o comentário irônico.

— Ok. Isso tudo tem a ver com o que aconteceu de madrugada, certo? E com o pedido de Yumii também.

— Tem sim. Eu agi muito errado, hyung. Eu tive um sonho ruim com os dois. Não consegui separar as coisas. Acordei com raiva e deu no que deu.

— É mesmo difícil separar sonho e realidade quando você já está no mundo dos sonhos.

— É, mas não justifica. Eu nem consegui pedir desculpas pra ele. Eu não tinha o direito de fazer isso, hyung. Ele pode não ser o genro que eu quero, mas ainda é meu melhor amigo. Sempre vai ser meu melhor amigo. E é óbvio que ele nunca faria o que fez no meu sonho. Mas eu não estava pensando racionalmente.

— Por que você não pede desculpas?

— Desde ontem não consigo nem olhar na cara dele, de tanta vergonha.

— Bom, você precisa fazer alguma coisa. É a amizade de vocês que está em jogo. Isso sem falar no problema da Sunghee.

— Eu preciso muito de um conselho, hyung. Porque eu que comecei essa coisa toda, eu tenho que fazer alguma coisa. Tudo que a Yumii disse hoje foi mais pra mim que pra qualquer outra pessoa. Mas não posso simplesmente dizer pra eles ficarem juntos, só porque errei. Eu errei ao agredir o hyung sem razão, mas não acho que estou errado em prezar pelo bem da minha filha… Estou errado?

— Não, Jungkook, você não tá errado em querer o bem da Sun, mas tem que pensar bem nas atitudes que toma com relação a isso. Tudo tem uma consequência.

— Então o que eu faço, hyung?

— Vamos lá. Pra começar, você é a melhor pessoa para analisar isso da visão da sua filha, que é uma coisa que você não tem feito. Até agora, só pensou no que é melhor pra ela, mas ainda não pensou no que ela sente. Você acha que ela está feliz?

— Bom… — Jungkook olhou para o jardim onde os dois voavam e riam juntos. — Ela me parece bastante feliz. Até agora ela não me deu nenhum sinal do contrário.

— Tá. Agora deixa eu te lembrar como a gente chegou aqui. Depois que a Yumii terminou com o Jin Hyung, ele ficou muito mal, e nós tentamos fazê-lo ficar bem. De alguma forma, funcionou. Nós ficamos os sete felizes, depois até começamos a nos dedicar ao seu novo relacionamento à distância. Tudo estava dando certo, não é?

— Sim.

— Não, não estava. Jin continuava mal, mas estava fingindo tão bem que nós nem notamos. Ele estava com depressão, estava até tomando remédios, e ninguém percebeu. Ele escondeu tudo isso da gente pelo nosso bem. Porque queria nos ver felizes. Naquela época, ele era a criança aprisionada em Omelas, o único triste às custas da nossa felicidade. Nós demoramos muito a perceber, até que um dia acordamos sem ele na Casa e descobrimos pela TV que ele tinha tentado se suicidar. Ninguém perguntou pra ele como ele realmente estava se sentindo. Nós simplesmente interpretamos.

— Você acha que ela está fingindo, então?

— Eu tenho certeza, Jungkook. Mas o que ela sente é você quem tem que descobrir. Quanto ao Yoongi, eu não tenho tanta certeza, mas ele também pode estar atuando. Nós vimos na apresentação que eles dois são bons nisso.

— Então, qual é o seu conselho, hyung?

— Até agora, você só viu tudo isso da plateia. Tem que entrar na coxia e descobrir o quanto dessa história é verdade, e o quanto é mentira. Precisa descobrir o que Sunghee sente pelo Yoongi, o que Yoongi sente pela Sunghee. Quanto ao comportamento dele, se ele realmente a ama, o que eu não duvido, pode ser que ele esteja disposto a uma grande mudança.


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Notas finais do capítulo

Eita, que agora a coisa flui, hein... A situação deve se resolver em menos de 24 horas... que passarão bem devagarzinho com nossos cinco capítulos restantes para o fechamento do arco.
Eu reli essa capítulo pra revisar... Confesso que até comecei a ler o outro pra ver no que dá.



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