Durante as aulas... escrita por Sarah


Capítulo 2
A simpatia do alface




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Era a dinâmica do alface. Ou melhor dizendo: a simpatia do alface, feita por sabe-se lá qual aluno de sabe-se lá qual turma, no desespero para tirar uma nota razoável na prova de física.

Física. O terror dos alunos. A matéria que tirava o sono até dos mais empenhados e estudiosos. Que parecia ter sido criada pelo próprio Lúcifer. O motivo da metade da escola ter reprovado. A principal causa da depressão de todos.

Exagero? Talvez.

A questão é que na semana da tão temida e apavorante prova de física, uma folha muito amassada com uma folha de alface muito mal desenhada começou a circular pelas salas. Quem começou com esse ritual? Ninguém sabia ou tão pouco se importava.

As regras para escrever na folha eram simples e passavam de boca em boca, aos sussurros, durante as aulas supostamente importantes.

— Funciona assim – falavam os alunos entre sim – você escreve o nome de para quem você vai dá a folha e passa a mão no alface. É pra dar sorte em física.

E assim a folha ia passando de mão em mão, cada vez mais maltratada e judiada, com os nomes tão espremidos que era difícil encontrar um espaço vago. E foi naquela corrente de esperança desesperada, que os alunos ficaram mais unidos, e por que não dizer conectados, interligados?

Um por todos, todos por um.

Aprendiam e inventavam apelidos, brincando de adivinhar quem era quem, em meio a ataques de risos abafados e sussurros nem tão discretos, porque toda essa brincadeira/simpatia era escondida dos professores, é claro, que nada podiam fazer além de observarem, atônitos e confusos, os cochichos risonhos entre os alunos de todas as turmas, que nunca antes haviam parecido tão amigáveis entre si.

E assim se passou a semana. Um mistério para os professores. Uma promessa de milagre para as notas dos alunos.

Até que na véspera da prova, algum aluno esquecido, cujo nome ou turma não tem a menor importância, deixou a folha embaixo de uma mesa já toda rabiscada qualquer, por onde passou alguma tia da limpeza já estressada (porque aqueles monstrinhos não podiam jogar o lixo no lixo?!) que simplesmente a jogou fora, sem parar por um segundo sequer para olhar seu conteúdo.

No dia seguinte: a prova.

A tão temida prova. A que fez elevou tanto o desespero de alguns alunos que chegaram a cair num choro compulsivo e até mesmo desmaiar. Exagero? Talvez.

Nesse dia, ninguém reparou no desaparecimento da folha. Mais sinceramente falando, ninguém sequer lembrou-se da simpatia do alface, nem mesmo quem a começou. E assim acabaram-se os apelidos e as risadas, recheadas de piadas internas.

Os professores não perceberam essa súbita mudança, nem os alunos.

E na semana seguinte, quando as mais temidas e esperadas notas foram anunciadas, notas essas surpreendentemente boas com pouquíssimas vermelhas, ninguém lembrou de agradecer a simpatia do alface , que mesmo tendo sido descartada de qualquer jeito, fez sua parte.

Salvou a nota dos alunos.


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