Yume - Diário de Sonhos escrita por Kath Gray, Melissa Sbragia


Capítulo 10
Caça ao Tesouro, à Bota e à Borboleta (Isabel)




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No começo, tudo parecia uma brincadeira.

Éramos um grupo de crianças. Não me lembro de ter algum vínculo com alguém no sentido familiar ou carinhoso, então não me sentia mal de ficar longe por muito tempo.

Não me lembro de como ele nos descobriu; era como se estivéssemos lá desde o começo. Como se estar com ele fosse o princípio da nossa vida; embora isso não fizesse sentido, definitivamente fora o princípio das nossas memórias. Ou pelo menos, das que nós ainda possuíamos depois daquele dia.

Tinha um outro homem com ele, mas quase não notávamos sua presença. O primeiro era quase como um ímã para a nossa atenção. Cabelos negros, contornando sua cabeça até a altura do queixo; tinha uma pele clara, de um tom alvo e dourado de salmão. Não me lembro de seus olhos.

A brincadeira era simples. Devíamos brincar de algo que nós chamávamos de "esconde-esconde", mas estava mais para uma caça ao tesouro. Ele falava objetos, e nós tínhamos que procurá-los.

No começo, era bem simples. Procurem uma borboleta! Procurem uma bota! É claro que encontrávamos rapidamente; éramos várias crianças - talvez perto de dez - e não éramos permitidos a procurar juntos, já que era um jogo individual.

Mas de repente, literalmente de um instante para outro, o jogo mudou de figura.

Não me lembro com certeza, mas acho que fui a primeira a encontrar um. Estávamos procurando a bota outra vez. Já tínhamos mostrado a anterior ao homem e ele a tinha tirado de seu lugar, então teríamos que procurar de novo do zero.

Então, eu o encontrei.

Um homem, caído. Ele vestia duas galochas marrons, que eu soube de cara que eram o que eu estava procurando.

Eu soube de imediato que ele estava morto. Completamente pálido, olhos semi-abertos, expressão rígida, deitado em um chão duro e desconfortável.

Enquanto eu olhava para aquilo, meio nervosa, ouvi o homem chegar atrás de mim. Pela primeira vez, me assustei ao perceber como ele sempre sabia onde estávamos, às vezes mesmo antes de o chamarmos.

O homem olhou para o corpo e sorriu. Sorriu aquele mesmo sorriso largo que sempre sorria quando lhe dávamos coisas. Ele deu dois tapinhas em minhas costas, dizendo como eu era uma boa garota e que ele estava muito orgulhoso.

Eu não vi o que ele fez com o corpo. Ou se vi, não me lembro. Só me lembro de sentir o frio penetrando minha alma - eu quase não prestava atenção ao meu corpo naquele momento, mas é difícil não perceber quando sua alma fica gelada.

Nós nem pensamos em fugir. Nem eu, nem as outras crianças. Não era como se tentássemos lembrar de outras pessoas que conhecíamos e não conseguíssemos; nem nos passava pela cabeça que já tínhamos conhecido outras pessoas. A influência do homem de sorriso largo era tão grande assim. Nós não pensávamos em ir embora e deixá-lo, simplesmente porque essa possibilidade nem passava pela nossa cabeça.

Mas depois do primeiro corpo, nós não continuamos obedecendo-o cegamente. O nosso medo não nos permitia. Toda vez que estávamos explorando aquela parte estranha da cidade branco-metálica em que ruínas em formas bizarras se juntavam a pedaços esparsos de gramado e éramos tocados por um mal pressentimento, procurávamos outra pessoa a quem nos juntarmos para terminar a busca. Embora não tenha visto claramente, tenho quase certeza de que as outras crianças também escolheram seus pares; o meu era um garoto. Seus cabelos eram marrom escuros, médios, e sua pele era um pouco mais morena que a minha.

Nós não falamos um com o outro para combinar nosso plano de ação. Não puxamos um ao outro para o canto para falar de como agiríamos a partir dali. Nem ao menos nos olhamos nos olhos e fizemos planos silenciosos por osmose e sinais discretos. Simplesmente fizemos. Ao sentir que estava chegando em algo, o chamei, e quando ele sentiu o mesmo, me chamou, e a partir desse momento passamos a procurar sempre em lugares próximos.

Não que precisássemos de proteção mútua ou algo do tipo. Não em um futuro imediato, nem enquanto continuássemos "brincando". Apenas sentíamos que o peso era mais leve quando encontrávamos um corpo sem estarmos sozinhos.

Outros objetos se passaram. Outro que me chamou foi quando o homem pediu por uma borboleta, e encontrei um moço com uma bela tatuagem de borboleta azul exposta em seu ombro. Me fez mal a forma como algo tão bonito pareceu tão assustador naquela situação.

 


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Notas finais do capítulo

E aí? Como estão? O que acharam?
Sinto muito por - mais uma vez XP - não saber o final da história. Mas acho que consegui escrever bem dessa vez! Que tal ficou? ^^
Deixem comentários se estiverem acompanhando! o/
Até a próxima! o/



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