Os Fantasmas de Gravity Falls escrita por Alice Pereira


Capítulo 2
Negação


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo está consideravelmente mais curto, por mais que inicialmente eu pretendesse escrever bem mais. Levei basicamente 5 meses pra escrever mil palavras, e gostei da forma com que ele foi finalizado, então aqui está! Tenho escrito muito pouco esse ano, e justo agora que não tenho tempo voltei a querer fazê-lo.
Bem, duas pessoinhas que acompanham a história, obrigada por estarem aqui e por me esperarem com tanta paciência! Acho que atualmente escrevo OFGravityFalls muito mais pra mim mesma do que pra vocês, pra quem costumava acompanhar da primeira vez que postei ou pra quem talvez um dia acompanhe. E... Bem, na maior parte do tempo não sinto necessidade de fazer a história andar.
Tudo o que posso prometer é não fazer promessas, porque sei que não irei cumpri-las. Espero que não desistam de mim ♥



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Nunca gostei do novo, provavelmente porque os outros também não gostam do diferente. Mesmo em Blithe Hollow, onde as bruxas e o sobrenatural cresciam rente às raízes da cidade, as pessoas temiam e afastavam o que se aproximasse disso, eu não queria nem imaginar como seria viver em Gravity Falls, uma típica cidadezinha de interior onde coisas do tipo não passavam de histórias para se contar ao redor da fogueira.

O momento em que revelei ao mundo pela primeira vez as coisas que eu via não permanecia em minha memória, porém tudo que eu menos queria no momento era recriar a situação. Parado em frente à escola, os fantasmas dos dois anos de alegria que seguiram a paz d’A Bruxa me assombravam, dizendo que eu não seria capaz de trazê-los de volta a vida. Estavam certos, sabe? Mas talvez fosse possível criar novas mudas de felicidade, se ao menos eu conseguisse me mesclar aos outros alunos.

Não”, insistiu o lado infeliz e pessimista da minha mente, “você nunca obteve felicidade ao tentar ser igual aos outros, porque para alcançar o normal deles precisaria mutilar sua alma”. Estúpida e sábia consciência, novamente destruindo o meu dia, até quando isso continuaria? Respirei fundo e tentei engolir o nó que se formava em minha garganta, no entanto ele continuou lá, me lembrando de que nada daria certo.

Um passo atrás do outro, consegui passar pelos portões e corredores da Northwest Middle School, um prédio de tijolos vermelhos velhos e gastos. A sala de inglês, minha primeira aula, não tinha muitos alunos, nem muitos lugares, como reparei ao chegar à porta. Tentei passar despercebido e me sentar ao lado de um dos vários rostos simpáticos que via pelas carteiras, entretanto antes que eu pudesse dar 3 passos um deles praticamente se materializou na minha frente.

— Oi! — gritou, seu aparelho a centímetros do meu rosto. — Qual o seu nome?

Seu cabelo castanho claro balançava num rabo-de-cavalo, revelando um par de bolinhas verde piscina enfeitando as orelhas. Vestia um sweater da mesma cor, com uma sereia de cabelos ruivos e cauda num tom mais escuro do verde no fundo. Sua vivacidade era surpreendente, talvez até assustadora. Nunca tinha visto alguém semelhante àquela garota na minha cidade natal e ironicamente ela estava longe de se encaixar nos meus padrões de “normal”.

— Norman — respondi, ainda lutando para desamarrar minhas cordas vocais.

Algumas pessoas tinham parado suas conversas e olhavam em minha direção, ou talvez na dela, o que era basicamente a mesma coisa. Senti suor umedecer a palma das minhas mãos, desejando com todas as forças que eu me tornasse invisível para os outros como o fantasma sentado em uma das carteiras, vazia apesar das poucas opções disponíveis. Era um garoto que aparentava ter uma idade próxima à minha, mesmo que suas roupas antiquadas disessem que ele estava ali há um bom tempo.

— Prazer, Mabel Pines! Sou nova por aqui. — Ela estendeu a mão, pelo jeito determinada em receber minha atenção. Retribuí o cumprimento, me esforçando para abrir um sorriso.

O fantasma não dava sinais de que iria sair dali, então fosse por mim ou não, ele iria esperar. “Não”, ralhou uma voz diferente, a voz do medo. “Quer ser encontrado? Você não vai falar com fantasmas porque você não vê fantasmas, simples assim”. Respirei fundo, tentando entender como duas opiniões opostas podiam conviver dentro de mim daquela forma, ambas estando certas.

— Também sou — me vi dizendo, sem que pudesse chegar a uma conclusão sobre como agir que agradasse a todas as partes de mim. — Achei que fosse o único!

— Meu irmão, Dipper, também é — completou, indicando com a cabeça um garoto muito parecido com ela, que fitava o céu nublado além da janela. — Quer se sentar perto da gente?

Antes que eu pudesse concordar, ela me arrastou para uma cadeira em frente à uma garota corpulenta, com uma pinta se destacando embaixo do olho. Murmurei um cumprimento surpreso quando o vozeirão de Grenda explodiu pela sala, dizendo como ia ser legal ter um garoto bonito sentado tão perto dela.

Ouvindo as familiares risadas abafadas começarem a brotar pela sala, me virei para frente e brinquei com os meus dedos até o professor chegar. Era um homem alto e esguio, com uma rala cabeleira loira cobrindo sua cabeça como penugem de filhote de passarinho, seus olhos azul-acinzentados tão apagados quanto todas as cores em seu rosto e roupas.

— Bom dia — fez retumbar pela sala. — Como sabem, sou o Senhor Ginzburg, professor de inglês.

Tinha uma voz surpreendentemente potente, considerando seu aspecto frágil e cadavérico. Com sua aparição, foram poucos os alunos que continuaram a conversar, mas mesmo esses logo foram intimidados pelo silêncio que se instalou ao seu redor.

Se olhássemos melhor, a penugem que cobria sua cabeça não fazia do senhor um passarinho, na verdade éramos nós que parecíamos perturbadoramente com aves treinadas para falar algo sob um comando, sem vida ou intenção de expressar qualquer coisa. Nessa questão, o melhor de todos obviamente era o que estava ali há mais tempo, se destacando pela sua completa apatia e voz perfeitamente clara e uniforme.

— Bom dia, Sr. Ginzburg — respondeu obedientemente o menino esverdeado junto com o resto da turma.

— Vejo rostos novos — comentou o professor. — Gostariam de se apresentar?

Suas íris nubladas me fitaram por apenas um instante antes de saltarem por sobre meus ombros, mas foi o suficiente para me deixar desconfortável, como se ele pudesse enxergar através dos olhos que minhas sobrancelhas tentavam em vão esconder. Quando me perguntei se Mabel também se sentia assim, a resposta obviamente foi não: era difícil imaginar que existissem segredos por baixo daquele sorriso que brilhava como se ao invés de um aparelho, estrelas adornassem ele. Quanto a Dipper eu não estava bem certo, entretanto não desejaria aquela sensação de vulnerabilidade a ninguém.

— Como todos vocês já sabem — brincou a garota das estrelas, — meu nome é Mabel! E esse é o meu irmão, Dipper Pines, mesmo que eu não devesse facilitar isso pra ele. Viemos de Piedmont, Califórnia, esperamos que tenha sido para ficar.

Finalizou sua apresentação com uma piscada e uma risada, mas quando pitadas de deboche surgiram aqui e ali, se afundou um pouco no assento. O movimento foi quase imperceptível, porém existiu e mostrou que havia, sim, alguma fagulha de insegurança apenas esperando para ser acesa, atrás daquela faiscante alegria. Ensaiei uma última vez a mentira na minha cabeça antes de relutantemente dizê-la:

— Sou Norman Backus e vim de Worcester, Massachussets. — “Fale pouco sobre si mesmo”, disseram-me meus pais, “e se falar, minta”.

Para mim era suficiente, e felizmente para o professor também foi. A aula seguiu durante cerca de meia hora de amareladas regras gramaticais, nas quais para mim jamais existiu um propósito em prestar atenção. Mesmo com essa falta de interesse, tentei captar ao menos alguma coisa do conteúdo que estava sendo passado, no entanto o balançar e chutar de Grenda em minha carteira garantiu que isso não acontecesse.

Ao final da aula, antes de sair da sala lancei um último olhar ao menino fantasma. Ele parecia esperar algo, com as mãos cruzadas sobre o colo e postura impecável. Provavelmente já tinha desistido de estudar, ou quem sabe já soubesse todo o conteúdo após tantos anos — décadas? — em uma sala de aula. Independente disso, ele parecia estar em outro mundo, flutuando para longe da sala de aula, através de todas as paredes que ele podia atravessar. Por mais que não possa dizer que estivesse presente mentalmente ou mesmo fisicamente, a sombra do que um dia foi estava, e isso era o que importava naquele momento.


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Notas finais do capítulo

Por mais que escreva para mim mesma e não vá parar por falta de retorno, um review me deixaria felicíssima! Então, se tiver tempo, disposição, etc., nem que seja um "amei, continue", que tal deixar alguma coisa aqui?



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