Os Fantasmas de Gravity Falls escrita por Alice Pereira


Capítulo 1
Experimentos


Notas iniciais do capítulo

É uma sensação esquisita fazer uma nota de agradecimento em uma fanfic, afinal é só uma fanfic, né? Mas eu realmente preciso dizer que eu agradeço demais à todas as antigas leitoras e à beta, que silenciosa e talvez involuntariamente me fizeram retomar OFGravityFalls. Eu estava completamente desanimada e se fosse apenas por mim, teria apenas excluído o arquivo do meu computador e deixado a memória da história que foi um dos meus primeiros passos (o mais importante, quem sabe) no mundo das fanfics morrer.



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O que acontece em Gravity Falls permanece em Gravity Falls, como é sabido por todos que por sorte ou azar escaparam da Sociedade do Olho Cego, por isso omitimos as questões paranormais da cidade ao implorar a nossos pais para que permitissem que terminássemos os estudos aqui. Por um fio não conseguimos, no entanto após uma minuciosa e inocente descrição do lugar e das pessoas que habitam nos arredores, permitiram 6 meses de teste vivendo com os novos donos da Cabana do Mistério.

Durante esse período, caso tirássemos notas altas e nos comportássemos bem, como nunca fizemos antes, permitiriam que nos mudássemos de forma permanente, com a condição que poderiam levar-nos de volta para a cidade grande sob o mínimo sinal de encrenca. Confiávamos que Soos não nos deduraria, então quanto a isso não havia problemas, já sobre as notas Mabel estava lamentavelmente preocupada.

Tudo indicava que a gêmea festeira teria que começar a ser um pouco mais como o gêmeo nerd.E por enquanto tudo o que eu podia fazer era sentar dia após dia e observar seus passos apressados de um lado para o outro, enquanto ouvia as incompreensíveis queixas que saíam de seus lábios contornados de batom ora rosa pink, ora alaranjado. Como em cada momento de nossas vidas, os inseparáveis Gêmeos do Mistério ajudariam um ao outro: um nos estudos, outro com os amigos.

Era véspera do primeiro dia de aula, e sem os tivôs Stan e Ford as coisas pareciam terrivelmente monótonas, assim como na nossa antiga casa, porém sem video-games, livros, cinema ou compras para nos distrair, apenas Waddles se esfregando no tapete. Candy aparecera para ir com Mabel à casa de Grenda para o que prometia ser a última, mais imprudente e mais estrondosa festa do pijama daquelas férias.

Eu, como sempre, tinha ficado em busca de alguns últimos mistérios de verão antes que a vida escolar me engolisse novamente, entretanto após horas buscando em vão qualquer coisa mencionada nos Diários, voltei ao chalé frustrado e cansado. Tomei uma ducha para reavivar meu ânimo, e me vestia quando ouvi o meu nome, entãoterminei de colocar a camiseta e corri escada abaixo, supondo que Melody precisasse da minha ajuda para alguma coisa.

Chegando lá, encontrei-a adormecida com a cabeça recostada no colo de Soos, que assistia TV. Dificilmente teria sido ele a me chamar, porque nada nesse mundo além da namorada, sua única ligação com a vida real, tirava-o de um bom jogo ou programa de TV. Além disso, tinha sido uma voz feminina, quem sabe Mabel estivesse de volta mais cedo? Eu não podia estar mais enganado: a voz não pertencia a alguém que estava de volta, mas de quem nunca tinha saído desse mundo.

—Dipper— sussurrou a mesma voz de antes em meu ouvido. Ouvindo-a de perto, parecia cansada e gasta, a voz de alguém que passou por coisas demais e que sabia que não podia ter descanso. Nesse ponto de vista, era muito semelhante a do meu antigo professor de história, um homem magro e encurvado de expressão imutável que faria o mais interessante dos assuntos parecer o manual de instruções de um ar-condicionado.

Porém essa, que parecia soar apenas em minha cabeça, não era monótona. Pelo contrário, tinha um tom de urgência de uma mãe ao ver o filho em perigo misturado à firme autoridade de quem sabia o que estava fazendo, uma voz com emoção e significado demais para ser fruto da minha imaginação, que desde sempre foi um solo estéril.

Espantei uma mosca que zumbia ao meu redor e analisei o recinto procurando a mulher, mas tudo que vi foram os mesmos móveis de sempre. Infelizmente de nada adiantou esperar ser chamado novamente, o silêncio da casa era quebrado apenas pelo falatório da TV, pelo ronco de Melody e eventualmente por Soos rindo baixinho para não acordá-la. Busquei pela casa alguém, o que quer que fosse, porém não havia nenhum ser indesejado, apenas insetos.

Então percebi, ou achei ter percebido: insetos. Eufórico, peguei um pote que Mel usava para colocar geleia, prendi aquela mosca que eu jurava estar me seguindo e voltei ao quarto lotado de malas — esperava ansiosamente o dia em que seriam caixas de mudança. Abri a que continha alguns cadernos e livros que não couberam na estante e peguei um ainda em branco, recebido da professora de inglês dois anos atrás, quando ela tentava me incentivar a escrever uma história.

Talvez agora ela ficasse feliz, se julgasse os mistérios dessa pequena cidade do interior como mera ficção, algo que nunca fui capaz de produzir. Então, pela primeira vez pus em prática minha resolução de seguir os passos do tivô Ford e comecei o meu próprio Diário, com meus próprios erros e desenganos, e mais adiante descobertas de algumas coisas que nem mesmo o antigogêmeo nerd havia presenciado.

O Estudo da Mosca talvez tenha sido o maior e mais ridículo dos meus equívocos, mas ele pode ser justificado pela irracional mania que o ser humano tem de achar resposta e sentido para tudo. Essa foi também a motivação de Stanford, acredito, pois mesmo uma razão ilusória é melhor que o grande vazio do desconhecido. De qualquer forma, se tantos erros me levarem a um acerto que seja, terá valido a pena!

Fiz furos na tampa do pote e deixei a mosca ao meu lado, convencido de que uma hora ela falaria comigo. Quando, enfim, adormeci, tive um sonho, e ainda que não fosse relacionado a insetos falantes, me mostrou outro tipo de cobaia para pesquisas. Foi o sonho mais bizarro da minha vida e a ocasião mais estranha pela qual já passei também, porque nele além de estar completamente perdido a respeito do que estava acontecendo, eu estava alheio à existência de um mistério.

A sala tinha um papel de parede verde, assim como o sofá, a TV, a porta, o chão e o mundo lá fora. Na verdade acho que o verde estava em meus olhos, um verde fosforescente e doentio, que não poderia indicar nada de bom. Logo percebi que não era eu a controlar os meus movimentos, pois estava andando— ou melhor, flutuando — através das paredes em direção ao jardim.

Pela rua vinha um garoto de cabelo espetado e grandes olhos alegres, cumprimentando pessoas verdes flutuando no meio da rua, da mesma forma que fazia com as pessoas verdes que mantinham os pés no chão e plantavam roseiras. Sem saber por que, seu doce sorriso me trouxe um enorme sentimento de revolta e tristeza, direcionado a alguém que, pelo que entendi, estava esperando na cozinha da casa.

— Oi, vovó! — me disse o menino, e ao mesmo tempo em que não compreendia o que se passava, uma enorme ternura e vontade de protegê-lo me invadiu. Tentei impedir que entrasse em casa, porém me respondeu que precisava fazer o dever de casa e correu porta adentro. Perguntava-me oque tinha acontecido com o menino que me via e fazia questão de me ouvir, pois eu era o único a escutá-lo. Estava feliz por ele ser feliz, porém de que adiantava leveza se não vinha com aquela antiga dose de prudência?

Ele não estava tão seguro quanto acreditava estar e eu ainda tinha muito trabalho a fazer, por isso voltei ao interior da casa e encontrei duas figuras familiares a ambas as pessoas que eu sentia pensando dentro de mim: agentes Powers e Triggers, caçadores de anomalias do governo americano. Nesse momento não havia mais conflito de sentimentos, apenas uma ira contra aqueles que não apenas registravam o que fosse peculiar, mas o colocavamsob o alcance de seu olhar e destruíam pouco a pouco através de estudos.

— Sinto muito dizer, garoto, mas você é uma anomalia e virá conosco — dizia Powers, com sua imutável seriedade. Diante da ordem do agente, seus olhos arregalaram-se e o franzino corpo começou a tremer enquanto tentava formular uma resposta.

— Eu sou normal — murmurou, sem coragem para olhar nos olhos deles.

—Não —afirmou o mais velho.

— Não — ressoou o “papagaio” dele, mais conhecido como agente Triggers.

— Eu sou normal— dessa vez a força em sua voz era assustadora, acompanhada de um brilho de ódio nos olhos—tudo é normal, todos são normais, e vocês não vão me levar.

Triggers tentou avançar sobre a criança, meu neto —como?—, a razão da minha existência na forma de fantasma — eu morri? — despertando em mim uma fúria até então desconhecida. Peguei uma tigela de porcelana que pousava sobre a bancada e atirei em sua cabeça, atrasando seu avanço durante um instante.

— Corra, Norman! — acordei gritando. Meu peito subia e descia descompassado, suor grudava meus cabelos à testa e eu me sentia completamente perdido. Acendi a luz e olhei ao redor, buscando garantir que nada era verde, somente as familiares e aconchegantes variações de marrom, preto, azul e laranja que compunham o meu lado do sótão desde que nos mudamos, ou mesmo o vibrante rosa e amarelo do de Mabel.

Ouvi uma leve batida na porta e Soos colocou o gordo rosto para dentro do quarto, me confortando mais do que seria apropriado para um garoto de 14 anos. A cama vazia de Mabel fez com que eu me sentisse, de certa forma, desamparado, sozinho com a parte metódica dos gêmeos Pines, que agora parecia completamente inútil.

— Você ‘tá bem, cara? — perguntou. Meu coração estava acelerado e uma estranha vontade de chorar ainda reinava dentro de mim, mas juntei toda minha força de vontade e respondi um “sim” indiferente, no fundo grato por sua aparição.

Após ele voltar para seu quarto, custei a dormir, e pareceu que no instante em que me desliguei para recarregar, o celular soou Garota-discoteca me avisando que mais um dia vinha cobrar minha energia. Olhei as horas e saí meio andando, meio me arrastando da cama, pensando se eu tinha mesmo que ir para a escola.

Ao lavar o rosto, me lembrei do sonho que tinha perturbado meu descanso na noite anterior. Havia algo estranho nele, acordado percebia isso nitidamente, então coloquei o Diário na mochila para descrevê-lo durante a aula. Todo o meu processo de higiene matinal veio recheado de pensamentos e teorias a respeito de Powers, Triggers e Norman-eu-sou-normal, o que talvez tenha retardado um pouco ele.

Quando desci descobri que faltavam menos de dez minutos para os portões da escola se abrirem, coisa para a qual Melody já estava preparada, me entregando um sanduíche de geleia com manteiga de amendoim e me botando pra fora em questão de segundos. Corri para o centro da cidade, onde ficava a Northwest Middle School, nomeada em homenagem ao falso fundador de Gravity Falls.

Apesar do meu atraso, quando entrei na sala de aula o professor ainda não havia chegado, felizmente. Mabel tinha feito questão de guardar um lugar ao seu lado, o que era ótimo, considerando os inúmeros rostos ameaçadores que ocupavam a maioria das carteiras. De Pacífica, sentada na frente, tudo o que recebi foi um sorriso discreto, como se tivesse vergonha de me conhecer.

Aparentemente, os únicos alunos novos por ali eram os gêmeos Pines, o que tornava tudo ainda mais constrangedor e aterrador. Já começava a formar um plano para me desviar de valentões e cópias fajutas da Pacífica quando os recentemente conhecidos cabelos negros espetados e grandes e expressivos olhos azuis tentaram passar despercebidos ao entrar na sala. Mabel, obviamente, percebeu seu dono, mas não percebeu a intenção e seguiu com o plano de ser amiga de todos:

— Oi! — exclamou ela, pulando em direção ao desconhecido. Eu, pelo contrário, estava espantado demais até mesmo para ter vergonha de seu comportamento. — Qual o seu nome?

— Norman — respondeu, fitando o chão. A sensação de falta de ar voltou e a muito custo desviei do olhar já não mais tão alegre daquele que tinha me tirado o sono apenas algumas horas antes.

Corra, Norman!”, a voz que antes acreditei pertencer a uma mosca gritou em minha cabeça. Agora que já não estava mais alheio à existência do mistério, reviraria suas entranhas até nada mais escapar do meu conhecimento, exatamente como Powers e Triggers, ou qualquer um que estivesse encarregado de “dissecar” anomalias ao governo.


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Notas finais do capítulo

Por ser em primeira pessoa, acho que vão perceber (espero que percebam) que não só a visão do Norman como a narração dele é muito diferente da de Dipper. Nessa nova versão talvez eu inclua capítulos focados em outros personagens, mas os narradores a princípio são esses dois.
Entãão, o que acharam? Espero não tê-lo decepcionado, mas amaria saber, seja sua opinião boa ou ruim.

Versão betada n°2, atualizada 25/08/2017.



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