A Cabana do Demônio escrita por Levigarian


Capítulo 2
A Caminho da Floresta




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Uma semana se passou até que preparássemos tudo para a viagem, agua, comida, barracas, kit de viagem, afinal não saberíamos quanto tempo levaria essa busca e quanto tempo passaríamos lá até quebrar essa maldição, afinal Ramon não tinha ideia do que era a maldição, seria um bom desafio.

Sai da minha cabana e lancei os habituais feitiços de proteção, para manter tudo e todos afastados do lugar enquanto eu estivesse fora, me cobri com minha capa amarelo mostarda e levantei o capuz, guardei a varinha no cos do manto e peguei um cajado que ganhei de Levigarian, ele havia dito que era bom o levar em longas viagens, botei a mochila nas costa e parti.

Ramon me esperava na saída da propriedade, trajava seu manto azul noite, também havia posto seu capuz e carregava uma mochila de viagem a costa, ele acenou.

— Podemos aparatar até um determinado ponto, depois seguiremos a pé, algo impede que usemos aparatação até a entrada da floresta.

— Entendi, vamos lá, me mostre o caminho.

Pus a mão em seu ombro, com um rodopio e estalido alto fui sugado para um turbilhão de coisas dispersas e confusas.

Cai com um baque em um chão macio, olhei e vi que era uma pilha de feno.

— Bela aterrissagem.

— Obrigado.

Olhei pare ele tirando o feno das roupas.

— Então para onde agora?

Ramon apontou para leste, além do vilarejo que viemos parar, não consegui reconhecer o lugar.

— Onde estamos?

— Um dos condados ingleses, não me recordo do nome, existem muitos bruxos residindo por aqui, consegui as informações sobre a floresta com os mais velhos.

Aceno com a cabeça compreendendo.

Ele segue para leste, vou atrás, prendo o cajado na mochila para ficar com as mãos livres, observo nosso caminho, o lugar era modesto, casas simples porém bem arrumadas, com telhados de madeira e jardins pequenos floridos em suas entradas, todas eram pintadas de branco com janelas marrom, seguiam esse padrão.

Chegamos até o fim do condado e vejo um caminho entre arvores, começo a sentir uma certa energia no ar.

— Espere.

Ramon para e me olha em compreensão.

— Falei para você, mas estou impressionado que já sinta daqui, estamos longe da entrada ainda.

— Impressionante, você tem razão, a algo ruim no ar.

Ele sorri com minhas palavras.

— Não infle seu ego, só estou concordando.

— Eu sei, vamos até a entrada.

Seguimos por entre um caminho que era circundado de arvores, eram pinheiros e aveleiras, formavam um caminho tortuoso com várias curvas e voltas, caminhamos por uns trinta minutos até chegarmos a um arco de duas arvores.

Meu corpo enrijeceu, senti um frio que subiu por minha espinha até a nuca, fez minhas mãos tremerem, meu corpo doeu e senti algo vindo em nossa direção.

— Fique atento, sinto uma energia muito estranha emanando deste lugar, algo maligno reside nessa floresta.

— Eu sei, também posso sentir, porém não da maneira que deveria, por isso pedi sua ajuda, entende agora do que estava falando?

— Sim, posso compreender.

“Por favor nos ajude...”

— Ouviu isso? Olho alarmado para a floresta.

— Ouvi o que?

— Um pedido de ajuda, alguém...

“Socorro, ele não nos deixa sair, nos ajude, por favor...”

Wey entra correndo na floresta, não tive nem tempo de reação.

— Espere.

Corro em seu encalço, ao passar pelos arcos de arvores sinto algo em meu corpo, sinto frio, sinto medo, sinto desespero.

Wey está logo a frente, parado olhando em um ponto fixo, me aproximo com a varinha preparada.

— É por ali, devemos seguir aquela direção.

Ele aponta para uma direção sem luz, não conseguia ver nada, era tudo escuro, uma penumbra sem fim.

— Se você diz, vamos por ali.

*Lumus*

Minha varinha emite um pequeno feixe de luz que ilumina o caminho, Wey faz o mesmo, os feixes são fracos mas podemos enxergar o caminho sem problemas.

Caminhamos por bons minutos, as arvores pareciam altas, suas cascas eram escuras como a noite, a luz não penetrava por suas copas, um vento frio soprava por entre os troncos, mantive a varinha a frente, seguindo Wey, ele não falava nada, apenas seguia em frente, já estava começando a me preocupar, se estava tudo bem quando ele parou.

— O que houve?

Ele olhava para as direções, parecia confuso.

— Você consegue sentir?

— Sentir o que?

— Essa energia, ela emana de um ponto fixo, porém esse ponto parece se movimentar vez ou outra.

— Não pude sentir isso.

Fico olhando para a penumbra a nossa frente, sinto que há algo no ar, mas não o que Wey está falando, tudo parece normal.

— Para onde seguimos?

— Me dê um segundo.

Wey se mantem parado, olhando em uma única direção, não sei o que faz.

“Nos ajude...”

Olho para trás.

— Você ouviu isso?

Wey acena com a cabeça.

— Ouvi isso antes de entrarmos na floresta, foi isso que me impulsionou.

Fico apreensivo, porque só agora pude ouvir, observo os arredores, apenas o vento sobra e o silêncio é quase absoluto, não ouvia sons de animais, o que era estranho, um galho estala.

— Ali.

Ergo a varinha e disparo um raio de luz iluminando a direção ouvi o som.

Wey saca sua varinha e ficamos costa a costa observando.

Nada se revelou, outro estalido, algo se aproximava, eram passos.

Lancei outro raio de luz, mas nada se revelava, Wey permanecia atento e preparado, o som estava mais próximo, os passos se aproximavam.

“ Hi hi hi...”

Risos, acima de nós.

Ergui a cabeça e apontei a varinha, Wey fez o mesmo.

*Lumus Maxima*

Dois globos de luz foram disparados para cima por nossas varinhas, algo assustador se revelou, era um manto escuro, porém dele saia um cabeça com um sorriso malicioso, tinha feições de criança, os cabelos eram desgrenhados e sujos, com galhos preso e folhas, o manto flutuava sobre nós e a criatura nos observava.

— Quem é você?

Mantive a varinha apontada, Wey fazia o mesmo.

A criatura virou a cabeça de lado como se nos analisasse, fiquei apreensivo, nunca tinha visto algo do tipo. Wey se pronuncia.

— Olá, quem é você?

Ele falou com uma voz calma e tranquila, quase não acreditei na sua tranquilidade. A criatura o olhou e se começou a descer, mantive a varinha firme, não estava tão seguro com relação a isso. Wey baixou sua varinha, os globos de luz ainda iluminavam nosso espaço a criatura se postou a nossa frente, pude ver que tinha pernas e braços, parecia uma criança.

— Poderia nos dizer quem é você, como podemos ajudar?

Wey direcionou a pergunta a criatura e fiquei observando.

Uma voz infantil e fina saiu da boca da criatura.

— Me chamo Castanha e vivo aqui, por que acha que preciso de sua ajuda, feiticeiro?

— Não era você que chamava por nós?

— Não, não sei, era, talvez?

— Você parece confusa, posso te ajudar se permitir.

— Confusa, não, apreensiva talvez, com medo do que? Sou mais forte que você.

— Tenho certeza disso, porém se não era você que nos chamava, saberia me dizer quem foi?

— Não sei se devo, se posso ou não, ele não iria gostar sabe, ele não é bom, bom não é, você deveria ir feiticeiro, seu lugar não é aqui, esse lugar já foi perdido, você não pode ajudar, Castanha precisa ir.

— Espere, ele quem? Poderia me dizer?

A criatura morde o lábio, mostra uma certa preocupação. Olha para cima e fica apreensiva.

— O andarilho pode te ajudar, mas Castanha não pode falar, ele vai te achar vai sim, o Corvo atrás de você pode saber lhe responder, já se encontraram um vez, em um passado não tão antigo, mas Castanha falou demais.

Em um movimento rápido a criatura sumiu entre as sombras das arvores, Wey foi a frente e parou.

— Wey? O que foi isso? O que era aquilo?

Ele me olha e volta a olhar onde a criatura sumiu.

— Ela era uma dríade, mas parecia afetada por essa energia que circunda o lugar, suas ideias estavam confusas e ela temia alguém, alguém que ela disse que você conhece.

— Que eu conheço? Ela ficou louca?

— Ela mencionou você, não reparou... “O corvo atrás de você...”, fez relação a sua casa na escola, você sabe quem está por trás disso, não é?

Ramon se retrai, percebo sua inquietação, ele estava mantendo algo em segredo.

— Sabe que não pode mentir para mim, eu sinto quando alguém mente.

— Eu sei e sinto muito.

— Sente?

— Pelo visto não vou poder guardar isso por mais tempo.

— Não.

Ramon senta no chão.

— A algum tempo atrás em uma outra floresta, fazia parte de uma das missões do ministério, uma maldição se instaurou em um dos condados da Irlanda.

Wey me ouvia, sentou à minha frente.

— Fui designado para pesquisar e descobrir a melhor forma de pôr fim a ela, era algo muito semelhante a isso, o lugar havia sido consumido pela noite e as pessoas haviam sumido, a floresta dominou os arredores do condado e eu não tinha uma explicação para o que era aquilo. Passei dias procurando respostas, tentando feitiços e contrafeitiços mas nada parecia dar certo.

Peguei um pouco de agua na mochila e dei um gole, ofereci a Wey e ele aceitou.

— Certo dia, caminhando pelo condado vi algo, parecia um fantasma mas não era um, fui atrás do vulto e o perdi de vista, parei em frente a uma capela, eu sentia medo, frio, desespero, até pensei que fosse um ataque de dementadores, mas era algo mais cruel.

— Algo mais cruel?

— Sim, senti o medo me consumir, parado frente a capela eu vi, algo me observava do vitral acima, ele me olhava e um sorriso se abriu em seu rosto, eu não consegui identificar a criatura, meu corpo ficou rígido, nunca havia sentido tamanho medo, ergui a varinha e mirei no vitral, lancei um feitiço explosivo e a torre da capela foi pelos ares.

Wey ouvia atento.

— A criatura saltou e seguiu correndo por cima dos telhados das casas, fui em seu encalço, mas ele era mais rápido, logo o perdi de vista. Havia parado em meio a uma praça onde tinha um chafariz e lá estava ele, me olhando em cima do chafariz, ele trajava aquelas roupas circenses, como se fosse um arlequim e me olhava com um sorriso rasgado de fora a fora em seu rosto, aquilo me apavorou, ergui minha varinha e lancei um feitiço atordoador, ele o rebateu com as mãos nuas e fez um gesto de não balançando seu dedo indicador de um lado a outro.

Respirei fundo e prossegui.

— O medo me consumiu nesse momento, com as mãos nuas ele havia rebatido meu feitiço, eu fiquei imóvel, a criatura me olhou fez uma reverencia e desapareceu. Me mantive atendo olhando em todas as direções atento ao menor movimento ou barulho que a criatura pudesse emitir, mas não ouvia nada e não sentia nada.

Olho para o alto da clareira.

— De repente ouvi, aquela risada baixa próximo ao meu ouvido, virei rapidamente e ele se materializou ao meu lado, saltei sacando a varinha e lancei outro feitiço atordoador, mas a criatura defendeu, o desespero começou a tomar conta de mim, não sabia o que usar para pará-lo.

Ele saltou para cima da fonte novamente e abiu outro sorriso. Senti a morte se aproximando, o desesperou começou a me dominar, estava perdendo os sentidos, senti meu corpo amolecer quando ouvi ele falar.

“_ Pobre mágico, acha que pode fazer alguma coisa contra mim, vivo a mais tempo que você, vi a magia ser criada, acha que pode usar ela contra mim, você irá perecer aqui mágico, junto com as pessoas dessa vila.”

Apontei a varinha para o alto e com o último esforço lancei um feitiço de localização, ouvi várias estalos de aparatação e muitos feitiços começaram a ser lançados, não aguentei mais e desmaiei.

— Acordei uma semana depois no hospital, a enfermeira disse que minha vitalidade havia sido drenada por alguma criatura das trevas que ela não sabia dizer qual era, os aurores que foram em meu auxílio falaram que a criatura havia sumido sem deixar rastros e que as pessoas daquele lugar desapareceram, desde então tenho buscado vestígios dessa criatura, tenho tentado localizá-lo e destruí-lo.

Wey suspira.

— Você continua um cabeça dura. Fala pondo a mão no rosto. _ Como acha que vai matar algo que não tem ideia do que seja? Ao menos pensou nisso?

Observo Wey com cara confusa e depois relaxo o rosto esboçando meu habitual sorriso.

—Por isso procurei você, sei que irá identificar a criatura e me ajudar nessa, certo?

Wey me observa atônito.

—Você acredita demais na minha capacidade, isso vai acabar nos matando.

Ramon solta uma gargalhada.

— É bem provável, mas vai me ajudar nessa, me ajudar a derrotar essa criatura e achar as pessoas daquela cidade?

— Farei o possí... Wey olha para trás sacando a varinha e conjurando um escudo.

Um grande impacto faz com que ambos fossem arremessados longe e o escudo rompido.

— Mas que merda foi essa. Sinto sangue escorrer da minha testa, seguro a varinha em riste pronto para atacar se for preciso ou defender, Wey está com uma perna apoiada no chão segurando seu braço esquerdo, parecia ferido.

— Você está bem?

— Sim, foi só um arranhão. Conjuro ataduras para conter o sangramento.

— O que foi isso?

— Não faço ideia, mas foi poderoso, se não tivesse lançado um feitiço de proteção estaríamos mortos.

Ramon olha para a direção de onde veio o golpe e não consegue ver nada.

— Mas que droga. Aponta a varinha na direção do golpe.

*Lumus Maxima*

Um globo de luz vai em disparada pelo caminho iluminando ele todo, olhos brilham com a luz que foi emitida. Wey e Ramon se põe de pé, prontos para o duelo.

— Quem é você? Fala Ramon com voz irritada.

A criatura não responde, o vento começa a aumentar, os bruxos sentem que estão sendo puxados para próximos da criatura.

— Que magia é essa Wey?

— Não faço ideia, me de cobertura.

— Pode deixar.

Wey começa a fazer movimentos de sua varinha, o vento começa a diminuir.

*Protego Horribilis*

Um escudo de grande dimensão se posta à frente dos dois.

*Fianto Duri*

Wey fortifica seu escudo para aumentar a sua defesa.

— Isso deve nos proteger, podemos contra atacar.

— Vamos.

Com um movimento reto da varinha Ramon lança uma flecha em direção a criatura, que é bloqueada por um tipo de proteção.

— Está usando um escudo mágico.

Wey e Ramon se surpreendem com a defesa. Ambos ficam juntos, juntam suas varinhas e repetem o feitiço juntos.

*Estupore*

Um jorro vermelho com tamanha força saem da ponta de cada varinha se fundindo em um único ataque, a defesa da criatura cede e o impacto do feitiço a lança longe.

Os dois bruxos de olham com suor escorrendo.

—Vamos lá.

Com cautela eles se aproximam da criatura, com a varinha pronta para qualquer movimento, o feitiço de iluminação de Ramon ainda estava fazendo efeito.

Ao se aproximarem da criatura ficaram espantados com o que viram, tinha pele branca, seus olhos estavam fechados, possivelmente havia disso estuporada com o feitiço combinado, um filete de sangue escorria pelo canto do lábio direito, seus cabelos estavam ralos, como se faltassem partes, seu corpo estava magro como se não visse comida a muitos meses, suas unhas eram compridas e sujas de terra, sua roupa estava em farrapos.

— Procure pela varinha.

Wey começou a investigar a criatura mais de perto enquanto Ramon procurava pela varinha.

— Não tem varinha alguma por aqui.

— Impossível, só sendo um avarador para usar magia sem uma varinha.

Os dois se olham em dúvidas.

— Será possível?

Wey leva a mão ao queixo.

— É uma habilidade bem rara e útil, mas não temos relatos de um avarador que pudesse usar magia desse nível sem auxílio de um canalizar, no caso uma varinha.

Ramon se aproxima da criatura.

— Não parece humano.

— Pare de tolice, claro que é humano.

— Mas por que nos atacou, e não nos respondeu quando perguntamos?

— Talvez estivesse assustado, ou com medo, veja o estado dele!

— Você sempre tirando o melhor das pessoas, por isso ele te escolheu como aprendiz.

Wey olha para Ramon com o canto de olho.

— É uma dedução lógica, poderia estar perdido e ao menor movimento nos atacou, poderia estar fugindo de algo.

“Com certeza estava...”

Os dois bruxos viraram suas varinhas para trás quando ouvem a voz na escuridão, algo se aproximava.


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