Intrinsically escrita por Jay L


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Oiiiiii, depois de tempos, finalmente dei as caras kk. Fiquem com esse capítulo fresquinho e vamo que vamo :D



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Haymitch encarou inexpressivamente as letras cravadas no papel. Sem emoção, não esboçou qualquer reação ante a sutil manifestação da mulher que um dia foi sua. Ele não sabia o que pensar, embora lá no fundo clamasse que fosse uma brincadeira de mau gosto. De muito mau gosto. Poderia ser, certo? Aquele pedacinho devastador de papel sequer poderia ser chamado de carta, estava mais para um aviso dela.

Merda! O que Effie queria? Havia se passado quase 10 anos desde sua partida, desde o último contato com a família, desde quando ela decidiu que não seria mais esposa de Haymitch, tampouco mãe de Katniss. Effie Trinket Albernath ferrou com a vida do homem e da filha em quase todos os sentidos, deixando-o devastado tendo que consolar outro coração arrasado e mais frágil. A ex-mulher e ex-mãe não tinha mais o que arrancar dele e da jovem que criara então o que ganharia entrando na vida deles novamente?

Pensando e analisando tudo isso, o homem estava sentado à mesa da cozinha. Não se recorda do caminho que fez do trabalho para casa, lembra-se apenas de, ao ler o pequeno bilhete, pegar seus pertences apressadamente e ir embora do escritório sem dar satisfações a ninguém. Não teve paciência para aquilo.

Depois de passar a vista ao longo do papel pela enésima vez, olhou o verso do envelope. Primrose A. Everet. Quem seria aquela? Parente de Effie? Poderia ser, mas com certeza Haymitch não a conhecia. Precisava admitir, usar o nome de outra pessoa como remetente foi esperteza da parte da ex-mulher. Agora restava a pequenina dúvida: quão verdadeira era aquela sentença? Talvez, com reles esperança, não fosse verdade. Haymitch não suportaria vê-la de novo. Tinha dentro de si um sentimento inominável por Effie, ódio sequer beirava o que sentia. Seria fácil demais se fosse. Mas aquela droga toda de situação nunca fora fácil.

— Pai? Por que chegou cedo?  – Katniss anuncia parada na entrada do cômodo com cenho franzido.

Deus o ajudasse. Esquecera que a filha estaria em casa àquela hora. Pensando nisso, os olhos arregalaram um pouco enquanto tentava guardar o papel maldito no bolso. Tarde demais, pois a garota percebeu a pressa do pai e uniu as sobrancelhas em confusão.

 - O que é isso?

 Haymitch parou no ato e piscou na vã intenção de formular uma resposta convincente. Se dissesse a verdade, Katniss ficaria abalada, ele sabia. A menina teve sua cota de decepção enchida cedo demais. Ele simplesmente não podia fazer isso, não era tão cretino assim. Por outro lado, odiava mentir, ainda mais para a filha. Apesar de toda a grande merda que Effie representava na vida deles, era da mãe dela que se tratava. Céus, se a loura platinada resolvesse de fato aparecer, como explicaria para a menina? Não precisava de mais uma razão para ela lhe odiar. Mas ela não o odiava, embora Haymitch não soubesse disso. Já tinha tomado sua decisão.

  - Senta, preciso te mostrar algo. – pediu baixinho.

 Katniss obedeceu estranhando o pedido. As pessoas nunca querem dizer algo bom quando te fazem um pedido desses. Sentou-se de frente para o homem e esperou.

 - Recebi isto hoje. – disse ele estendendo o envelope amaldiçoado para ela.

 A morena pegou a correspondência e observou o nome do remetente. Não conhecia ninguém chamado Primrose. Abriu o envelope e tirou o papel que soltou uma leve fragrância adocicada, causando nela a vaga impressão de conhecer, não se recordava, contudo.

 Precisou de dez segundos para ler o conteúdo. Dez segundos para que seu mundo tornasse-se líquido e escorregadio. Precisou de dez segundos para ser mais uma vez aquela menina tristonha de oito anos abandonada pela mãe. De repente, Katniss fora transportada ao cruel passado e obrigada a reviver numa velocidade absurda aqueles tempos nebulosos de dor.

 A sensação que tinha era de que dentro e fora de si tudo se liquidificava tudo era líquido e escorria por entre os dedos. Via-se diminuindo ante a dimensão líquida tentando emergir. Era como agarrar água com as mãos, escapava, escorregava pelos braços e caía no chão. Tão, tão maleável, tão escorregadio, tão líquido. Ah, como era odiosa aquela falta de solidez.

Encontrando forças de onde não tinha e pegando o resto de estrutura que lhe sobrara, tirou os olhos da carta e mirou Haymitch, este a observava com apreensão, como se ela fosse um objeto inflamável que ao mínimo movimento desestabilizar-se-ia. Talvez fosse o caso.

 - Você está bem? – pergunta idiota até para os ouvidos dele, claro que nada estava bem. Mas precisava falar algo, aquilo era o melhor que podia formular.

 “Recomponha-se, Katniss, essa mulher é passado.” Ralhou ela consigo. Limitou-se a um breve balançar de cabeça e um “sim” quase inaudível. Aquela fora a primeira vez que mentiu para seu pai.

**

 Duas horas mais tarde, a garota olhava para o teto branco do quarto sem graça enquanto permanecia deitada completamente estirada na cama. O celular vibrava com uma ligação de Annie a qual não seria atendida. “Agora não”, pensou.

Procurando não pensar na mãe cretina que tinha, pôs-se a repassar mentalmente seu plano de estudos semanal.

“Domingo, Química e Álgebra. Segunda, História e Biologia. Effie virá até aqui? Não ouse pensar nela! Terça, Literatura e Física. Por quê? Ela já estragou tudo há dez anos. Droga, não devo pensar nisso! Aposto como nem passei por sua cabeça um segundo sequer nos últimos anos.”

E assim foi quando tentou revisar os planos do ano seguinte para a faculdade, ou enquanto pesquisava as informações que já sabia de cor sobre Stanford. Nada que costumeiramente a distraía tinha efeito. Decidiu que era hora de levantar-se e buscar outro escape. Precisava sair de casa um pouco.

Decidida a sair da fossa emocional que malmente disfarçou dentro de si, apanhou o celular e verificou as horas, 21h. Com certeza algo produtivo a esperava em algum lugar da Filadélfia. Além das horas, notou que Annie ligara três vezes e deixara uma mensagem a convidando para o cinema com Madge. Um filme cairia bem, mas dada a hora do convite, o filme já devia estar na metade.

Ao levantar-se da cama, foi para frente do espelho e passou as mãos no cabelo a fim de domá-lo um pouco. A roupa que vestia teria que funcionar, não iria trocá-la de jeito nenhum. Os olhos graúdos demonstravam ar perdido, sem registro de lágrimas, graças a Deus. Os lábios retorceram-se levemente ao encarar-se, estava bom. Calçou os All Star encontrados ao lado da cômoda que combinariam com o vestido simples da menina.

Calçada e pronta passou pela sala com o celular e dinheiro em mãos rumando à porta. Haymitch dormia no sofá e na TV um jogo de golfe era exibido. Quem fica em casa assistindo a partidas de golfe? É mais que deprimente. Katniss abriu a porta com cuidado e saiu pela rua em busca de um refúgio que a casa não oferecia.

Andou por quinze minutos e parou em frente ao Pizza Hut. Estava sem ânimo para pizza, pizza a fazia lembrar que Effie odiava pizza. “Argh, saia da minha cabeça!” Ordenou, quase choramingando, em pensamento. Continuou andando.

Sem saber exatamente por quanto tempo vagou sem rumo pelas calçadas, seus pés deteram-na em frente à casa dos irmãos Cato e Pólo Égot, jogadores da equipe de lacrosse do colégio. Uma festa acontecia. Ouvira falar pelos corredores da escola do tal evento, mas não se importara, não costumava andar em festas. Em todos os seus anos de vida, fora a duas festas no colegial, as quais a fizeram ver que aquele tipo de coisa não era para ela. Fez uma pequena careta ao notar a quantidade de pessoas que estavam ali. Ponderou se seria boa ideia participar daquilo, estava disposta a fazer o sacrifício se isso a distraísse dos pensamentos errantes sobre certa loira platinada. Cruzou o jardim com os braços cruzados a altura dos seios, arrependida de não ter levado um casaco. Olhava em volta a procura de algum rosto amigo, nada.

 - O que é isso, hein? Até a Everdeen tá aqui – ouviu o gracejo malicioso seguido de risadas masculinas de algum imbecil e empertigou os ombros, ignorando.

  Muitas pessoas estavam no jardim e área da casa, bebendo, fumando, beijando, conversando. A porta principal escancarada permitia que a música retumbasse para fora, alta, mas não desagradável. Na enorme sala, corpos embalavam-se ao som de “Sorry”. À esquerda, um aglomerado de gente se concentrava aos gritos de empolgação e ovação enquanto o grupo de dança da escola dançava com ânimo e destreza a coreografia ensaiada.

Me desculpe, yeah

Desculpe, yeah

Desculpa

Yeah, eu sei que te decepcionei

É tarde demais para pedir desculpa?

 -Talvez seja, Justin – murmurou distraidamente consigo mesma.

 Verificou o celular, 21:50. Ficar sozinha naquele ambiente hostil era uma merda, mas pior que isso era ficar em casa na companhia da própria melancolia. Sentia-se deslocada em níveis estratosféricos. Talvez por não ter muito o que fazer, arrancou a bebida das mãos de um garoto que passava a sua frente, sem ao menos dar-se ao trabalho de saber o que havia no copo. Aquele fora seu primeiro erro colossal da noite.

’ doida, garota? – exclamou o fulano com ultraje enquanto Katniss entornava a bebida num gole só.

O líquido desceu queimando pela garganta, deixando-a lá tossindo loucamente depois. Por isso decidiu ir para onde desse menos na vista, ao bar improvisado na extremidade do cômodo. Atravessou a sala espremendo-se entre corpos suados e finalmente chegou ao objetivo. Percebera tarde demais que não deveria ter bebido sabe-se lá o quê. Sua cabeça rodava, sentia-se zonza e aérea. Katniss estava ébria. Leve como pluma, pronta para flutuar. O que diabos tinha naquela bebida?

 Meio abobalhada, sentou-se num dos bancos do balcão do bar.

  - Você, hã... pode me dar um copo com água? – pediu com a voz arrastada ao cara que servia os drinques. Este sorriu zombeteiro ao notar o estado da garota, atendendo-a prontamente.

 Enquanto esperava o pedido, olhou para a outra ponta do balcão. Peeta estava lá segurando a cintura de uma garota enquanto esta tinha os braços ao redor do pescoço do loiro. Decidida a ignorar o pequeno tranco no coração, como vinha fazendo com todas as coisas desagradáveis da noite, Katniss concentrou suas forças em beber a água que sequer notara quando havia sido entregue.

Os primeiros acordes de “Dancing in my own” fizeram-se ouvidos. A menina gostava do som, era... Inebriante, envolvente. Carregava naquela hora um paradoxo de emoções, confusão quanto ao estado alto e calmaria misturavam-se. Precisava se mexer um pouco, a música pedia isso dela. Para ela, sair sem dançar sob aquele som seria um crime.

            - Eu pre... Pre - preciso dançar. – falou anuviada e embolada para ninguém em especial.

            E foi o que fez. Caminhou desajeitadamente até o mar de corpos, passando por certo loiro sem perceber. Ele, entretanto, percebeu a menina e achou estranha a maneira que andava. Parecia fora de órbita e trôpega. Por isso acompanhou-a com os olhos, esticando o pescoço na tentativa de se desvencilhar da garota que insistia em agarrá-lo.

 - Vamos sair daqui, Peet, ir pra um lugar mais traquilo... – esta sugestivamente ronronou ao rapaz.

 - Agora não, Bonnie – respondeu irritadiço. A verdade era que Peeta tolerava a menina. Ela pendurou-se nele como um carrapato desde que atravessara a porta da casa. Era enervante.

A moça bufou e finalmente o largou, saiu pisando duro como uma criança que não ganha o que quer. “Obrigada”, pensou ele já caminhando para onde vira a bibliotecária ir.

 

**

 

Alguém disse que você tem uma amiga nova

Ela te ama melhor do que eu?

 

De olhos fechados, com a mente vazia e a vergonha enfiada em algum recôndito do cérebro, Katniss pôs-se a dançar. Ela nunca dançava.

 Há um grande céu negro sobre a minha cidade

Eu sei onde você está, aposto que ela está por perto

Os movimentos eram tímidos e significativos, totalmente destoantes das demais pessoas. Quem se importava? Cada um estava envolvido em sua própria bolha enquanto a voz de Robyn retumbava pelo cômodo.

Eu estou no canto, vendo você beijá-la

(Oh, oh, oh)

Eu estou bem aqui, porque você não consegue me ver?

(Oh, oh, oh)

Naquele instante, a lembrança de Peeta agarrado a uma menina veio à mente. Por que não ela? Pensava levantando os braços e mexendo os quadris.

Eu estou dando tudo de mim, mas eu não sou a garota que você levará pra casa

(Ooh, ooh, ooh)

Eu continuo dançando sozinha

Eu continuo dançando sozinha

Aquela era ela, a garota que dançava sozinha. Nunca uma música a descrevera tão bem quanto ali.

Eu estou girando em círculos

Talvez estivesse. Sua vida pacata costumava a obrigar enxergar os fatos detidamente. “Não agora”, o cérebro bagunçado jogou. Estava em círculos, literalmente, pois vira Peeta de relance parado observando-a com olhos astutos e profundos a uma curtíssima distância. Parou de girar e cambaleou levemente. Ofegante, aproximou-se mais dele.

Tão longe, mas ainda tão perto

As luzes se acendem, a música morre

Mas você não me vê, aqui de pé

Eu só vim aqui para dizer adeus

Uma bolha os envolveu, uma bolha espessa e pesada, carregada de palavras não ditas e sensações inomináveis. A maneira que Peeta a olhava... Mesmo que estivesse em seu total estado de consciência, Katniss ainda sim afirmaria jamais ter ganhado um olhar como aquele.

Eu estou no canto, vendo você beijá-la

(Oh, oh, oh)

Eu estou dando tudo de mim

E ele a beijou, dando voz e razão aos estímulos e terminando o serviço que começara na casa da moça. Katniss não pensou em mais nada, sentia a combustão tomar de conta à medida que o beijo tornava-se urgente e todo mãos e suspiros. O famigerado primeiro beijo do qual dificilmente lembrar-se-ia passado o estado de torpeza.

Mas eu não sou a garota que você levará pra casa

(Ooh, ooh, ooh)

Eu continuo dançando sozinha

Robyn nunca estivera tão errada. E aquele fora o segundo erro colossal da noite de Katniss.

 

           

 


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Notas finais do capítulo

Eita preulaaaaa!!!
Bom, gente, ando extremamente ocupada com a faculdade, mas amo escrever essa história. Por isso sempre que posso escrevo um pouquinho... Preciso saber o que vocês estão achando de tudo, então, se puderem comentar dando sua opinião, farão uma escritora feliz :)
XoXo



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