Intrinsically escrita por Jay L


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

E aí, gente boa? Perdão por ficar mais de um ano sem postar nada, simplesmente não deu, não mesmo. Mas cá estamos nós de novo e espero que gostem da continuação.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/729261/chapter/8

Atordoado com barulhos, Haymitch acordou no sofá da sala. Exceto pela luz da TV ligada, a casa permanecia imersa na escuridão. Coçou os olhos e ouviu batidas na porta. Verificou as horas no relógio de pulso, eram 23:10. Ninguém descente aparecia na casa dos outros àquelas horas. De má vontade, pôs-se de pé. Mais uma batida.

— Merda, já vai. - falou alto.

De mau gosto, abriu a porta e, para sua total surpresa, era Katniss. Sequer sabia que a filha havia saído. O mais espantoso, no entanto, era seu estado inconsciente, carregada por um garoto.

— Que diabos está havendo? Entre, entre. - escancarou a porta e deu passagem para o rapaz - Traga-a para o quarto.

Haymitch foi na frente conduzindo, a mente dando nós cegos. O que aconteceu com sua filha?

Entraram no quarto e Katniss foi posta na cama sem maiores esforços. Parecia desmaiada, não dera um movimento.

— Desculpe, senhor. - Haymitch virou -se para o garoto - Sou Peeta, estava na mesma festa que sua filha...

— Espere. - o mais velho interrompeu erguendo a mão - Katniss numa festa? - ele assobiou - Por essa eu não esperava.

O tal Peeta se mexeu meio desconfortável.

— Penso que bebeu alguma substância química. Quando a encontrei, agia estranho.

— Katniss não bebe, muito menos se droga. - olhando para ela, Haymitch esfregou a nuca - Nunca mesmo.

Então lembrou -se do bilhete de Effie, mostrara-o à menina naquela noite. Poderia ter sido isso. Maldita Effie, nem precisava estar presente para causar problemas.

Peeta respirou alto.

— Bem, está entregue. Vou indo.

Haymitch finalmente o encarou, o conhecia de algum lugar.

— De onde você é?

Assistiu à sutil mudança na postura de Peeta, de indiferente para inquieto. Teve vontade de rir e não o fez por muito pouco.

— Estudamos na mesma escola. -  olhando para Katniss, respondeu.

Haymitch balançou a cabeça, a expressão propositalmente desconfiada.

— Sei.

Peeta olhava para qualquer lugar, menos para ele. Resolveu acabar com a agonia do garoto. Dando um tapinha em seu ombro, disse:

— Venha, rapaz.

Manteve a postura de pai durão até onde pôde. Tinha algo de familiar em Peeta, talvez a voz. Mas Haymitch só se recordou quando agradeceu a ele na porta da frente.

— Você é o técnico da geladeira.

Sem jeito, Peeta anuiu. Haymitch cruzou os braços e levantou a sobrancelha, poderia tirar mais uma casquinha da situação.

— O que quase beijou minha filha na cozinha.

— Já vou indo. - Peeta declarou com as orelhas em chamas.

— Vai pela sombra, Peeta.

Ele, pois, entrou num Corcel 71 preto estacionado no meio fio e foi embora, o motor roncando na noite silenciosa. Haymitch voltou para dentro de casa e expirou. Katniss bêbada e desmaiada! Sentiu como era estar na pele dela pela primeira vez.

No quarto, tirou os sapatos da filha, verificou a respiração e o pulso. Tudo normal. Após uma tentativa infrutífera de acordá-la, asseou seu pescoço e face com uma toalha úmida.

Precisava ser um pai melhor já que Effie não soube ser mãe.
                                                                                                                   **

Certa vez, quando estavam no primeiro ano do ensino médio, Katniss acompanhou Annie a uma festa da turma de veteranos. A morena recolheu-se num canto com um copo de refrigerante, ocasionalmente conversou, cumprimentou as pessoas, mas, no geral, ficou na dela. Annie, por sua vez, não parava quieta, dançava, cantava e conversava com diversos conhecidos, deixando a amiga a mercê do ambiente.

Katniss não sabia dizer em que momento o controle fugiu da situação. Quer dizer, em um estante, Annie dançava com um ou outro cara e, em dado momento, arrancou a parte de cima da roupa que vestia e pulou na piscina só de shorts e sutiã. Mortificada, Katniss ligou para Gale, mas ele não atendeu. Sem alternativa melhor, pediu a Finnick, que passava por ela, ajuda para resgatar a ruiva desinibida. Com um sorriso arrogante e uma pitada de desgosto na voz, disse:

— Claro, é sempre um prazer salvar minha adorável ex-namorada de um provável suicídio moral.

Katniss o puxou pelo braço e o fez entrar na piscina, já que Annie teimava em não sair. A bebida a deixara impossível. Finnick fez uma carranca, mas pulou na água assim mesmo. Annie debateu-se e foi carregada até o carro do garoto com Katniss em seu encalço. Foram deixadas na casa da morena, que cuidou de Annie, segurou seu cabelo enquanto ela praticamente colocava os bofes para fora, deu -lhe banho, fez café e fez canja.

Enquanto Annie adormecia na cama, Katniss jurou a si mesma nunca embebedar-se em circunstância alguma. Jamais submeter-se-ia à vergonha de agir estupidamente e de ser cuidada como criança por falta de consciência. Katniss jurou a si mesma e se decepcionou feio.

**

"Girls Just Want Have Fun" tocava na casa vizinha, Cindy Lauper a plenos pulmões. Katniss gemeu e virou o rosto para o travesseiro. Sentia -se péssima.

Fechou os olhos e inspirou fundo e sentou-se na cama. No criado mudo havia um comprimido e um copo com água, empurrou a capsula garganta abaixo, esfregou o rosto com as mãos e arrastou o corpo para fora do colchão. Já no banheiro, em frente ao espelho, notou que vestia a roupa da noite anterior. Cheirava a suor, à essência pouco adocicada do perfume de morango que passou e leve aroma de cigarro. A face inchada e rosada acusava a noite mal aproveitada e o ninho que o cabelo formava era digno de pena. Estendera o banho mais do que o normal, o corpo enfraquecido e os pensamento lerdos recusando-se a trabalhar direito. Terminado o processo e estando vestida, foi à cozinha tomar café. À mesa, Haymitch mexia no celular, uma xícara de café ao lado.

— Ora, ora, se não é a festeira da casa. Bom dia. - disse a ela.

Katniss pegou uma xícara no armário e se serviu.

— Bom dia.

Haymitch a observava de modo estranho, incomodando à Katniss que, de soslaio, percebia o escrutínio.

— Peeta a trouxe carregada noite passada.

Ela engasgou com o café. Tossindo, buscou se recompor.

— Como? - indagou espantada.

— Foi o que você ouviu - Haymitch pousou o celular e a xícara sobre a mesa - Agora eu te pergunto, onde estava com a cabeça ao sair de casa sem me avisar, beber, se drogar ou sei lá que porcaria fez por aí, e voltar para casa no colo de um rapaz qualquer? Pelo amor de Deus, Katniss, você não é assim. - soltou de uma vez.
            Merda, estava irritado, muito irritado.

— Desculpe, desculpe! Não pensei direito. Precisava sair, o senhor estava dormindo...

— Que me acordasse então. - cortou ele.

Katniss fechou os olhos brevemente.

—Quanto a bebida, não me embebedei, sabe o quanto odeio isso. - falou olhando diretamente para ele e Haymitch murchou só um pouquinho. Ponto para ela. - Tomei uma bebida qualquer, um copo apenas, mas acho que estava batizado com algo mais. - fez uma careta - Juro que não sabia.

O pai crispou os lábios e balançou a cabeça. Katniss sentiu -se pega no ato, como quando ele a flagrou na cozinha com Peeta.

Jesus, Peeta! Queria morrer de tanto vexame. Lembrava-se de dançar, de dançar muito, depois de mãos que não eram as suas, um cabelo macio e de um beijo desajeitado sob luzes psicodélicas. Não tinha lembranças da ida para casa. O desastre estava feito. Frustrada, gemeu e deitou a cabeça sobre a mesa.

— Tá arrependida? Bem vinda ao meu mundo. - Haymitch ironizou - Pense no que poderia ter acontecido. Estava sozinha com um bando de idiotas inconsequentes que fariam qualquer coisa com você sem se importarem.

Haymitch obviamente preocupara-se, o que foi uma revelação para ela. A percepção aqueceu seu coração. O pai ainda se preocupava, afinal. "Um pai é um pai, querida." ouviu na mente a frase que lhe dizia quando criança.

— Estou de castigo? – perguntou, a cabeça ainda na mesa.

Ele não respondeu de imediato. Ponderou por um minuto inteiro. Ela reconhecia que merecia o castigo.

— Não. - respondeu.

Katniss ergueu a cabeça.

— Não é de seu feitio fazer coisas assim. - continuou - Dessa vez vai passar, na próxima, - ela abriu a boca para falar - se houver uma próxima - Haymitch acrescentou - não serei bondoso.

—  Foi a ultima vez. - Katniss prometeu.

— É bom que seja. - retorquiu voltando a fuçar o celular.

Katniss terminava de tomar seu café quando ele disse:

— Está acontecendo algo entre você e o garoto?

Ela arregalou os olhos e sentiu o sangue corar as bochechas.

— De forma alguma. - apressou -se em esclarecer.

Agora a situação constrangedora atingia níveis estratosféricos. Pior não fica, pensou. Nenhuma filha se sentiria a vontade com uma pergunta daquelas feita pelo pai.

— Ah, é? Engraçado, ele pareceu bem desajeitado comigo ontem. - fazendo- se de pensativo, Haymitch ergueu os olhos.

Era o fim. Katniss levantou-se da mesa, lavou a xícara e saiu da cozinha. Trancando- se no quarto, mergulhou sob as cobertas junto com a pouca dignidade que lhe restara.

Na casa ao lado, Cindy Lauper recomeçava "Girls just Want have fun" e Katniss só pensava no quanto sua diversão na noite anterior custara. Sufocou um grito de frustração ao recordar do beijo com Peeta. Tinha tudo para ter sido ótimo, talvez tivesse sido na hora, mas ela sequer lembrava-se da sensação das mãos e lábios, do frenesi. Houve frenesi ou foi tão ruim que o cérebro bloqueou as lembranças para preservação própria? Deveria ser especial. O futuro do pretérito era o único tempo verbal que predominava nos acontecimentos da festa. No que dizia respeito à bebida que tomou, que morresse mil vezes por tamanha idiotice. Estremecia ao pensar nas possíveis maldades que teriam feito a ela em sua falta de percepção e inconsciência. 

O celular vibrou na cômoda arrancando-a do devaneio, ela o pescou. Annie mandara três mensagens, uma textual e duas de áudio.

"KATNISS???!" 

A morena reproduziu os áudios.

"Garota, todo mundo está falando que você e o loirinho ficaram no maior amasso na festa de ontem"

"Primeiro não acreditei. Você não gosta de festa, improvável que estivesse em uma, além de que, ai, meu Deus! Você simplesmente não sai beijando caras por aí. Até que recebi o vídeo da fofoqueira da Samanta."

Em seguida, Katniss recebeu um vídeo curto. Por pouco não colapsou.

Peeta e ela estavam na pista improvisada e claramente se beijavam. Não um beijo qualquer. Mas daqueles que você se envergonha de ficar olhando de tão obsceno que é. Ela nem sabia que podia fazer aquilo. Peeta passeava as mãos por sua coluna e bumbum, beijava o pescoço e boca e Katniss, bem... Ela parecia gostar! 

Olhou o vídeo por longos minutos, de diversos ângulos e distâncias. Buscava de alguma forma mostrar a si mesma que não era tão terrível, embora fosse sim! Não teve o que responder à Annie, logo apagou a mídia e jogou o celular para longe de si na cama. Por hora, ele era uma bomba relógio.

Seu primeiro beijo, tão não incrível quanto era possível ser. Sequer havia sido secreto, algo só para ela recordar e sorrir.  Uma porção de gente sabia e vira onde as mãos de Peeta tinham ido, a forma que chegaram e o quanto permaneceram em seu corpo, o modo como sua boca ganhou a sua.

Fora tão, tão burra.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Vejo-os nos comentários :D
XoXo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Intrinsically" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.