Intrinsically escrita por Jay L


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Dessa vez bati meu recorde! Tô tão feliz que consegui postar o capítulo em menos de um mês *-*
É isso aí, meu povo, curtam a leitura e obrigada aos que permanecem por aqui ♥



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Annie esperava sua vez de entrar na sala da orientação há meia hora e nada. Seja lá quem estivesse sendo orientado, precisava de ajuda até demais. Ansiosa, batucava o pé direito num ritmo incessante e irregular, decidindo ir ao banheiro. Durante o percurso, Annie passou por uma das janelas do segundo andar. Hora do intervalo, muita gente do lado de fora. Fazia um sol gostoso, daqueles que dá vontade de estender uma toalha na grama e deitar e relaxar. Enquanto olhava pela janela, uma cena lhe chamou a atenção.

Um gatinho estava no meio fio, numa área em que não havia ninguém. Sem rumo e do tamanho que era, caiu para a rua totalmente desorientado. Tomada pela agonia de vê-lo daquele jeito, com medo de que ele fosse atropelado ou engolido pelo bueiro, Annie disparou numa corrida feroz para fora do prédio. Esbarrando nos alunos e desviando de outros obstáculos, ela voou os últimos degraus da escada que levava ao térreo e pulou o corrimão. Seus pés alcançaram a entrada do colégio em trinta segundos e, depois, a grama. Suada e com o rabo de cavalo frouxo da corrida, passou por Finnick, que lançava disco com uns caras. Ela ouviu seu nome sendo chamado, mas ignorou.

Sem entender por que corria como se fugisse de um incêndio, Finnick largou o disco e foi atrás dela. Annie, por sua vez, estava a uns dois metros do gatinho, que se arrastava para o meio da rua. Os olhos de Annie se arregalaram quando um carro em alta velocidade descia a rua, para cima do animal.

Sem pensar em mais nada, Annie cobriu a distância que faltava, cortando caminho pelo asfalto, e se lançou na frente do carro com os braços estendidos, um grito estridente de “para” rasgando o peito. Àquela altura, outros gritos se misturaram ao seu, mas ela mal os notou. Com uma freada brusca e de estourar os ouvidos, o carro parou a tempo de não atropelá-la.

A descarga de adrenalina foi diminuindo e Annie sentiu uma fraqueza insuportável nas pernas, além da cabeça anuviada. A respiração ofegante lhe destruía, o peito subia e descia tão rápido que doía. Ouviu um miado fraco e baixo atrás de si que chamou mais atenção do que as vozes altas dos alunos que se aproximavam da confusão. Annie se virou e pegou o gatinho no colo. Ele era minúsculo, pouco maior que um palmo, as patas rosadas e a pelagem rajada. Ele parecia o Garfield antes de crescer e engordar. A menina soltou uma lufada de ar em alívio, o felino estava bem.

— Mas o que...Você é louca, garota? – gritou o motorista do carro, que pulou do veículo e vinha na sua direção – Eu ia te atropelar e não pense que iria pagar sua conta no hospital. A culpada aqui é você. – apontou o dedo na cara dela.

— Annie! Annie!

Ela virou a cabeça para o chamado. Finnick a agarrou pelos ombros e a inspecionou em busca de ferimentos. O olhar dele era transtornado.

— Você está machucada? Está ferida? – ele parou a inspeção e a encarou assustado - O que diabos te deu na cabeça? Se jogar na frente de um carro?

O gatinho miou nos braços de Annie, como se para dizer ao rapaz que ele era a causa daquilo tudo. À medida que a consciência do que fizera clareava a mente, Annie riu da própria loucura. Finnick a olhava como se ela fosse mesmo insana. O garoto fitou o pequeno felino, aos poucos entendendo a razão do surto. Então se voltou para Annie com uma expressão estranha e indecifrável, o rosto assumindo algo além da perturbação.

— Você pulou na frente de um carro pra salvar um gato?

Annie abraçou mais forte o animal e se contraiu na defensiva, o nariz empinado e o queixo projetado, pronta para responder ao possível julgamento.

— Foi. Foi isso mesmo.

Katniss e Peeta apareceram e perguntavam o que acontecera, mas Annie estava longe dali, encantada com o ser que carregava, e Finnick pouco ligou para as perguntas preocupadas. Misturado a isso, o burburinho dos alunos e professores recém chegados crescia, ao longe, uma sirene soava, o motorista insultava Annie ao entrar no carro e dar a partida e o gatinho miava.

No meio do pandemônio, Annie se sentiu ser virada pela cintura e, em seguida, lábios sobre os seus. Demorou um pouco para perceber que era Finnick quem a beijava no meio da rua e com um gatinho entre eles, debaixo de vozes altas assustadas e curiosas que se transformaram em gritos de incentivo e comemoração.

O beijo foi gentil e unilateral por uns dez segundos, até que ela correspondeu.

— O que está havendo aqui? Vamos, vamos, circulando – professor Beete batia palmas, dispersando os alunos.

Annie não estava nem aí para a plateia, Finnick segurava sua cintura a mantendo firme. Eles se desgrudaram quando alguém pigarreou.

Professor Beete os olhava desconfortável enquanto ajeitava os óculos no nariz. Katniss e Peeta se afastavam, a amiga ostentava um sorriso para lá de enorme e fez sinal de positivo para a ruiva.

— Preciso pedir que os senhores retornem para a escola. – disse o professor – Considerando que vocês, ham... Se beijaram fora da propriedade do colégio, não vou reportar ao diretor. – ele se virou e foi embora.

Annie expirou longamente e observou a rua de repente calma. Não sabia o que dizer.

— Annie... – começou Finnick.

Ele parecia desorientado, caindo em si depois do que fez. Ela esperou.

— Annie, me desculpe... Eu... Eu não sei o que deu em mim.

Ela não queria ouvir aquilo, que ele estava arrependido. Soltou uma risada pelo nariz.

— Não me diga que está arrependido, Finn. Foi só um beijo, deixa pra lá. Não é como se nunca tivéssemos feito isso – ela chutou uma pedrinha – Aliás, já fizemos bem mais. É só... deixar quieto.

Frustrado, Finnick grunhiu e passou a mão nos cabelos.

— Não. Eu não estou arrependido. Só pensei que te beijar teria te deixado zangada, sei lá. – ele sorriu sem graça – Eu vivo te deixando zangada.

Porcaria. Annie gostou do beijo, gostava do garoto que a tinha beijado. Só não sabia se queria dizer em voz alta.

— Olha, você é incrível. Pular na frente de um carro pra salvar um gato? É muita loucura, mas não deixa de ser incrível. – riu encantado - Isso é tão a sua cara, se entregar até o último fio de cabelo pelo que acha ser o certo. – ele balançou a cabeça impressionado - Quando vi aquele carro vindo na sua direção, eu pensei... Bem, não pensei em nada. E quando você disse que fez isso por ele – apontou para o felino – eu pensei “wow, Annieta é sem igual” e não resisti ao impulso de te beijar.

Finnick coçou a cabeça e a garota se agarrou ao gato.

— Annie, - continuou - sendo honesto, eu sempre fui apaixonado por você. Nunca entendi porque terminamos. Você sabe que sou meio lento, mas uma das coisas que sempre soube foi da minha paixão por você. Não sei como aguentei os últimos meses sendo apenas seu amigo. Deus sabe a força de vontade que isso exigiu de mim. Eu simplesmente não pude ignorar mais isso. Se não quiser ser minha amiga, tudo bem, encerraremos aqui e...

Annie calou a boca dele com a sua. Dessa vez, consciente do que acontecia, segurou o gato com um dos braços e pôs a mão livre na bochecha de Finnick. Ele abraçou suas costas e enfiou uma das mãos no cabelo embaraçado dela. Delicioso. Annie desceu a mão devagar e o empurrou de leve. Relutante, Finnick se afastou.

— Não se desculpe por fazer algo que eu queria há muito tempo. – disse ela – Finnick, nós terminamos porque eu não estava pronta para um relacionamento. Depois que dormimos juntos, a velocidade com que nos envolvíamos me assustou. Eu era uma garota na praia prestes a ser engolida pelo tsunami. Some isso a insegurança de ter aqueles projetos de Lindsay Lohan que corriam atrás de você e terá uma Annie de 15 anos assustada e confusa. O que seria só um namoro de verão, se tornou maior do que eu mesma.

Aliviada pelo jorro de verdade que finalmente pôs pra fora, Annie se sentiu cansada. Finnick segurou a mão dela e apertou de leve. O seu rosto reluzia uma felicidade contida.

— Vamos. – disse, puxando-a para a calçada.

A garota ajeitou o pequeno Garfield no colo e o seguiu.

— Para onde?

— Pra casa. Ou você não vai ficar com o gato?

Annie fitou Little Garfield. Não tinha pensado nisso.

— Claro que vou, afinal eu o salvei de um destino terrível.

Finnick parou de andar e exibiu os dentes num sorriso.

— Então temos que levá-lo pra sua casa agora.

— E a aula?

Finnick emitiu som de descaso e rolou os olhos.

— Qual é? Deixa de ser chata e vamos antes que Beete venha nos procurar. – ele franziu o nariz – Esse gato está fedendo.

Partiram rumo ao carro dele carregando um gato, uma paixão e um sorriso idiota na cara.

**

Effie entrara na delicatessen antes que Katniss tivesse a oportunidade de se esconder. Havia uma garota ao seu lado, aparentemente da idade da morena. Katniss lambeu os lábios sujos de doce de leite e cristais açúcar e empurrou goela abaixo o último gole de mocha.

Quando saiu do trabalho, correu para o Movie Theater Cult, o cinema de filme antigo, e assistiu a “A Vida É Bela”, maravilhando-se pela primeira vez com a obra sensível e carismática. Menos um da lista de filmes antigos para assistir. Depois, no caminho para casa, parou na Doux Amour, a delicatessen francesa que inaugurara naquela semana. Ultimamente procurava ter esses momentos só para si, curtindo a própria companhia. Graças a Deus, Peeta não se importava, inclusive incentivava-a. E foi enquanto terminava os churros de doce de leite com mocha que Effie deu o ar da graça.

A mãe a viu sentada na mesa do canto, grudada na janela. Effie sorriu para ela e Katniss achou ótimo que a boca estivesse cheia do que sobrara dos churros para não retribuir. Ao passo que ela e a moça desconhecida se aproximavam, a menina reconheceu a outra. Ela estava muito diferente e, nossa, muito linda.   Primrose, filha da irmã caçula de Effie, com quem jamais tivera afinidade e vira umas duas vezes na vida, estava bem até demais. Alta, os cabelos caramelados batendo no bumbum, a saia do vestido curto balançando no ritmo da caminhada, um olhar altivo e metido. Ela era mais filha de Effie do que Katniss.

— Katniss, que surpresa. – a mais velha bateu os cílios duas vezes e a morena se limitou a um sorriso pequeno e desanimado.

A mãe pousou a mão no braço da garota ao lado.

— Lembra-se de Prim? A sua prima, filha de Marie.

Katniss arriscou um olhar para Prim, que esticava o canto dos lábios em total desinteresse.

— Como vai, Prim?

Prim a fitou longamente antes de responder.

— Vou indo. Estaria melhor se continuássemos a procurar uma mesa para sentar.

Katniss se encolheu por dentro e inspecionou o ambiente cada vez mais cheio e sem lugares disponíveis. Da família de Effie, só sabia da existência de Marie e Prim, de quem nunca foi próxima. Segundo Haymitch, os pais das irmãs Trinket morreram na adolescência delas, deixando uma quantia considerável de dinheiro e não tinham qualquer outro parente conhecido. Esse era um detalhe nada importante para Katniss, que não nutria qualquer vontade de conhecer mais gente da laia de Effie, Marie e Prim.

Prestes a oferecer a mesa em que sentava por já estar indo embora, Effie agarrou o braço da sobrinha e a puxou para o estofado vazio, que ficava de frente para Katniss.

— Você não se importa, não é? De ficarmos aqui? – perguntou com um brilho beligerante nos olhos.

— Não. – disse a filha. Mas faria diferença dizer que sim?, completou em pensamento.

Effie ergueu a mão, chamando um garçom, depois entortou a cabeça e repousou as mãos com unhas longas e bem feitas na mesinha de carvalho. Sua expressão era desconcertante, para dizer o mínimo. Prim sacou o celular do bolso e as ignorou, o garçom trouxe um cardápio. Antes que ele abrisse a boca, Effie o interrompeu.

— Já sei o que quero, apenas anote.

— Pois não. – o rapaz abaixou a cabeça e, sob olhadelas furtivas, reparava em Primrose, que teclava no celular.

— Dois sucos de abacaxi com limão, por favor. – ela encarou Katniss – Você quer alguma coisa?

A morena negou e agradeceu. Queria tanto o conforto de casa...

Depois que o garçom saiu, Katniss passou a fazer desenhos invisíveis com o dedo na superfície da mesa. Quando ergueu a cabeça, Effie ainda a analisava e Prim largara o celular para flertar de onde estava com um rapaz sentado do outro lado da delicatessen. Quebrando a promessa de amor que fez a si mesma, sua mente traiçoeira catalogou as notórias discrepâncias entre ela e as duas mulheres. Provavelmente o cabelo preto e grosso refletia a correria da semana, pois não teve tempo de cuidar dele. A farda do trabalho era desbotada pelas inúmeras lavagens na máquina e a camisa exibia uma mancha fresca de mocha que ela enxugou com os guardanapos da mesa. As duas, entretanto, tão arrumadas e bonitas, os cabelos e unhas recém saídos do salão, roupas limpas e novinhas, sapatos delicados em contraste com os tênis nos pés da menina. Não conseguiria flertar com um cara nem se ele estivesse totalmente na sua, que dirá a mais de um metro de distância.

Sinceramente, fazendo essa breve comparação, não sabia que diabos Peeta via de interessante nela. Ela era o oposto de interessante, tão desinteressante quanto a lua nos seus dias crescentes. A lua cheia que chamava atenção, encantava as pessoas, capturava os olhares. Effie e Prim eram luas cheias, tão cheias que ocupavam todo o espaço da mesa, das cadeiras, da delicatessen. Katniss queria ir embora antes que fosse esmagada por elas.

— Qual o nome daquele menino bonito que vejo andando com você?

— Peeta.

Effie sorriu em conspiração e deu uma piscadela.

— Ele é seu namorado?

Katniss pensou sobre isso. Na casa dele, ele dissera que sim, havia pedido de um jeito estranho. Pedido não, informado. Mas não queria compartilhar a informação com Effie. Essa era uma das ocasiões em que guardava as coisas boas com medo de que pessoas ruins as destruíssem.

— Mais ou menos. Somos amigos. – foi a coisa mais útil a se dizer.

— E por que está aqui sozinha? – indagou a mãe com confusão aparente.

Como explicar para alguém que não sabe o que é ficar sozinha que você gosta de sair apenas consigo de vez em quando?

— Ora, Katniss, quando se tem um namorado, uma garota não anda por aí sozinha numa quinta à noite só porque quer. – ela estalou a língua em reprovação – E eu achando que você finalmente estava chegando a algum lugar.

Não chore, sua burra, não ligue. Apenas vá embora.

— Nesse ponto discordamos. Apreciar a própria companhia é um sinal de amor próprio e independência emocional – respondeu num fôlego.

A essa altura, Prim engolia o rapaz com os olhos. Katniss catou a bolsa do assento e pôs-se de pé.

— Ah, e, Prim, - chamou e a prima desviou a atenção da paquera – foi um prazer te rever e ter a certeza de que não quero que isso se repita. Passar bem.

Caminhou a passos largos até o caixa, pagou a conta e voou para fora da delicatessen. Deixara uma Effie aturdida para trás, uma Primrose com o ego ferido e a certeza de que ainda não se amava o suficiente. Uma vez andando até em casa, pôde respirar de verdade, o peso da lua cheia sendo tirado de cima de si conforme sentia o gosto amargo das lágrimas.


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Notas finais do capítulo

Gente, o relacionamento entre pais e filhos é um ponto crucial na vida de qualquer ser humano. Considerando que as coisas entre Effie e Katniss estão super mal resolvidas, nossa menina ainda tem muito pelo que passar e aprender. Espero que o capítulo tenha sido favorável kk
Comeeenteeeeemmmm
Façam uma escritora feliz :D
XoXo



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