Intrinsically escrita por Jay L


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus amados leitores. Depois de quase um ano sem atualizar a história, cá estamos. Foi um ano bem doido, esse 2020. Escrever nunca foi tão necessário e tão difícil como nos últimos tempos. Mas não costumo desistir tão fácil rsrs. Espero que este capítulo lhes encontre bem. Obrigada a todos que me enviaram mensagem cobrando pelo próximo capítulo, pois suas palavras foram fundamentais para que hoje eu postasse a continuação. Obrigada de coração àqueles que ainda torcem por Intrinsically! Meu coração de escritora pulsa de emoção por saber que ainda há sobre o que escrever para leitores receptivos ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/729261/chapter/15

Jamais parara para imaginar onde Peeta morava. Embora dois dias atrás ele a tenha convidado para jantar em sua casa, Katniss não pensou no assunto até estar diante dela.

À primeira vista, a simplória casa amarela não trazia nada de especial. O caminho de pedregulhos que levava à entrada assemelhava-se a cascalhos de praia, que crepitavam sob os pés. A grama ao lado precisava ser aparada, o mato verde alcançava a altura dos tornozelos; minúsculas flores lilás despontavam aqui e acolá, criando pontos coloridos na cobertura verde e desgrenhada. As telhas traziam uma cor interessante pela pintura não acabada: na parte inferior, as telhas chapiscadas de cor caramelo desbotadas pelo tempo e com manchas escuras de lodo; na parte inferior, o marrom claro descia pela cobertura.

— Ainda não concluímos a pintura – Peeta explicou – Andrew anda enrolando no serviço.

Katniss olhou a entrada. Ornamentado por flores silvestres, numa mistura agradável e vistosa de vermelho, amarelo, lilás, azul e verde, o umbral da porta coroava a quem entrava.  Tocada, o vago conceito de casa definiu-se como lar.

Peeta deslizou os dedos entre os de Katniss e a levou pelo resto do curto caminho. Passando debaixo das flores, seu estômago se contraiu e levou palpitações gostosas ao coração, a memória refrescada no trecho final de Anne of Island, “Então, voltaram para casa juntos, sob o crepúsculo, coroados rei e rainha no reino nupcial do amor, caminhando por veredas sinuosas e margeadas pelas flores mais doces que já desabrocharam ...”

O interior combinava com a áurea simples do exterior e tinha disposição espacial prática. Pequena e espaçosa, a sala contava com um painel para a TV de tela plana e um rack adjacente, uma mesa de centro média e sofá em formato de L. A partir da sala, via-se a cozinha, cuja a divisão com o cômodo se dava por um balcão de mármore amplo e alto.

Desde a entrada, o som de colher mexendo na panela, de algo fritando na frigideira e da televisão na sala, combinado ao cheiro de lasanha no forno, os recepcionou. O ronco alto e grosseiro do estômago de Katniss assustou a ambos. Peeta estacou e a fitou com olhos arregalados e caiu na gargalhada, Katniss abraçou a barriga e logo o acompanhou, sem medo de ter sido vergonhoso.

— Peeta? – alguém chamou da cozinha.

Peeta apertou de leve a mão da garota e foram até o balcão. Abaixada em frente ao forno, espiando a lasanha, uma mulher se ergueu e os encarou. O rapaz tomou a frente e pôs Katniss debaixo do braço.

— Tia, esta é Katniss, minha namorada.

Impassível, a mulher desviou os olhos de Katniss para Peeta e para Katniss de novo. Da mesma tonalidade amanteigada de Peeta, a cabeleira loura estava presa num rabo de cavalo firme e alto. Enxugando as mãos no guardanapo, um sorriso lento tomou de conta do rosto que de tantas formas se parecia com o do sobrinho. Se ela não soubesse que Marcy era tia dele, pensaria estar na frente da própria Lucile Mellark, mãe de Peeta.

— Olá, linda Katniss. Sou Marcy.

Incerta quanto à apresentação de Peeta como “namorada”, Katniss a cumprimentou hesitante, soando cordial ao extremo.

— Então você namora meu menino, ham? - Marcy colocou os punhos no quadril.

Era justo. Não seria poupada de eventuais especulações, mas não tinha o que responder quando nem sabia ter um namorado dois minutos atrás. Ela se virou para Peeta, que se reclinou sobre a bancada da cozinha casual e relaxadamente.

— Sou sua namorada?

— Ah, tudo bem para você?

Katniss entortou os olhos.

— Isso foi um pedido?

— Você quer que seja?

— Não, quer dizer, sim... Hum, não sei. Só é estranho.

— Vamos ser estranhos então.

— Você sequer havia proposto à garota antes, Peeta? - Marcy interveio - Ora, garoto, que espécie de homem você é?

Peeta deu de ombros, dispensando a alfinetada da tia.

— Da espécie que resolveu acabar com um ligeiro problema de nomenclatura. - Desencostou-se da bancada e rodeou a cintura de Katniss.

A moça segurou seus ombros e deixou o olhar constrangido vagar até Marcy, que tinha a sobrancelha erguida em divertimento.

— Querida, ele gosta de você. - Disse a mais velha.

Peeta pressionou a boca nos lábios de Katniss, o som estalado e alto ecoando no cômodo.

— Droga, você o escolheu mesmo.

Atrás deles, Andrew ostentava uma expressão fingida de derrota. Katniss desvencilhou-se de Peeta e sorriu com os olhos.

— Sinto muito, Andrew. Seu irmão chegou primeiro.

Andrew encolheu os ombros em uma clara expressão de "fazer o quê?".

— Um homem deve aceitar quando se dar por vencido.

Andrew a abraçou e a beijou na bochecha.

— Minha oferta ainda está de pé. - cochichou no ouvido dela.

A garota riu travessa e voltou para Peeta.

Marcy bateu palmas.

— Tudo bem - apontou para a sala - Fora da minha cozinha, os dois. Preciso terminar o jantar.

Antes que Katniss desse a volta na bancada, Marcy a chamou.

— Fico feliz por você e meu filho. Saiba que, se você fizer mal a ele, terá que enfrentar a fúria de uma mãe. E, se ele fizer mal a você, conte comigo na vingança. - concluiu piscando em cumplicidade.

Baratinada, Katniss entreabriu os lábios e oscilou.

— Obrigada. Lembrarei disso. – Falou.

Marcy era uma peça, e Katniss a adorou por isso.

**

Enquanto comiam a deliciosa lasanha de frango, a conversa não parava. Diferente do que esperava, Katniss não foi o objeto central da interação, só tópicos ocasionais sobre escola, faculdade, trabalho, o que o pai dela fazia. A menina notou a pergunta assertiva frisada apenas em Haymitch, sem menções à mãe. Talvez Marcy não fosse tão ignorante assim quanto aos assuntos de família. Sequer chateou-se com a possibilidade de Peeta ter comentado algo com a tia, era a verdade mesmo.

— Joseph nos convidou para passar o final de semana na casa de praia dele em Cape May. Fiquei de ver a data com vocês. – Marcy disse ao dar a última garfada na lasanha.

Peeta e Andrew trocaram olhares antes de fitar a tia.

— O que foi? – questionou ela.

— O namoro de vocês está sério assim? – Drew perguntou, um vinco se formando na testa.

Marcy enrugou o nariz e colou o cotovelo sobre a mesa, balançando o garfo. Parecia querer jogá-lo no sobrinho.

— Eu havia lhes dito que estávamos chegando a algum lugar, meninos. Também tenho vida amorosa.

Peeta voltou a comer a lasanha e nada disse, mas Katniss sentiu a impaciência em seu silêncio.

Marcy inalou com força e pousou o garfo no prato vazio.

— Quero que saibam que irei, vocês indo ou não. Só achei que seria bom todos nós nos aproximarmos. – Ela olhou para Katniss e sorriu – Você está convidada, querida. Se quiser, posso falar com seu pai.

Tomada pela leve tensão que assentou à mesa, a morena balançou a cabeça e espiou Peeta de canto.

— Muita gentileza sua.

Marcy colocou-se de pé e foi à geladeira, trazendo uma travessa grande de mousse e felicidade ressentida por trás da expressão pacífica. Depositou a travessa na frente de Katniss e serviu cada um deles.

— Mousse de ganache com morango. Peeta me disse que você adora.

De boca cheia, Katniss gemeu de contentamento e saboreou colherada por colherada da deliciosa sobremesa. O loiro ao seu lado permanecia quieto, Andrew devorava o mousse com tanto vigor que ficou difícil decidir se não falava por estar chateado ou porque ocupava-se o suficiente sendo voraz.

— Posso ajudar com a louça. – ofereceu de bom grado.

— Não precisa. – Dispensou Marcy - Hoje você é nossa convidada. Vá ficar com Peeta, eu cuido do resto.

Obedecendo, a garota devolveu os pratos que já havia pegado para a mesa e foi se juntar na sala com os garotos.

— Sou a convidada, mas você poderia ajudar na louça, Peeta. – Repreendeu Katniss enquanto sentava no sofá.

Deitado, o loiro moveu a cabeça até recostá-la nas pernas da namorada.

— Você não a conhece. Não vai querer minha ajuda com você aqui, além de eu ter sido... Como Marcy costuma chamar? – refletiu.

— Um egoísta preconceituoso. – Andrew disse sem tirar atenção do documentário do Discovery Channel, em que dois leões brigavam por uma zebra.

Katniss mordiscou a parte interna da bochecha e brincou com os fios do cabelo de Peeta.

— Esse Joseph... – começou – Não gostam dele?

Andrew limpou a garganta e cruzou os braços.

— Digamos que Joseph está mais para um irmão mais velho nosso do que um futuro padrasto. A diferença de idade entre a gente e ele é menor do que a dele e Marcy.

Indignação fresca e repentina nasceu de dentro para fora de Katniss. Os dedos que acariciavam o cabelo de Peeta o puxaram com força.

— Ai! – erguendo-se no ímpeto, reclamou, massageando o couro cabeludo dolorido - Por que fez isso?

— Porque você está sendo imbecil. – Rebateu, o tom de voz irritadiço – Ela é adulta, sabia? Deixe-a ser feliz. Não basta o tanto que ela sacrificou pelos dois?

A expressão de Peeta ficou sombria e clínica, como se o tema fosse pauta antiga de um assunto desagradável.

— O cara tem vinte e quatro anos. Ele podia ser meu irmão. Fala sério, o que ele quer com uma mulher doze anos mais velha que ele? Há muitas garotas da idade dele que o satisfariam.

Katniss bufou e rolou os olhos. Como ele estava sendo idiota!

— Francamente, Peeta, você é tão inteligente, mas conseguiu forjar um argumento medíocre e pouco razoável.

— O que quer que eu diga? É o que penso. – Ele cruzou os braços e, de repente, se parecia muito com uma criança teimosa - Não quero um moleque qualquer namorando minha tia.

            Andrew continuou vidrado no documentário, ignorando a conversa. Katniss engoliu a ligeira vontade de beliscar Peeta e encarou a TV. Um dos leões comia a barriga da zebra.

O que estava pensando ao se meter nos assuntos daquela família? Recolheu as palavras um tanto mal criadas que usaria em defesa de Marcy e tocou o braço do loiro calado. Ele ainda não a olhava, então ela tocou sua bochecha de leve. Dessa vez, Peeta baixou os olhos para Katniss, que, em calma voz, disse:

— Retribua um pouco do amor que lhe foi dado sendo gentil com a pessoa que ela escolheu amar. Se fosse o contrário, acha que ela agiria assim com você?

— Não. – Respondeu a contragosto, o monossílabo retorcido de azedume.

— Pode ser que ficasse preocupada, mas daria uma chance ao seu amor antes de sentencia-lo. Pense no assunto. Sei que a ama, mas se a idade é o único fator que te impede de gostar de Joseph, precisa decidir se o seu preconceito é maior do que a vontade de vê-la feliz.

Katniss deu o assunto por encerrado e, pouco a pouco, Peeta achegou-se. Seus ombros se tocaram, um braço a rodeou, a cabeça dela repousada na curvatura do pescoço dele. Marcy saiu da cozinha e se juntou a eles no sofá, Andrew desistiu do documentário e colocou em “Uma Noite Fora de Série”, o tipo de filme que todos na sala já assistiram e riram como se fosse a primeira vez. Por hora, o problema namoro foi esquecido.

Mais tarde, na frente de casa, Katniss inclinou-se e beijou Peeta com ansiedade. Ele devolveu na mesma moeda e avançou mais do que o comum. Mãos, pele com pele, a ligeira vontade de mais.

— Eu irei à praia se você for. – Katniss murmurou contra a boca do loiro, segurando seus braços.

Peeta virou o rosto e aproximou os lábios de sua orelha, o hálito quente fez cócegas na pele dela.

— Eu espero que sim, não tem outra pessoa que eu queira ver de biquíni.

Katniss recuou e o encarou com exagerado ultraje. Aproveitando o espaço entre eles, permitiu-se reter as informações daquele rosto adorável que ficava mais cativante quando Peeta estava bem humorado. O azul dos orbes brincava em divertimento malicioso, o canto da boca repuxado provocativamente, a linha angular do queixo que ela queria beijar, o cabelo desarrumado pelo capacete.

— O que foi? – ele tombou a cabeça.

Adorável e muito beijável.

— Nada. – Katniss mentiu e sorriu, depois avistou a porta de casa – Melhor eu ir. Obrigada pela noite.

— Tchau. – Afagando-lhe o cabelo, respondeu.

Katniss correu para dentro e acenou enquanto Peeta sumia na rua montado na moto. Tão logo chegou, percebeu a quietude anormal da casa. Haymitch, que costumava matar tempo assistindo televisão, não estava na sala nem em lugar algum que a vista alcançava.

A morena soltou um bocejo alto no caminho até o quarto, murmurejando a velha cantiga de ninar que aprendeu quando criança.

Estrelhinha pequenininha, seu brilho grandão acende meu coração. Brilha e brilha no infinito. Brilho antigo mui bonito ...

Os passos de Katniss vacilaram diante da porta fechada do quarto do pai. A princípio, pensou que o homem estivesse passando mal, os ruídos abafados indicavam que sim. Porém, o que a impediu de abrir a porta e checar o que acontecia foi um grunhido feminino vindo do mesmo quarto.

A vertigem gradual e intensa percorreu do estômago à cabeça conforme distinguia a quem pertencia o som quase animalesco. Katniss não tinha lembranças do pai trazendo mulheres para casa em todos os anos de solteirice, fazendo a ideia de libertinagem soar menos desmoralizante do que, depois de tudo, transar com Effie. Existiam pessoas mais burras do que aquelas que tinham um caso com o desastre?

Enervada, Katniss se trancou no próprio quarto e chutou os sapatos dos pés. Se Haymitch queria esquecer os últimos dez anos, bom para ele. Ela estava mais decidida em focar em si mesma do que se desgastar com causas perdidas. E ela mesma era uma causa importante demais para ser tratada com descuido.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Até os comentários!! Fé no Pai que o próximo cap sai.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Intrinsically" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.