Subindo as escadas contando degrau por degrau mentalmente até chegar ao segundo andar, era uma mania que Aurora tinha, contava tudo. Observava os retratos nas paredes. Ela, Rafael, Tiu Alvaro e as gêmeas. Em outro seus pais abraçados em uma festa aparentemente felizes. Tiveram bons momentos naquela casa. Terminando de caminhar no final do corredor tinha uma porta, esse era seu quaro, ao abrir a porta sorriu, tudo estava como da ultima vez, o abajur, a estante de livros, a janela de vista para o lago, tudo igual. Por um instante sentiu como se fosse capaz de reviver tudo de antes, sua primeira vez de sexo com Alvaro foi lá, alí trocaram as maiores juras de amor.

 Se jogando na cama e olhando para o teto onde tinham varias estrelinhas ilustradas, as quais brilhavam no escuro pegou o celular pessoal e correu o dedo na lista de contatos até achar a letra M.
—Mel? –Disse ao notar que fora atendida.
—Sou eu.
—Sei que aí já deve estar a note, não quero atrapalhar mas eu não sei o que fazer.
—Tudo bem, mas quem é? –Disse com a voz sonolenta.
—Aurora.
 Por alguns segundos Mel permaneceu em silêncio, não estava em horário de trabalho, nem se quer costumava atender o telefone tão tarde, mas seu marido atrasou-se no serviço, ela pensou que poderia ser alguma coisa.
—Aurora, nós temos horário marcado.
—Tudo bem, desculpa atrapalhar sua noite com seu marido, ou seu sonho, você tem razão, mas é que estou prestes a cometer uma loucura e você é a única pessoa que me...alivia de certa forma.
—Tudo bem, meu marido nem está em casa mesmo – Disse desapontada. –Onde você está?
—Estou em Londres.
—Então quer que eu te ajude?
—Eu só preciso conversar, e você é a única pessoa que posso confiar, sei que não vai dizer a ninguém.
—Aurora, me escuta. Nem essa ligação poderia estar acontecendo, imagina te atender por telefone, assim que voltar me liga e marcaremos uma consulta tudo bem?
—Eu fiz sexo hoje, sabe o que isso significa?
 Mel respirou fundo, coçou a cabeça sabia exatamente o que significava.
—Assim que chegar nos vemos, durma bem querida. –Respondeu desligando sem dar brecha para Aurora contar o que havia feito.
 Aurora sorriu e levantou animada indo para o banheiro tomar um banho e se preparar para o desfile.


 Assim que Mel desligou o telefone ouviu a porta se abrir. Marcelo carregado por dois amigos, todos completamente bêbados.
—O que está acontecendo aqui?
—Saímos para comemorar a promoção. – Respondeu Felipe o que conseguia parar em pé.
—Obrigada por terem trago ele. –Respondeu indo em direção ao marido, ajudando a coloca-lo no sofá. –Muito obrigada.
 Assim que a porta fechou indicando que os amigos de Marcelo tinham deixado o lugar, Mel parou de frente com ele, e colocou as mãos na cintura.
—Agora você voltou a adolescência Marcelo ?
—Eu não sou seu paciente. –Respondeu com uma voz embriagada.
—Eu fiquei te esperando pra jantar, eu dormi no sofá, atendi ligação de trabalho pensando ser você, porque eu não sabia onde você estava, agora que tudo está dando certo você quer estragar tudo? E se seu chefe visse você bêbado desse tanto? Acha que você estaria promovido ainda?
 Marcelo a olhou e deu uma gargalhada sarcástica, levantou se equilibrando no sofá.
—Eu serei mandado embora de qualquer jeito minha querida.
—Do que você está falando?
—Que eu vou curtir em quanto eu posso, o chefe logo vai me mandar embora.
—Marcelo o que você fez?
—Você só trabalha, trabalha, trabalha....Toda vez que eu falo pra gente passar um tempo juntos você ta trabalhando, você até atende em casa agora, vive pros outros.E quando quero nosso filho você adia.
—Você está transferindo sua culpa pra mim, Marcelo, o que você fez?
—Eu não fiz nada, você que fez.
 Mel então o empurrou jogando-o no sofá.
—Anda seu covarde, o que você fez? Você está com a mesma cara de quando saiu com a minha irmã lembra? Ou aquela vez que você tentou seduzir nossa empregada, você se lembra? –Nesse momento mel sentiu seu coração acelerar, um calor subiu-lhe a espinha, e as lagrimas começaram a descer por sua face. –Ou será que essa é a cara de quem me traiu anos com uma secretaria?
 Então ela pode ouvir o choro do marido que olhava pra baixo com uma feição de culpa.
—Me diz Marcelo, o que é dessa vez?
—Me perdoa, eu juro que não foi por querer..
—Fala Marcelo
—A Soraia mulher do chefe ta gravida.
—Não me diga que...não, não, não ...Claro que não foi por querer, ela socou a buceta no seu pinto e você gozou , e sua foi tudo sem querer...Agora entendi tudo sua felicidade, o jantar que você fez pra mim. Por que não me contou quando estava são seu covarde?
—Mel...eu só soube hoje.
—Cala a sua boca –Deu um grito estridente atirando-lhe um vaso na cabeça levando-o a um desmaio.
—Meu Deus, o que eu fiz? –Disse secando as lagrimas e olhando Marcelo adormecido em quanto um pouco de sangue descia por sua testa. Mas não conseguiu olha-lo por muito tempo, sentia nojo, não sabia mais o que pensar, pegou a chave do carro e desceu até o estacionamento do prédio pelas escadas chorando muito.
—Como posso estar com esse homem ainda? O que eu vi nesse fracassado? Meu Deus eu não vou aguentar, eu não vou suportar, ele é um desgraçado, eu devia ter dado essa droga desse filho que ele tanto quis. Preciso ir pra algum lugar, sumir daqui. –dizia para si mesma até chegar no carro, com o qual ela deixou o prédio.