O motor do carro desligou, Elizabeth, mais conhecida como minha mãe, virou-se para me dar um beijo de despedida, apenas sorri. Abri a porta, então lá estava eu..... na frente do novo colégio para iniciar o ensino médio. 

Na entrada dizia em um pedaço de pano branco pendurado de ponta a ponta a seguinte frase "Bem vindos novos alunos, ao colégio Delarriva".

Meu irmão nem me esperou, entrou deixando-me para trás, nenhuma novidade até aqui. Então respirei fundo e comecei a caminhar. Ao passar pelas enormes portas de vidro na estrada, começou em mim uma crise existencial. Novamente respirei e prossegui.

Veteranos nos acolheram, levando-nos até o pátio onde o diretor Steven estava esperando na escada em cima do nome do colégio. Começou então seu discurso.

— "Bem vindos ao Delarriva alunos, espero que esse ano seja de ótimo aproveito, sintam se parcialmente em casa. O futuro de vocês é aqui". 

Foi o mesmo discurso quando Theo entrou, ele me contou. 

Após essa chata cerimônia de acolhimento, outros mais velhos vieram nos acolher para levar para as salas de aula, onde começaríamos a tortura e tormenta. Quarenta minutos ouvindo uma voz geralmente irritante tentando mostrar o que sabem para pessoas que não estão nem ai para eles. Fomos recebidos por uma garota de cabelos negros e longos, e toda vestida de preto, sua cara não era nem um pouco amigável.

— Sou Kimberly, sigam-me. - apenas isso, mais nada. 

Os corredores eram enormes, muito fáceis de se confundir, a escola em si era gigantesca, pelo menos em comparação a minha antiga. Kimberly parou em frente a sala de número 11, depois de nos apresentar uma parte do colégio.

— É isso galerinha, até uma próxima. O resto vocês vão conhecer durante o ano.  

Primeira aula, o professor nem na sala estava, sentamos e ficamos esperando olhando todos para as caras uns dos outros feitos retardados mentais. Mais ou menos cinco minutos depois chega o professor, alto moreno.... bom, nada mais que isso. 

Seu nome era Marlow, sua matéria Química orgânica. Mas nem tivemos aula, neste dia foi só apresentações, ele nos levou para conhecer o resto da escola, e fomos liberados em seguida. 

O primeiro dia até que não foi assim tão ruim, apenas apresentações, e os veteranos valentões não foram convidados, somente os melhores foram convocados para cerimônia. 

Nada de amigos, nada de surpresas, nada de nada... 

Elizabeth foi buscar a meu irmão e a mim, porém Theo foi a pista de skate com seus amigos. Fizemos o caminho de volta, minha mãe sem fazer nenhuma pergunta, até estranhei, de tanta empolgação parecia que era ela que iria ao colégio. 

Isso só durou até a janta, quando Theo chegou. Começaram as perguntas, e eu resumi as respostas em uma só.

— "Foi um dia comum mãe".

Ela se silenciou, sorri para deixa-la menos desanimada e subi para meu quarto.  

Me joguei na cama, com um questionamento na cabeça, será que eu era assim sozinho porque não me esforçava o bastante para mudar? Fui tão profundo em meus pensamentos que acabei pegando no sono em meio a eles. 

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De repente estava dentro do colégio, tudo estava escuro... umas sombras começaram a se aproximar, e quanto mais perto chegavam, mais claro suas imagens iam ficando, eram os veteranos. Eles me zoavam, falavam coisas horríveis, e parecia que aquilo não tinha fim. Do nada senti algo estranho, despertei ao amanhecer... 

Meu irmão entrou no quarto para me acordar, então começou a rir de mim, e pegou seu celular.

— Isso com certeza vai pra página do colégio hahaha, mijão. 

Tentei tomar o celular de suas mãos, mas não pude fazer nada, ele era mais alto e mais forte. Só queria que acontecesse alguma coisa para que não tivesse que ir ao colégio.

Tentei fingir estar doente, mas não colou... Elizabeth já estava esperando no carro quando terminei o café. Agora eu só rezava para que ninguém tivesse acessado a página da escola pela manhã.

E lá estava novamente, segundo dia de muitos que ainda teria de enfrentar, em frente ao Delarriva. Abaixei minha cabeça e entrei, acreditem.... foi a pior coisa que fiz.

Começaram as tirações de sarro, falavam coisas como "Olha alí, o mijão", "Precisa de fraudas novato?", entre outras coisas que me deixavam cada vez mais constrangido. Corri até o banheiro masculino e me tranquei por um bom tempo. 

Sai quando os corredores se esvaziaram, fui até minha aula, com medo de ser alvo de ataques verbais novamente, era aula de cálculo. Pedi licença ao professor, um velho magrelo, acho que nem escutou quando falei. Todos me olhavam com sarcasmo no rosto, e minhas bochechas não demoraram a corar.

Foi quando ouvi uma voz aguda me chamar.

— Ei, é Adan não? Sente-se aqui, não ligue para os outros.

Era uma garota, loira, olhos claros e com o sorriso perfeito no rosto. Ela estendeu a mão como ato de cumprimento. Me sentei meio desconfortado, ninguém nunca tinha sido legal comigo assim antes.

— Prazer, sou Melissa. Não ligue para o que esses idiotas pensam, afinal se você se importar tanto com essas coisas, vai se esquecer de viver.  

— Seria legal não viver. - Falei repentinamente, mesmo não querendo.

— Nossa, tudo isso só por aquela foto?

— Não é normal um garoto de 16 anos de idade, bom....

— Urinar na cama? hahaha. - Foi a primeira que riu de uma maneira diferente dos demais.

— Não precisa falar assim na cara também. 

— Ok então, vamos acompanhar a aula. 

Novamente, foi a primeira vez que alguém foi legal comigo. Ainda estava confuso, mas pelo menos ela me fez esquecer um pouco o incidente. 

A aula demorou a passar. Quando o sinal tocou, fiz como de costume, sai correndo na frente. Foi quando Melissa gritou o meu nome. 

— Adan, porque sempre corre? Não quer conversar algo do tipo?

— Conversar? quero dizer.... claro que não é isso, mas....

— Não tem nenhum amigo para falar com você não é? 

Apenas sorri. 

— Vamos, nossa próxima aula também é junto.

Segui, apenas porque estava com medo de novamente ser motivo de risos no corredor. 

No caminho um garoto nos parou, chamando por Melissa. Era um tanto mais alto que eu, olhos verdes claros, cabelos macios e morenos, com físico de esportista, tinha quase certeza que já havia se inscrito no clube de esportes. 

— Melissa, espere por favor...

— Carter? o que você quer? o que estava fazendo aqui?

— Calma mocinha... esqueceu seus livros na aula de calculo, vim devolver antes de ir pra de anatomia. 

— Ah, como sou desligada, obrigada.

— De nada, vou nessa... Até mais, até mais pra você também mijão. 

Fiquei envergonhado, novamente os pensamentos negativos voltaram, tudo por um comentário. 

— Mais que idiota, não ligue pra isso tá?

— Gosta dele! 

— Que? claro que não, da onde tirou isso?

— Quando ele chegou ficou sem reação, suas mãos não paravam quietas e sua voz gaguejava, então gosta dele. 

— Já disse que não, além do mais ele namora uma garota do terceiro ano, Rachel, a patricinha cor de rosa em pessoa. 

— Isso não muda nada.

— CHEGA! eu tentei ser legal mas não da! Até mais.... mijão.

E novamente consegui o de sempre... solidão. 

O resto do dia, as mesmas coisas, brincadeiras de mal gosto, sem ninguém pra conversar, e nem vi mais Melissa. Enfim, o segundo dia não havia sido normal como o primeiro, foi o verdadeiro pesadelo. 

Voltei em casa a pé, precisava pensar. Meus pensamentos me confundiam cada dia mais. Pelo menos havia tido uma nova amizade por alguns minutos. 

Cheguei, nem me dei ao luxo de ir até minha mãe. Subi para o quarto, estava fervendo, e sem conseguir controlar eu explodi, mas não foi no sentido real da palavra, e sim no contesto de sentimentos. Me debulhei em lagrimas de sofrimento, tinha sido um dia horrível, e não aguentei no fim das contas. Elizabeth não sabia o que estava acontecendo e batia na porta querendo me ajudar, mas eu só queria chorar, ficaria melhor depois disso. 

Parei quando meu celular tocou a notificação, era um pedido de amizade em uma rede social, abri, olhei o nome.... 

"Melissa Fabien"