Fiquei meramente confuso, perdido em minhas ideias, o que aquela garota tinha visto em mim? Um garoto simples e comum, sem qualidades, um tanto solitário... 

Aceitei o convite, agora já podia dizer que completara uma mão de amigos virtuais, tinha apenas 10. Logo veio uma mensagem de Melissa...

"Oi Adan, queria pedir desculpas por hoje, você até que é um cara legalzinho, sei que não foi sua intenção.... espero que me perdoe por falar daquele jeito, até amanhã". 

Novamente me perguntei, o que ela havia visto em mim? Uma menina bonita, loira de olhos claros e com aquele belo sorriso... Poderia ser amiga de qualquer um, principalmente pela sua grandiosa simpatia. Mas porque justo eu? Seria algum tipo de brincadeira? Estava me enganando para depois pisar em mim? Só poderia ser isso. Já basta. 

Não respondi, apenas visualizei. Retomei em cansaço e dormi. 

Outro dia, mesma rotina... Levantar, tomar café, escovar os dentes, trocar as roupas, pegar a mochila e entrar no carro. Esperar mais vinte minutos até chegarmos ao colégio, ver meu irmão entrando antes de mim, sem ligar para minha insignificante existência, entrar no colégio e começar as torturas. Porem eu até gostava de algumas aulas. E estava ansioso para a aula de cálculo, queria por logo um basta nessa farsa de "amizade".

E finalmente, quando já estava quase dormindo na de filosofia, toca o sinal para a aula, com o professor cujo nome ninguém entendia, cálculo.  

Entramos, sentei-me ao lado de Melissa, e consequentemente ao lado de Carter, que parecia estar aflito conversando com alguém por mensagem. Logo ela sorriu, apenas franzi as sobrancelhas, fazendo com que ela logo ficasse com ar de desentendida. 

— Você ainda está bravo não é? Sinto muito...

— Porque? porque fingiu ser uma amiga? meu irmão que pediu para zoar comigo? ou fez por conta própria mesmo? 

— Que? como assim, eu apenas tava tentando ser legal, vi que você....

— QUE VOCÊ O QUE, NÃO TEM AMIGOS? NÃO PRECISA FICAR FALANDO, EU SEI DISSO, E NÃO VAI SER DO DIA PRA NOITE QUE ISSO VAI MUDAR GAROTA....

Todos ficaram olhando para nós, inclusive o professor, porém o mesmo não entendeu nada, apenas ficou arrumando o óculos enquanto tentava processar essa discussão em sua frente. 

— Nossa, tudo bem então... isso que dá tentar ser legal com qualquer um.

Estava tremendo, mas não de raiva, e sim de tristeza, queria chorar mas não podia na frente de todos... Parecia que era só isso que fazia da minha vida medíocre, chorava sem parar para tentar melhorar. Já estava de saco cheio, mas comecei a pensar que fiz algo muito errado, e estava batendo o sentimento de culpa. 

Foi quando o clima tenso foi cortado por Carter saindo correndo da sala, sem explicação, além de poder jurar que vi lágrimas em seu rosto, mesmo que em pouquíssima quantidade. Ficamos todos tensos, ninguém sabia de nada, e foi assim até o fim da aula. Quando o sinal tocou Melissa me parou na porta. 

— Pense no que fez garoto, por isso você é sozinho assim, espero que morra desse jeito então. 

Seu tom de voz mudou instantaneamente de agudo para um ar sério, não reconhecia. 

Sai por fim com a cabeça baixa... culpa, culpa, e mais culpa, parecia a unica coisa que minha mente pensava. Fui interrompido mentalmente por Carter em uma parte bem escondida no corredor, sentado de pernas cruzadas, com o capuz cobrindo metade do rosto, e olhando para seu celular enquanto suas mãos estavam tremulas.

— Ei Carter, tá tudo bem? - perguntei sem pensar.

— Me deixa sozinho. 

— Assim parece até eu falando, mas ok, ficar sozinho é melhor afinal.

— Não... espere, é que....

Sentei ao lado dele, não sei porque estava sendo legal, sabia que isso iria me fazer ser prejudicado no final. 

— Fale, não deve ser muito diferente do site de desabafos...

— Bom cara, eu e minha namorada não estávamos legal a algum tempo, mas eu a amava muito, e estava na disposição de fazer tudo por ela, com o passar dos dias parecia que as coisas estavam melhorando, mas dai hoje veio essa mensagem, dessa...... dessa vadia. 

— Calma não pode ser tão ruim..

— Ela terminou comigo, POR MENSAGEM. Tomara que ela exploda com aquele mundinho dela.... Mas afinal, porque ta sendo legal comigo? Ontem fui tão idiota contigo...

— Não sei, simplesmente meu corpo se moveu, senti que deviria ajudar você.

— Obrigado, e me desculpe por aquilo. 

— Tranquilo... Agora sobre a garota, esqueça, você deve ser cercado de amigos, vai superar rápido, e um cara legal assim vai achar outro alguém logo. 

— Você sabe como animar alguém... Venha cá.

Nos abraçamos, foi legal, me senti útil. Queria poder resolver meus problemas assim como resolvo os dos outros. 

Estava me preparando para sair de lá quando Carter segurou meu braço. 

— Vai ter uma festa, na minha casa no final de semana, apareça por lá. 

— Ah, obrigado. Agora vou indo. - sorri.

Talvez tenha feito um amigo? Talvez! Meus pensamentos sobre o garoto popularzinho tinham mudado, afinal todos temos sentimentos, e ele era um cara legal. Agora tinha até uma festa para ir, uma de verdade, e não as festas nos asilos dos meus avós. 

Voltei a minha rotina normal. Nas próximas aulas que vieram não vi Carter e nem Melissa, mas tudo bem, nem liguei muito, vivi 16 anos sozinho, poderia viver mais um pouco... nessas horas o retardado do Kurt até serviria para alguma coisa. 

Hora de ir embora, e mais uma vez meu irmão atrasa todo mundo, tava se despedindo de sua nova namorada, uma garota do segundo ano chamada May, ela usava sempre um lenço verde na cabeça, mas no fim das contas realçavam seus cabelos castanhos curto e seus olhos violetas.

 Finalmente Theo subiu no carro, e podemos ir, queria ver minha tão sonhada cama. No meio do caminho estava distraído, quando de repente olho de relance. Em pé, na ponte quase chegando em casa, estava Carter se preparando para pular. Gritei. 

— MÃE... PARE O CARO. AGORA! 

Foi na mesma hora, ela freou e sai correndo, como nunca corri antes. agarrei Carter pela cintura e desci ele de lá. O garoto encostou em meu ombro e começou a chorar, fiquei completamente abalado vendo aquilo. Ele me abraçou novamente e sussurrou em meu ouvido "Obrigado". Pela primeira vez senti que havia encontrado alguém legal e que talvez poderia ter feito uma amizade. 

Levamos Carter para minha casa, ele jantou e estava se preparando para ligar para seu pai ir busca-lo, quando minha mãe deu a ideia dele dormir em casa mesmo, e assim ele o fez. 

Subimos até meu quarto, conversamos um pouco. Mas logo pegamos no sono. Acordamos no outro dia e Carter parecia outra pessoa, sorria novamente, parecia que algo ruim tinha ido embora. Fiquei feliz por poder ajudar nisso. 

 Depois de toda rotina diária fomos ao colégio. Logo na entrada vi Melissa, ela olhou assustada, não a culpo, deveria ser uma surpresa eu conversando com alguém, ainda mais o Carter. Porém seguimos e entramos na primeira aula, era de espanhol.  A professora Joanna mal entrou e com ela estava acompanhada uma garota. Era de um porte físico mediano, cabelos lisos e castanhos, olhar frio e bochechas avantajadas. 

— Classe, temos uma nova aluna, ela é neta do fundador do colégio Delarriva, seu nome é Chloe Delarriva. 

Ela sorriu, mas foi um riso de sarcasmo, como se sentisse superior a todos ali presentes. Começou então a se apresentar...

— Prazer, sou da terceira geração dos Delarriva, estava estudando na frança, mas por umas complicações por meu de meu professor particular tive que parar nessa espelunca que meu avó inaugurou, mas é o destino, terei de superar. Se forem legais e sempre concordarem comigo seremos bons colegas este ano, do contrário não. Posso parecer uma menininha por fora, mas sou bem diferente por dentro, então não se enganem. É isso, até segundas apresentações.

Após, sentou bem ao meu lado e de Carter, sua pose ere com ar de superioridade. Afinal se eu fosse neto do fundador também me acharia um pouco, mas pelo pouco tempo que estava presente aquilo já era demais. 

A aula passou rápido. Estávamos saindo da classe quando Melissa nos para na porta. 

— Então foi por esse ai que você trocou minha amizade?

— Não, eu só estava ajudando ele. E eu pensei no que você disse, devo desculpas, afinal foi a primeira que falou comigo, portanto Melissa.... me perdoe?

— Dessa vez.... tudo bem, perdoo sim. - suspirou e sorriu. 

— Loirinha esquentada haha. - retrucou Carter.

— Que lindo os amiginhos. - veio uma voz fria de trás. 

Era Chloe, com aquela sua superioridade abstinente.

— Não conheço vocês mas.... que idiotice esse negócio de perdão. Se deu mancada para mim já era, idiotas mesmo.

— Como é garotinha? - respondeu Melissa.

As duas ficaram se encarando por um bom tempo, mas a segunda sempre com seu cinismo estampado no rosto.

— Bom, vou indo, tenho coisas melhores para fazer, com licença.

 Com isso Chloe empurrou Melissa com dois dedos, para poder passar, fazendo-a cair no chão.

— Carter, Adan, ouçam minhas palavras..... Isso não vai ficar assim.