Alvo Fácil escrita por Ametista


Capítulo 2
O alvo


Notas iniciais do capítulo

Geeente ♥ Não acredito que a fic já foi tão bem recebida! Ainda não tô sabendo lidar ♥
Obrigada e vou tentar postar com regularidade, já que os capítulos estão sendo mais curtos. Agora, segurem essa marimba:



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Fazia tempo que eu não ficava tão cismada com uma tarefa. Havia retornado a Boston após o encontro com o “John Smith” de araque e passei dois dias encarando aquela droga de pacote pardo com a cara fechada. Alguma coisa não me cheirava bem naquela história. E eu havia aprendido com meus mestres que o instinto é o nome dado à inteligência primitiva, por isso era sempre importante levá-lo em consideração.

Resolvi levar esse instinto em muita consideração.

Antes de partir para Palo Alto, fiz uma escala em Los Angeles para me abastecer – eu me apegara tanto à cidade no tempo em que morei nela que mantive um de meus galpões em seus arredores, uma atitude perigosa para alguém como eu. Não podemos nunca nos deixar levar pelas emoções; elas são previsíveis. Separei apetrechos fundamentais; malhas de alta resistência, bota de batalha, colete à prova de balas, coldres, cinto multifuncional, atiradores de corda com ganchos, facas, pistolas, munição, soníferos, venenos de baixa detecção, pulseiras de eletrochoque e por fim, minha zarabatana disfarçada de piteira. Tinha o vago pressentimento de que iria detestar esse cliente e talvez pudesse usá-la contra ele.

Dirigi o BMW – um de meus carros antigos cadastrados em algum dos meus quinze nomes falsos, o que meu tio Frank gostava de chamar de carro de mulherzinha – até a casa que aluguei em Palo Alto. Até pensei em me hospedar no hotel de associados— isto é, de assassinos de colarinho branco –, mas eu sabia que encontraria colegas e eu não queria alardear minha presença por ora. Mantive tudo preparado para a sexta-feira, impaciente por não ter conseguido mais informações – nem mesmo com o celular, o qual esquadrinhei com meu vírus de invasão de sistemas, que eu apelidei carinhosamente de Viper.

A noite de sexta-feira chegou e eu estava um poço de mau-humor. Arrumei-me com esmero, colocando um vestido vermelho longo sem mangas, de costas baixas e fenda modesta na perna. Prendi os cachos dourados em um coque baixo e solto, realcei os olhos com um esfumado clássico e escolhi joias elegantes – entre elas, uma pulseira de eletrochoque disfarçada. Uma dama sem tirar nem pôr. Quando o táxi – sim, táxi, pois eu só dirigi metade do caminho e deixei o BMW no estacionamento do shopping mais próximo – parou no pórtico do edifício de luxo onde estava acontecendo o baile, eu não conseguia parar de tamborilar os dedos.

Tentei me animar, lembrando que estava com a zarabatana ali cheia de veneno esperando por uma emergência, mas não ajudou muito.

Entreguei o convite na entrada com a expressão indiferente, mantendo os olhos retos feito qualquer dondoca esnobe, e mal havia adentrado o salão apinhado de pessoas quando saquei o celular da bolsa clutch. Até ali, nenhum sinal de vida. Varri o olhar pelo espaço amplo ricamente ornamentado em branco e tons de ouro, com o segundo pavimento dando acesso para salas reservadas e a área oposta para o salão de jantar. Garçons corriam de um lado para o outro servindo champanhe em taças cristalinas sobre bandejas de prata. Uma música suave tocava e casais dançavam no centro. Executivos conversavam em grupos distintos ou nos sofás espalhados.

Não havia ninguém com o celular na mão.

Peguei uma taça de champanhe – que não bebi – e comecei a andar discretamente pelo salão – erguendo no rosto a fisionomia de quem sabia o que estava fazendo –, indo aos poucos estudando os grupos com o canto dos olhos. Era fácil identificar quem me conhecia como Fantasma de quem não tinha a menor ideia. Não era um franzir de testa ou uma palidez de susto; era o vazio nos olhos de quem não queria se delatar como criminoso ou como alguém ligado ao crime, o gelo de quem se faz de desentendido. Contei poucos ali assim, porém, e nenhum deles deu sinais de ser o cliente. Continuei marchando entre os homens, que em sua maioria me fitavam com ares de cobiça, quando uma mão firme se fechou em meu pulso.

— Princesa Puckett?! – uma voz rouca e perplexa soprou na minha orelha.

Não. Não, por favor!, implorei. Diga-me que estou ouvindo errado, que essa voz não pertence a que estou pensando! Mas pertencia. Eu nem precisava me virar para confirmar. O arrepio que correu meu corpo era prova o suficiente.

— Freddilóide? – Girei os calcanhares para ele, aturdida.

A primeira coisa que percebi foi que seus olhos castanhos continuavam os mesmos; penetrantes, atrativos e quentes, me derretendo até os ossos. O cabelo estava cuidadosamente alinhado com gel e o velho e sedutor sorriso de lado curvava seus lábios perfeitos. Então o vi de verdade. Ligeiramente mais alto do que eu, os músculos proeminentes se destacando dentro do smoking, a barba curta. Perdi o fôlego com o choque. Jamais o vira tão lindo.

Freddie também parecia chocado. Desceu os olhos marrons por mim duas vezes, me analisando com uma ruga entre as sobrancelhas.

— O que está fazendo aqui? – rouquejou baixo sem tirar o sorriso.

— Eu... – Recuei. Não estava preparada para aquilo. – O que você está fazendo aqui?

Ao soltar o ar pela boca, ele parecia ter se recuperado. Enfiou as mãos nos bolsos e me encarou com malícia.

— Sou um dos anfitriões, Sam. A recepção está sendo oferecida por minha empresa. –Olhou meu vestido outra vez, mostrando apreciar o caimento. – E você ainda não respondeu minha pergunta.

— Fui convidada. – Essa foi minha resposta brilhante.

Os olhos se estreitaram.

Ele está aqui? – questionou. Freddie ainda me conhecia bem; farejou que tinha algo a ver com um par de calças. Não era mentira, mas era uma ideia longe da verdade.

Revirei os olhos, suspirando.

— Ainda não – cedi, me dando por vencida.

— Perfeito. Assim, posso lhe fazer companhia. – Uma nova música começou, um tango, e ele pareceu se divertir com um pensamento. – Dança comigo? – propôs, pousando a mão na dobra do meu cotovelo.

— Mas... – Ergui a minha bolsa com o celular e a taça de champanhe intocada como desculpa e à medida que ele entregava tudo a um garçom qualquer, reparei na expressão homicida de uma magrela um tanto atrás dele, conversando com senhoras finas. – E a loura oxigenada que está com você?

Freddie bufou, banalizando a garota e me conduzindo para o meio do salão.

Ao som cadenciado da música, esqueci do quanto minha postura estava sendo antiprofissional, no entanto, em compensação, lembrei-me de quem eu era. Eu era Sam Puckett, forte, decidida, confiante, que não agia feito uma adolescente tonta e virgenzinha quando seu ex-namorado brota diante dela. Foi erguendo isso feito uma armadura que eu me preparei para dançar, minha mão segurando a de Freddie com a mesma intensidade que eu segurava uma arma, pois de certa forma o tango é exatamente isso, uma batalha. Fiz um semicírculo com a ponta do pé e então estávamos movendo pelo salão, sincronizados e com habilidade impecável. Freddie não me perguntou como aprendi a dançar tango e eu tampouco perguntei a ele. Deixamos nossa dança falar por nós.

— Como vai sua mãe? – indagou muito tempo depois, o que me fez sorrir, sardônica. Minha perna livre na fenda deslizava na dele e estava na cara que ele estava começando a ficar nervoso. Conversas o distrairiam. 

— Muito bem. Está morando com a Melanie e o tio Morris em Chicago. E a sua? – Era melhor manipular a conversa para que o foco ficasse somente nele; não queria dar início a uma profusão de mentiras.

— Na mesma. Continua em Seattle, não quis sair de lá de jeito nenhum. Comprei uma casa maior para ela, há três anos. – Uma careta lhe torceu o nariz. – Tenho evitado de ir lá, ela vive me cobrando netos.

Ri enquanto ele me girava.

— Ela ainda está namorando o Lewbert? – zombei.

Freddie estremeceu, enojado.

— Se casaram no verão passado.

— Então diga a ela para lhe arranjar irmãos. Isto é, se a menopausa já não tiver batido palmas na cara dela.

Ele se engasgou com um riso.

— Morda essa língua – grunhiu. De súbito, a mão na base da minha coluna me apertou com mais urgência, mais persistente. – Você não mudou nada, sabia?

Ah, mas é aí que você se engana, Benson, pensei.

— Você também não – funguei, fingindo desdém.

Estávamos tão perto que sua barba roçava prazerosamente na minha bochecha. Mordi o lábio e desci as unhas no seu ombro, deliciada.

— Tem visto a Carly? – Ele me curvou para trás, suspendendo-me no seu antebraço.

— Não desde que ela casou com aquele embaixador italiano engomadinho. – Minha voz soou afetada, parecia um gemido. – Pelo menos ela me manda vários postais, liga a cada quinze dias. Quanto ao Gibby, não falo com ele desde que ele abriu aquela cadeia de restaurantes. Aquela baleia cretina...

Freddie fez que sim, sem responder verbalmente. A testa estava tensa de concentração; evidentemente controlando alguma reação não apropriada para ambientes públicos. Ao que tudo indicava, nada entre nós mudou, mesmo com os anos que ficamos separados.

— Você ainda mora em Los Angeles? – sussurrou fraquinho, quase uma súplica. As sensações desconcertantes que apenas formigavam por mim estavam inflamando a ele.

— Não. – E minha resposta ficou só por isso. Não havia nem como cogitar revelar minha localização a ele; nem ao menos Pam sabia que eu morava em Boston. Sem mencionar as perguntas que acarretariam, como o motivo de eu estar ali na Califórnia, por exemplo.

— É uma pena – lamentou no que não continuei, acariciando meu braço. – Poderíamos sair para tomar um café, conversar mais...

Eu me encontrava a ponto de devolver um comentário sarcástico a ele quando, no último giro conciso do tango, vi o garçom se atrapalhar com o celular que tocava de modo frenético e insistente. Larguei Freddie sem hesitar – não me importando com os olhares venenosos que nos alfinetavam, especialmente a mim – e andei rumo ao garçom, tomando de volta meus pertences já a caminho do banheiro. Tranquei a porta ao adentrar e me certifiquei de que não havia mais ninguém junto comigo antes de dedilhar a tela do aparelho que, para o meu sobressalto, não estava recebendo uma chamada e sim uma mensagem.

 Abri a mensagem, deixando que as letras iluminassem meu rosto.

                                   MATE FREDWARD BENSON


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Notas finais do capítulo

E então, galera?