Alvo Fácil escrita por Ametista


Capítulo 3
A conversa


Notas iniciais do capítulo

Antes de qualquer coisa, mil perdões pela demora. Tô há duas semanas tentando finalizar um capítulo da minha outra fic (e ainda não consegui), por isso acabei deixando essa aqui de lado.
Maaaasss enfim.. whatever. Aproveitem!
AH, e obrigada pelos comentários! Vocês estão fazendo uma autora muito feliz, seus lindos! ♥



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Não acredito que isso está acontecendo.

Um zumbido irritante apitava em meus ouvidos e, por um instante, tive a sólida impressão de que não havia nada além disso no mundo. Então meu cérebro reviveu do pane. Ainda boquiaberta de incredulidade, toquei a tela repetidamente, tentando reler a mensagem. Mal tive tempo de reagir ao fato de que meu ex-namorado Fredward Benson – que até há poucos minutos eu estava dançando e flertando em público – era o meu próximo cordeiro a ser abatido, porque uma nova mensagem, e agora em vermelho-vivo, começou a piscar sem nem pedir para ser aberta.

                ESTE APARELHO VAI SE AUTODESTRUIR EM 30 SEGUNDOS

Mas que droga.                                              

Desperta da letargia do choque, a minha faceta técnica entrou em ação procurando naquele banheiro formas de me livrar da minibomba. Havia uma janela, porém do lado de fora do prédio tinham seguranças de plantão e eu não ia querer o Esquadrão Antibombas me farejando. Um duto de ar se erguia ao alto do espelho... uma boa ideia, se a fumaça não fosse acionar o alarme de incêndio e lotar o lugar de bombeiros e policiais... Então olhei para o teto e vi que o forro tinha uma pequena área desmontável, um tipo de entrada que facilitava o acesso ao sistema elétrico.

Não pensei duas vezes. Fiquei de pé na pia de granito, empurrando a placa para cima e arremessando aquela desgraça de celular o mais longe que pude. Contei dez segundos e uma explosão oca sacudiu o lustre do banheiro, seguido de um apagão em todo o andar. Saí do banheiro e me deparei com um salão imerso em um completo alvoroço; pessoas correndo desnorteadas, em pânico devido ao que parecia ser um curto-circuito. Não encontrei Freddie na confusão, o que foi um alívio. Eu precisava pensar. Consegui fazer minha saída triunfal pelas sombras, como era adequado à temida Fantasma, e voltei para a casa alugada xingando em rosnados o caminho inteiro.

Aquilo não era um trabalho. Não mesmo.

Aquilo era um filho da puta de brincadeira com a minha cara.

Não tinha outra explicação. Quem conhecia a mim, Sam Puckett, independentemente sob a fama de mercenária ou não, sabia que Freddie Benson foi parte significativa da minha vida tanto nas câmeras do iCarly como nos lençóis que nos enroscamos juntos durante um verão inteiro em Los Angeles. Sofri até bullying por causa disso no meu primeiro mês na família, quando eu não passava de uma guarda-costas de um chefão amigo de tio Carmine, e ter transado com o playboyzinho nerd foi o meu calvário até eu começar a usar uma AK-47 em algumas cabeças e de repente todo mundo calou a boca.

Bom, até agora.

Quem seria tão sádico, ou tão maluco, para atiçar a minha ira levantando esse assunto das cinzas? Nem adiantava ligar para tio Frank e perguntar quem o repassara esse contrato; estávamos acostumados a lidar com clientes anônimos, que faziam o depósito na nossa conta assim que o serviço tomava-se por concluído. Ninguém era estúpido o suficiente para tentar calotear um assassino profissional e desde que fôssemos pagos, suas identidades eram irrelevantes. Evidentemente, quem quer que fosse o imbecil já imaginava que me sacanear daria em sangue, esclarecendo o excesso de cuidado que teve em esconder as fuças. Um mistério riscado a lista, embora outro maior assomasse no horizonte.

O que o Freddie poderia ter feito ou no que estaria envolvido para chamar a atenção de algum de nós, mafiosos?

Certamente ele não era um mafioso. Cinco anos podiam ter passado, mas os olhos castanhos de Freddie continuavam tão relevadores quanto no colegial e se ele soubesse a verdade acerca do que eu fazia para ganhar a vida, ele não perderia a oportunidade de expressar seu repúdio ou o mesmo gelo dos demais cavalheiros. E a maneira como ele me encarou ao longo do tango – entre outras coisas – apenas dizia que ele queria me levar para a cama de novo. Nada muito diferente. Entretanto... se ele havia feito algo ou estivesse envolvido em negócios que tinham o dedo do crime organizado – o que tem em todo lugar, afinal, somos que nem ervas daninhas – era bem possível que nunca tivesse ouvido falar de mim, porque meu nome só entra na jogada quando é necessário se livrar de alguém do jeito prático.

Demorei a perceber que eu estava martelando essas ideias andando de um lado para o outro diante do edredom coberto de armas. As horas se seguiam madrugada adentro e eu sabia que não ia conseguir dormir. De raiva, acabei tomando uma decisão. Já que não havia propriamente um trabalho – eu me recusava a levar essa piada de mau gosto como um –, resolvi tirar essa história a limpo partindo para a extração de verdade à base de ignorância, mesmo correndo o risco de me expor.

Alguém vai chorar feito uma garotinha esta noite, pensei enquanto vestia a calça de malha, uma regata preta e luvas. E garanto que não será eu. Uma invasão de domicílio era uma missão relativamente simples, então calcei minhas botas, encaixei o cinto multifuncional, enfileirei nele algumas facas, uma pistola de soníferos e, por fim, o atirador de gancho portátil. Descobrir o endereço da propriedade de Fredward Benson na região do Vale do Silício foi moleza – usei a Viper para invadir o cadastro dele na Receita Federal e em vinte minutos eu já estava dirigindo para rumo aos condomínios na parte mais chique da cidade, estacionando o BMW perto de uma boate qualquer.

Usei o atirador de gancho para me dar impulso antes de dar uma pirueta acima da cerca elétrica do muro e pousei na grama com os joelhos flexionados. Não me importei em passar na frente das câmeras de vigilância; certifiquei-me de deixá-las fora do ar, novamente graças a Viper. A mansão do cabeçudo era guardada por três grandões de terno que eu apaguei com o sonífero e escondi atrás das moitas do jardim e o sistema de alarme interno era tão ridículo que consegui desativar com um grampo de cabelo. Não sabia quantos empregados trabalhavam na residência; encontrei somente dois dormindo nos quartos da área de serviço e lancei mão de sonífero neles apenas para me garantir.

Apenas ao invadir o quarto de Freddie foi que me dei conta de que ele não estava sozinho. A loura oxigenada da festa estava nua e estirada de bruços à sua esquerda – o dardo extra de sonífero que espetei nela foi por puro capricho. No Freddie – que, para a minha sanidade, estava de cueca – usei uma dosagem fraca e aproveitei os minutos que tinha de vantagem para amarrá-lo em uma cadeira usando suas gravatas como corda. Quando ele acordou, estávamos sendo iluminados pela lanterna do seu celular caído no tapete e eu afiava as unhas com um canivete, sentada à beira da cama com o par de luvas pendurado no cinto.

— Bom dia, raio de sol – cumprimentei-o, debochada.

— Sam? – Ele franziu o cenho e olhou o entorno, muito confuso e sonolento. – O que...? Ah, inferno... Há anos não tenho um sonho assim – gemeu baixinho, seguido de um bocejo.

Sorri largo, irônica. Benson já havia sonhado comigo o algemando na cadeira? Interessante. Arrependi-me de não ter levado meu chicote.

— Por que está com facas... e vestida? – questionou com voz rouca. Seu olhar obsceno correu por minhas roupas escuras e eu revirei os olhos. O idiota pensava ainda que estava dormindo.  

— Se você for bonzinho comigo, nem vai precisar saber. – Levantei da cama e me sentei de pernas abertas no colo dele, os braços envolvendo seu pescoço. Homens excitados são duplamente mais suscetíveis a abrir o bico. – Tenho algumas perguntas, importa-se em respondê-las? – Como se ele tivesse opção.

Freddie negou com a cabeça, os olhos marrons estudando o contorno de meus lábios – tive mais um motivo para gostar tanto dessa cor. Aproximei-me de sua orelha, sentindo sua barba fazendo cócegas no meu rosto, e mordi a ponta devagar... lentamente o provocando. Desci as unhas por sua nuca e pelos ombros largos, indo para o peitoral, chegando na barra de sua cueca boxer azul... e subindo de volta para cima. Nem precisei beijá-lo e já o senti endurecer debaixo de mim.

Isso seria fácil.

— Por que o crime organizado quer o seu traseiro? – sussurrei feito uma brisa suave, mas Freddie agiu como se eu tivesse gritado com um megafone. Senti-o pular na cadeira, os músculos virando pedras e a razão enfim alcançou seu olhar; reações exageradas que o entregaram no ato. Seus pulsos se agitaram nas amarras, buscando a liberdade.

Seria do jeito difícil, então.

— O que está acontecendo? – vociferou, alarmado. – Sam, o que é tudo isso?

— Já lhe adianto que gritar é inútil, ninguém vai escutar – informei, pulando seus questionamentos de praxe. Apenas nesse instante ele pareceu notar a siliconada desmaiada na cama dele, o que me fez rir. – A piranha aí está fazendo um pequeno passeio pela Terra do Nunca e só vai retornar lá pelas dez da manhã, portanto não perca seu tempo. E para ser sincera – continuei, maliciosa –, tenho a impressão de que nossa atual posição lhe agrada. – Pressionei-me com mais força contra ele, vendo-o morder o lábio para segurar um gemido. – E muito.

Sou obrigada a admitir que ele se esforçou bastante em tentar parecer uma vítima injustiçada, ignorando todo o apelo sexual da situação. O desespero no fundo da expressão, porém, colocava tudo a perder:

— Sammy... não sei do que está falando. Crime organizado? – cuspiu, soando revoltado. – O que está insinuando que eu sou?!

Aquilo me irritou.

— Sabe, sabe sim. – Puxei seus cabelos, forçando-o a me olhar no fundo dos olhos. – Freddie, eles querem você morto. Agora, por que não nos poupa do discursinho de homem honesto com orgulho ferido e me fala da motivação que deu a eles? Nem tente mentir para mim, você sempre foi horrível nisso.

Passou um longo tempo em que Freddie indicava ruminar uma série de pensamentos pesados, até que se dignasse a falar:

— Digamos que seja verdade... – cedeu a contragosto. – Como você poderia saber disso?

— Digamos que sou bem informada e que, assim como você, possuo o círculo social bem diversificado. – Ergui uma faca do cinto, exibindo-a na luz da lanterna. – Meus métodos também ajudam.

— Métodos... – repetiu, saboreando a palavra. – Trabalha com eles, não é?

— Talvez. E aposto que tentar tirar você da rota de tiro me deve estar valendo algum voto de confiança, pois pode imaginar que isso não é nada comum.

Freddie deu de ombros, concordando. Entretanto, a obstinação em seus olhos me confirmou que eu não conseguiria arrancar nada dele naquela noite além da sua cueca.

— Tudo bem, já vi que não vai soltar a língua sem um pouquinho de persuasão. – Girei a faca entre nós, contudo acabei encaixando-a outra vez no cinto, me dando por vencida. – E como não estou afim de derramar sangue e neste momento, quero mais que você se foda, vou lhe fazer uma proposta mais... arriscada.

Sua sobrancelha se arqueou, cética e desconfiada.

— Mais arriscada do que você invadindo minha casa, me prendendo e me ameaçando com armas brancas, sabendo que eu posso ir até a polícia fazer um boletim de ocorrência na primeira oportunidade? Sério, não imagino como.

Saí de cima dele e abri um sorriso maquiavélico, andando até suas costas. Tirei minha caneta do cinto e me ajoelhei para anotar um dos meus números de emergência na sua palma. Logo que terminei, enfiei a mão por dentro da sua cueca e o massageei do jeitinho que sabia que o deixava louco, beijando-o da nuca até o pescoço quando suspirou meu nome. Então o larguei de supetão, ciente de que o que ele mais queria era que eu continuasse.

— A não ser que queira que colham minhas digitais das suas bolas, suponho que você não terá provas.

— Maldita – ofegou.

Fiquei de frente para ele de novo, curvada a centímetros do seu rosto e o fitando seriamente.

— Quando acordar pela manhã, não haverá sinais da minha passagem aqui além do meu número na sua mão. Ligue-me quando estiver preparado para contar a verdade e prometo ajudá-lo no que puder. Só... não demore muito. Pode ser que seja tarde demais. – E o beijei de modo quase angustiado, sentindo meus lábios nos seus cada vez mais vorazes, impacientes, torcendo para que aquele beijo não fosse o último.


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Notas finais do capítulo

Quero chuva de reviews, hein!