Todos sabem que pescadores adoram contar histórias exageradas. Desde o tamanho de seus peixes até quantas caveiras piratas teve que enfrentar para roubar-lhes o tesouro perdido. Mas essa história aqui é diferente. Ela é contada por marujos de todos os mares, homens barbudos de olhos amedrontados ou lacrimejantes, emocionados ou trêmulos de medo; e todos eles juram que a história é real.

Ela conta sobre um marinheiro que vivia atrás de lendas: Criaturas marinhas gigantescas que só poderiam ser vistas por quem afundasse até a escuridão gélida do oceano, fundo o suficiente para nunca mais conseguir voltar à superfície; Tesouros mais brilhantes que o sol; Ilhas que respiram ou bebidas criadas por seres que existiam antes mesmo da humanidade.

O homem ostentava uma grande barba como os fios grossos e cinzentos como dos ratos da cidade. Cheirava a cerveja, mas apesar da cara feia de carranca, era amigável com todos. Sua mulher era pouco mais gorda que ele, e encantava a todos com seu charme e sensatez que lhe faltavam em seu marido. A mulher não era muito realizada na vida em auto-mar, mas adorava contemplar a lua do lado de fora do convés. Reclamava sempre com seu marido sobre como ele dava mais importância às suas caçadas e tesouros que à sua própria mulher. Dizia ela: "Você me dá pouca importância, pois quando eu morrer, correrei até a lua só para que largue tudo neste barco e venha até mim pedindo perdão, e ainda terá que beijar meus braços para consegui-lo."

Até que um dia, os amigos de bar os avisaram que uma tempestade se aproximava em uma noite de neblinas, mas o marinheiro de barba acinzentada disse que era a noite de caçar a lendária baleia de 3 mil dentes e ignorou os avisos. Com sua mulher ao lado, lutou contra a tempestade atrás da criatura, uma onda feroz fez chacoalhar o barco e sua mulher fora jogada para fora, engolida pelo mar e escondida pela neblina e dali nunca mais fora vista.

O Homem, amargurado pela perda, passou todo o resto da sua vida navegando em mares noturnos, seguindo o reflexo da lua que ondulava na água salgada. E assim ele fez até morrer de velhice.

Hoje, se você for ao mar, em uma noite de neblina e lua cheia, poderá ver a forma esfumaçada do homem de barba cinza navegando fora d'água, flutuando em direção ao astro prateado no céu... e cada dia que passa ele está mais perto de seu, agora, único amor, que o espera com os braços a serem beijados.