Oásis Proibido escrita por Machene


Capítulo 6
Afinidade


Notas iniciais do capítulo

Yo minna! Então, neste capítulo, a historinha que a Usagi conta para o Nico é a mesma que aparece em Fruits Basket, contada pelo Momiji. Deste ponto em diante a história ficará mais caliente. Kkk



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Cap. 6

Afinidade

 

Desde os últimos incidentes na prisão Nanba, passaram-se alguns dias. Como de praxe, é uma quinta-feira de aula de educação física com Jiang Li para os presos do prédio 5. Contudo, excepcionalmente hoje por da última vez a professora ter adoecido e não ter conseguido lecionar para eles, os prisioneiros do prédio 13 poderão ir à aula e interagir com os amigos, graças ao organizado encaixe na agenda dela.

Até dar a hora da chinesa vir buscar o grupo, espalhado pelos cantos, cada um faz diferentes atividades com as mulheres disponíveis que os visitam.

...

{Na cela 13 do prédio 13}

— Pronto! – o prisioneiro 25 profere ao colocar seu novo estoque de medicamentos, dentro da sua maleta verde, num canto da cela, se virando a seguir – Obrigado por trazer os remédios para mim, Usagi-chan! – a moça sorri em resposta.

— Não foi nada demais. Já estava vindo para cá mesmo, então não custava passar na enfermaria. Além disto, eu disse que te ajudaria a lembrar de toma-los. – Nico sorri da mesma maneira, se aproximando dela para receber o que tem em mãos – Eu nem imagino como eu me sentiria tendo que depender de tantos medicamentos. Você é muito forte.

— Bom, eu me acostumei. Fiquei resistente depois de ser usado em tantos testes. – ele declara, engolindo o comprimido e bebendo da água no copo ofertado – Obrigado!

— De nada. – Usagi sorri fracamente, contudo tem uma ideia que a faz sorrir mais amplamente em seguida – Ei Nico, quer ouvir uma história? A minha mãe me contava sempre quando era criança, então acabei decorando. – o rapaz acena em acordo e os dois se acomodam no chão – Então, ela se chama “O Viajante Mais Ingênuo do Mundo”. Tudo começa com o ingênuo viajante fazendo uma jornada. Por ser ingênuo, ele era facilmente enganado pelos outros. Portanto, não importava aonde ia, desde o começo da sua aventura havia pessoas querendo se aproveitar do que tinha. Um dia, o viajante chegou à uma vila. – o ouvinte escuta atento e ansioso, o que desperta o sorriso da narradora, gesticulando durante a história – Logo, uma velhinha lhe pediu dinheiro para remédios, e em outra casa uma moça alegou que sua irmãzinha estava doente; um homem explicou precisar comprar sementes para seu campo. Aos poucos, o viajante enganado pelos moradores perdeu até suas roupas e seus sapatos, mas por ser ingênuo, mesmo quando os outros lhe agradeciam com mentiras, dizendo “você me salvou”, ele acreditava e falava “seja feliz, seja feliz”.

— Isto é triste. – o preso murmura com uma careta, recebendo um aceno afirmativo.

— Sim, é triste. E no final, o viajante sem nada ficou envergonhado demais, então entrou na floresta ali perto. Mas aí, ele encontrou os monstros que viviam lá. Eles queriam comer seu corpo, portanto também começaram a enganá-lo com mentiras. – aos poucos, a almoxarife nota a expressão do presidiário se tornar melancólica, todavia prossegue sem comentários – Claro que o viajante acreditou, e deu pra eles suas pernas e braços, um por um, até ficar apenas com sua cabeça. Então ele deu os olhos para o último monstro, que depois de comer disse: “obrigado, e como agradecimento, eu vou te dar um presente”. A criatura deixou algo ali e foi embora, porém, era só um pedaço de papel, onde estava escrito “ingênuo”. Mesmo assim, o viajante começou a chorar pelos buracos em que antes se encontravam os seus olhos, falando “obrigado, obrigado! Ninguém nunca me deu um presente antes! Estou feliz, muito feliz”. Aí ele morreu logo após. – a moça faz uma pausa, absorvendo e deixando ser absorvido o conteúdo do drama – Sabe, eu contei esta história para amiguinhos que tive na infância, da escola onde meu pai ainda leciona.

— E o que eles disseram? – Nico pergunta raramente sério.

— Todos eles chamaram o viajante de “bobo”. Mas... – Usagi fecha os olhos, toca o peito com a mão direita e sorri – Eu sempre fechava os meus olhos, pensando no pobre viajante enganado, deixado apenas com a cabeça e chorando enquanto dizia “obrigado”. – a jovem abre os olhos, fitando ternamente um ponto qualquer – E aí pensava comigo mesma... “Ah, como ele era amável”. – ela finalmente encara o rapaz, vendo-o lutar com dúzias de emoções ao mesmo tempo – E você sabe qual a moral da história? – ele acena em negação, meio pensativo ao vê-la erguer o indicador – É que não importa se vão existir pedras no caminho. Perdas ou sofrimento... Não adianta se preocupar com isto. O viajante não se preocupava com isto. Mesmo se fosse algo considerado tolo pelos outros, eu nunca o julguei ingênuo. O que importa é a jornada que você decide viver, a partir das próprias escolhas; o caminho que quer trilhar. Então... – a almoxarife sorri gentilmente, tocando as mãos do emocionado presidiário – Mesmo que sua história tenha tido um começo ruim, vamos lutar juntos para fazer dela um final feliz, né?!

— Sim. – o jovem sorri com lágrimas nos olhos, levando as mãos femininas até seu rosto para senti-las – Obrigado. Mesmo.

...

{Nos corredores do prédio 13}

— Bom dia senhorita Maya. – a indiana interrompe sua caminhada instantaneamente ao escutar a voz masculina e se vira para cumprimentar o rapaz em questão.

— Bom dia Tsukumo. – ele se aproxima sorrindo, embora ela não possa notar por causa da costumeira máscara em seu rosto – Eu vi Rock e Uno indo agora para o refeitório com o senhor Yamato e Yasmin. Disseram algo sobre preparar um lanche para viagem.

— Ah sim. Deve ser a refeição que pediram para Shiro e a senhorita Paola fazerem e levarmos até nossos amigos no prédio 5. A ideia é comermos todos juntos.

— Oh sim, a aula de reposição da Jiang Li. Ela comentou sobre isso. Que ótimo! “A comida sempre ganha um sabor melhor quando dividimos com alguém”: lição da Paola. – ambos riem – Na verdade, tudo fica melhor quando temos alguém com quem dividir.

— É... Então, o que faz aqui, no prédio 13? Não que esteja reclamando. – ela ri.

— Bom, eu ainda tenho um tempo até ir dar minha aula no prédio 7, e aproveitei para passar aqui e conversar com algumas das minhas amigas. Como você está?

— Bem. E fico feliz que esteja se dando bem com os outros. Está mais fácil agora?

— Um pouco. Eu me acostumei mais; aprendi a me expressar e puxar conversa. E eu acho que ganhei um pouco de coragem da Jiang Li, que embora já tenha tido problemas com interação como eu, mas por ser ignorada pelas pessoas que não compreendiam o seu jeito de ser, ainda mantem um sorriso no rosto. Porém, sem dúvida, eu me sinto confiante porque você me incentivou bastante quando cheguei aqui. Obrigada.

— Não foi nada. Eu entendia como se sentia porque um dia também estive nessa posição. E sei como é bom receber ajuda sincera quando se precisa. – a professora acena em acordo, se recordando de o japonês já ter lhe contado da conversa com o Jyugo quando entrou na cela 13 e não tinha coragem de interagir com os atuais amigos.

— Tsukumo, por que você não quer que os outros saibam que é um ator?

— Eu não me sinto como um ator. Eu nasci como ninja e fui tirado das minhas raízes, então queria reaprender a ser um ninja, mas não levo jeito. E ninguém pode me orientar.

— Sabe, se é o que você deseja, tudo bem, mas não acha muito ruim se forçar a fazer algo? – Tsukumo fita Maya com atenção – Ser ninja ou ator, tanto um quanto outro são apenas papéis. Você pode interpretar um homem livre ou preso, mas só vai se sentir bem consigo mesmo quando aceitar seu verdadeiro eu e expor quem é sem medo. Apenas seja quem você quer ser, e não quem os outros desejam que seja. – o jovem pondera as palavras com cuidado e finalmente tira sua máscara, sorrindo e beijando a mão esquerda da moça.

— Obrigado. – a professora de ioga sorri em retorno, corada pelo gesto e por ver seu rosto pela primeira vez – Gostaria de me acompanhar num passeio?

— Bem... Já que ainda tenho um tempo, seria um desperdício não aproveitarmos este dia lindo no jardim. E... Sendo que você está separado dos outros na cela 11... Se não for o incomodar, poderíamos fazer isto mais vezes, para não nos sentirmos solitários. – ambos sorriem e ele concorda, dando passagem para ela ir na frente, seguindo-a logo.

...

{Na sala dos guardas do prédio 13}

Já sentada em um sofá junto de Nico e de frente para Celiny e Jyugo, acomodados em outro, Usagi organiza uma reunião em torno da ligação dupla com Victória e Serafina. Enquanto os outros encaram o celular nas mãos da jovem, Seitarou arruma os livros na estante atrás de sua amiga de trabalho e do prisioneiro 15.

— Victória, você acha que foi uma boa ideia falar aquelas coisas tão de repente para o senhor Hajime? – a almoxarife questiona – A Momo ficará chocada quando souber que ele sabe que ela gosta dele. Você pode ser repreendida.

— Sem contar que ela o ameaçou de certa forma, caso faça alguma coisa com Jyugo. – o dito rapaz cora de leve com o sorriso malicioso da guarda – Mas eu achei bem feito.

— Senhorita Celiny, por favor, não seja tão má! – seu parceiro pede choramingando.

— Não sou má, sou sincera. Não tenho culpa se ele não aguenta uma crítica.

— Você nunca critica ele, só ignora como faz com a maioria. – o preso ao lado diz.

— É, mas eu também não tenho culpa se ele é aborrecedor.

— Por Deus... Além de não estar conseguindo controlar seus impulsos, ainda mantem limites de intimidade com os outros mesmo depois de tanto tempo? Celiny!

— Não comece Serafina, que já me basta as ligações dos meus pais me enchendo a paciência ao invés de trabalharem na delegacia como o casal certinho que são!

— Por favor gente, não comecem a brigar! – o presidiário 25 pede preocupado.

— Vocês desviaram do assunto. – a produtora cultural se emite – Fiquem tranquilos. O melhor jeito de retirar a atenção do Hajime do trabalho é fazendo ele ficar preocupado em trabalhar com sua chefe, que gosta dele. E de novo, ela tem mau gosto. – o grupo ri, excerto Seitarou – De qualquer forma, ele não vai incomodar mais tão cedo. Porém, se o pior acontecer, podem colocar toda a culpa em mim e dizer que não sabiam de nada.

— Fechado. – Celiny levanta a mão direita – Tudo bem para você, Seitarou?

— Ainda pergunta? – ela ri com o nervosismo dele, evitando contato visual enquanto percebe sua aproximação com uma pilha de livros nas mãos – Eu não me sinto bem em saber que estão tendo este tipo de conversa sobre o supervisor sem ele saber.

— Claro fofinho, tanto porque se ele soubesse não estaríamos tendo esta conversa; ou talvez sim. – a guarda ri e puxa a risada da maioria, se levantando em seguida e tirando os livros dos braços dele – Apenas pare de resmungar e deixe ver se ele vai tomar uma atitude de homem para falar com a Momoko. Agora, por que estava colocando estes livros ali? Eles deviam ficar do outro lado. – ela caminha até outra estante e ele vai atrás.

— Mas eles estão enumerados na ordem, não pode misturar! – enquanto o casal briga sobre o assunto, obviamente com a vitória da inglesa posteriormente, Nico se mistura na arrumação a pedido dela e os outros mudam de assunto, falando baixinho.

— Vem cá, Uno já devolveu aquele dinheiro que eu pedi? – Victória questiona – Só tem blackjack na semana que vem se ele devolver todo o dinheiro arrecadado com aquele caça-níquel que arranjou e se livrar da máquina!

— Ele já fez isso sim. – Usagi ri – E foi com o Rock pegar uns lanches com a Paola e o Shiro-kun para os meninos levarem até o prédio 5 e dividirem com os outros.

— Bela atitude. – Serafina apoia – Eu já disse ao Rock: se a comida for feita pensando nos outros, ganha um sabor depredador de pura tentación. – Jyugo faz uma careta confusa e questiona o significado das palavras, causando leves risadas da produtora cultural.

— Quer dizer “avassalador de pura tentação”, Jyugo. – a latina relata – Talvez tenha dito algo do tipo para o vício do Uno. Se ele arranjar outra coisa que o prenda mais que juegos de azar, não será preciso vigia-lo todo o tempo, como com Rock e Nico.

— Vocês deviam pensar melhor sobre eles. – alerta o preso 15 – Por exemplo, quando estão dormindo, o Rock ronca muito alto, o Uno range os dentes e o Nico fica rindo. É assustador e não dá para ficar perto deles. Sabem o quanto eu sofri nesses anos todos?

— Eu já vi o Nico rindo dormindo e acho engraçado. – a almoxarife dá risada.

— Uno já me sugeriu um ótimo creme para pele, embora tenha dito que eu não careço, então em troca de favor eu sugiro a ele, se for caso de bruxismo por falta de relaxamento, aplicar uma toalhinha morna e molhada no lado da face, que pode ajudar a relaxar os seus músculos por causa da pressão. – Victória comenta simplesmente.

— Eu tenho sono pesado, então roncos não me acordariam. – um silêncio coletivo se inicia na hora, e vendo a possível interpretação que deixou para o que disse, a terapeuta limpa a garganta – Quer dizer... Todos têm algo que pode incomodar o outro, Jyugo. Mas esses problemas dos seus amigos são o de menos. Eles são boas pessoas, é o que importa.

— Eu sei. – o jovem sorri – Mas vamos combinar que aguentar a esquisitice dos três ao mesmo tempo é crueldade! – o quarteto dá risada até finalmente Kazumi aparecer na entrada da sala, encerrando a ligação com as amigas no telefone.

— Pessoal, a Jiang Li já chegou, mas tem um probleminha.

— Qual? – Seitarou pergunta já começando a se preocupar.

— É que... Hoshi trouxe o Musashi aqui e, aparentemente, ele não tinha permissão para sair, então o senhor Hajime os viu conversando comigo e exigiu que Jiang Li leve os dois com todos os prisioneiros do prédio 13 para o prédio 5, que de lá Nori ou o senhor Kenshirou vão pegá-los. E Maya ainda estava aqui e pediu para você acompanha-la até o prédio 7, onde dará aula, porque precisa de ajuda na organização de umas coisas, Usagi.

— Está bem, então vamos antes que o senhor Hajime inche de nervoso! – Usagi diz, provocando risadas desta vez de todos, e deixando a investigadora com os guardas o trio se junta ao resto do grupo antes de cada um tomar seu rumo na plataforma da estação do prédio 13; contudo, nem todos seguem o caminho ordenado.

...

{No jardim do prédio 5}

Jiang Li já começou sua aula à algum tempo, contudo está tendo dificuldade com a concentração para ensinar os exercícios físicos aos presos do prédio e convidados. E isto porque os ditos cujos passam mais tempo conversando entre si do que repetindo os gestos da professora. Sem contar os dois homens discutindo infantilmente perto de uma coluna posta à direita da turma, fingindo vigiar a atividade como parte do seu trabalho.

A supervisora Lei, deitada preguiçosamente num banco ao lado deles, ignora a sua mascote macaco fazendo estripulias, especialmente porque seu parceiro permite.

— Que saco! Por que os meus prisioneiros precisam ficar de gracinha com os seus?

— Pare de ser tão irritante, rei dos macacos. – Xun, até então calmamente mexendo no cabelo do supervisor Samon, se desequilibra e quase cai com a virada brusca dele para fitar furiosamente seu colega Hajime.

— É O QUÊ? VOCÊ QUER BRIGA? SE EU SOU O REI DOS MACACOS, VOCÊ ME DEVE OBEDIÊNCIA, SEU GORILA! SUMA DAQUI COM SEUS PRESOS!

— NÃO ANTES DE VOCÊ MANDAR OS SEUS PARAREM DE FAZER TANTA MACAQUICE! – enquanto os dois esticam as bochechas um do outro, alguns ouvintes riem, e as gargalhadas aumentam quando o risonho primata peludo estica a própria boca.

— Mas que saco...! – Jiang Li bufa, retirando seus sapatos e acertando um em cada rosto dos homens, que caem para trás depois de Xun pular para o chão – QUEREM SE CALAR, OS DOIS? O QUE EU PRECISO FAZER PARA DAR UMA AULA CALMA?

— Ei, você não pode agredir os supervisores, senhorita... – Liang começa, porém se cala vendo-a encara-lo e ao seu grupo de amigos de maneira brava.

— Calem a boca vocês também, que não pararam de tagarelar desde que se viram!

— Você não tem muita moral para dizer algo, Jiang Li. – a supervisora esboça um sorriso sem abrir os olhos, mantendo as mãos atrás da cabeça em seu repouso.

— A culpa é do imbecil do Hajime, que não para de provocar! – Samon resmunga já sentado, com a mão esquerda no local acertado pelo sapato voador.

— Você é que só sabe reclamar! – Hajime devolve repetindo o gesto.

— Vocês parecem pais preocupados com a educação dos filhos. – Lei comenta com um bocejo, ficando nervosa ao vê-los fitarem-na assustadoramente.

— De fato, mas eles são a pior influência. – a professora suspira com uma mão na cintura, mantendo a expressão emburrada, embora corando um pouco, quando ambos os supervisores raivosos encaram ela desta vez, então bate palmas – Muito bem, já chega de recreio! Vamos prosseguir com a aula! Agora quero que cada um me mostre seu progresso numa luta corpo a corpo. Liang, você começa. Me ataque.

Os dois entram em pose de luta, mas, antes de o rapaz ter a chance de dar o primeiro passo, quem o ataca de súbito é o macaco no recinto, pulando sobre sua cabeça para pegar a banana que voou nos seus cabelos quando Upa tentou impedir Rock de comer, em sua alegação de desrespeito com o clima. Nervosa, Jiang Li grita para Lei ir trabalhar e faz a maioria se aborrecer como de costume com as intromissões nas tarefas pelo resto do dia.

...

{Na sala de terapia do prédio 13}

— Poderemos ficar sossegados aqui. É a sala de terapia da Serafina para conversar com os pacientes. – Hoshi explica esperando Musashi passar para fechar a porta, a seguir sentando no pequeno sofá disponível perto de uma mesa com material de arte – Ah, que susto! Pensei que fôssemos ser pegos! Ainda bem que não aconteceu. – ela sorri, batendo na almofada ao lado para ele se acomodar, e o jovem obedece.

— É, foi por pouco. Por isto mesmo eu acho que estamos abusando da sorte.

— O que quer dizer? Não estamos fazendo nada demais. Tudo bem se demorarmos um pouco mais para você voltar ao prédio 4. Assim podemos ficar conversando até Nori ou Kenshirou nos encontrarem, o que provavelmente vai demorar mesmo quando a Jiang Li contar que fugimos da plataforma da estação antes das portas do trem fecharem.

— Mas você vai acabar tendo problemas por ter me tirado da cela sem permissão só para vir até o prédio 13 conversar com a Kazumi, ainda que tenha sido para ajudar nessas investigações sobre o Jyugo. E ela também pode ficar encrencada se usar a autoridade que tem para justificar tudo, inclusive isso. A diretora pode se zangar.

— Não precisamos nos preocupar com ela. – a moça declara se levantando, contudo acaba se desequilibrando e caindo por cima do rapaz, ficando a centímetros do seu rosto – Ai minha nossa, me desculpe! Eu... – os dois permanecem em silêncio por um tempo, sentindo seus corações batendo depressa, então o alemão a afasta bruscamente para o lado e caminha de cabeça baixa até a mesa – Musashi, está tudo bem?

— Eu acho melhor pararmos de nos ver. – ele corta a japonesa, surpreendendo-a.

— O quê? Como assim?... – ela tenta sorrir – Você está brincando, certo?!

— Não estou. – Musashi se vira – Esta situação é perigosa demais para nós dois. A sua prima não vai continuar ignorando o que acontece, nem o cachorrinho. Vamos parar.

— Não. – Hoshi se levanta nervosa – Não! Musashi, por favor, não diga isso! Eu...

— Você veio para Nanba querendo ficar ao lado dela, não é?! Devia aproveitar seu tempo livre com ela ao invés de mim, mas o Kenshirou me disse que há semanas vocês nem conversam mais direito. Ela é sua parente mais próxima desde a infância, e a única com quem pode contar desde a morte dos seus pais, você mesma me falou.

— Sim, é verdade. Eu amo a Nori, mas eu também... – a moça se constrange – Você também é importante para mim. Não quero deixar de ter a sua companhia.

— Isto não está certo. Eu sou um presidiário, um homem perigoso.

— Não é não! Você é uma pessoa boa, Musashi. Talvez tenha gente que ainda não consiga perceber isto, contudo eu sim. Eu vejo você como é, e não sou a única. – o jovem fica quieto por alguns segundos, balançando a cabeça para os lados como se fitasse pontos quaisquer no ambiente, enquanto a japonesa se aproxima – Deixe-me ficar perto de você.

— E estaria disposta a pagar o preço necessário para isso?

— Sim. – a resposta rápida o deixa paralisado, e quando sente as delicadas mãos lhe tocarem o rosto quente seu corpo se arrepia – Você não é um monstro, eu posso sentir.

— Está se enganando outra vez. Precisa tomar cuidado para não se deixar levar pela primeira impressão, eu já disse isto. – ela move a cabeça em negação, todavia ele coloca a mão direita sobre a dela e continua – Este calor que está sentindo é uma ilusão.

— Não, não é. Eu tenho certeza que não, porque... Me sinto muito calma quando nós estamos perto um do outro. Esta chama tão cálida não é para destruir. – diz suavemente, deslizando os dedos livres até o coração dele – Eu sei que sente o mesmo sobre mim.

— Ah Hoshi... – o alemão toca a bochecha macia – Você é a mulher mais doce que eu já conheci. Eu me lembro muito da minha mãe quando está comigo. E quando penso no que aconteceu naquele dia, quando a casa foi incendiada...

— Ei, não foi sua culpa. Te incriminaram para usar sua força, então não se culpe.

— Mesmo assim. Eu tenho medo que algo como aquilo se repita com outra pessoa que seja importante para mim. Não me perdoaria jamais se algo de ruim te acontecesse.

— Eu estarei bem se estiver ao meu lado. Por favor Musashi. – Hoshi o abraça com voz chorosa, fazendo-o ranger os dentes e cerrar os punhos para se segurar.

— Eu mesmo posso acabar machucando você algum dia.

— Se assim tiver que ser, eu aceito. – ela se afasta um pouco para fita-lo – Prefiro correr o risco de padecer pisando sobre algumas pedras pelo caminho do que sofrer por nunca o ter percorrido. – ele segura uma risada, passando a mão sobre seus cabelos.

— Como sempre, falando palavras fortes demais para alguém tão inocente.

— Eu... Desculpe. Não queria parecer boba ou infantil. – fala rubra, baixando o olhar.

— São as últimas coisas com o que se parece agora. – Musashi cola sua testa à dela, provocando um arrepio em ambos – Confia tanto assim em mim?

— Com todo o meu coração. – a moça confessa baixinho – Só quero o seu bem.

— A única pessoa que pode me fazer bem agora é você. – a confissão a emociona e a jovem tem dificuldade de manter a respiração, torcendo as mãos contra o peito moreno enquanto o prisioneiro contorna todo o seu rosto com as pontas dos dedos – Você é tão linda. Posso dizer sem enxergar, e aposto que saberia disto mesmo se fosse surdo também.

— Musashi... – os dois sorriem – Eu quero estar sempre com você. Não apenas como amiga, e muito mais do que como uma mãe. Quero cuidar de você, me divertir com você, escutar suas dores e... Amar você. – neste momento, a mão esquerda do alemão escorrega para a cintura da japonesa e a direita pousa em seu pescoço – Não me importa o que digam ou façam, nem sequer se é certo ou errado. Apenas me diga se deseja o mesmo.

— Eu desejo. – confessa por fim, aumentando o sorriso nela – Eu nunca quis tanto algo na vida quanto eu quero viver ao seu lado. Também não me importa mais se vão me recriminar por isto, danem-se todos! Vou enfrentar qualquer um que tentar me tirar de você! – ele sorri ouvindo-a soltar um risinho – Prometo que vou me esforçar, me dedicar ao máximo, para nunca te fazer sofrer. Quero escutar sua risada pelo resto da vida.

— Sendo assim, as únicas lágrimas que eu derramarei serão de alegria. Como as de agora. – ela menciona antes de ele lamber uma gota salgada, roçando os lábios nos seus.

— Somente estas eu admito. – declara sorrindo maliciosamente, em seguida tomando com vontade a boca da moça num beijo que dura o tempo da pausa para respirarem – Eu não sou sentimental, mas... É melhor dizer isto logo antes que perca a chance. Eu te amo.

— Eu também amo você. – a jovem diz sem conter a felicidade, retribuindo outros beijos curtos que recebe – Espere, Musashi... Nós devíamos voltar agora.

— Que conversa é esta? Você mesma me fez sair do trem para passarmos mais tempo juntos e agora diz que quer voltar para o prédio 4?

— Eu não quis dizer “para o prédio 4”. – Hoshi se afasta e tranca a porta, guiando-o de volta ao sofá, e Musashi enfim se dá conta de que ela não é tão inocente quanto parece.

 

Continua...


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