Oásis Proibido escrita por Machene


Capítulo 5
Solidão


Notas iniciais do capítulo

Neste capítulo, finalmente, surge o personagem extra destacado na foto do capítulo 2, Henri. Agora os laços entre os pares de Nanba estão se enrolando mais.



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Cap. 5

Solidão

 

Em algum lugar próximo ao Japão, na ilha onde reside a prisão Nanba, já faz mais de dois meses que o programa de inclusão feminina da diretora Momoko começou. Agora, as mulheres escolhidas cuidadosamente e encaminhadas para seus cargos determinados estão plenamente no poder do presídio, recebendo inclusive mais respeito que os guardas e supervisores com quem dividem os afazeres e observação dos prisioneiros.

Isto, é claro, se deve pelo fato dos residentes serem todos homens, com exceção da justa diretora. Embora não chegue a ser um problema, nem de longe, considerando o fim das horas desperdiçadas de monitoração pessoal sobre presos com casos de fuga, rebeldia e discussões frequentes, as jovens surpreendentemente experientes tomaram funções até que não eram necessárias na sua lista de atividades. Dentre elas, a roda de conversa.

Se tratando de relações particulares, certas moças em questão, rondando sobretudo o prédio 13, têm estado em companhia, quase diária para algumas, dos presidiários como se fosse normal convidá-los a dividir refeições e levar presentes. Obviamente, a atitude estranha às normas comportamentais de senso comum num ambiente penitenciário vem incomodando uma parte dos supervisores; à exemplo, Hajime.

Parte da razão da sua insatisfação está no fato de ter menos trabalho para fazer, do tipo que estava acostumado e gostava de realizar, e a outra metade de sua preocupação brotou exatamente há trinta segundos, quando ouviu de Victória, a produtora cultural de Nanba, algo que nunca imaginou ouvir dentro do que parecia ser outra reclamação de seu temperamento; uma das muitas arremessadas pela maioria das mulheres com quem lida.

É claro, como se já não bastasse saber da existência de uma súbita amizade de seu irmão com o irmão da visagista do presídio, Esme, garoto que pôs em estado de análise cautelosa ao saber de sua, como classificou, “peculiaridade”. Mas, para entender melhor a questão, é preciso voltar à manhã deste dia incomum. Tudo começou na enfermaria, no momento em que a farmacêutica Gisele se retinha ao seu trabalho com o médico Okina.

Kaguya, a enfermeira robô, cuidava das plantas que aos poucos foram se apossando do local, trazendo mais carisma para o ambiente graças às sugestões do prisioneiro Qi. E nesse instante foi que outro preso, Trois, até então ajudando a cientista Kazari no concerto de máquinas quebradas, surgiu relatando que alguns colegas operando armas haviam se machucado e precisavam ser examinados. Okina se dispôs a ir e saiu junto do informante.

De fato, se ele tivesse deixado a ajudante de Kazari, Min-Hee, ir em seu lugar para pedir apoio, Hajime não estaria na situação atual, pois na sequência o jovem avistou Esme indo na direção da entrada da prisão. É claro, é o dia de descanso das moças, e muitas o aproveitam se enturmando com quem querem, mas o ar de preocupação dela não indicava que estava curtindo as únicas 24h de total relaxamento em duas semanas das quais dispõe.

Por essa razão, Trois a seguiu após dar uma desculpa qualquer ao médico e então teve a surpresa de ver a visagista conversar nervosamente com um rapaz de aparência um tanto mais jovial comparado a ela. Na verdade, o dito cujo tem os mesmos olhos azuis e feições até bem femininas, contudo seus cabelos lisos, amarrados por uma fita, também são de um tom azul gelo, assim como as outras fitinhas em suas botas e cartola pretas.

O presidiário não conseguiu deixar de notar que os detalhes em branco dos sapatos combinam perfeitamente com a capa sobre o colete, ambos igualmente escuros, e a gola de babado clara, tal qual as camisa e calça passadas impecavelmente, sem dúvida repassa um ar de elegância chamativa. Porém, o mais atraente naquela figura é com certeza a sua máscara na mesma tonalidade azulada de seus fios, só mais claros que as rosas na lapela.

E outra flor do mesmo tipo decorava uma carta que o estranho trouxera numa das mãos, as duas cobertas por luvas. Em seu rosto pálido residia um sorriso, todavia Esme não parecia contente por vê-lo, apenas o acompanhando, pelo que Trois ouvira, à sala da diretora. Enquanto a moça o guiou pelos corredores, olhando desconfiada para os lados, o preso escondido sentiu curiosidade e necessidade de reportar o caso ao amigo Honey.

Infelizmente, o mencionado estava justo perto do local de trabalho de Momoko, se ocupando em auxiliar seus supervisores, Kiji e Alita, nas compras para modernizar todos os uniformes dos guardas e prisioneiros por ideia dela. Assim, a próxima iniciativa dele foi pedir para Victória, que passava por ali com Uno no caminho do refeitório, contatar a amiga árabe pelo celular e informar da possibilidade do grupo se encontrar com a dupla.

A produtora cultural fez como ele pediu, obviamente sentindo a própria curiosidade ser atiçada, e a partir daí pediu um favor em troca do prestado; antes de voltar ao serviço, Trois teve que se encontrar com Rock, Serafina, Nico e Usagi no refeitório, para informar da ausência de Victória e Uno no almoço costumeiro entre amigos, nestas datas de folga. Os outros presidiários da cela 13 do prédio 13 e as acompanhantes estavam atrasados.

...

{No ambiente de trabalho de Kazari}

— Dra. Kazari, se me permite perguntar, não lhe parece cansativo e um desperdício de tempo passar tanto tempo brigando com seu marido quando na verdade se gostam?

— Ah Min-Hee... – a chefe dos cientistas sorriu ao fechar os olhos e passou a mão em sua cabeça – Um dia, quando for casada, você vai entender. – Kazari disse usando a chave de fenda para apertar um parafuso da máquina que concertava.

— Entender o quê? Brigar é algo importante na vida de um casal? – a mulher encarou a moça fazendo uma análise minuciosa de sua inexpressividade.

— É importante ser ouvida, e às vezes discutir é a melhor maneira de se fazer ser compreendida e defender seu ponto de vista.

— E vale à pena fazer isto todo tempo, todas às vezes? – a doutora parou de trabalhar e ofegou, virando a cabeça para a coreana.

— Tem algum motivo para termos esta conversa? Se não, me ajude com isto aqui.

— Sim, desculpe. – a jovem repassou uma chave de boca da maleta com ferramentas e espreitou silenciosamente o serviço da sua superior, porém a própria o interrompeu.

— Min-Hee, escute, não precisa se preocupar com isso. Uma briga é algo bom para todos os relacionamentos; é uma prática saudável. Não quer dizer que tudo vai acabar.

— Bem, mas as pessoas não começam guerras por causa disto? – Kazari abriu a boca sem saber o que dizer, lembrando-se da lamentável história da moça.

— Era com isto que estava preocupada? – Min-Hee não refutou e ela sorriu, passando a mão esquerda em sua cabeça de novo – Foi difícil passar tanto tempo sozinha, não é?!

— Eu estou bem agora. – a jovem respondeu timidamente – Desculpe se estou sendo um incômodo. Estava apenas curiosa. É que não entendo por que as pessoas desperdiçam seu tempo com coisas inúteis. Elas deviam ter coragem de ser gentis para colaborarem umas com as outras, já que é tão difícil viver sozinho. Por exemplo, como quando Qi deu alguns dos seus órgãos para o Upa. Ele não gostou disso, porque acha que está devendo um favor, mas Qi nem pensou em cobrar alguma coisa dele. Ele só fez porque quis.

— Como soube desta história? Um dos guardas te contou? Foi o supervisor do prédio 5? – a coreana piscou rápido, olhando o computador em frente e procurando um alicate na caixa de ferramentas para dar à superiora.

— Upa me disse. – a chefe dos cientistas não escondeu a surpresa e voltou a trabalhar.

— Que curioso. Esse garoto não tem o costume de conversar tão fácil com os outros.

— Talvez tenha sido porque eu o incomodei de alguma forma, quando quis entender mais sobre o qigong. Eu perguntei como treinava o corpo e a mente e ele quis me ensinar.

— Ele...?! – a mulher travou e o alicate foi ao chão – Ele te ensinou a usar qigong?

— Bom, eu só aprendi algumas posições corporais, mas sim.

— Ora, que interessante. – as duas olharam para cima ao ouvirem a voz masculina.

— Oh, olá Dr. Okina. Como vai? – o homem sorriu, vendo-as se levantarem.

— Bem Min-Hee, e pelo visto estão trabalhando muito. O que estavam conversando?

— O que você ouviu: o prisioneiro 58 do prédio 5 deu uma aula de qigong para ela. – o casal fitou a moça, que piscou os olhos sem entender as reações, então eles pediram licença e se afastaram um pouco enquanto ela retomou o serviço – Entende o que isso quer dizer? Aquela menina, em quase três meses, conseguiu conquistar aquele garoto!

— Sim, é realmente surpreendente. Eles devem ter se visto cerca de seis vezes, isto excluindo os curtos momentos em que foi fazer algum serviço como técnica eletrônica no prédio 5. Qi chegou a comentar que os viu juntos algumas vezes. E pelo visto, eles não são os únicos que estão interagindo muito. – Kazari cruzou os braços e sorriu desafiadora.

— Está falando com base nos seus próprios pupilos? – Okina sorriu com as mãos nos bolsos, vencido pela suspeita, então sua esposa suspirou – Isto pode não acabar bem.

— Acha que devíamos interferir? – a cientista-chefe olhou para a pupila e riu de leve.

— Não estou afim. Tenho mais o que fazer. – seu marido moveu o cachimbo para o outro lado da boca, sorrindo animado – Ande logo seu bode velho! Vá fazer seu trabalho e atenda os operários machucados que veio ver!

— Não se preocupe, porque a minha substituta está fazendo um trabalho tão bom na enfermaria com Kaguya que eu poderia me demorar mais do que o necessário aqui.

— E quem disse que eu quero aturar você mais do que o necessário no meu serviço? – o médico-chefe somente sorriu de modo confiante e se afastou, sabendo que a expressão emburrada da sua mulher não superava os pequenos sinais de rubor delatando sua mentira.

...

{Na sala de terapia do prédio 13}

— Ah, Jyugo! – o até então sonolento rapaz, deitado sobre o divã dos pacientes, se levantou rapidamente ao escutar a voz feminina que o chamou, corando enquanto a fitava fechar a porta – Então é aqui que você veio parar.

— Kazu... Digo, senhorita Kazumi! O que faz aqui?

— Eu é que deveria perguntar. – ela se aproximou sorrindo – Por que está aqui?

— Porque a sala dos guardas está ocupada pelo Hajime e ele não me deixa dormir lá. – a resposta sincera acabou fazendo-a rir, e isso o fez enrubescer mais, e foi quando algo se enroscou nas pernas de Kazumi – Ah, você estava aqui Kuu?

— Oh! Este é o gatinho do senhor Hajime, não é?! – Jyugo concordou com a cabeça, vendo-a tomar o felino nos braços e não conseguindo evitar de sentir ciúme com o bichano se oferecendo para receber carícias – Eu quase não tive contato com ele, mas já o vi várias vezes com as garotas que vem ao prédio 13. – a moça o pôs no chão novamente e olhou timidamente para o prisioneiro – Eu posso sentar do seu lado?

— Cla-claro! – ele gaguejou e ofertou espaço, aguardando-a sentar – É... Por que a senhorita veio atrás de mim? Precisa de alguma coisa?

— Bom... Não exatamente. Mas já que estamos sozinhos... – o preso se arrepiou em um instante, observando-a colocar uma mecha do cabelo atrás da orelha – Sabe Jyugo, os meninos gostam muito de você. Todos eles, mas principalmente Uno, Nico e Rock. Isto mostra que você é uma pessoa especial.

— “Especial”? – ele repetiu pensativo, logo fitando os próprios pés – Não sei o que quer dizer. Eu passei praticamente a vida inteira preso, e não conheço outra vida além desta. Eu sinto que agora estou fazendo mais do que sobreviver, porque me importo com os meus amigos e sei que gostam de mim, mas... Não sou especial por isto. Eles não têm necessidade, por exemplo, de arranjar briga com um supervisor só por minha causa.

— Você está enganado. – Jyugo levantou a cabeça surpreso, vendo-a sorrir – Cada um deles, Uno, Nico e Rock, me contaram que devem a vida deles à você. Embora estejam trancados aqui, eles realmente se sentem vivos, como você, e por sua causa. Do mesmo jeito que considera esta uma boa vida por estar junto deles, Jyugo, eles também pensam do mesmo modo sobre você. – as pupilas do jovem dilataram de emoção antes de Kazumi tocar suas mãos – Sabe, eu tive um pressentimento de que você realmente era diferente. E parece que estava certa. Meus pais sempre me disseram que tenho um sexto sentido muito aguçado, mais do que o convencional entre as mulheres. – a moça riu – No seu caso em particular, percebo que se não fosse a dor do seu passado desconhecido, estaria bem.

— Mas... Eu estou bem. – ele tentou afirmar desviando o olhar, sem coragem de se afastar do calor das mãos femininas – Não gosto de pensar sobre o passado. “Quem vive de passado é museu”, como o Uno mesmo diz. – subitamente, após alguns segundos de absorção das palavras, a ouvinte começou a rir, deixando-o envergonhado, porém o rapaz logo riu também e o ar se encheu de gargalhadas conjuntas.

— Jyugo... – a investigadora tomou fôlego, limpando umas lágrimas sem soltar das mãos do prisioneiro – Sabe, eu concordo com você, mas gostaria de te ajudar. Eu posso tentar descobrir quem fez... Isto com você. – ela estendeu o carinho aos pulsos que olhava, e embora tenha entendido que essa referência estava na sua habilidade de transformar os membros do corpo em armas, Jyugo não conseguiu evitar de ruborizar enquanto tentava disfarçar a reação – Assim poderíamos ajudar outras pessoas, que sofreram e podem ainda sofrer por culpa desses criminosos. Quem fez isto à você e ao Musashi merece estar preso muito mais que vocês. Muito mais do que vários de vocês.

— Bom... Tudo bem, eu posso tentar colaborar, mas não quero que meus amigos se envolvam. Se... Se acontecer algo perigoso... – ele se interrompeu e a moça sorriu.

— Eu entendi. Não se preocupe; eu e todas as garotas estamos aqui para ajuda-los. – o casal levemente corado passou alguns segundos, que pareceram minutos, se encarando, até as carícias que Kazumi nem sentia ainda estar fazendo cessaram – É... Acho que vou... – sua voz travou quando o preso 15 segurou seu pulso esquerdo, impedindo-a de levantar.

— Kazumi... Você... Quer dizer... – o rubor dele aumentou, como o dela ao notar isso – Nós podemos ser amigos? – o rapaz questionou esperançoso, surpreendendo-a.

— Claro. – a jovem respondeu sorrindo, provocando um sorriso nele também – Bom, você quer vir comigo no refeitório? Está na hora do almoço e os outros devem estar nos esperando, como de costume. – Jyugo acenou em acordo e a seguiu de perto, sentando ao seu lado no refeitório, e ao fita-la sentindo uma súbita vontade de comer pêssegos frescos.

...

{Na estação de trem perto da sala da diretora}

— “Irmão”? – muitos ouvintes repetiram confusos ao escutar a palavra.

— Sim. – Esme confirmou – Henri é meu irmão. – ela apresentou-o com a mão direita e o sorridente rapaz mascarado acenou.

— E como é que eu nunca soube disto? – Victória posou de indignada.

— Ora Victória, Esme não tinha obrigação alguma de nos contar.

— Não, espera aí Alita! Somos amigas! Esta é uma fofoca das boas! – todos riram.

— Bom, minha irmã teve um motivo para fazê-lo. Por que você não conta, Esme?

— Bem... Está bem. Sei que posso confiar em vocês. Eu não disse nada antes porque a nossa localização devia permanecer em segredo. Nós somos... Fugitivos.

— “Fugitivos”? – Kiji repetiu surpreso – E estão fugindo de quem?

— Provavelmente das mesmas pessoas que fizeram experiências horríveis com Jyugo e Musashi. – a francesa respondeu – Não temos certeza. Acontece que há alguns anos em Paris, quando éramos crianças, Henri foi sequestrado. Ele... – vendo o desconforto da sua irmã em tratar do assunto, Henri tomou à frente.

— Eu fui usado como cobaia em experiências científicas. Um dia, quando... Estava fora de mim... – o rapaz limpou a garganta – O laboratório onde estava foi destruído, e eu consegui escapar inteiro. Ou quase... Tive dificuldade de lidar com tudo que me aconteceu e acabei sendo posto temporariamente em um manicômio, para tratamento psiquiátrico. – explicou fazendo uma pausa – Depois que melhorei mentalmente, fui transferido para uma prisão, acusado pela destruição daquele confinamento onde estive e pela morte das pessoas no local. Mas... As outras cobaias que estavam lá já tinham morrido antes.

Oh my God...! – Honey proferiu chocado – E como vocês se reencontraram?

— Esme me achou, depois de anos preso, e conseguiu provar minha inocência.

— Eu tinha fotos das pessoas que o levaram, e depois a perícia comprovou que todos os corpos congelados não estavam vivos quando tudo aconteceu. De fato, foi por ter visto o que viu que meu irmão se descontrolou. E o perito criminal que nos ajudou na época é o pai da Kazumi. – os ouvintes exclamaram ainda mais extasiados, provocando risadas leves dos irmãos – É verdade! Ele já os perseguia. Foi uma surpresa quando eu descobri.

— Ah não, vai! – Alita riu – Só falta dizer que o psiquiatra que cuidou dele era o pai da Serafina! Ou foi uma psicóloga, a mãe dela?

— Não. – o francês riu também – Mas eu respeito muito esse tipo de profissão depois da experiência que vivi. Eu consegui entender mais de mim mesmo. E fico feliz sabendo que a minha irmã está rodeada de pessoas que a ajudam e podem deixa-la alegre. Nós mal podemos nos ver para preservar a minha localização.

— Oh, agora estou entendendo algumas coisas. – o supervisor refletiu – O motivo da diretora ocasionalmente querer saber de você, se não precisa de algo, ou quer algo... Ela ofereceu proteção para você e seu irmão em troca de trabalhar aqui, certo?!

— Sim. Nós nos perdemos dos nossos pais com toda aquela confusão e nunca mais os vimos, mas também não seria bom tentar acha-los mesmo querendo. Eles podem virar alvo das pessoas que prenderam Henri, para força-lo à voltar para seu lado, porque ainda não foram localizados, infelizmente.

— Que barra!... Ei, espera um pouco! – Uno chamou atenção – Durante a explicação, eu ouvi a palavra “congelados”. Quer dizer... – o meio loiro se interrompeu.

— Sim. Eu sou capaz de congelar tudo que toco. Foi o resultado das experiências.

— Mentira! Ah, eu quero ver! – Henri retirou a luva da mão direita.

— Dê-me seu chapéu. – o jovem obedeceu e em questão de segundos cristais de gelo se formaram ao redor da peça, impressionando a maioria, então ele a devolveu e alguns riram quando o dono tremeu de frio ao bota-la na cabeça – Eu sou obrigado a cobrir quase todo o meu corpo por causa deste poder, para evitar contato físico, já que ainda não tenho controle sobre ele. – o francês recolocou a luva – Mas é por isto que vim para Nanba.

— A diretora Momoko deixou Henri passar um tempo aqui, aprendendo a controlar sua habilidade. – Esme contou – Ela achou que poderia ficar confortável entre pessoas que também possuem poderes especiais. E eu estou com sua carta de apresentação. – ela mostrou o envelope com uma rosa azul nas mãos.

— Deve ter sido difícil passar tanto tempo sozinho.

— Bem, até onde sei das pessoas aqui, não fui o único a me sentir assim. Ah, e não se preocupe com seu chapéu. Se deixar perto dum local quente ou colocar debaixo d’água, ele vai descongelar logo. – nesse exato momento chegou o trem na plataforma em que o grupo estava, e dele saiu uma aparente figura feminina loira.

— Oh, olá pessoal! Ué, mas o que estão todos fazendo aqui? Compras?

— Olá Hitoshi. – Alita cumprimentou, levantando as sacolas que carregava – Leves extravagâncias no orçamento, para revitalizar os uniformes.

— Ah, estou ansioso para ver! A senhorita Alita tem ótimo gosto!

— Obrigada. Para aonde está indo com tantos papéis?

— Ah, estou vindo da sala da diretora. Fui acompanhar a senhorita Nori, contudo ela ficou por lá e me pediram para levar estes documentos para o meu irmão. E quem é esse?

— O irmão da senhorita Esme. – Honey disse, imediatamente notando, como todos, que o dito cujo encarava o outro com brilhos nos olhos.

— Quem é essa bela criatura? – ele questionou para quem pudesse responder.

— Oi, muito prazer! Eu sou o irmão do Hajime, Sugoroku Hitoshi. – o jovem sorriu e em questão de segundos foi surpreendido, novamente como todo mundo, por um beijo em sua mão direita, o que o fez enrubescer.

— Encantado. Eu me chamo Henri. Seria um prazer acompanha-lo até seu destino.

— É... Senhorita Esme... – o prisioneiro 11 a chamou baixinho – Seu irmão é...?

— Sim. – ela respondeu quase rindo – Henri mesmo disse, que se encontrou fazendo terapia. E ele também adora coisas fofas e pequenas.

— Se explica o encanto imediato. – o presidiário 82 sorriu maliciosamente.

— Bem, ele parece mesmo uma garota vestido assim. Honey até achou que fosse uma quando fez aquele assédio de perguntar da sua roupa íntima, né?! – Victória caçoou.

— Como sabe disto? – a visagista o encarou horrorizada – Não é o que está pensando!

— Ah, é sim. O próprio Trois me contou, e ele parece tranquilo em admitir que é um pervertido também. Agora, imagino onde vocês pegaram essa mania de assédio. – com olhares insinuantes, a produtora cultural buscou sinais de confissão até parar em Uno.

— Ressaltar a beleza não é “assédio”! – ele defendeu rápido – E eu não tenho o que ensinar se não aprendem nada me assistindo. – declarou fingindo seriedade.

— Ok... Vou fazer de conta que acredito. – ela riu de braços cruzados, na mesma hora atendendo o celular tocando no bolso da sua calça – Alô? Ah, oi Kazumi querida!... Não, acho que Uno e eu não chegamos para comer com vocês. E como está o papo? – a latina esperou a resposta e sua expressão foi mudando – Ele disse isto é? Entendi... Ah não, não se preocupe, que eu vou cortar o mal pela raiz de uma vez por todas! Tchau! – a moça desligou e se voltou à dupla distraída dialogando mais à frente – Hitoshi, vem aqui um segundo, por favor! Já que veio da sala da diretora, aproveita e me tire umas dúvidas...

...

E finalmente, voltamos ao ponto em que Victória voltara de trem e deixara Uno na sua cela pra procurar Sugoroku Hajime, a fim de conversar. E a conversa tomou um rumo interessante, portanto, agora retornamos ao tempo atual:

— Então, senhor Hajime, vou dizer uma coisa que pode abalar seu sistema nervoso, portanto se prepare... – ela sorri maliciosamente – A diretora Momoko gosta de você.

— Como é? – ele pergunta sem mudar de expressão.

— É isto mesmo que ouviu: a Momo ama você. – diz fazendo um coração no ar com os indicadores, e acaba rindo vendo a sobrancelha direita do supervisor tremer de nervoso.

— Que tipo de brincadeira é esta? Não tem a menor graça!

— Oh, que malvado! Eu deveria contar às outras agora que estou certa e você não leva os sentimentos dos outros à sério, nem mesmo os do seu próprio irmão.

— É melhor dobrar a sua língua! Você está passando dos limites, não sabe nada...!

— Sei o suficiente! – Victória o interrompe com ar sério, pondo a mão no quadril – Na verdade, todas as minhas amigas conhecem seu histórico de comportamento agressivo e duro com todo mundo. E eu conversei diretamente com o Hitoshi, que contou da vez em que o usou como arma para acertar o Uno e o Rock. Que tipo de pessoa, que tipo de irmão, faz uma coisa dessas? – Hajime range os dentes, sem saber como rebater, então a jovem aponta o indicador perto da sua face – Agora escute aqui, homem gorila: eu não dou a mínima para o que você faz até o momento de começar a afetar o meu trabalho, e ele se resume ao bem-estar de todos em Nanba. Se continuar com este comportamento, eu vou aconselhar a diretora a te mandar para casa, sem nenhum trabalho extra para fazer, e não importa o quanto ela gosta de você! Estamos entendidos?

— Está falando sério? Sobre tudo? – o questionamento sincero diminui a ira dela.

— Sim, estou, acredite ou não. Aliás, não consigo entender por que ela escolheu você. Vai saber, cada um com os seus gostos. – fala bufando e cruzando os braços – Espero ter sido clara, porque, ao contrário da Jiang Li, eu não gosto de ficar repetindo as coisas.

— Ei, espera aí! – ele estica a mão em sua direção quando começa a dar meia volta – Por que está dizendo tudo isto para mim agora?

— Bem, alguém tinha que jogar umas verdades na sua cara. Se o Uno não fez isto e a Kazumi não tem coragem, restava apenas eu para representar a defesa de quem apanhou pelas suas mãos, verbalmente ou fisicamente. A propósito... É melhor que saiba que Jyugo ganhou novos amigos agora, então nem pense em quebrar os ossos dele. – os olhos de Hajime se arregalam em surpresa enquanto Victória sai caminhando confiantemente.

 

Continua...


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