How to Heal escrita por somestars


Capítulo 3
Capítulo 3




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Summer e eu tínhamos acabado de parar em frente ao prédio onde ela morava quando eu tomei um choque de realidade.

Eu não a conhecia. Eu não ia entrar ali.

— Está tudo bem? — perguntou ao ver que minha expressão facial mudara rapidamente. — Você não quer subir?

— Acho melhor eu ir para casa, Summer — decidi já me afastando aos poucos.

Ela me encarou desconfiada.

— Tem certeza?

— Sim. Meus pais devem estar preocupados. Eu saí na louca, com raiva. Devem estar imaginando o pior — o que não era mentira, mas também não era o real motivo de eu estar indo embora.

— É verdade. Tudo bem — sorriu. Seu sorriso não aparentava ser falso, na verdade, parecia um sorriso afetado. Um sorriso de compreensão. — Quer que eu te leve ou você vai ficar bem sozinha?

— Vou — menti. Eu tinha plena consciência de que andaria suando frio e olhando pra trás a cada dois passos até chegar em casa. — Vou ficar bem sozinha. Obrigada. Boa noite.

Ela sorriu carinhosa novamente ao dizer "Boa noite, Lua. Se cuida".

 

Eu já estava fazendo o caminho de volta até o lugar onde aconteciam as reuniões do grupo de apoio para pegar o carro, quando ouvi alguém caminhando atrás de mim. Senti o familiar aperto no peito. Era a pior das situações: estava tarde, a rua estava um breu e eu estava sozinha. Pedi à Deus que fosse o demônio atrás de mim, e não um homem. Por favor, seja uma assombração, rezei mentalmente enquanto virava o rosto para poder ver quem era. Me arrependi no mesmo segundo. Me arrependi de estar ali, de ter saído de casa, de ter nascido mulher, de ter nascido. Era possível arrepender-se de algo que você não tivera nenhum controle sobre? Eu estava tão arrependida. Meu coração estava acelerado, minhas mãos inquietas suando frio, minha respiração falhava. Olhei pra trás de novo. Não, eu não havia imaginado. O homem que andava atrás de mim estava segurando seu pênis em sua mão e olhava diretamente nos meus olhos.

Meu Deus. De novo, não. Por favor.

Finalmente, depois daqueles segundos de choque que pareceram intermináveis, meu cérebro começou a berrar.

Corre.

Eu sabia que o carro não estava longe. Ia ficar tudo bem. Ia dar tudo certo. Eu só precisava ser rápida, ágil. Aquele homem estava com as calças abaixadas, não teria como ele ser mais rápido que eu, e foi agarrada à esse pensamento que comecei a correr.

Ao mesmo tempo que corria, tateava o corpo procurando as chaves do carro, para que nada pudesse me atrasar. Não podia correr o risco. Não havia ninguém que pudesse me ajudar. O único barulho na rua vinha dos nossos pés batendo contra o chão de cimento. Cada vez mais rápido. Cada vez mais perto. Ele de mim. Eu do carro. Para, implorava em pensamento, para, por favor. Meu coração parecia capaz de atravessar meu peito.

E então, eu alcancei o carro.

Abri a porta rapidamente e me joguei com tudo para dentro do veículo, batendo a porta com violência e socando o botão para travar as portas. O homem parou de correr e ficou encarando meu rosto através do vidro enquanto se tocava. Ele sorria diabolicamente. Eu chorava. Só queria sair dali.

 

Estacionei na garagem da casa dos meus pais, mas não saí do carro imediatamente. Precisava respirar. Era muita coisa para digerir. Liza havia cometido suicídio, eu podia ter morrido num acidente sério e, no final, fui perseguida por um maníaco. Realmente precisava respirar. Logo entraria em casa e veria meus pais parados em pé esperando uma explicação. E eu não queria explicar.

Depois de alguns minutos tentando fazer minha respiração voltar ao normal, decidi que já estava pronta para entrar. Coloquei os dois pés para fora do carro e tentei me erguer, mas minhas pernas falharam e eu caí sentada no banco do motorista. Tentei mais uma vez, mas o mesmo aconteceu. Uma onda de exaustão me tomou de repente e eu não quis tentar de novo, então apenas buzinei e encostei a cabeça no apoio do banco pra descansar.

 

Eu acordei na minha cama, mas não lembrava de ter ido até lá.

Me sentei e percebi que minha mãe devia ter passado a noite ali, pois estava adormecida na poltrona, no canto do quarto. Eu a chamei repetidas vezes, mas seu sono pesado não a permitia ouvir nada, então gritei. Ela acordou num pulo, olhando desnorteada para os lados.

— Lua! — brigou com as mãos sobrepostas no peito. — Jesus, Maria e José!

— A senhora passou a noite toda aí?

— Claro você sai que nem louca volta horas depois com a testa cortada e não consegue nem entrar em casa sozinha você quer matar seus pais Ana Lua?! — brigou sem se dar o trabalho de parar pra respirar.

Só então eu me lembrei do que havia acontecido no dia anterior. Definitivamente não queria falar sobre aquilo. Era extremamente humilhante e eu me sentia suja. Mais suja. Eu nem sabia que era possível.

O rosto da minha mãe era uma mistura de preocupação e curiosidade. Sim, eu sabia que ela queria muito que eu contasse logo o motivo de eu ter saído de casa tão brava, e, principalmente, o que causara o corte na minha testa, mas o que eu queria era evitar aquele assunto.

— Mãe, será que a gente pode conversar outra hora? Eu preciso fazer uma ligação. É importante — acrescentei quando vi que ela queria insistir.

— Certo – murmurou e saiu fechando a porta do quarto.

Peguei o celular em cima do criado mudo e procurei o número de Liza, torcendo para que Christine atendesse.

"Alô?"

— Christine! É Lua. Desculpe incomodar tão cedo, mas eu realmente preciso tirar uma dúvida.

"Está tudo bem. Pode perguntar"

Eu não sabia se era certo seguir em frente e perguntar de uma vez, nem se Christine falaria a verdade, mas eu precisava.

— A senhora sabe quem é Summer?

A mulher demorou longos segundos antes de responder.

"É, eu conheço alguém com esse nome", disse, mas eu soube naquele instante que falávamos da mesma pessoa.

— Ela disse que — procurei a palavra certa — conhecia Liza.

"Escute, Lua. Fique longe desse demônio e não acredite em nada que ela disser. Fique longe dela. Ela tem o Diabo no corpo!"

Aquilo me surpreendeu.

Parecia que eu e Summer precisávamos conversar.


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Notas finais do capítulo

Brigada por ler até aqui! PRÓXIMO!!!