How to Heal escrita por somestars


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Oi! Antes de começarmos o capítulo, gostaria de esclarecer (novamente) que a temática de How to Heal é pesada e pode ativar gatilhos dentro de você. O meu objetivo é não pegar tão pesado para que a maioria se sinta confortável em ler. Qualquer coisa que vocês quiserem ressaltar, é só comentar, eu sempre leio.
Esse capítulo é bem curtinho, é só uma introdução. Vamos?



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— Eu me chamo Liza, tenho 15 anos e fui vítima de estupro.

— Oi, Liza.

Eu sabia que aquilo não me faria bem. Não sei por que aceitei a proposta estúpida dos meus pais, em primeiro lugar. Sempre que entrávamos nessa discussão, surgia a frase "nós somos seus pais e queremos o melhor para você". E esse era o melhor pra mim? Sentar numa roda com várias mulheres e meninas que, assim como eu, foram violadas, ouvir suas histórias de vida e me sentir estuprada de novo e de novo e de novo? Lembrar, cada vez que elas abrem a boca, do por que estamos todas ali, e saber que somos apenas algumas entre milhares de vítimas? Eu não sei se os meus pais realmente acreditam que isso pode melhorar alguma coisa pra mim, ou se só querem ter a sensação de "pelo menos estou fazendo alguma coisa". De qualquer forma, não posso culpá-los. Já fiz muita coisa pra ter essa sensação. Trabalhei incessantemente. Me exercitei incansavelmente. O melhor pra mim. O melhor pra elas. Mulheres de todas as idades, completamente desconhecidas umas das outras, se encarando e se expondo, torcendo pra que aquilo ajude mesmo. Desesperadas por algum alívio na alma. Alívio esse que nunca vem.

As palmas.

Liza terminou de contar a sua história, e eu não ouvi uma palavra. Graças a Deus por isso.

— Parabéns por sua coragem, Liza — a líder do grupo confortou a menina chorosa com um aperto carinhoso em sua mão. — Mais alguém gostaria de compartilhar alguma coisa? Você, de azul?

Todos os rostos se viraram para mim, seus olhares curiosos cravados no meu rosto, famintos por mais uma história. Senti o meu corpo encolher e tudo na sala ficar enorme. Meu estômago dava cambalhotas, minhas mãos suavam, minha garganta doía.

Era a minha vez. Minha vez de ser ouvida.

 

As mulheres já estavam, em maioria, indo em direção à mesa onde se encontravam biscoitos, sanduíches e cafezinhos. Algumas paravam para cumprimentar Liza e a mim. Carnes novas. "Bem vindas, meninas. Esse grupo vai acolher vocês". Liza sorria agradecida. Eu queria ir embora. Estava assustada, não queria fazer parte daquilo. Não queria me tornar aquilo. "Vamos ouvir umas meninas falando sobre como foi a pior experiência de suas vidas e, logo após isso, vamos tomar café, fofocar sobre nossos maridos e comentar sobre o importantíssimo cachorro novo do vizinho".

— Lua — ouvi assim que me levantei para ir embora. — Você vai voltar aqui? Sabe, no próximo domingo.

Era Liza. Ela estava tão desconfortável quanto eu.

— De verdade? Espero que não. Você pretende voltar?

— Não se eu for a única deslocada. Se te der vontade de vir, me manda uma mensagem, eu venho também — disse me entregando um pedaço de papel rasgado onde havia anotado seu número.

Sorri e me despedi caminhando até a saída. Minha mãe me aguardava dentro do carro, tentando esconder sua curiosidade e falhando miseravelmente.

— Eu não volto aqui.

Peguei o celular, salvei o número de Liza e deixei-lhe uma mensagem me identificando.

— Tudo bem. Pelo menos você tentou — confortou-me.

Aquela conhecida sensação... pelo menos eu fiz alguma coisa.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Não esqueçam de comentar suas opiniões!



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