— Ah, isso é a visão do paraíso! — Silena tinha um sorriso malicioso nos lábios, esse que apenas aumentou ao ver o rosto de Thalia enrubescer. — Nico di Angelo é, definitivamente, um deus.

— Silena! — a Grace resmungou, suas bochechas começando a ficar dormentes pelo calor do constrangimento.

— Vai se fingir de inocente, Thalia Grace? — Silena subiu as sobrancelhas acusando-a. Os olhos estreitos a intimidando e adorando ver o jeito embaraçado que a garota estava lidando com a situação. — Vai me dizer que aquele abdômen não é uma delicinha?

— Cala a boca! — Thalia se apressou ao ver que o vampiro tinha mudado seu foco: não fazia mais as flexões, agora seus olhos pararam nas duas garotas que o observava da porta da frente da mansão dos lobos.

Era óbvio que Nico estava ouvindo o que a Alpha estava falando sobre seu corpo enquanto malhava para manter seus músculos. Do jeito que se arriscava a provar - ou era forçado goela abaixo pela humana - os variados pratos que Silena preparava na fogueira, iria acabar perdendo a forma.

Thalia chocou a mão contra a testa, negando em reprovação. Agora seu corpo exalava calor, mas resolveu agir da forma mais natural possível:

— Puff! — debochou, levantando a cabeça e indo para onde ele estava, agora sentado com as pernas flexionadas, parecendo achar graça do que elas falavam. — Esse magrelo? Eu quebro ele no meio com um soco!

— Então prove! — Nico por fim se pronunciou, as sobrancelhas erguidas em um claro desafio. — Meus ossos vão se regenerar mesmo.

Tratou de pontuar, dando de ombros com desdém e a fez crispar os lábios, sentindo um incômodo em seu ego por ter sido afrontada de tal maneira.

— Chamou para a briga, hein? — Silena tratou de colocar lenha na fogueira, esboçando um sorriso travesso. — Briga! Briga! Briga!... — parou por um instante, lembrando-se da responsabilidade que tinha nas costas e tratando de se corrigir: — Mentira! Eu sou a Alpha, tenho que agir do modo certo, então...não briguem crianças, só alguns socos e chutes, ok?

Thalia virou seu corpo para fitar Silena quase desacreditada com o que ela tinha dito e se contraposto logo após, mas não iria baixar a guarda. E, no momento que escolheu para virar e atacar o di Angelo...bom, não rolou.

Em segundos, suas costas estavam contra a grama úmida e o joelho de Nico a pressionava no estômago.

— Cadê a garota que iria me “quebrar”? — Nico caçoou, suas mãos segurando as dela contra o chão. — Você só fala, Thaliazinha!

— Escuta aqui! — a Grace tentou erguer seu corpo para encará-lo de perto e isso o fez recuar para não deixar ela completar o movimento. O sorriso debochado brilhando em seus lábios e a deixando frustrada. — Eu não estava preparada e você não tinha o direito de começar, idiota! E dá para me soltar?

Se debateu, enfatizando o pedido. Todavia foi um motivo para que Nico apertasse mais seus pulsos, deixando claro que ela não sairia tão fácil.

No entanto, a atenção do vampiro foi totalmente desviada ao ouvir o barulho de folhas vindo da floresta, juntando as sobrancelhas ao ver a pelagem branca do lobo tentando se afastar sem ser notado.

— Quem...

Nico começou, mas antes mesmo que terminasse sua frase, ou até mesmo saísse dali para checar quem era, seu corpo foi jogado para o lado e acabou rolando na grama até parar com Thalia acima de si.

E só pôde soltar um gemido de dor quando o canivete pertencente a garota o perfurou no abdômen.

— Aí! Thalia!

Dessa vez ela tinha um sorriso debochado nos lábios ao responder:

— O que? Não vai se regenerar mesmo? — o imitou na cara dura, dando dois tapas casuais em seu peitoral antes de se levantar com a pose de desdém, limpando as mãos uma na outra como se seu trabalho estivesse completo.

O di Angelo torceu o nariz, os dedos pálidos e magros rodeando o cabo do objeto enfiado em si e tirando-o de uma vez com um puxão súbito. Arfou alto, tombando o corpo, até então apoiado nos cotovelos, para trás.

— Dramático! — Thalia pontuou, negando em reprovação ao vê-lo ofegar alto.

Nico apenas subiu o olhar para fitá-la em descrença, sentindo sua pele aos poucos trabalhar em fechar o corte, deixando apenas resquícios de sangue.

— Eu vou enfiar esse treco em você e ver se sua reação vai ser continuar plena desse jeito! — retrucou, finalmente se levantando do chão e a fazendo recuar consideravelmente, preparando-se para uma investida que não veio. — Eu não vou fazer isso, sua cabeça dura!

— Ah, vai saber! Você é imprudente, faz o que vier na mente! — Thalia alfinetou, abrindo um sorriso travesso e vendo-o revirar os olhos em resposta.

Nico voltou-se para a Alpha que ainda estava parada observando-os como se fosse uma mãe, subindo uma única sobrancelha quando a encarou, para logo depois perguntar:

— Silena, posso falar com você? Em particular.

A Grace levou a mão ao colo, claramente ofendida por ter sido deixada de lado bem na sua frente. Mas não disse nada, apenas pegou o canivete que o vampiro a estendia e rumou para dentro da casa para limpar a lâmina e dar privacidade aos adultos.

— O que foi? — Silena questionou ao se aproximar mais, os braços cruzados abaixo dos seios e os olhos bem abertos em alerta.

— Você sabe que eu não confio em alguns da nossa matilha, não sabe? — foi direto ao ponto, uma das mãos tocando o machucado já fechado no abdômen.

— Especificamente Deimos?

— Leu minha mente ou pensa o mesmo?

— O vampiro aqui é você, di Angelo.

— Eu sou um vampiro, não Edward Cullen.

Respondeu por fim, fazendo-a rir internamente e negar em reprovação.

— Tudo bem, mas onde quer chegar?

— Deimos não é de confiança. Ele sempre é o que vem brigar por nada e você sabe disso. Ele, com certeza absoluta, está ajudando Luke com alguma coisa. — Nico disse veemente. Muitas das vezes que iriam discutir coisas sobre a matilha, sempre evitava falar perto de onde o lobo estava.

— Eu sei que está. — Silena respondeu simplesmente. — Mas eu não posso chegar com o dedo na cara dele, acusando do nada. Certo? Certo!

— Errado. — Repeliu. — Temos que fazer algo a respeito. E se ele tenta outro ataque indireto? Ou até mesmo um direto? E se... — se interrompeu, engolindo em seco.

— Atacar Thalia? — a Beauregard perguntou, analisando-o. Nico assentiu. — Ele já fez isso uma vez. Pode fazer de novo. Você tem razão.

— Eu sempre tenho razão! — disse como se fosse óbvio.

Silena apenas o fitou com as sobrancelhas arqueadas, balançando a cabeça em sinal de negação.

— Mas ainda acho errado chegar acusando-o. Nas melhores das hipóteses ele só está saindo de fininho para ver se acha mais comida ou coisa parecida. Quem sabe, bem no fundo, o Deimos é legal? — tentou ser otimista.

— Eu só vou fingir que você não disse isso. — Nico comentou, negando em reprovação e olhando para as árvores ao redor deles.

— Vamos esperar, ok? Tudo que temos que tratar, falamos entre nós dois e longe dele. Se ele estiver passando informações da matilha, que passe que estamos ótimos e bem nutridos! — Silena desmanchou sua pose, jogando o cabelo por cima do ombro com uma pose de desdém que o fez rir. — Luke não tem chances. E, agora, Thalia sabe se cuidar.

— Sabe mais ou menos, né?! — Nico franziu o nariz, começando a rir e fazendo-a o acompanhar.