A Cinderella Story escrita por Queen Of Darkness


Capítulo 13
Capítulo 13




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Em algum ponto do horizonte, a luz do sol nascia fracamente, que ainda assim não era tão visível por causa das cortinas fechadas do quarto extremamente bagunçado. Estendido na cama, um corpo nu – se não fosse é claro pela boxer – e musculoso se mexia constantemente, enfiando o travesseiro sobre a face amassada e os cabelos extremamente bagunçados. Era incrível como nós sempre vemos luz demais quando estamos de ressaca ou muito, muito mal... 
– Douglas, telefone! – Uma voz berrou de algum lugar que pareceu ser de seu inconsciente. – Douglas! 
– Que foi, cacete? – Dougie berrou de volta com a voz abafada pelo travesseiro na cara. 
– Larga de ser grosso, garoto! – A voz voltou a berrar. Irmãs... – É o seu amiguinho Fletcher no telefone! 
Em um bufo, Dougie jogou o travesseiro contra a parede mais próxima e esfregou os olhos sem delicadeza alguma. Tateou o criado-mudo ao seu lado até achar o aparelho do telefone, tirando-o da base com violência que até o impressionou em não ver o objeto quebrado quando o colocou sobre o ouvido. 
– Alô? – Ele disse com a voz sonolenta, por um momento se esquecendo com quem estava falando. 
– Cara, sua voz tá tão horrível que eu nem quero ver o seu estado – A voz do outro lado ironizou, e Dougie pôde ouvir risadinhas ao fundo que certamente não eram da pessoa com quem estava falando. 
– Cala a boca – Disse simplesmente antes de se jogar bruscamente de volta na cama. – Que você quer? 
– Credo dude, que mal humor – Tom comentou, rindo ao ouvir alguns murmúrios aborrecidos do amigo do outro lado da linha. – Olha só, a gente queria saber se você não quer vir aqui pra casa jogar videogame, já que hoje não vai dar pra fazer nada, né. 
– Porque não vai dar pra fazer nada? – Dougie perguntou em um exagerado bocejo, se surpreendendo quando viu que Tom havia entendido a pergunta. 
– Você já olhou pela sua janela? 
Dougie apenas murmurou algo muito parecido com um ‘não’ e finalmente se levantou da cama. Se aproximou da janela e percebeu que lá fora fazia um barulho estranho, e ao puxar violentamente as cortinas brancas de seu quarto, viu o mundo praticamente caindo ali fora. A chuva caía forte, formando riozinhos nas ruas que levavam os objetos largados ali, e batia com tanta intensidade no vidro que parecia que iria quebrá-lo a qualquer momento. O céu estava mais cinzento do que seu próprio humor, e Dougie viu que a luz que antes o incomodava não era do sol, e sim das luzes dos trovões. 
Estranho. Será que o dia havia amanhecido igual à ele? 
– Você contaminou o clima com o seu mal humor, Poynter. – A voz de Tom disse, acordando-o de seus pensamentos. 
– Idiota – Dougie falou baixinho, mas ainda assim fazendo com que o amigo ouvisse. 
– Então, você vem? 
– Certo – Dougie disse vagarosamente, como quem quisesse ter certeza. Se espreguiçou, bocejou exageradamente, esfregou os olhos, molhou o rosto em água gelada e, novamente como se fosse para ter certeza, dessa vez que não dormiria a caminho da casa de Tom, bocejou pela terceira vez em menos de cinco minutos. Em seguida, resolveu responder o amigo. – Que horas? 
– Cara, o Dougie é uma noiva – Ouviu a voz de Tom falar em um murmúrio como se estivesse comunicando alguém ao seu lado, e em seguida voltou-se para ele. – Erm, vem agora mesmo. 
– Quem tá aí? 
– O Harry. 
– E o Danny? 
– Vem daqui a pouco. 
– Uhm, ok. Vou tomar um banho e em dez minutos to aí. 
– Certo – Antes que pudesse desligar, ouviu a voz de Tom o chamando novamente. – Dude, não demora. Eu... eu preciso falar com você. 
– Sobre o que? 
– Sobre, erm... ah, vem logo! 
– Certo. Até então. 
– Até. 
Com isso, Dougie finalmente apertou o botão ‘OFF’ do telefone e, em um único barulho, o aparelho desligou. O garoto o colocou sobre a base e, após despir sua boxer e ligar o chuveiro, começou a tomar banho enquanto várias coisas sobre o que Tom iria querer falar com ele passavam em sua cabeça. 

xx

– Vamos! 
– Eu não quero! 
– Porque não? 
– Eu já disse, Elizabeth, quero ficar em casa hoje! 
Fazia quase meia hora que Elizabeth havia chegado em sua casa e estava tentando a convencer de sair, ir ao menos até a casa de Tom, já que ele havia convidado. Fazia pelo menos dois dias desde o ‘incidente’ entre ela e Dougie no London Eye. Mas Juliet insistia em dizer que o dia estava perfeito para se passar sozinha, se entupindo de brigadeiro de panela e fazer uma sessão de filmes. Tinha alugado Star Wars, De Volta Para O Futuro, Escola de Rock, Sexta-Feira Muito Louca, A Era do Gelo, a série inteira de Friends, e ah, tinha também o... 
– Juliet! – Elizabeth berrou, assustando a menina que mantinha a mesma pose pensativa, imaginando por qual dos filmes iria começar. 
– Olha Eliza, eu até deixo você ficar aqui e passar essa tarde calma e maravilhosa comigo, mas você tem que prometer que não vai ficar insistindo pra eu ir na casa do Tom e berrando que nem uma gazela no cio! 
– Vou ficar insistindo sim – Elizabeth resmungou, cruzando os braços na altura do abdome – E eu não berro que nem uma gazela no cio! 
– Ah não? Já tentou gravar você mesma cantando? – Juliet falou em um murmúrio, mais para si mesma, enquanto revirava os olhos. Se assustou quando recebeu um tapa da amiga por isso. – Eliza, eu estou numa fase de depressão e esquecimento, e isso é regra! Você sabe disso. Aliás, não pense que eu esqueci o que você e as meninas fizeram comigo em relação ao que aconteceu com o Dougie... 
– E desde quando é regra ficar em casa engordando pra esquecer alguém? Você precisa ver meninos para isso, meu amor, e eu conheço uns bons! –Elizabeth disse, ignorando a última parte que a amiga disse e a puxando pelo braço e tentando a arrastar pela porta, o que era impossível, uma vez que ela praticamente escalava as paredes e puxava seu próprio contra na direção oposta. 
– Cada um tem seu modo, tá bom? – Juliet disse com dificuldade, já que lutava com todas suas forças contra a mão de Elizabeth que insistia em puxá-la para fora. Normalmente ela seria mais forte que a amiga, mas não naqueles dias. 
– Ok Juliet, eu desisto – Elizabeth finalmente disse, extremamente irritada, largando o braço de Juliet tão subitamente que a mesma caiu em um forte estrondo no chão. A garota, por sua vez, pareceu não ligar que a amiga estava estirada em sua frente, reclamando de dor e xingandoElizabeth de todos os nomes possíveis. – Mas agora só me diz uma coisa. O QUE exatamente você quer esquecer? 
– Ué, mais que óbvio, Elizabeth! – Juliet retrucou, sentando-se no chão de pernas cruzadas, agora com preguiça demais para se levantar. – DoPoynter, né! Acho que você esteve com o Judd até demais... 
– Ao menos eu estive com alguém! – Elizabeth disse, ignorando o máximo o fato de estar vermelha por causa do comentário da amiga sobre ela eHarry. 
– Outch – Juliet murmurou, abaixando levemente a cabeça. 
– Desculpa Juh, eu não queria ser dura assim – Elizabeth começou, sentando-se no chão ao lado da amiga e colocando a cabeça dela em seu ombro, enquanto acariciava algumas mechas de seu cabelo. – Mas você nunca teve alguma coisa concreta com o Poynter para querer esquecê-lo. Quero dizer, o que aconteceu com aquele Damian? 
– Don. 
– Don, isso. – Elizabeth corrigiu rapidamente, sentindo pena da amiga quando a mesma soltou um profundo e triste suspiro. – Você gosta dele, não gosta? E... ele não gosta de você? 
– Eu não sei mais de nada, Eliza – Juliet disse calmamente, brincando com a barra de sua camisa do New Found Glory. – E aliás, o que adianta eu gostar dele e ele de mim se o otário não tem nem coragem de aparecer na minha frente? Acho que o Dougie tinha razão... 
– Não, olha aqui! – Elizabeth disse firmemente, pegando Juliet pelo queixo e levantando sua cabeça. – O Dougie não tinha razão de nada, quem é ele pra dizer algo sobre a sua vida? Ele te usou só pra... bom, você sabe pra que. Mas ele não tem direito nenhum em te deixar assim, entendeu bem? Por isso você deveria se levantar, vestir alguma coisa bem sexy e ir comigo pra casa do Tom! – Ela acrescentou, batendo animadamente na perna da amiga. 
Juliet apenas riu. Não tinha como não rir. Ter Elizabeth ali do seu lado, tentando animá-la, dizendo coisas que sempre a confortavam... O que faria sem ela? Ah é, esqueceria até da cabeça se ela não estivesse grudada ao próprio pescoço. E, lembrando disso, não conseguiu deixar de se sentir um pouco mais animada. 
– Olha, consegui fazer você rir! Eu sou demais, diz aí. – Elizabeth falou dando pulinhos no chão, em seguida começando a fazer cócegas em Juliet quando a viu estirando a língua. As duas ficaram ali, estiradas no chão rindo por algum tempo, até pararem deitadas encarando o teto, em silêncio. 
– Hey, quer saber de uma coisa? – Juliet começou, quebrando o silêncio e encarando a amiga ao seu lado com um sorriso no rosto, fazendo-a sorrir também. – Vamos pra casa do Tom! 

xx

Hurley ou Element?’, Dougie pensou enquanto segurava dois moletons, um em cada mão. ‘Ah, é só pra ir pra casa do Tom mesmo...’, ele deu de ombros, jogando o moletom da Element dentro do armário e encarando com um sorriso a outra vestimenta, onde lia-se em letras torcidas, coloridas e grandes Hurley. ‘É, vou com o da Element mesmo’. 
Assim que guardou tudo de volta, Dougie vestiu finalmente o moletom vermelho onde lia-se ‘Element Skateboards’ em branco. Mais uma calça jeans básica, um cinto simples para segurá-la – apesar de que metade da boxer ainda estava à mostra –, os tênis branco e azul marinho da Adio que tanto amava e as pulseiras coloridas espalhadas pelos dois pulsos. O cabelo foi arrumado em um simples balanço de cabeça, jogando as mechas para o lado e deixando-as na frente do rosto, quase tampando os olhos. 
– To indo pra casa do Tom, tchau! – Berrou antes de passar pelo hall de entrada e sair, fechando a porta atrás de si antes que pudesse ouvir o resto da frase berrada por sua mãe. 
Assim que colocou os pés nas escadas da varanda, Dougie puxou o capuz do moletom e o colocou sobre a cabeça. Apertou o casaco contra o corpo, as mãos dentro dos bolsos e, de cabeça abaixada, seguiu pelos cinco quarteirões tão conhecidos que o levavam para a casa do amigo, TomFletcher. 
A chuva caía forte sobre sua cabeça, o encharcando inteiro, junto de sua roupa. Mas não ligava. Não naquele momento. 
Ali, logo em sua frente, se encontrava a casa de Juliet. Dougie sentiu a cabeça ficar atordoada com tantas perguntas que se passavam: estaria ela bem? Será que ela já havia esquecido dele? E de Don? Don... fazia algum tempo que ela não se correspondia com ele através de mensagens ou e-mails. Sim, algum tempo, dois dias. Será que agora ela odiava tanto Dougie quanto Don? 
Sentiu um aperto forte dentro do peito ao ver movimentação no quarto de Juliet. As luzes estavam acesas, as sombras de duas pessoas se moviam constantemente lá dentro, enquanto uma música invadia o bairro calmo e silencioso. E as duas pessoas pareciam dançar... E Dougie não conseguiu deixar de rir quando percebeu quem eram e o que faziam. Sim, por mais que quisesse estar bravo com a menina, não conseguia não pensar em como era engraçado ver Juliet e Elizabeth dançando ao som de algo como ‘It’s so delicious, they want a taste of what I got, I’m Fergalicious’. 
Dougie só decidiu se mover quando viu alguma das garotas se aproximando da janela e abrindo as cortinas. Se jogou no arbusto mais próximo para se esconder, sentindo o quão patético ele era. Logo que se sentiu incomodado com galhos lhe entrando em lugares não tão agradáveis e apropriados, resolveu sair dali o mais rápido possível e, de preferência, sem que elas o vissem – o que não foi muito difícil, vendo que as duas se divertiam tanto que nem que ele sobrevoasse em frente a janela escancarada elas perceberiam sua presença. E aquilo o fez se sentir realmente mal:Juliet já havia provavelmente esquecido de todo o ocorrido de dois dias atrás, da noite que passaram, da briga que tiveram e de tudo daquele dia.Dougie pensou se era a melhor coisa a se fazer também ou se a garota apenas havia esquecido tão rapidamente porque aquilo não havia significado nada para ela. 
Cinco minutos a mais e Dougie já estava parado em frente à porta de entrada da casa de Tom, chacoalhando o corpo em um modo estranho como se fosse adiantar a secá-lo, fazendo-o parecer um cachorrinho. Estava extremamente molhado, com frio e com falta de ar, devido à corrida que havia feito para não ter que agüentar mais as pesadas gotas de chuva o encharcando cada vez mais, mas ao menos havia chegado lá rápido. Bateu na porta duas vezes com o nós dos dedos e, ao ouvir uma gritaria interna, abriu a porta vagarosamente. Colocou a cabeça pela fresta; não queria invadir a casa de Tom repentinamente. E se houvesse alguém fora ele e os meninos lá? 
– Pode entrar, dude – A voz de Tom disse de um canto da sala, e Dougie, ainda com apenas um pedaço da cabeça por entre a fresta da porta, virou-se com tanta rapidez que esqueceu a posição em que se encontrava e sentiu uma forte dor no pescoço. – Meus pais estão fora de cidade, estamos sozinhos. 
– Pra variar – Completou Danny, que não fez nem menção de tirar os olhos da tela da televisão, concentrado demais no videogame. 
– Cara, parece que o mundo vai cair hoje – Dougie comentou, ao que passava agora o corpo inteira pela porta e a fechava atrás de si. Retirou rapidamente o moletom molhado do corpo, que o deixava cada vez mais com frio, revelando assim sua blusa listrada branca e azul marinho. 
– Dia perfeito pra se entupir de brigadeiro – Tom disse em um imenso sorriso. – Harry, já terminou aí? 
– ESPEEEEEERA! – A voz de Harry berrou de longe, e Dougie concluiu que ele deveria estar na cozinha. 
– O que ele tá fazendo lá? – Dougie perguntou, apanhando o controle de videogame do chão que provavelmente pertencia antes à Harry. 
– Brigadeiro, ué – Tom respondeu, mais uma vez abrindo o sorriso de orelha a orelha. 
– Dude, deixa eu ligar pra Juh, vai – Harry reclamou, saindo da cozinha vestindo um avental e chupando o dedo indicador. 
– Ligar pra Juh? – Dougie perguntou, arregalando os olhos e deixando o controle escorregar de suas mãos. – P-porque? 
– Cara, pára de chupar o dedo – Danny falou rindo, ignorando a pergunta de Dougie. 
– Eu me queimei tentando fazer brigadeiro! – Harry retrucou em uma voz chorosa, mostrando o dedo vermelho e babado. 
– Você não é capaz nem de fazer brigadeiro de panela, Judd? – Tom perguntou, rindo com Danny dos murmúrios que Harry soltava irritado. – Calma que daqui a pouco elas tão aí... 
– Elas quem? – Dougie e Harry perguntaram juntos, em um uníssono. 
– A Juh e a Eliza. – Tom simplesmente disse, lançando uma piscadela à Danny, que ria da cara dos amigos. 
– O que a Juliet vem fazer aqui? 
– O que a Elizabeth vem fazer aqui? 
– Vocês são patéticos – Danny falou, apontando para Dougie e Harry que haviam acabado de berrar ao mesmo tempo. 
– Cara, o Harry que é patético – Dougie se defendeu, tentando se segurar para não rir quando viu o amigo abrir a boca como se estivesse realmente ofendido e lhe dar o dedo. – Não foi ele que brigou com a Elizabeth, não foi ele que teve a Elizabeth gritando no seu ouvindo e chorando e... 
Ding dong.
– E eu vou estar ali atrás, fugindo pelas portas do fundo. 
Dougie levantou-se rapidamente da poltrona e já ia colocar o pé no chão para dar o primeiro de vários passos rápidos na tentativa de fugir, quando sentiu uma mão lhe segurando pela gola da blusa e o puxar na direção oposta. O garoto não sabia que ficava mais desesperado pelo fato de estar sendo quase enforcado por Tom ou por ter que encarar Juliet cara a cara após a briga deles há dois dias atrás. 
– E depois eu que sou patético... – Harry comentou enquanto revirava os olhos e ria da cena. 
– Vai atender! – Tom disse antes de empurrar Dougie em direção à porta, fazendo-o bater a cara na madeira dura. 
– Delicado... – Reclamou, com a mão no rosto. 
– Atende logo – Agora fora a vez de Danny, sendo seguido pelas risadas dos outros três. 
Dougie apenas lançou o pior olhar que podia a eles e se virou para encarar a porta, como se pudesse ver através dela. Calma, primeiro a porta, depois a Juliet... Fechou os olhos e suspirou profundamente, ignorando os comentários dos amigos que comentavam o quão gay e patético aquilo que ele fazia era. Após reunir toda a coragem que tinha – o que, acredite, para aquele momento era pouco demais –, levou a mão à maçaneta e a girou extremamente devagar. Os olhos na verdade permaneciam fechados, e Dougie se arrependeu mortalmente por tê-los aberto: aquela visão deJuliet havia o deixado de boca aberta, e dela saindo litros de baba, fora que se sentia até um pouco atordoado. Como ela estava linda. Sexy. Não, o sexy dela não precisava ser necessariamente um vestido preto extremamente decotado e curto, com um salto alto, batom e unhas vermelhas e os peitos quase pulando para fora da roupa. É claro que assim ela também iria ficar muito, mas muito sexy... Mas daquele jeito que ela estava, simples e ainda assim tão bonita, que fazia o coração de Dougie dar mais pulos do que daria se visse ela vestindo o tal vestido curto e decotado. Um moletom da Atticus, uma saia jeans que deixava as belas pernas à mostra, os tênis pretos e rosa da Adio e os longos cabelos presos em um rabo-de-cavalo, deixando apenas algumas mechas da franja molhada jogadas ao rosto corado. E tudo aquilo que, se visse em uma garota qualquer, acharia apenas legal, era surpreendentemente sexy nela. Apenas nela! Como? Como?! 
– Credo Poynter, fecha a boca senão você vai desidratar de tanta baba que tá deixando escorrer – Elizabeth falou ironicamente, rindo com os amigos e fazendo com que Dougie acordasse de seu transe. 
Ele apenas sorriu sem graça e deu espaço para que as meninas entrassem na casa. Quando Juliet passou, Dougie percebeu que ela fazia questão em olhar para o chão, apenas para evitar os dois olhares de se cruzarem. O garoto sentiu uma dor no peito tão forte que pensou que seu coração fosse sair pela boca a qualquer momento. Ela não olha nem na minha cara, pensou. 
Dougie fechou a porta logo em seguida, virando-se para encarar os amigos e, naquele momento, percebeu o quão patético era. Sim, ele só havia percebido aquilo agora. Viu Juliet sair correndo e pulando sobre Harry no chão, juntando-se à ele nas cobertas. Estaria ele com ciúmes de Harry
– Sai pra lá, Harry – Juliet falou, enquanto empurrava o amigo ao lado com os quadris, puxando cada vez mais quantidade de cobertor para ela, enquanto encolhia o corpo inteiro, que tremia. E a única coisa que Dougie conseguiu pensar foi o quão linda ela ficava daquele jeito, e o quanto ele queria ser Harry naquele momento para ficar ao lado dela e esquentá-la. Não te disse? Patético. – Tá friiiiio! 
– Senta aqui do meu ladinho que eu te esquento, babe – Danny falou em um sussurro audível, soando extremamente ridículo ao tentar fazer uma voz sexy, e ainda mais retardado quando começou a acariciar o sofá ao seu lado e mandar beijinhos e piscadinhas para o ar, em direção à Juliet. 
– Quer morrer, Jones? – Harry perguntou em um olhar mortal, enquanto Tom fazia questão de ajudar o amigo e dar um pedala extremamente forte em Danny. 
– Cuidado Jones, tem dois tomando conta dela – Elizabeth disse, piscando para Danny. – Então pode deixar que eu vou! – E, nisso, a garota pulou no sofá em que Danny havia antes ‘alisado’ e se cobriu, fazendo do garoto ao lado soltar risinhos ridículos. Juliet riu e Harry pareceu ficar extremamente vermelho por alguns minutos, tentando ignorar aquela cena. 
– Eliza, Eliza, Eliza – Juliet chamou, apanhando o controle de videogame das mãos de Harry e ignorando os murmúrios de reclamação do garoto. – Eles tão jogando videogame, olha! 
– Eu vi, eu vi, eu vi – Elizabeth ironizou, rindo quando a amiga lhe estirou a língua. Apanhou o controle das mãos de Danny e também o ignorou quando ele começou a berrar coisas como ‘meu precioso jogo!’ – O que vocês estão jogando? 
– Estávamos, você quer dizer. – Danny disse enquanto cruzava os braços e fechava a cara. – Passado. 
– Oh, que bonitinho, gente! – Juliet disse de repente, levantando-se do chão apenas para ir até Danny e lhe apertar as bochechas. – Ele aprendeu a conjugar os verbos no passado já, cara! 
Todos riram, enquanto Danny apenas estirava a língua e se afundava no sofá de cara amarrada. Todos pareciam estar se divertindo. Todos, exceto por uma pessoa. 
– Hey Dougie, o que você tem, cara? – Tom perguntou, lhe dando um leve soquinho no ombro. Dougie abriu a boca para responder, mas foi logo cortado. 
– Cacete, tem Tony Hawk aqui! – Juliet berrou, ignorando o fato de ter ‘estragado’ a conversa de Tom e Dougie. Aliás, Dougie até duvidou se ela ao menos sabia que ele estava ali, na mesma sala que ela. – Vamos jogar Tony Haaaawk? 
– Mas eu tava me divertindo jogando aquele game do macaquinho que puuula! – Danny reclamou em uma voz chorosa, fazendo Elizabeth se contorcer de tanto rir pela criancice e retardadice do garoto. 
– Cala a boca, Jones. A gente vai jogar o Tony Hawk! – Juliet disse, rindo ao receber mais uma vez a língua de Danny. – Eu tava treinando esses dias em casa porque não queria fazer mais nada e... erm, bem, eu aprendi a fazer um Flip! 
– Credo, você parece o Poynter, Juh – Harry falou, rindo do próprio comentário. 
Dougie e Juliet congelaram na mesma hora. Tinham até esquecido em como eram parecidos, como dividiam os mesmos gostos, e principalmente como costumavam se divertir antes jogando Tony Hawk juntos e humilhando todos os outros garotos. Eram os melhores naquele game. 
– Uhm, Danny... erm, joga aí. – Juliet disse rapidamente, jogando o controle para Danny. – Eu vou na cozinha... pegar algo... pra beber. 
Juliet deixou a sala sob o silêncio horrível dos amigos. Assim que sumiu pela porta da cozinha, Harry comentou algo que foi impossível de se ouvir, uma vez que tinha murmurado tão baixo que deveria ter pensado um pouco demais, e Danny logo se levantou do sofá para colocar o game que jogava antes e voltou a se divertir com o macaquinho que pulava de galho em galho para juntar bananas. Dougie continuava intacto, sem coragem de abrir a boca ou piscar, e se assustou quando ouviu a voz de Tom. 
– Vai lá atrás dela... 
– HEIN? 
– Sua anta, vai atrás dela! – Tom repetiu, dessa vez acrescentando um pedala na nuca de Dougie. 
– Ela... ela não vai gostar. 
– Garanto que ela vai preferir você ir falar com ela do que à isso. – Ele falou fazendo gestos exagerados com as mãos. – Essa merda de silêncio entre vocês dois... Nem eu agüento mais, e olha que não sou eu que faço parte dessa briga idiota de vocês! 
– É, acho... acho que você tem razão. 
– É claro que tenho razão! – Tom respondeu rapidamente em um sorriso, fazendo Dougie rir baixinho. – Agora vai. 
Dougie apenas assentiu com a cabeça e seguiu o mesmo caminho que Juliet havia efeito há apenas um minuto atrás. Sentia as pernas tremerem e o lábio inferior já deveria estar vermelho de tanto que o mordia. A sensação de que o coração iria sair pela boca voltara, agora ainda mais forte, ao que aproximava cada vez mais da cozinha. 
E ali estava ela. Era tortura? Até bebendo cerveja ela era sexy! Talvez se ela soltasse um arroto depois de tomar um gole daquilo? Não, acho que até assim ela ficaria linda. Com isso, Dougie balançou a cabeça na tentativa de espantar os pensamentos, o que realmente não adiantou em nada, uma vez que seu olhar recaíra exatamente nas belas pernas nuas da garota. Mordeu o lábio inferior mais uma vez, subindo os olhos vagarosamente por seu corpo, até pararem na cena que fez seu coração parar de bater de uma vez. Ele sabia que ver Juliet demais iria acabar em um ataque cardíaco, droga! E lá estava ela, desfazendo o rabo-de-cavalo e chacoalhando levemente a cabeça, fazendo os cabelos agora soltos balançarem junto, como em um ritmo. E tudo em câmera lenta, como naqueles filmes, sabe? Sim, exatamente como em um filme... E, deus, como ela era linda... 
– Dougie? 
Toda aquela cena que antes se passava lentamente, pelo menos em seus olhos e em sua cabeça, fora cortada pela voz de Juliet, que o encarava seriamente. Também, não era por menos. Dougie estava parado ao batente da porta da cozinha, a boca semi-aberta, os olhos arregalados e, se não se enganava, um pequeno indício de baba escorrendo pelo canto dos lábios. Que nojo, eu sei, mas ela realmente era muito linda. Se você visse uma cena dessa e não babasse, meu caro, você seria meu herói. Ou gay. 
– Erm, o-oi Juh... – Dougie começou, sentindo as bochechas queimarem. Começou a massagear a nuca em um ato extremamente tímido e nervoso. – Desculpa, eu... eu só queria vir aqui pegar algo... sabe, o Jones quando fica com fome... 
– Uhum, sei sim – Ela respondeu secamente, mas em um leve tom de desapontamento. Não, deveria ser imaginação. 
Juliet já ia se dirigindo para a porta para deixar a cozinha, mas quando passou por Dougie, ele a segurou pelo braço. Ambos pararam intactos, encarando-se nos olhos como não faziam em um bom tempo, até no dia em que brigaram. Dougie sentia uma vontade imensa de agarrá-la e beijá-la logo ali, mas sabia que não podia. A não ser que queira ganhar um tapa na cara, então, é claro, vá em frente. 
– Na verdade, eu não vim aqui exatamente pra isso, sabe – Ele começou, se parabenizando mentalmente por ter conseguido falar sem gaguejar e ainda continuar olhando direto nos olhos dela. Era realmente um avanço. 
– Ah não? – Ela simplesmente perguntou, também sem tirar seus olhos sobre o dele. Droga, ela ainda era melhor nessas coisas. 
– Não, eu... eu vim aqui pra... pra me desculpar. – Ele começou, agora não agüentando mais encarar tanto tempo os olhos de Juliet, ainda mais para falar algo como aquilo que estava prestes a falar. Se fosse mentir, que mentisse sem encará-la diretamente. Já era difícil o suficiente ter que fazer isso olhando para o chão, de qualquer jeito. – Eu sei que você gosta do... do Don, e bem... eu não quero ser a pessoa que vai ficar no meio, certo? Quero dizer, eu realmente quero que você seja feliz, Juh. Você... você merece. 
Dougie sentiu as pernas fraquejarem e o coração parecia ter criado vida e acabado de descer garganta abaixo para socar a boca de seu estômago, mas não por causa do que havia dito. Bem, não exatamente por isso... Mas pela mania que tinha em criar uma ‘trilha sonora’ para os momentos de sua vida, e por estar ouvindo uma agora mesmo para o que estava se passando. Que droga, aquilo já era masoquismo. 

Which of the bold face lies will we use? 
I hope that you're happy
You really deserve it
This will be best for us both in the end


– E vai ser melhor no final das contas, certo? – Ele continuou, tentando o máximo não gaguejar, apesar de que quando se tratava das pernas, sabia que já não tinha mais controle. – Digo, você e o Don... 
Mas o que ele estava dizendo? Ele era Don, e se a situação já não estava bem assim, naquele momento que ele estava sendo ele mesmo, como poderia melhorar com Don? 
E, sendo Dougie ou Don, tudo o que queria era poder ter ela de volta como teve no baile ou na noite do London Eye. Apenas de estar vendo-a ali, em sua frente, Dougie já conseguia lembrar do gosto doce que seus lábios tinham, sendo beijados pelo seu verdadeiro eu ou pelo falso. Não importava. Só lembrava em como era bom e em como sentia que parecia uma greve que fazia quando não tinha seu beijo. 

But your taste still lingers on my lips
Like I just placed them upon yours
And I starve, I starve for you
But this new diets liquid
And dulling to the senses
And it’s crude, but it will do


E agora você pensa: como aquilo não era patético? Tudo o que ele queria e precisava era do beijo dela, do toque dela, dela... E por mais que ela estivesse logo ali, à centímetros de seu corpo, ele não fazia nada além de mentir. Mentir em como tudo ficaria bem, mentir em como ela deveria ser feliz seja com quem fosse, mentir sobre mentir. Não, nada ficaria bem, e ela não poderia ser feliz com ninguém a não ser com ele. Por mais que egoísta que isso soasse, não ligava. Queria que ela precisasse apenas dele e mais ninguém, como ele sentia em relação à ela também. 
E sabia que tudo era sua culpa. Se ele tivesse apenas dito o que sentia por ela antes, eles não estariam passando por aquilo, e estariam provavelmente juntos, aproveitando e rindo tanto quanto seus amigos. Todas as vezes em que a tratara apenas como amiga e prometia que ligaria para ela, mas acabava por falar que estivera ocupado demais, quando sabia que era apenas por medo. Quando ia se despedir dela e queria lhe beijar, apenas acenava e dizia um simples ‘te vejo logo’. Queria ter visto-a logo naquele dia. 

Which of the standard lines will we use? 
I've been meaning to call you
I've just been so busy
We'll catch up soon
Let’s make it a point to


– É, acho que você tem razão... – A voz dela quebrou o silêncio, fazendo o estômago de Dougie revirar mais uma vez. Apenas por sua resposta. Não queria que ela tivesse dito aquilo, e sim que tudo que o garoto falara era bobagem, que eles deveriam estar juntos. – A nossa amizade é bem mais valiosa e eu não queria te perder... como amigo, sabe. – Ela acrescentou rapidamente, e Dougie sentiu uma estranha sensação de que queria chorar. – E como você mesmo disse, eu gosto do Don... e você vai arranjar alguém bem melhor que eu, tenho certeza. Então... é, vai ser melhor assim. Eu quero que você seja feliz também, sabe Dougie. Você merece... aliás, nós merecemos. 
Juliet abriu um leve sorriso e beijou a bochecha de Dougie antes de atravessar a porta da cozinha e finalmente deixá-lo sozinho. E, assim que teve certeza de que a garota estaria longe o bastante, Dougie levou a mão ao lugar que havia sido beijado por ela, perdido em pensamentos. Não era o que queria, não era do que precisava no momento, longe disso... Mas tinha que se contentar. Serviria

But your taste still lingers on my lips
Like I just placed them upon yours
And I starve, I starve for you
But this new diets liquid
And dulling to the senses
And it’s crude, but it will do... 
It will do. 


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