A Cinderella Story escrita por Queen Of Darkness


Capítulo 12
Capítulo 12




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a279;a279;O dia seguinte amanheceu justamente igual à Juliet: não tão bem. Sua cabeça latejava como se um ser vivo estivesse morando ali dentro e estivesse agora tentando sair, fora que já não sentia mais nenhuma parte de seu corpo devido ao frio. Mas pelo menos ela não teve que suportar a luz do dia tão forte, uma vez que, ao abrir os olhos esperando ter uma dor de cabeça ainda mais forte por causa dos raios de sol, encontrou apenas as nuvens nubladas e uma leve mas densa chuva atingindo a janela da cabine. E obviamente ainda havia o fato da roda-gigante London Eye não ter voltado a funcionar após os fogos de artifício, portanto ficando suspensa em ar até aquele mesmo momento. 
Esfregando os olhos, Juliet tentou enxergar o que se movia vagarosamente ao seu lado, apesar de que a tontura por causa da ressaca da noite anterior não lhe favorecia muito a vista. Mas ao que a visão voltava aos poucos ao normal, dava-se para ver que era um corpo. ‘E que corpo...’, mas esse não era o objetivo e nem a hora para pensar algo assim. Notou que o mesmo corpo tinha os cabelos bagunçados e só usava boxers. Boxers do piu-piu, na verdade, mas Juliet tentou ignorar para não rir. Sabia que a risada apenas iria piorar sua dor de cabeça. 
Viu, então, o corpo se mexer um pouco mais, e percebeu que ele estava acordando. 
– Bom dia – A voz do corpo ao seu lado disse calmamente, ao que se inclinava para lhe beijar os lábios. 
Pronto, foi o que Juliet precisou para ter um ataque e uma briga interna com a própria consciência. Ali, estirado ao seu lado e apenas de boxers, se encontrava o corpo semi-nu de Dougie. E, agora que havia parado para notar, ela não estava em suas melhores roupas também. Bom, na verdade, não estava em quase roupa alguma... Vestia apenas sua calcinha, e cobrindo seu tronco até mais ou menos a altura dos quadris, havia o moletom da Hurley que Dougie havia lhe emprestado na noite anterior. Como se não bastasse, viu que ao redor deles haviam várias garrafas de vodka e latinhas de cerveja vazias. Não precisou de mais nada para que o pior pensamento lhe viesse à cabeça: haveria ela dormido com ele? 
Juliet abriu a boca para falar algo, mas não emitiu nenhum som. Nisso, voltou a fechá-la e encarou Dougie em uma expressão extremamente confusa. Então, sentiu sua mandíbula quase que involuntariamente se projetar para baixo, como se tivesse se desprendido de seu crânio. Mais uma vez, ela voltou a sentir os dentes semi-cerrarem em quase que uma dentada, como se algo fosse entrar em sua boca se a deixasse aberta por mais algum tempo. Seus olhos apenas deixaram de encarar Dougie para passar a observar o que emitiu um barulho estranho um tanto distante deles:Danny havia acabado de soltar mais um de seus roncos, enquanto se acomodava sobre o corpo de Suzana, no qual estava abraçado. Ok, talvez o pensamento de ter dormido com Dougie lhe era muito estranho, mas sua melhor amiga ter dormido com Danny Jones já lhe parecia algo impossível.
Então, de repente, Juliet passou a olhar para Dougie em uma expressão aliviada e, na verdade, alegre. Era óbvio, como pôde ser tão burra? Ela provavelmente estava participando do programa Punk’d, aquele que o lindo do Ashton Kutcher apresentava. Claro, só podia ser. Se não aquilo, talvez fosse alguma piadinha de primeiro de abril... Mas eles não estavam em Setembro? 
– Juh, você quer voltar aqui, por favor? – Dougie pediu com a voz tão fofa que deixava Juliet com o coração na garganta. Ele se jogou de volta no chão, olhando para a menina com aquela expressão de cachorro sem dono. Ela sentiu seu estômago afundar naquela hora. – Você tá usando o meu moletom, e a única coisa que tava me esquentando eram vocês... 
Dougie abriu um sorriso que fora ao mesmo tempo maroto e extremamente meigo. Juliet não sabia o que queria fazer primeiro: estrangulá-lo por lhe torturar daquele jeito, ou pular em cima dele e o beijar com toda vontade como sempre quis. Mas a ‘brincadeira’ que seu estômago parecia fazer com a bebida da noite anterior a proibiu de mexer um sequer músculo, quanto mais beijar ou estrangular o garoto. – Juh? – Dougie voltou a chamá-la, agora preocupado com a expressão doentia da garota. – Você tá bem? Juliet havia sentido uma das piores sensações de sua vida: uma noite de excesso em bebidas. Agora sabia por que seu estômago parecia dar tantas voltas como em uma montanha-russa de quarenta loopings com direito a ficar de ponta cabeça ainda. E aquela fora provavelmente a primeira vez que realmente esperava que tudo aquilo que sentia fosse pela tortura queDougie fazia com ela, e não por causa da ressaca. Sabia o quão ruim era com elas... E, se não estivesse enganada, a aparência pálida e doente que tinha na face era porque havia sentido um indício de vômito. 
Mais uma vez, Dougie voltou a chamá-la, agora se levantando tamanha preocupação. Juliet apenas abriu a boca, dando graças à Deus que, quando o fez, não viu vômito saindo dela. Dessa vez, quando as palavras estavam finalmente para sair, um barulho que não fora o ronco de Danny a fez apenas gritar. Tanto tempo que demorara a finalmente conseguir falar algo, e tudo o que fizera fora soltar um berro? 
No mesmo instante, Suzana e Danny acordaram assustados. Talvez não tanto pelo barulho e pelo tranco que pôde ser ouvido e sentido logo em seguida, mas pelo jeito em que se viram: abraçados, como um verdadeiro casal de namorados. Suzana jogou o menino ao seu lado para longe ao perceber os olhares de seus amigos que aparentemente já estavam acordados. 
– O-o que aconteceu? – Danny perguntou rapidamente, tentando disfarçar a situação e de que estava extremamente corado. 
– Ah não – Dougie disse de repente, assustando todos ali. 
– Que foi? – Suzana perguntou, os olhos arregalados. – Desembucha, Poynter! O que você quer dizer com ‘ah não’? 
– A cabine... – Ele falava devagar, como se quisesse ter certeza. – O London Eye... 
– O que tem, Dougie? – Finalmente, algo havia saído da boca de Juliet. Que não fosse um grito, claro. 
– A gente tá... – Dougie levou segundos para finalmente conseguir completar a frase, mas quando o fez, saiu em um berro. – A gente tá descendo! 
Juliet e Suzana soltaram gritos de desespero, enquanto Danny soltava um ‘O QUE?!’ e Dougie tentava apanhar o máximo de garrafas vazias de bebidas que conseguia agüentar nos braços. Mas era tarde demais: em mais um tranco, a cabine parou de se locomover. Todos ali se entreolharam, deixando de fazer o que faziam antes; o pânico era grande demais para algum deles pensar no que fazer. 
Ainda intactos, exatamente do jeito que haviam parado, e ainda trocando olhares curiosos e assustados, os quatro adolescentes viram a porta da cabine da London Eye em que se encontravam se abrir. Ali fora, viram em cerca de dois seguranças, um homem junto a eles e uma aglomeração de pessoas mais atrás, apenas observando e rindo da cena. Na verdade, até Danny estava rindo: Dougie estava usando apenas boxers, enquanto Juliet era apenas coberta pelo moletom do garoto, deixando as pernas completamente nuas. Suzana, que não achava aquilo nada engraçado, e estava na verdade assustada e boquiaberta, deu um forte tapa no braço de Danny para que ele parasse de rir. 
Quando finalmente percebeu o que acontecia – Dougie ainda parecia estar completamente perdido –, Juliet correu para trás do garoto, enquanto tentava puxar o moletom mais para baixo. Além das pessoas estarem rindo e cochichando sobre aquilo, ainda estava chovendo e ventando forte. 
– Vocês poderiam, por favor, sair da cabine e nos acompanhar? – Um dos seguranças pediu seriamente, correndo os olhos pelos quatro, mas parando para observar melhor o par de adolescentes semi-nus. 
– Eu não! Você tá louco? – Juliet deixou escapar, se encolhendo completamente por causa do frio. 
– Juliet! – Suzana a repreendeu, lançando olhares significantes para ela. 
– Desculpe, mas isso não é um pedido, senhorita, é uma ordem. – O outro segurança falou, ainda mais sério. 
– Olha moço, você que me perdoe, mas tá MUITO frio – Juliet recomeçou, ignorando a expressão inacreditável de Suzana e as risadas abafadas deDanny. – Eu não saio daqui nem que me façam! 
– Pois iremos fazer você sair mesmo, se não for por conta própria! – Agora fora a vez do terceiro homem, que não aparentava nada ser um segurança. Ele usava um terno e tinha os cabelos disciplinadamente penteados; estava muito chique para uma visita ao London Eye. Juliet jurou ter visto ele em algum lugar, só não lembrava onde. 
– Juh, talvez fosse melhor a gente só sair e... – Dougie finalmente falou, sorrindo extremamente sem graça para os seguranças, o homem e as pessoas atrás. 
– Quem você acha que é pra falar assim comigo, hein? – Juliet o cortou rapidamente, levantando a voz para o homem bem vestido que já tinha as bochechas vermelhas e uma veia saltando de sua têmpora. – Aliás, quem você acha que é pra me tirar daqui à força? 
– O Primeiro Ministro. – O homem simplesmente falou, na verdade sorrindo marotamente pelo canto dos lábios. 
– A Rainha Elizabeth, por acaso? O senhor acha que tem algum poder sobre o London Eye, sobre Londres e sobre MI... – Juliet parou de falar bruscamente; a boca permanecia aberta pela frase não terminada e os olhos ainda mais arregalados. – Q-quem o senhor disse que era? 
– O Primeiro Ministro. – O homem repetiu, indiferente, como se fosse uma resposta óbvia. 
– Hehe, bom dia Primeiro Ministro – Juliet começou, rindo completamente sem graça enquanto procurava discretamente por suas calças, ignorando as risadas das pessoas e até dos seguranças. Nem mesmo Danny havia conseguido segurar mais, e Suzana e Dougie batiam nas próprias testas. – Como vai o senhor? Fazendo o que por aqui a essa hora? 
– Não sei se você sabe - vejo que não -, mas hoje é aniversário de 7 anos desde a abertura da London Eye – O homem explicou, agora na verdade calmo. Não poderia ser coisa boa, já que ele fazia questão em abrir no canto dos lábios um daqueles sorrisos malévolos e vitoriosos. – Acredito que ontem à noite você tenha reparado nos fogos de artifício? Ou não... – Ele deu uma breve mas significante observada em Dougie e Juliet, que estavam semi-nus. – Acho que a senhorita estava, anh... ocupada demais, digamos assim de passagem. 
Juliet apenas arregalou os olhos, abrindo e fechando a boca em torno de três vezes, mas nada saía dela. 
– Olha senhor – Dougie se pronunciou após alguns segundos em silêncio, tentando fazer com que a voz saísse o mais natural possível. – Nós precisamos de apenas alguns minutos para nos trocar e, então, poderemos resolver todo esse mal entendido. Porque não podemos sair assim lá fora, está chovendo. 
O homem fitou-os novamente e concordou, mesmo que de má vontade, que eles pudessem se trocar enquanto Danny e Suzana o acompanhavam para um enorme carro estacionado perto de Downing Street. 
– Vocês têm dez minutos... – Ele disse consultando seu relógio de pulso e guardando suas mãos cuidadosamente dentro dos bolsos de seu paletó. – Deixarei um de meus homens do lado de fora para acompanhá-los e levá-los até mim. Dez minutos e nada mais! 
Dougie apenas assentiu com a cabeça em um leve sorriso, agradecendo o homem. O mesmo fez um gesto quase que imperceptível e saiu com Danny e Suzana ao seu encalce. 
– Obrigada – Juliet murmurou, sorrindo pelo canto dos lábios para o garoto. Ele apenas retribuiu o sorriso e lhe entregou suas calças, rindo baixinho. 
Após acharem todas as peças de roupas, ambos recolheram todas as garrafas e latinhas de bebida vazias. 
Assim que Juliet jogou a última latinha de cerveja que vira no lixo, se virou para trás para encarar o que havia puxado sua mão. Ou melhor: quem havia puxado. Dougie havia entrelaçado ambas mãos uma na outra, e para seu grande espanto, ele segurava delicadamente seu rosto, parecendo admirar cada feição e traço de seu rosto. Sem esperar por aquilo, o garoto terminou com a distância entre eles, colando os lábios em um breve selinho. Juliet sentiu as maçãs do rosto queimarem, podendo jurar que elas não estavam nem mais vermelhas – agora provavelmente já haviam chegado ao roxo. 
Dougie já estava prestes a virar, quando foi impedido pela mão de Juliet. Ela sentiu o estômago afundar ao ver aquele doce sorriso no rosto do garoto quando voltou a encarar sua face. Se ele apenas não tivesse demorado tanto para fazer aquilo acontecer... Talvez existisse uma chance de eles estarem juntos. Mas sabia que agora era diferente. Por mais que não quisesse, por mais que estivesse cansada de sofrer assim, sabia de quem realmente gostava. E era de Don. 
– Dougie, eu... – Ela começou, hesitando primeiramente. Não sabia como lhe dizer aquilo. – Desculpa, mas... não dá. 
– O que não dá, Juh? – Ele perguntou confuso, agora acariciando levemente com os dedos as costas da mão de Juliet que o segurava. 
– Dougie, eu... – Não sabia como completar a frase. Não sabia e não conseguia. Era simplesmente difícil demais para ela, vendo que, não há muito tempo atrás, ela já fora apaixonada pelo garoto que, apenas agora, parecia sentir o mesmo que ela havia sentido por ele. Mas era tudo diferente agora, e não poderia iludi-lo... Com isso, suspirou profundamente em procura de coragem e, fechando os olhos, ela deixou sair com certa dificuldade: – Eu gosto do Don. 
As palavras pareciam ter acertado-a na boca do estômago, mas ainda assim imaginava que não teriam feito a metade do efeito comparado com queDougie parecia estar sentido. Juliet havia aberto os olhos para encarar o garoto, ver qual seria sua reação, e se arrependeu imensamente de ter o feito: a boca havia se contraído, os olhos estavam vermelhos e a face pálida, como se tivesse comido algo muito ruim e amargo que havia lhe feito mal. A mão de Dougie, que segurava a sua, caiu para o lado do corpo, deixando a mão de Juliet pendendo no ar. E, naquele momento, teve a certeza de que ninguém mais, nem mesmo Dougie a odiava mais do que ela mesma. 
– Dougie? – Ela o chamou, alcançando pela mão que o garoto havia, momentos antes, tirado. – Me desculpa, Dougie, eu não queria que acontecesse desse jeito. Mas... bom, digamos que você demorou um pouco para fazer isso. Eu... eu realmente gosto do Don agora, Dougie. 
Por ora, Dougie não falou nada, apenas retirou sua mão no mesmo instante em que Juliet fora segurá-la. E, como se para garantir, enfiou-as no bolso da calça. 
– Dougie! Eu já disse que... 
– Como você pode gostar mais dele? – Ele de repente perguntou, a voz mais cortante do que o próprio olhar. 
– Não é que eu gosto mais dele, Dougie, mas você tem que entender... 
– Não! Eu não entendo. – Ele agora berrava, dando cor às bochechas que antes estavam pálidas. – Você... você nem sabe quem ele é, Juliet. E ele não fez nem questão de se aparecer pra você! Não seria mais fácil se você simplesmente esquecesse que esse cara entrou na sua vida e seguir com ela normalmente? 
– Não é bem assim, Dougie! E eu sei que ele vai aparecer, ele só está... 
– Esperando o momento certo? – O garoto completou, olhando-a com completo cinismo e sarcasmo. – Eu acho que você tem razão quando disse que gosta de idiotas... 
– É, talvez eu realmente goste de idiotas, Douglas. – Juliet retrucou, agora já irritada com o comportamento de Dougie. Não esperava que ele fosse reagir de tal forma, por mais que o choque fosse um tanto grande pra ele. 
– É, e talvez você só não esteja enxergando o idiota certo! – Dougie berrou à plenos pulmões, sem medir as palavras e atraindo alguns olhares das pessoas para eles.
– E o que você quer dizer com isso? 
– Nada. – Ele respondeu rapidamente, arfando devido aos berros e ao frio que fazia. – Eu não quis dizer nada com isso. 
E, com isso, Dougie deu as costas a Juliet e começou a andar na direção ao imenso lago Thames. 
– Aonde você pensa que vai? – Ela berrou em certa indignação, antes que o garoto sumisse de sua vista. 
– E você se preocupa com o que? – Ele berrou de volta, virando-se para ela enquanto continuava a andar de costas. – Da última vez que chequei, eu não era o Don. Ou era? 
Juliet sentiu a mais completa ironia na frase de Dougie. O que ele queria dizer com aquilo? E ainda mais do que jeito com que falara... Mas não era exatamente isso que a deixava mais indignada, abismada e, principalmente, irritada com tudo aquilo. Era a reação de Dougie. Tudo bem se ele ficasse triste, tudo bem se ele ainda quisesse xingá-la apenas para aliviar sua raiva, mas nunca ela esperaria aquela exata reação, pelo menos não dele. Achava que Dougie seria uma das poucas pessoas que iria apoiá-la, dizer para seguir seu coração e defendê-la das críticas de Tom eSamantha. Mas ele estava na verdade fazendo exatamente o contrário daquilo: estava fazendo tudo que Juliet imaginou que ele não faria. 
– Quer saber, Poynter? – Ela recomeçou, berrando o máximo que conseguia como que para descontar a irritação. Observou Dougie virar-se para ela e, como antes, andar de costas sem ver onde pisava. – Vá pra onde você quiser, suma! Isso, suma da minha vida. Porque mais pessoas como você, me julgando e dizendo o que eu devo fazer, eu já estou cheia! CHEIA! – De algum modo que nem pareceu notar, ela fez questão em dar ênfase à sua última palavra. 
– Desculpe em te avisar, querida, mas se eu sumir da sua vida, o seu amorzinho Don Juan também irá sumir! – Ele berrou de volta, o sarcasmo parecendo ganhar forças cada vez mais em sua voz. 
Juliet abriu a boca para voltar a berrar com ele, mas logo a fechou. O que diabos ele queria dizer com aquilo? O que teria ele haver com Don? Por acaso eles eram a mesma pessoa e se Dougie saísse de sua vida, Don obrigatoriamente teria de fazer o mesmo? A única coisa que conseguiu fazer, com esse pensamento, foi rir. Dougie e Don, a mesma pessoa... Aquilo realmente até chegava a ser engraçado. Claro, não pelo fato de serem muito diferentes – porque, na verdade, eram até que surpreendentemente parecidos – ou de gostar mais de um do que do outro, mas sim pela situação: todo o tempo que passara com Dougie e ele nunca teria lhe dito que era Don? Sim, aquilo seria engraçado. 
– Sabe, eu, por um momento, por um único momento, achei que você seria diferente dos outros e iria acreditar em mim, iria me apoiar – Ela recomeçou, agora as palavras saindo cada vez mais alto de sua boca, o que não era o único sinal de sua irritação: involuntariamente, lágrimas começaram a escorrer dos olhos e rolar pelo rosto vermelho por causa da raiva e do vento que batia contra seu corpo. – Mas acho que você é como qualquer outro, né? Não, desculpa, isso já seria um insulto até mesmo pro Tom! Você não é como qualquer outro, porque você não quer o ‘melhor pra mim’ – Ela fez aspas no ar em um gesto quase que exagerado, ignorando os olhares das pessoas sobre ela. Não queria e nem iria parar de berrar ou chorar. Que se foda os outros, pensava. –, você só quer o melhor pra VOCÊ MESMO! 
Sem perceber, Juliet estava à apenas um metro de distância de Dougie, tendo andado até ele enquanto berrava. Como havia chegado até ele sem nem mesmo notar? E, para melhorar a situação, o garoto ainda a encarava seriamente, em um misto de expressão entre raiva e dó. Ela conseguia sentir o olhar dele sobre cada lágrima sua que escorria pelo rosto que agora deveria estar mais vermelho, quase ao vinho, como nunca havia chegado antes. 
Dougie abriu a boca, mas sem aquele ar que tinha antes onde tinha certeza que iria berrar com ela de volta. Ele parecia mais calmo, apesar do sarcasmo não ter sumido completamente de sua expressão. Juliet continuou a encará-lo diretamente nos olhos, vendo que ele fazia o mesmo, sem sentir vergonha nas lágrimas que ainda insistiam em rolar pesadamente sobre a face. Tudo aquilo que estava segurando para Tom ou para Samantha com aquele papo de ‘é para o seu bem’ veio à tona em Dougie, e Juliet não podia ignorar o fato de que estava satisfeita em liberar sua raiva em alguém e vê-lo sentir a mesma coisa que havia também sentido. Mas, antes que Dougie pudesse dizer qualquer coisa, foi logo interrompido. 
– Ah, aí estão vocês! – Ouviram a voz de Suzana ao longe, e ao se virarem, puderam ver a menina andando com certa dificuldade pela neve derretida da calçada até eles. – A gente já foi falar lá com o Primeiro Ministro... Bom, eu falei né, porque o Danny fez mais perguntas idiotas e... O que aconteceu? 
Juliet passou os dedos pelos olhos vermelhos e molhados com força, tentando enxugá-los antes que Suzana pudesse notar qualquer coisa, mas obviamente fora em vão. A amiga já lhe dava o típico olhar preocupado e confuso, perguntando apenas pela expressão o porquê de ela estar chorando. 
– Nada, foi o vento... – Juliet mentiu, ainda esfregando os olhos sem delicadeza alguma. – Entrou um cisco, foi só... 
– Juliet, você não me engan... 
Antes que Suzana pudesse completar sua frase, pôde-se ouvir um baque surdo atrás deles. Os três giraram as cabeças e conseguiram ver Danny estatelado no chão, murmurando todos os tipos de xingamento para a neve derretida e as ruas escorregadias. Dougie então, andando vagarosamente, passou pelas duas garotas, lançando olhares cheios de significância para Juliet em especial e seguindo para ajudar o amigo. Ela observou enquanto o garoto estendia a mão para Danny, e tudo isso para evitar o olhar de Suzana. Não queria lhe contar o que tinha acontecido, que tinha brigado com Dougie e chorado...
– Err, então... – Danny começou quando se aproximou das meninas junto de Dougie, corando levemente por ter caído e por perceber que tinha restos de neve em seu rosto. – A gente já ligou pro Tom, ele ta vindo pegar a gente. 
– Não, obrigada. – Juliet disse de repente, fazendo todos se virarem para ela. Mas, diferente de Suzana e Danny, que estavam confusos, preocupados e não entendiam o porquê daquilo, Dougie a olhou sem sentimento algum em sua expressão, como se não ligasse. Aquilo fez seu sangue subir fervendo. – Vou a pé mesmo. 
E antes que qualquer um dos amigos pudesse dizer algo, Juliet primeiramente levou os dedos na barra do moletom que usava e, em um gesto rápido, puxou-o para cima dos braços e, após passar por sua cabeça e estar livre de seu corpo, jogou com força a vestimenta contra Dougie, lhe retribuindo o olhar sem sentimento. Bom, talvez existisse algum sentimento ali, mas mesmo se houvesse, não era nenhum bom. Em seguida, murmurou algo inaudível mais para Danny e Suzana e deu as costas aos amigos, começando a caminhar lentamente enquanto chutava a neve derretida. Sentiu seu rosto queimar ao que, em um dos ‘chutes’, quase chegou a escorregar na água gelada. Parou, sentindo os olhares dos três em suas costas e, apertando os braços contra o corpo em uma tentativa completamente falha de se esquentar, continuou seu caminho. Em algum momento dele, chegou a ouvir a voz de Suzana, mas assim como ouvira aquilo, ouviu também Dougie murmurar em alto e bom tom: ‘deixa ela’. 
Nesse momento, seu sangue fervia e também parecia ter parado de circular, não sentindo mais as pontas dos dedos. Seu coração, aparentemente, havia ido parar na garanta e estava prestes a vomitá-lo, lembrando de tudo que Dougie havia lhe dito e do modo como a olhara. De todas as pessoas, ele era provavelmente a última que ela esperava aquela reação tão infantil. Até mesmo de Tom poderia esperar, sendo que era extremamente ciumento quando se tratava de Juliet. Mas não de Dougie... nunca de Dougie. Além do mais, simplesmente não via motivos para o garoto agir daquela forma. Ele não era como seu irmão mais velho, não era ciumento – até onde sabia – e nunca havia gostado tanto de Juliet da forma em que ela já gostara dele no passado. E, de qualquer jeito, era passado. Claro, ela tinha ainda suas quedas por Dougie, mas sabia de quem realmente gostava, e não era a opinião dos outros que iria mudar a sua. Afinal, não era o que todos sempre falavam: o que importa é o que a gentepensa? Sim, era isso. Que se foda os outros, iria começar a viver a vida para ela mesma
Não haviam passado dez minutos quando viu um carro preto andar extremamente devagar logo atrás de si. Por um momento, não ligou, mas quando viu que o motorista não iria desistir, apertou o passo enquanto sentia o medo tomar conta. Primeiro havia discutido com o Primeiro Ministro em pessoa sem ao menos saber que era ele; uma dúzia de pessoas haviam a visto semi-nua e pensado as piores coisas sobre ela; havia discutido comDougie e chorado... Agora alguém a perseguia? Dia perfeito, pensou. 
Mesmo andando o mais rápido que pudesse enquanto ao mesmo tempo tentava parecer discreta, o carro a alcançou e agora alguém abria o vidro do veículo. Juliet desviou o olhar e fez o máximo para parecer extremamente distraída e encantada com o passarinho da árvore ao seu lado. 
– Você vai continuar me ignorando, – A voz ao lado, de dentro do carro, começou, ainda observando atentamente mas de um jeito quase que entediante para ela. – ou vai entrar no carro? 
Juliet se virou, assustada com a familiaridade que tinha naquela voz. Fora provavelmente a primeira vez que sorrira no dia: ali no carro se encontrava Tom, e não um perseguidor maníaco como havia pensado que fosse. Colocou o pé na rua, pronta para entrar no veículo, se aquecer e ser consolada pelo amigo, mas um pensamento lhe veio na cabeça e ela logo parou o que antes fazia. 
– Não vou entrar. – Disse séria, cruzando os braços e fechando a cara. 
– O Dougie não tá aqui, ele foi a pé – Tom disse de repente, como se pudesse ler seus pensamentos. 
– Ah... – Juliet descruzou os braços e, um tanto sem graça, encolheu os ombros e deu a volta no carro, abrindo a porta do banco da frente de passageiro. Mas logo parou, encontrando o rosto de Danny ali, sorrindo abertamente para ela. – Danny? – Ela olhou para o fundo do carro. – Suh? 
– Você não achou que a gente também fosse a pé, né? – Suzana falou, sorrindo enquanto se abraçava à um cobertor. 
Juliet tentou fazer o máximo para abrir o maior sorriso, o que realmente não foi muito. Estava esperando encontrar Tom sozinho ali para poder conversar com o amigo e lhe contar tudo o que havia acontecido, assim recebendo a feliz oferta de Tom quando sempre queria lhe consolar: levá-la ao Starbucks para tomar um Moccha branco quentinho. 
– Danny, passa pra trás – Tom disse calmamente, batendo de leve nas pernas de Danny que estavam dobradas e agarradas aos braços, como na tentativa de se aquecer. 
– Aaaaah, porque? – O garoto perguntou em um jeito criança, fazendo os amigos rirem. 
– Porque sim, agora vai – Tom voltou a bater mais uma vez em suas pernas e, automaticamente, Danny pulou para o banco de trás, roubando o cobertor de Suzana e fazendo-a reclamar e começar uma pequena e típica briga deles. – Entra aí, pequena. 
Juliet, pela primeira vez desde a hora em que acordara, sentiu-se acolhida e um tanto feliz. Ouvir seu melhor amigo, seu irmão lhe chamar de ‘pequena’ era uma das coisas que mais lhe consolava e lhe alegrava quando estava triste. 
– Você vai levar a gente direto pra casa? – Juliet perguntou após alguns minutos de silêncio. – Digo, me levar pra minha casa... – Ela consertou, tristonha. 
– Você quer passar no Starbucks? – Tom sorriu ao que olhou a amiga ao seu lado pelo canto dos olhos e a via bater palmas animada. Era certo: ele conseguia de fato ler seus pensamentos. Juliet se inclinou e lhe deu um beijo na bochecha, murmurando um ‘obrigada’ em seu ouvido, realmente agradecida. O que seria dela sem Tom? – Mas depois tenho que te deixar na sua casa, tudo bem? Eu vou sair... A não ser que você queira ficar me esperando lá em casa. 
– Oferta tentadora – Juliet sorriu pelo canto dos olhos, fazendo o amigo rir. – Mas já que você vai sair, pode me deixar lá em casa mesmo. 
Tom apenas concordou em um aceno de cabeça. Em seguida, ao que o sinal de trânsito havia ficado verde e deixando-os passar pelo cruzamento da Downing Street, o garoto antes segurou delicadamente o rosto de Juliet e lhe beijou a testa. Ela apenas sorriu, se sentindo agora muito melhor. 
– Suh, você vem comigo? – Juliet perguntou após mais alguns minutos de silêncio, onde os quatro apenas ouviam a música que tocava do CD deTom: What Went Wrong, do Blink. Aquilo lhe lembrou terrivelmente de tudo que estava dando errado. E bem, a lembrou ainda mais de Dougie, que amava a banda tanto quanto ela. – Pra casa... – Ela adicionou, tentando afastar os pensamentos anteriores. 
– Claro. – Suzana concordou, enquanto batia no braço de Danny para que ele soltasse a grande quantidade de cobertor que havia puxado apenas para si mesmo. – Devemos ligar pra Eliza e pra Sam? 
– Yeap. – Juliet concordou. A idéia em ver as outras duas amigas que na verdade não via há algum tempo lhe alegrou, mas não demorou muito, imaginando que teria de contar a elas sobre o ocorrido no London Eye, antes que elas descobrissem por outras fontes. 
Não demorou um ou dois minutos a mais e os quatro já estavam parados em frente a uma conveniência imensa. Tom apertou um botão da chave do carro e, com um barulho, o veículo fechou automaticamente as janelas e se trancou. Juliet e Suzana foram na frente, abrindo a porta e dando espaço para Tom e Danny as seguirem. Enquanto Suzana parou para dar uma olhada nas revistas de fofocas, Danny ia em direção à vitrine de doces e Tom folheava algumas revistas sobre carros, Juliet correu extremamente rápido em direção à uma placa onde podia-se ler: ‘Starbucks’. 
– Ô moça, moça, moça, moça – Juliet chamou a atendente sem parar, não sabendo se aquele sorriso que ela lhe dera fora porque a achara muito infantil ou porque estava realmente irritada mas tentava não demonstrar. – Me vê um Moccha branco, por favor? 
A mulher apenas concordou com a cabeça, apanhou a pequena e dura plaquinha que Juliet e todos os clientes recebiam na entrada e a passou em uma máquina, que emitiu um barulho e uma luz vermelha, que marcava o pedido da pessoa. Em seguida, a atendente se distanciou para preparar oMoccha de Juliet, enquanto ela se virava e recostava suas costas no balcão. Observou Tom se aproximar lentamente dela enquanto segurava o famoso jornal The Sun nas mãos. 
– E aí, vai me contar o que aconteceu? – Ele perguntou de repente, passeando o olhar do jornal até Juliet. – O Poynter não quis entrar de jeito nenhum no carro e me disse pra se preocupar com você, que você estava por aí andando sozinha... 
– Uhm... – Ela respondeu simplesmente, não demonstrando nenhum interesse ou afeto pela ação solidária de Dougie. É claro que estava curiosa para saber o porquê da repentina mudança, se antes evitara olhá-la com qualquer sentimento na face, como se a odiasse tanto que nem ao menos conseguia demonstrar a raiva na expressão. Mas, ainda assim, fazia de tudo para Tom não notar nem sua curiosidade. 
– Não quer me contar mesmo? – Tom voltou a perguntar. Achou legal de sua parte não forçar nada, como normalmente faria apenas para saber o que havia acontecido entre os dois amigos. Agora ele parecia calmo, parecendo não querer magoar mais a amiga. Sim, ele provavelmente sabia o quão magoada estava... Ele sabia tudo sobre ela apenas por um olhar, o que poderia ser bom como ruim. 
– Pode ser depois, Tom? – Juliet pediu, encolhendo os ombros. Realmente não queria falar nem pensar sobre aquilo, pelo menos não naquele momento em que estava melhorando. – Juro que te conto, só não... agora. 
– Quando você quiser, pequena – E, com um beijo em sua testa, Tom sorriu e voltou a folhear o jornal na mesa em que Danny se encontrava devorando vários doces. Juliet apenas continuou sorrindo, observando a figura de seu melhor amigo distraído. 
– Está pronto. – Ouviu uma voz atrás de si e, ao se virar, viu a atendente apoiar a caneca com o símbolo da Starbucks sobre o balcão. Juliet agradeceu com um sorriso e se distanciou, indo em direção à Suzana, que continuava a folhear as várias revistas. 
– Vou ligar pras meninas. – Juliet avisou, apanhando o celular do bolso traseiro da calça jeans e o abrindo, já discando o número tão conhecido.Suzana apenas murmurou algumas palavras que foram impossíveis de serem reconhecidas, distraída demais lendo sobre o relacionamento acabado de Jennifer Anniston e Brad Pitt, e em como o ator havia a traído com Angelina Jolie. Juliet apenas riu e levou o celular ao ouvido quando terminou de apertar as teclas. 
– Alô? – A voz feminina, fina, meiga e que soava como a de uma criança disse do outro lado da linha. 
– Eliza? – Juliet perguntou, por mais que soubesse que era mesmo a amiga. 
– Juh? – A garota também perguntou, seguindo de um momento de silêncio e então as duas riram juntas. – Tá, a gente parece duas idiotas... Como você tá, honey? 
– Anh... bem. – Mentiu. – E você? 
– Bem também. – Elizabeth disse simplesmente, e Juliet pôde por um momento calcular os movimentos que a amiga fazia enquanto falava. Riu ao pensar nisso. – Gostou do ensaio dos meninos? 
– Ensaio? – Juliet perguntou, mais para si mesma. E então se lembrou: tanto havia acontecido que ela havia esquecido por um momento sobre o ensaio da banda dos garotos e fora dali que Dougie a levou para o London Eye junto de Suzana e Danny. – Ah sim, o ensaio... Foi bem legal... acho.
– Verdade que você e a Suh saíram com o Dougie e o Danny? 
– Bom, é... – Juliet encolheu os ombros. Porque agora todos pareciam querer lembrá-la dos dois piores dias de sua vida? – Mas hey, calma aí... Como que você sabe? 
– Eu... eu... – Ela gaguejou, extremamente sem graça. – Bem, o Harry me contou... 
– E desde quando você e o Harry andam se comunicando? – Juliet perguntou em tom provocativo. 
– Ah Juh, deixa isso pra lá, vai! – Elizabeth falou rapidamente, fazendo Juliet rir enquanto imaginava a cor que a amiga do outro lado da linha deveria estar. – E aí, me conta. Como que foi? 
– Então, sobre isso... – Juliet começou, medindo as palavras e mordendo o lábio inferior. Vai Juliet, você precisa contar pras suas amigas, pensou. – Eu queria conversar com vocês hoje, sabe... Digo, com você, com a Sam e com a Suh... 
– Com a Suh? – Elizabeth perguntou, sem entender. – Mas ela não tava lá com você? 
– Tava, mas... Eliza, só aparece lá em casa com a Sam às seis, ok? – Falou rapidamente, sem saber outro jeito de falar. – A Suh já vai estar comigo. A gente tá aqui com o Tom e com o Danny numa conveniência. 
– O Tom? – Elizabeth voltou a perguntar, novamente confusa. – E o Dougie? 
– Eu vou explicar tudo depois, tá? – Juliet falou, e sem esperar resposta, continuou rapidamente: – Só esteja lá com a Samantha. Amo você, beijo! 
E, com isso, desligou. Sabia que se passasse mais um minuto ao telefone sobre o interrogatório curioso de Elizabeth, iria acabar falando algo que não deveria. E tudo que queria falar iria ser dito quando elas se encontrassem em sua casa. E, naquele momento, não conseguiu parar de agradecer mentalmente sua mãe por ser desnaturada e tê-la deixado sozinha na casa para ir viajar para Liverpool, em algum SPA com sua amiga. Assim, estaria sozinha com suas amigas e ninguém ouviria a conversa delas. 

Eram quase seis horas da tarde e o sol já quase sumia entre os enormes prédios. O carro de Tom havia parado em frente à casa de Juliet, onde ela e Suzana desceram e se despediram dos garotos. Danny ia aproveitar que estava com sua mochila para dormir na casa de Tom e depois, segundo ele, convidar Dougie para uma partida de videogame na casa de Tom, já que o mesmo e Harry iriam sair com suas ‘namoradas’ misteriosas. Juliet não prestou muita atenção para àquilo: tudo e qualquer coisa que tinha o nome de Dougie envolvido não lhe interessava mais, a partir de agora. Ela havia decidido isso no caminho para casa e havia na verdade gostado de sua idéia, apesar de estar sendo um tanto difícil de cumprir tal tarefa. 
Assim que o carro preto em que se encontravam os garotos deu partida e sumiu pela esquina do próximo quarteirão, Juliet girou as chaves na fechadura e abriu a porta, contemplando o lugar que chamava de casa mas que, ainda assim, era o único recinto que menos permanecia ultimamente. Suzana, que adorava a casa da amiga, saiu correndo assim que a porta foi aberta e se jogou no sofá preferido da casa: uma daqueles que pareciam sofás de psicólogos, mas muito mais fofo, confortável, quentinho e... bom, era simplesmente bem melhor. Buddy, o cachorro que Juliet tinha desde que se conhecia por gente, pulou logo em seguida, ficando sobre Suzana e lambendo sua face. 
– Eu também tava com saudades, Buddy – Suzana começou, tentando se desvencilhar da língua do cachorro. – Mas cheg... Buddy! – Ela riu, reclamando que agora fazia cócegas. – Juliet, manda o Buddy sair de cima de mim! O gelado da língua dele faz cócegas! 
– Meu próprio cachorro prefere a retardada da minha amiga a mim – Juliet brincou, enquanto ria do dedo que Suzana lhe estirara e batia palmas para que seu cachorro saísse de cima da amiga. E ele assim o fez: pulou do sofá rapidamente e correu em uma velocidade surpreendente até a dona, pulando sobre ela apenas com as patas traseiras e quase a fazendo cair para trás com o peso do animal. – Cacete, o que você anda comendo, cachorro? Tá gordo... – Buddy apenas soltou um alto latido, como se entendesse o que Juliet falava e estivesse a respondendo. – Tá bom, vai – Disse, agora como se ela que tivesse entendido o que o cachorro quisera dizer. – Vamos lá que eu vou pegar comida pra você! Mas to dizendo, você ainda vai sair rolando por aí ao invés de correr. 
Em mais um latido, o cachorro seguiu a dona em direção à cozinha. No mesmo instante em que sumiu pela porta, pôde-se ouvir o barulho da campainha sendo tocada. Juliet, que estava ocupada dando ração à Buddy, berrou de onde estava para Suzana atender. 
– Hunf, a casa é sua e eu que tenho que fazer as coisas – Suzana reclamou em voz alta para que Juliet escutasse, logo soltando um resmungo ao ouvi-la responder algo como ‘se você não fizer as coisas, fica sem o sofá’. E como ela viveria sem o sofá da família Deppalier? – Fala girls! – Disse de repente, assim que abriu a porta e viu as imagens de Elizabeth e Samantha ali em sua frente. 
– To com fooooooome – Samantha reclamou assim que adentrou a casa, sem nem cumprimentar ninguém. 
– Oi pra você também – Suzana respondeu sarcasticamente, e quando foi a vez de Elizabeth entrar, ela largou a amiga sozinha para correr ao sofá e salvar seu lugar que Samantha queria pegar. – Sai Samantha, é meeeeeeeu! 
– E oi pra você também – Elizabeth falou no mesmo tom sarcástico, fechando a porta atrás de si. – Cadê a Juh? 
– Lá na cozinha dando comida pro Buddy – Suzana falou rapidamente sem olhar para a amiga, já que estava ocupada demais puxando a perna deSamantha, que berrava ‘água! água! eu desistooo!’ para que a amiga a largasse. Elizabeth apenas riu da cena e berrou pelo nome de Juliet. 
– To indo, meninas – Juliet berrou de volta da cozinha. 
– Aproveita e traz algo pra comeeeer – Samantha berrou de volta enquanto arfava, quando Suzana finalmente havia a soltado. Tudo por causa de um sofá? Apesar de que aquele ser realmente o melhor sofá que já existiu... 
Ao que Juliet apareceu na fresta da porta, Elizabeth deixou escapar um grito: Buddy vinha correndo em sua direção com a mesma velocidade que tinha feito há minutos atrás. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, se viu deitada no chão, berrando e sendo lambida por toda face pelo cachorro. 
– Juliet, quantas vezes eu vou ter que falar pra você adestrar esse bicho?! – Elizabeth berrou, tentando se livrar das enormes patas peludas do labrador. 
– Ai Eliza, como você é fresca – Samantha comentou, assoviando e chamando Buddy para ela. O cachorro obedeceu e correu em sua direção, sentando educadamente na ponta do sofá e deixando que a garota acariciasse sua cabeça. – O Buddy é o cachorro mais manso e bobo que eu já vi! Pior que poodle... 
– Mentira, porque a minha poodle é um amor, e o Buddy é extremamente diferente da Bella, tá? – Elizabeth retrucou, levantando-se com a ajuda deJuliet e batendo nas roupas para que os excessos de pêlos grudados ali saíssem. 
– Sua poodle é uma nojentinha – Samantha murmurou, girando os olhos e em seguida rindo ao ver que Elizabeth havia ouvido aquilo e gritado em protesto. 
– Mudando o assunto sobre cachorros – Juliet começou, ainda rindo da cena das amigas –, apesar de que eu concordo com a Sam - desculpe Eliza – Ela falou rapidamente, agora segurando o riso –, vamos subir pro meu quarto, gente? 
– Isso, vamos – Elizabeth concordou fervorosamente. – E deixar o Buddy aqui! – Acrescentou, fechando a cara quando Samantha lhe mostrou a língua. 
Juliet e Suzana apenas riram das duas outras amigas – Samantha provocava chamando Buddy para subir junto, enquanto Elizabeth dava berrinhos altos e tapas na amiga – e logo subiram as escadas que levavam para um corredor que separava dois quartos: o de Juliet e de seus pais. 
As garotas viraram à esquerda e entraram pela porta onde haviam vários sinaleiros como pôsteres e placas pendurados, e o maior deles era uma placa preta onde lia-se: ‘keep out!’ em letreiros grandes e amarelos – obviamente, o quarto de Juliet. Assim que adentraram o local, Elizabeth fechou a porta rapidamente atrás de si para ter certeza de que o labrador da amiga não entraria ali também. 
– Droga, será que a mamãe lembrou de alimentar a Pinky antes de ter saído? – Juliet perguntou mais para si mesmo, enquanto abria duas portinhas de um armário abaixo de sua escrivaninha. 
– Não me diga que você ainda tem... isso. – Samantha disse entre os dentes, contraindo o rosto em uma expressão de extremo nojo. 
Juliet apenas riu do modo como a amiga referia ao seu querido ‘animal de estimação’. Pinky, como dera o nome, era um bicho pequeno, peludo e de várias patas que era mantida em algo parecido com um tanque de tamanho médio de vidro. Agora você pensa: o que é pequeno, peludo, tem várias patas e é preso em um tanque de vidro? Sim, era exatamente o que Samantha mais temera quando soube que sua amiga havia comprado aquela ‘coisa’, como gostava de chamar tão carinhosamente. 
– Juliet, como você pode ter uma aranha de bicho de estimação?! – Samantha perguntou indignada, a expressão enojada ainda na face. – Cachorros são bichos de estimação, gatos são animais de estimação, e pingüins! Pingüins, isso seria um bichinho legal para se ter. Mas aranhas? Você deve ter problemas! 
– Pingüins? – Suzana perguntou, rindo com as amigas. – E depois a Juh que tem problemas? 
– Hey, pingüins são fofos! – Samantha retrucou, dando a língua. – Mas uma aranha... – Ela acrescentou, em seguida se arrepiando exageradamente.
– Ah, porque de um cachorro de meio metro, forte e violento você não tem medo, mas tem de animais pequenos que são inofensivos! – Elizabeth retrucou, encarando Samantha de braços cruzados. 
– Inofensivos, é? – Suzana perguntou e, quando Elizabeth havia virado para a amiga para respondê-la, a única coisa que conseguira fazer fora berrar, e muito alto: Suzana estava segurando a aranha em suas mãos e enfiava na cara da amiga. 
– AAAAAAAAAAAAH! Tira isso daqui, Suzana! Tira, tira, tira! – Elizabeth abanava as mãos como se uma mosca sobrevoasse sua cabeça e ela quisesse o acertar. 
– Você dizia o que, Elizabeth? – Samantha perguntou completamente sarcástica, também cruzando os braços como a amiga antes e fazendo as outras rirem. Elizabeth apenas mostrou o dedo para ela e fechou a cara. 
– Você tem um zoológico aqui na sua casa, Juh... – Suzana comentou, enquanto colocava a aranha Pinky de volta onde antes se encontrava. 
Juliet realmente tinha praticamente a floresta Amazônica inteira em sua casa: fora Buddy, o labrador, e Pinky, a aranha, ela também tinha um cachorrinho de pequeno porte da raça lhasa apso chamado Sam que sua mãe sempre levava consigo em viagens, como nessa que havia ido – os dois pareciam não se desgrudar, e Sam era o único animal que sua mãe gostava –, dois peixinhos chamados Cosmo e Wanda – nomeados assim por causa de seu desenho favorito, os Padrinhos Mágicos –, um hamster chamado Tim e um sapo chamado Trevor. Havia também comprado do próprio zoológico uma cobra recém-nascida que nomeara Ella, mas nem sua mãe nem o zoológico haviam a deixado levar o animal para seu quarto, então sempre que podia, Juliet ia até lá visitar a cobra de agora quase um ano. 
– Gente – Juliet finalmente chamou as amigas que pareciam não se aquietar. Suzana fazia caretas para os peixinhos dourados Cosmo e Wanda, enquanto Samantha ameaçava abrir a porta para deixar o labrador Buddy entrar, fazendo com que Elizabeth brigasse aos berros com ela. – Gente, eu preciso falar com vocês. Ou vocês realmente acharam que eu chamei vocês aqui pra apreciar essa zona? – Ela riu. 
– Mal educada – Samantha reclamou, fingindo estar extremante ofendida. – Hey, eu quero comida! 
– E depois a Juh que é mal educada? – Elizabeth perguntou, rindo de Samantha e a fazendo lhe dar o dedo. – Mal educada, folgada e violenta ainda!
– Mas eu estou com fooooooome, ué! – Samantha voltou a reclamar, passando a mão pela barriga. 
– Credo Samantha, você tá parecendo o Jones – Suzana comentou, rindo alto. 
– Gente... – Juliet voltou a chamar ao que a bagunça e as vozes das amigas aumentavam mais. 
– Ih, olha a apaixonadinha! – Elizabeth falou, apertando as bochechas de Suzana e fazendo-a corar intensamente. – Ai Jones, ui Jones... 
– Cala a boca, Elizabeth! – Suzana retrucou, tirando as mãos da amiga de seu rosto e mostrando o dedo para a mesma e para Samantha que riam. 
– Uhm, gente? 
– Ops, o que é isso? – Samantha perguntou cinicamente com as mãos na boca, enquanto mexia no celular de Suzana. – Por acaso é o número do...Jones aqui, Suzana? Aquele Jones que você vivia reclamando em ser o ‘maior loser da escola’? 
– Me devolve isso, Samantha! – Suzana disse, alcançando o celular nas mãos da amiga e fazendo-a rir por seu rosto estar quase púrpura naquele momento. – E, pelo que eu saiba, você dizia o mesmo sobre o Fletcher... – Acrescentou, abrindo um sorriso provocativo nos lábios. 
– Geeeeeeeente? 
– Cale a boca, Suzana – Samantha retrucou, agora sendo sua vez de ter as maçãs do rosto vermelhas. – O Fletcher é o maior loser da escola e sempre será! 
– Então quer dizer que a rainha pop da Samantha está gostando do loser da escola? – Agora fora a vez de Samantha ter as bochechas apertadas por Elizabeth. 
– O que você tá falando, Elizabeth? – Samantha perguntou batendo no braço da amiga e deixando-a confusa e, como que para ‘completar’, também corada. – Você ama o Judd! Harry and Eliza, sitting in a tree – cantou, enquanto ria com Suzana. –, K-I-S-S-I-N-G
– GENTE! – Dessa vez, Juliet deixara um berro escapar de sua boca enquanto arfava tamanho fora o fôlego que havia tomado para berrar daquele jeito, e sentia agora suas bochechas também vermelhas, mas não de vergonha, e sim de irritação. 
As três, que antes falavam sem pausa, subitamente pararam e encararam a amiga um tanto assustadas. Elas se entreolharam e em seguida murmurando pedidos de desculpas. Juliet, por um momento, sentiu-se sem graça por perder o controle daquele jeito na frente delas, mas manteve a pose de quem parecia estressada e pretendia por ordem naquilo. Mandou-as sentar em um sussurro, mas ela mesma permaneceu-se em pé. 
– Eu... eu preciso falar com vocês. S-sério. – Ela começou, andando de um lado ao outro do quarto e corando quando sentiu as palavras saírem atropeladas de sua boca. 
– Odeio assuntos sérios – Samantha comentou baixinho, reclamando e logo calando-se quando Elizabeth lhe deu um tapa para que prestasse atenção na amiga que antes falava. – Er, desculpe... – Acrescentou, sem graça. 
– Vocês não precisam ter medo de mim ou de falar também – Juliet comentou um tanto irritada, mas ainda assim rindo baixinho. 
As quatro entraram em um silêncio horrível, no qual passaram a fitar umas às outras. Juliet pensou em como, em anos de amizade, nunca havia presenciado uma situação daquelas com suas melhores amigas. E desejou nunca mais presenciar também. 
– Então, você queria falar com a gente? – Elizabeth finalmente perguntou, cortando o silêncio. – Algo sério? 
– Ah sim – Juliet disse como se estivesse acabado de lembrar, e, parando de roer as unhas, suspirou tão profundo que uma pontinha de coragem pareceu brotar nela. Ou pelo menos esperava. – Eu... bom, eu realmente não sei como começar a contar... nem como continuar nem terminar, caso arranje um jeito de primeiro começar. – Ela falou, extremamente nervosa, não ligando pelo fato de já estar confundindo as amigas com as palavras enroladas. – Mas eu preciso contar... o que... bem, o que aconteceu... ontem. 
– Ah, isso eu já sei! – Suzana de repente falou, sorrindo e abanando as mãos. – Eu estava lá, 
– Não Suh, você não sabe o que aconteceu – Juliet respondeu de um jeito meio que misterioso e sombrio, assustando tanto Suzana quanto as outras duas. – Sabe, aconteceu enquanto você e o Danny dormiam e... eu não sei como justo aquilo foi acontecer... bom, acho que eu tenho uma idéia: as bebidas. Mas nunca imaginei em chegar naquele ponto, e... 
– Você pode parar de dar ênfases nas palavras para não nos deixar tão curiosas, já que você aparentemente vai enrolar pra contar? – Elizabeth pediu, rindo. 
– Desculpe – Juliet disse sem graça, encolhendo os ombros e tentando também sorrir, apesar de não ter exatamente sucedido. 
– Conta logo, Juliet! – Samantha pediu ansiosa, balançando as pernas e roendo as unhas. 
– Ah, bem... como vou falar isso? – Juliet perguntou mais para si mesma, enquanto parecia conversar consigo mesma como se, quando fosse falar para as amigas, não errasse ou fizesse alguma besteira. – Eu e o Dougie... bom, a gente... nós... 
– Bom, pelo menos sabemos que é algo com vocês dois, obviamente – Elizabeth voltou a brincar, rindo. Queria ser calma como ela. 
– Fala looooooogo! – Suzana pediu, agora tão ansiosa quanto Samantha, já que não mordia as unhas, e sim as próprias pontas dos dedos. 
– Nós... – Juliet inspirou novamente, fechando os olhos e continuou, com toda a coragem e força que tinha, apesar de não ser muita. – Nós... fizemos... 
– Fizeram o que? – Samantha perguntou inocentemente, virando levemente a cabeça para o lado como um cachorrinho. 
– Bom, nós... fizemos
Samantha, por um momento, abriu novamente a boca já em uma expressão irritada para reclamar, mas em seguida, fez o que Juliet mais tinha medo: não a fechou. Apenas continuou com ela escancarada, como se tivesse descolado de seu crânio, mas a expressão não era confusa agora, e sim assustada e abismada, os olhos extremamente arregalados. Elizabeth não estava muito diferente também: na verdade, estava igual à Samantha, a única diferença entre as duas era que Samantha agora havia se tornado mais pálida do que normalmente já era, e Elizabeth ainda tinha sua cor normal. Suzana, por sua vez, continuava a fitar Juliet normalmente, provavelmente ainda esperando pelo final da frase que não veio. 
– Como assim? – Suzana perguntou, na mesma voz inocente que Samantha havia feito minutos atrás. – Fizeram o que, meu Deus? E porque você tá pálida, Eliza? 
Elizabeth, como em um ato automático, virou-se para Suzana e, tampando a boca de lado com sua mão e a encostando-a na cabeça da amiga, sussurrou algo em seu ouvido. Rapidamente, Suzana imitou as faces das amigas: os olhos e a boca tão escancarados quanto. 
Juliet, que antes pensara em como não gostaria de viver mais um daqueles silêncios horríveis de antes com as amigas, estava o presenciando novamente naquele momento. Mas daquela vez era bem pior, uma vez que as três a encaravam em expressões horrorizadas, como se a julgassem apenas com o olhar. Juliet não sabia se ficava irritada ou desesperada, então resolveu optar pelos dois. 
– Vocês realmente vão ficar aí me olhando como três idiotas ou vão falar algo? – Ela começou, vendo que nenhuma das amigas iria tomar a iniciativa. – Falar, julgar, xingar... seja lá o que forem fazer, façam! 
– C-como? – Foi tudo que Elizabeth conseguiu falar, ainda chocada. 
– Você realmente quer saber como, Eliza? – Juliet perguntou ironicamente em um sorriso afetado. Odiava o humor em que ficava quando coisas como aquela aconteciam. Sabia que estava errada e, ainda assim, o orgulho falava mais alto. E sua saída para tudo sempre parecera ser as piadinhas irônicas. 
– Mas você... você ainda era... você sabe... – Suzana perguntou, arrastando e medindo cada palavra como se pudesse ser presa se falasse normalmente. 
– Você quer dizer virgem? – Juliet simplesmente perguntou, em um tom de voz quase que entediado. Estava sendo extremamente rude daquele modo, mas o silêncio e choque das amigas estavam a incomodando. Ainda mais de Samantha: sabia que ela iria lhe dar a maior bronca, maior do que a de Tom se soubesse, então porque não parava de enrolação e já ia direto ao ponto de uma vez? – Sim, eu era virgem. 
O silêncio voltou a reinar sobre o quarto. Sabia que, se dependesse de Samantha, ficariam assim pelo menos até amanhã; Suzana era meio que inocente demais para continuar um assunto como aqueles – sabia que a menina tinha até receio de comentar sobre aquelas coisas mesmo em aulas de Biologia; então Juliet apelou pela sua última esperança: Elizabeth. A amiga sempre a ajudava quando estava com problemas, especialmente se eles se relacionassem de alguma forma à Samantha. Ela sempre lhe dava uma força para não fazer com que nenhuma matasse a outra. 
Agradecendo à amiga e a todos os deuses que lembrava, Elizabeth pareceu notar o olhar suplicante de Juliet sobre ela. Levou alguns minutos para se recuperar o máximo que podia – não completamente, é claro, mas de qualquer jeito ela sempre entendia mais dos problemas dos outros –, mas pelo menos por ora. 
– Bom, vocês pelo menos usaram proteção, certo? – Elizabeth finalmente se pronunciou, mas após perceber o que a amiga havia perguntado, Juliet desejou que ela não o tivesse feito. Tinha muita certeza de que, se estava bêbada o bastante para fazer aquilo com Dougie, a última coisa que iria lembrar era sobre camisinhas. 
– Sim. – Mentiu, tentando ignorar os olhares das amigas. 
– Menos mal, menos mal... – Elizabeth disse enquanto acenava freneticamente a cabeça em nervoso. 
As quatro entraram em silêncio mais uma vez, e, pela primeira vez, Juliet preferiu que tivessem continuado daquele jeito à ter que finalmente enfrentar a voz de Samantha: 
– Mentirosa. – Ela simplesmente disse com a voz cortante, assim como seu olhar sobre a amiga. 
– Que? – Juliet perguntou, desentendida. 
– Eu disse mentirosa – Samantha repetiu lentamente, como se Juliet fosse retardada ou algo do tipo. 
– E o que você quer dizer com isso? – Perguntou tentando parecer ofendida. Mas que mania de Tom em saber tudo que passava em sua mente! 
– Quero dizer que você está mentindo, ué. – Ela disse mais uma vez em voz de serenidade cínica. Odiava aquilo em Samantha mais que tudo: sabia que, quando estava mais nervosa, fingia-se de calma, tendo então o poder de deixar a outra pessoa nervosa. 
– E como você pode saber que eu estou mentindo? – Juliet perguntou, agora já irritada com aquela falsa tranqüilidade da amiga. – Não acredita em mim? 
– Não. – Ela simplesmente respondeu em um sorriso cínico: a resposta que Juliet nunca esperara. 
– Quer saber? – Começou, andando em passos firmes até a porta e a abrindo com força. – Acho que não foi uma boa idéia trazer vocês aqui apenas pra contar isso. Vocês não me ajudam nem me apóiam de qualquer jeito, e repito o que disse pro Poynter: não preciso nem quero mais pessoas para me julgar. Estou cansada e quero dormir, amanhã a gente se fala. 
E, com isso, Juliet ficou parada ali esperando que suas amigas passassem pela porta segurada aberta para elas. Sabia que iriam protestar, principalmente Samantha, que iria agora querer ficar ali até saber a verdade, do que realmente havia acontecido. Mas, para sua surpresa, Samantha foi a primeira a se levantar, sem abrir a boca, e se dirigiu até a porta. Murmurou algo para as outras duas para que elas fizessem o mesmo, e, lentamente, elas fizeram. Suzana, ao que passou, lançou à Juliet um olhar de desculpas e ainda de choque; Elizabeth, por sua vez, sorriu fracamente à ela e, após lhe dar um forte abraço que quase fez Juliet cair sobre seus braços e começar a chorar desesperadamente, disse que ligaria amanhã de manhã. 
Juliet assistiu as amigas sumirem pelo corredor, e continuou ali segurando a maçaneta até ouvir os barulhos de passos cessarem e a porta de entrada lá debaixo se fechar atrás da última delas em um click. Bastou isso para que deixasse as lágrimas rolarem pesadamente dos olhos e esmurrasse a porta tamanha era sua raiva, aproveitando que sua mãe não estava ali para lhe perguntar o que havia acontecido. 
Como quase que em um ritual para estados daqueles, Juliet sentou-se na ponta da cama, perto de seu criado-mudo e abriu uma das gavetas. De lá, tirou um porta-CDs e começou a revirá-lo à procura de algum em especial. Assim que pode ver, no CD, a foto dos rostos de duas meninas, onde embaixo podia-se ler ‘Aly & AJ’, apanhou-o e colocou-o no som para tocar. Sempre que se sentia depressiva ou até mesmo um pouco para baixo, ela pegava seus CDs secretos de boybands ou cantoras melosas e ouvia o dia inteiro, como para ‘afogar suas mágoas’. 

I am moving through the crowd
Trying to find myself
Feel like a guitar that's never played
Will someone strum away? 

And I ask myself
Who do I wanna be? 
Do I wanna throw away the key? 
And invent a whole new me
And I tell myself
No one, no one - don't wanna be
No one but me
 

Juliet caminhou até o banheiro e, vagarosamente, como se tivesse todo o tempo do mundo, despiu-se e deixou as roupas ali jogadas no chão. Vestiu seu roupão devido ao frio que fazia e, em seguida, girou a torneira e deixou a água quente despejar sobre sua banheira, enquanto a enchia de uma substância líquida que fazia a água espumar e fazer bolhas. 

You are moving through the crowd
Trying to find yourself
Feeling like a doll left on a shelf
Will someone take you down? 

And you ask yourself
Who do I wanna be? 
Do I wanna throw away the key? 
And invent a whole new me
Gotta tell yourself
No one, no one - don't wanna be
No one but me
 

Enquanto esperava a banheiro se encher por completo, Juliet subiu em um impulso forte com os pés na bancada da pia. Balançou os pés freneticamente em sinal de nervosismo, enquanto forçava a si mesma a não chorar. Virou-se delicadamente para não derrubar nenhum objeto que a rodeava e, ao se olhar no espelho, não conseguiu evitar uma careta: sua maquiagem de ontem havia parcialmente sumido, mas o pouco que lhe restara estava borrado. Os olhos e toda a face estavam inchados devido ao choro constante, e os cabelos pareciam um tanto ressecados. 
Porque, pensou, apenas um garoto conseguia fazer tudo aquilo a ela em um dia? Um simples garoto tinha o poder de destruir seu dia e a si mesma... Mas, como? 

Your life plays out on the shadows of the wall
You turn the light on to erase it all
You wonder what it’s like to not feel worthless
So open all the blinds and all the curtains
 

Juliet desceu da bancada em um pulo ao ver que a água estava quase transbordando da banheira. Girou as torneiras e o jato parou instantaneamente. Retirando agora o roupão e também o deixando jogado pelo chão, ela entrou primeiramente a perna na água quente, que já fez seu corpo gelado estremecer e arrepiar. Em seguida, passou a outra perna para dentro e logo o corpo inteiro, deitando-se e encostando a cabeça na beirada da banheira. Fechou os olhos, pensando em tudo que havia acontecido... Era simplesmente demais para um dia só, para uma pessoa só. Nunca tivera de agüentar tantas emoções juntas em menos de 24 horas. 
A música tocava em bom e alto volume, e Juliet se sentiu imensamente agradecida por não ter nenhum dos pais na casa para mandá-la abaixar aquilo que adoravam chamar de ‘barulheira’. Para ela, aquilo não era barulho algum para os ouvidos, e sim um relaxamento. Um relaxamento tão grande que, devido ao extremo cansaço da garota, acabou acidentalmente caindo no sono ali mesmo. 

No one - no one, don't wanna be 
No one but me
We are moving through the crowd...
 


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Notas finais do capítulo

Nhaaaaaaaaaaaaaaaée .-.
Postei



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