A Cinderella Story escrita por Queen Of Darkness


Capítulo 14
Capítulo 14




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– Ninguém vai emboooora! – Tom anunciou, assim que Juliet passava pela porta da cozinha e se juntava novamente aos outros na sala. O menino, assim, ganhou todos os olhares. Ele foi até a janela mais próxima e, puxando as cortinas rapidamente, deu vista aos amigos para que vissem o que se passava lá fora: o mundo parecia estar acabando. As árvores davam a impressão de que iam quebrar ao meio e cair, algumas coisas voavam tamanho a força do vento e a própria janela da casa parecia que estouraria devido à violência das gotas grossas e pesadas da chuva que batiam no vidro. – Deus resolveu castigar hoje os homens pelo que estão fazendo com o mundo com o negócio do aquecimento global, sabe, então vamos nos prevenir e ficar aqui. Digo, é Deus, certo? Ele é poderoso. 
Os amigos apenas riram, e Tom saiu correndo em um momento que Harry e Danny fizeram menção de fazer montinho nele. Enquanto os três corriam pelos corredores da casa, pararam de supetão ao passar pela porta da cozinha e encontrarem um Dougie cabisbaixo saindo de lá. Harry, que aparentemente sabia o que se passava, parou de correr atrás de Tom e puxou o amigo pelo colarinho da camiseta de volta para dentro do local, e em seguida puxando os outros dois também. Fechou a porta em um baque surdo, deixando as meninas se entreolhando, confusas. 
– Ok, o que aconteceu dessa vez? – Harry perguntou, após se certificar que havia trancado bem a porta e que não ouvia barulhos por perto da cozinha. Ué, meninas eram xeretas e fofoqueiras, vai que elas resolveram ouvir a conversa deles? Ele não duvidaria. 
– Hein? – Dougie apenas perguntou, realmente sem entender o que se passava. 
– Larga de ser tosco, Poynter – Harry disse irritado, abrindo a geladeira e tirando de lá quatro cervejas. Tom agradeceu, escorregando uma das garrafas pela mesa em direção à Dougie e batendo na nuca de Danny, uma vez que o menino comemorava com pulos e berros exagerados que iria beber uma cerveja. Os outros dois apenas ignoraram. – Olha a sua cara, parece até que estava... chorando
Tom e Danny repentinamente caíram na risada, fazendo Dougie amarrar a cara e lhes lançar um olhar mortal por detrás da garrafa de cerveja que virava garganta abaixo. 
– Imagina o Poynter chorando – Danny disse entre as risadas, mas logo parou ao receber um tapa na cabeça dado por Harry. – O que? Seria realmente engraçado. E aliás, porque ele estaria chorando? 
– Por causa da Juh – Harry disse simplesmente, ignorando o fato de Dougie ter praticamente cuspido metade da cerveja que havia ingerido naquele momento. 
– Judd, seu monte de bosta! – Dougie ralhou, olhando de Harry para Tom e Danny, que seguravam os risos. 
– Ah, qual é – Harry disse, sentando-se ao lado de Dougie na mesa e dando um longo gole de sua bebida antes de continuar. – Não vejo nada demais chorar por causa de uma garota, diferente desses dois machistas. O problema é que você não pode chorar pela Juh, se é você mesmo que tá se machucando assim. 
– O que você quer dizer com isso? – Dougie perguntou, ignorando os olhares dos dois outros amigos sobre ele e Harry. 
– Desde quando o Judd virou Hitch, o conselheiro amoroso? – Danny perguntou em um murmúrio para Tom, mas, para sua infelicidade, Harry havia ouvido e lançado a tampinha de sua garrafa nele. 
– Hey, hey, caras – Tom chamou de repente, olhando confuso e curioso de Harry à Dougie. – Porque você choraria pela Juh, de qualquer jeito? Digo, eu sei que você já gostou muito dela e ainda tem umas quedas, mas ela está com aquele Don... ou estava, né, porque foram esses dias mesmo que ela me ligou praticamente aos prantos por causa desse babaca. Eu juro que se encontro ele na rua... 
Nem Harry tampouco Dougie respondeu àquela pergunta, mas apenas se entreolharam, receosos. Bom, na verdade Dougie estava com medo; Harry apenas lhe lançava olhares reprovadores. Não havia contado à Danny e muito menos, nem em seus sonhos, para Tom que ele era o verdadeiro Don. Apenas para Harry; sabia que ele sim era o único que entenderia aquela situação. Mas sabia que aquela era a hora, pois se não o fizesse agora, nunca mais teria a coragem. Vai que Tom entendesse e o ajudasse? 
– Que foi? – Tom perguntou ao perceber a seriedade repentina de Dougie e Harry. 
– Ok, esse momento provavelmente chegaria, e acho que estou preparado para falar – Dougie disse de repente, balançando freneticamente a cabeça em afirmação quando Harry encostou em seu ombro e perguntou se tinha certeza daquilo. Tom e Danny apenas se encaravam, segurando a risada devido aquela cena. – Tom, por favor, tente se controlar e não me matar. Sabe, eu ainda sou muito novo para morrer, e tenho muito, mas muito medo da morte... 
– O que você fez agora, Poynter? – Tom começou, já suspirando profundamente como se estivesse se preparando para o que iria ouvir. – Quebrou o vaso de casa? Calma, VOCÊ NÃO FEZ NADA COM O MEU FILHO, NÉ? 
Sim, o filho de Tom era seu instrumento. 
– Quem me dera se fosse só isso... – Dougie disse em um suspiro, tomando toda a coragem que conseguia. Como iria contá-lo aquilo? – Eu... eu... 
– Você? – Tom repetiu, em um tom quase que entediado, rindo com Danny. 
– Eu... – Dougie olhou de esguelha para Harry, quase que lhe suplicando por ajuda. Não conseguiria falar, não tinha coragem. E se morresse? Já imaginava até as manchetes: “Garoto de 17 anos é morto pelo amigo ciumento”. – Eu te amo. – Disse, de repente, em um sorriso extremamente forçado, enquanto ignorava os berros de indignação de Harry e os risos exagerados e extremamente altos de Danny. 
– SAI PRA LÁ, MOLEQUE! – Tom berrou, segurando o riso, mas ainda assim muito confuso com tudo aquilo. – Sou macho! 
– Ah, mas você é um amigo tão bom – Dougie continuou, indo em direção à Tom e lhe dando um abraço tão falso que provavelmente até Danny havia notado algo de estranho. – Obrigada por ser assim, Tom! 
– Não, não é isso que você ia dizer, Poynter! – Harry berrou, empurrando Dougie para longe de Tom. 
– Cale a boca, Judd – Dougie berrou de volta, correndo e voltando a abraçar Tom. 
– Conte a verdade, Poynter, pare de ser gay! 
– Mais gay que ele tá sendo? – Danny perguntou ironicamente, ainda rindo. 
– Parem vocês dois! Três. – Tom consertou, também não contendo a risada. – Dá pra alguém explicar porque vocês dois estão tão... estranhos? Mais que normalmente. 
– Muito obrigada, Judd! Você ajudou muito! – Dougie disse sarcasticamente, estirando o dedo para o amigo. – Puxar o saco antes é sempre bom, sabe? Aí ele não fica com tanta vontade de me matar! 
– Ah, então era isso que você estava tentando fazer... – Harry falou baixinho, em uma pose pensativa. 
– Chega! – Tom falou alto, quase em um grito, e agora parecendo um tanto sério. Olhou de Dougie à Harry, ignorando a presença de Danny. – Você tava querendo fazer o que? Porque quer puxar meu saco? Porque eu vou querer te matar? ME DIZ LOGO, CACETE! 
– Eu te disse que iria acalmar ele, mas nãão, você tinha que se meter, né Judd? – Dougie sussurrou irritado para Harry, que soltava risadinhas incomodadas. Ambos logo pularam de susto quando Tom começou a tacar o resto das tampinhas das garrafas neles, berrando mais uma vez para começarem a se explicar. – Tudo bem, Fletcher, tudo bem, eu vou te explicar, mas PELO AMOR DE DEUS ABAIXA ESSA GARRAFA! Isso, calmo... Agora, você tem que me prometer algo antes, tudo bem? 
– Eu não vou te prometer nada, Poynter! – Tom retrucou, visivelmente irritado com a enrolação do amigo. – Desembucha logo! 
– Não, você precisa me prometer algo antes! – Dougie insistiu, ignorando os comentários de Harry, que murmurava ao seu lado coisas como: “foi bom te conhecer, cara” ou “nunca vamos achar alguém tão bom quanto você para te substituir na banda”. 
– Tá bom, Poynter, que seja – Tom finalmente disse entre um longo suspiro, que pareceu mais um bufo. – Eu prometo... anh, o que eu prometo? 
– Que você NÃO vai me matar depois que eu te contar – Dougie simplesmente disse, como se pedisse algo muito normal e óbvio para o amigo. – PROMETA! – Ele insistiu, ao que viu Tom abrir a boca para provavelmente reclamar ou lhe dizer o quão dramático ele estava sendo. 
– Tá, tá, eu prometo que não vou te matar, Poynter – Tom disse entre mais um bufo impaciente, revirando os olhos. 
– Pois bem – Dougie suspirou, segurando Tom pelos ombros e o sentando de volta na cadeira. Danny apenas continuava rindo baixinho de tudo aquilo, até que Harry lhe deu um forte tapa na cabeça e lhe disse que aquilo era realmente grave, fazendo-o parar de sorrir como um bobo e dar toda sua atenção à conversa. – Você sabe que eu tenho, digo, tive grandes quedas pela Juh, certo? – Ele começou, falando tudo extremamente rápido, surpreendendo-se quando viu Tom fazer um barulho com a boca como se afirmasse que estava entendendo e o dissesse para prosseguir. – E sabe no baile, quando eu fui pegar bebida pra gente e depois sumi? E você ficou me procurando como um trouxa? Digo, como um amigo de verdade faria pelo outro? – Tom, apesar de ter feito menção em tacar mais uma tampinha de garrafa no amigo, amarrou a cara e fez o mesmo barulho nasal para que Dougie continuasse. Este, por sua vez, suspirou profundamente, demorando no mínimo cinco minutos para prosseguir, e apenas acordou de seu pequeno transe quando ouviu um berro extremamente alto de Tom mandando-o continuar. – Então, e lembra que minha desculpa para isso foi que eu encontrei com uma menina da minha classe e acabei... uhm, catando ela? – Dessa vez, Tom abrira na verdade um enorme sorriso e levantava o polegar em direção à Dougie, chamando-o de garanhão. Dougie apenas desejou que nunca tivesse dito a palavra ‘catar’ naquele momento e quando contou ao amigo sobre sua mentira há algum tempo atrás, uma vez que agora ele estava para descobrir que, quem ele havia ‘catado’, era simplesmente a pessoa que Tom considerava ser sua melhor amiga, sua irmã. – Pois bem, eu nunca... catei nenhuma menina da minha classe naquela hora, sabe... 
O sorriso aprovador de Tom murchou no mesmo instante, assim como seu polegar indicando ‘jóinha’ em direção ao amigo. 
– Cara, só porque todos nós catamos alguém, não quer dizer que você precisa mentir sobre isso – Danny disse de repente, se intrometendo e apoiando sua mão sobre o ombro de Dougie, como se quisesse consolá-lo. – A gente iria entender se você não tivesse ‘faturado’, diferente de todos nós, e... 
– Cala a boca, Jones – Harry se pronunciou, como se lesse a mente dos outros dois amigos e soubesse que eles estavam prestes a fazer o mesmo também. 
– Eu só estava falando que ele não precisava ficar desapontado só porque não é bom como nós e... 
– Jones, eu catei alguém lá, sim, mas não quem vocês pensam – Dougie de repente disse, revirando os olhos. Logo se arrependeu por ter falado aquilo: Tom saberia que era Juliet a tal garota, e Dougie ter se referido à ela desse jeito apenas pioraria na quebra da promessa e em sua morte. – Quer dizer, não. Não, eu não catei ninguém! 
– Você catou alguém ou não, Poynter? – Tom perguntou, confuso e impaciente com aquele vai-e-vem indeciso do amigo. – Decida-se. 
– Eu catei, mas não exatamente CATEI, não leve pelo lado ruim da coisa – Dougie disse extremamente rápido, olhando diretamente para Tom ao dizer aquilo. – É que eu não acho que ela seja digna de uma palavra dessas, sabe? Não gosto de dizer que eu catei ela, eu só... passei os melhores minutos da minha vida com ela. – Ele completou, sem perceber que, ao dizer aquilo, sorria como um idiota apaixonado. – Sim, prefiro me referir assim ao que tive com ela... 
– Mas que coisa melosa é essa, dude? – Danny riu, apontando para a cara que Dougie fazia. – Imagine o que a garota deve ter feito com ele oupara ele pra fazer um efeito desses no nosso querido Poynter! – Completou, piscando marotamente para os amigos, sem perceber que Dougie corava exageradamente. 
– Cala a boca, Jones! – Dougie ralhou, olhando assustado para Tom, com medo de sua reação, apesar de que o via rindo com um sorriso malicioso nos lábios. Mas sabia que só fazia isso porque não fazia nem idéia de quem era a menina. 
– Qual é, P.I.M.P. – Tom brincou, falando em um modo ridiculamente estranho as letras da palavra. – Conta aí quem é a sortuda. 
– Bom, é a... erm, a... cof-Juliet-atchim – Dougie disse entre pigarros e em uma incrível velocidade, fazendo os três amigos, até Harry, que já sabia quem era, arregalarem os olhos e lhe encararem em expressões extremamente confusas. 
– Cara, aprende a falar – Danny disse em um murmúrio audível, encarando Dougie como se ele fosse algum tipo de aberração. 
– Será que você pode repetir, Dougie? – Tom pediu, olhando para o amigo em um misto de confusão e desconfiança. Dougie abriu a boca, sorrindo, para repetir, mas foi logo cortado. – Devagar, dessa vez. 
– Ah, certo – Dougie disse, fazendo com que o sorriso em seus lábios murchasse. Queria contar logo e acabar com toda aquela ansiedade, mas tinha medo de que o amigo pudesse lhe dar uma bela surra e mandá-lo sumir de sua vida e principalmente da vida de Juliet. Sabia como Tom era em relação à sua ‘pequena’, como a chamava. Super-protetor e ciumento. – Ai, eu vou falar, vai... MAS LEMBRE-SE DA NOSSA PROMESSA! – Ele berrou rapidamente, enfiando o dedo indicador na face de Tom. Viu o amigo apenas murmurando “tudo bem, tudo bem” e estender as mãos para o alto, como se dissesse que era inocente. Dougie fechou os olhos, abriu a boca e puxou todo o ar para dentro dos pulmões, na mínima esperança que ali contesse coragem, enquanto simplesmente esperava as palavras saírem automaticamente de sua boca. E para sua felicidade – ou seria infelicidade? –, elas realmente saíram, mas em um jeito desesperado, como alguém que pedia piedade. – Foi a Juliet, Tom. 
Apesar de Dougie sentir-se aliviado em revelar tamanho segredo à Tom, a cena seguinte que presenciou fez todo aquele sentimento de alívio se esvair, dando espaço para o desespero e medo. No segundo seguinte em que voltou a abrir os olhos para ver a reação do amigo, viu tudo se passar em seus olhos em câmera lenta: Tom levantando-se da cadeira, Tom correndo em sua direção, Tom levantando o punho já fechado na altura de sua face, Harry e Danny tentando segurá-lo, o próprio corpo sentindo um peso maior que o seu e sendo jogado para o chão, Tom em cima de seu corpo. E, durante toda aquela sessão de ‘slow motion’, Dougie não havia movido um músculo sequer. Tudo havia se passado com tamanha lentidão que ele não conseguiu entender o que acontecia e que estava próximo da morte. 
– EU TE ARREBENTOOOOO! – Ouviu a voz de Tom muito perto de seu ouvido, e ainda tudo em câmera lenta, como naqueles filmes onde diminuíam a velocidade quando o cara ia falar: ‘nãããão’. Conseguia até ver a boca de Tom se mover vagarosamente enquanto ele berrava. 
De repente, como em um estalo, tudo voltou ao normal assim que os quatro meninos ouviram, à porta, várias batidas constantes e gritinhos de vozes agudas e finas lá fora. Eles provavelmente até haviam se esquecido que as garotas estavam na casa também. E, finalmente se tocando disso também, Dougie conseguiu – ninguém soube como – tirar Tom sobre seu corpo e sentar-se sobre o corpo dele, tapando sua boca com sua mão. Talvez tivesse sido o desespero em pensar que Juliet poderia ter ouvido aquela conversa; aquilo provavelmente lhe dera muita força, porque normalmente, nem em sonhos conseguiria tirar Tom sobre si mesmo. Sabia que o amigo era bem mais forte. 
– SÓ ESCUTA, CACETE – Dougie berrou para Tom, que tinha os olhos arregalados, provavelmente se perguntando se tinha perdido sua força, e se mexia freneticamente no chão para que o amigo saísse de cima de seu corpo. Quando parou um pouco de se mexer, apesar de ainda tentar chutar a pessoa sobre si, Dougie passou a sussurrar. – Eu gosto dela, tá bom, Fletcher? Sim, eu fiquei com ela no baile, e sim, eu sou o Don, mas já não basta ela me odiar, agora você também? Não, por favor, não me mata quando eu te soltar! Você já tinha prometido! E eu sei que você quer me matar, porra – Acrescentou rapidamente, quando sentiu Tom se mover mais ainda ao ouvir Dougie pedir para não matá-lo. – Mas eu realmente gosto dela, eu... eu a amo, tá bom? Satisfeito? Agora que tal você me ajudar ao invés de querer me enforcar só porque você é protetor e ciumento até demais? 
Tom finalmente parou de mover, apesar de olhar o amigo com certa raiva. Dougie sorriu fraco, sabendo que havia ao menos o convencido um pouco. Mas, assim que abriu a boca para continuar falando, um barulho pôde ser ouvido de fora, seguido da porta da cozinha sendo escancarada em um estrondo. Dougie pulou para longe de Tom, observando a imagem de duas meninas se formando na entrada do local, arrumando as roupas e fingindo que nada havia acontecido. Droga, como ela era linda. 
– O que tá acontecendo aqui? – Juliet perguntou, corando sob o olhar penetrante de Dougie nela e desviando o olhar para Tom, que permanecia estirado no chão. – E porque esse bobo tá no chão? 
– Obrigado pela parte que me toca – Tom ironizou, estirando a língua ao ouvir a amiga responder um “disponha”. Estirou o braço ao alto, pedindo por ajuda para se levantar, logo recebendo a mão de Juliet. – Ai, acho que quebrei uma costela. 
– Porque? O que aconteceu? – Juliet perguntou, puxando Tom para a sala e sendo guiados pelos outros amigos. – Aliás, o que você fazia no chão? 
– O Poynter me derrubou – Tom simplesmente falou, como se fosse algo comum de se fazer. Riu ao ver a amiga encarar dele à Dougie em uma expressão confusa, enquanto Dougie coçava a nuca inconfortavelmente. – Relaxa, era só aquelas lutinhas que a gente faz e vocês odeiam. 
– Eu odeio essas lutinhas – Elizabeth finalmente disse, revirando os olhos. 
– Ué, foi isso que eu disse, que vocês odeiam – Tom falou, rindo ao ver a menina lhe estirar a língua. 
– Eu não entendo porque vocês fazem isso – Juliet comentou, enquanto jogava Tom no sofá, ria do uivo de dor que ele soltara e começava a massagear suas costas. 
– Pra ganhar massagem de graça, pelo visto – Harry comentou, rindo com os amigos e apontando para Juliet, que estirava a língua mas ainda continuava massageando as costas do amigo. 
Dougie sorriu com toda aquela cena, estava tudo mais calmo. Tom não parecia estar mais bravo, os meninos pareciam ter esquecido – muito rápido, aliás – o ocorrido na cozinha e as duas garotas pareciam não ter ouvido nada do que não deviam daquela conversa. Mas apesar disso, sabia que não era uma boa idéia permanecer na casa. Tom provavelmente estava fingindo, para não deixar na cara e não criar perguntas das meninas, e queria deixar o amigo pensar sobre o que havia lhe contado. Ele provavelmente deveria estar em choque por ouvir que seu melhor amigo amava sua melhor amiga. 
– Bom, eu já vou indo, gente – Dougie disse, ignorando as perguntas de Danny, Harry e Elizabeth e os olhares de Juliet e Tom. – É que minha mãe queria que eu a ajudasse com... as compras, é, e ela vai ficar realmente brava se eu não for. 
– Quem faz compras num tempo desses? – Elizabeth perguntou, indo em direção à janela e olhando através das cortinas, como se checasse que o que dissera era verdade. 
– Minha mãe – Dougie respondeu em uma risada fraca, encolhendo os ombros. – Mas amanhã eu volto... acho. 
– Deixa ele ir – Tom finalmente disse, cortando a fala de Harry. Ele encarou Dougie por alguns momentos, e após suspirar profundamente, abriu um leve sorriso afetado. – Volta amanhã sim, Poynter, eu te ligo. 
Dougie sentiu-se mais aliviado, e sorrindo em resposta, fez um leve aceno de cabeça e desejou boa noite à todos, apanhando seu agasalho e desaparecendo pela tempestade logo em seguida. 
– Bom, então acho melhor a gente ir também, certo Juh? – Elizabeth repentinamente perguntou, suspirando tristemente. 
– Não! – Juliet respondeu em um berro, fazendo todos rirem. – Só porque o Poynter teve que ir ajudar a mamãe nas compras, não quer dizer que a gente também tenha que ir embora. Eu quero ficar, comer pipoca enquanto assistimos De Volta Para O Futuro e depois dormir aqui! 
– Apoiado! – Danny berrou, pulando logo em seguida sobre Juliet e fazendo Tom soltar xingos por causa da dor. 
Após a sessão de glicose anal de Elizabeth, dizendo que seria muito incômodo ficar ali e não era tão íntima de Tom para dormir em sua casa, ela acabou finalmente cedendo ao receber almofadadas e até um montinho começado por Juliet. Os quatro rapazes foram fazer o que precisavam, enquanto as duas garotas vestiam pijamas que Juliet sempre deixava na casa do amigo para emergências. 
Dez minutos depois, e todos já vestiam coisas confortáveis e se encontravam sentados nos sofás ou no chão, dividindo cobertas e travesseiros.Juliet estava em pé, enquanto brigava com o DVD para que começasse logo o filme; Tom estava sentado no chão, sozinho, esperando pela amiga; eHarry, Danny e Elizabeth dividiam o sofá e o cobertor, tendo Elizabeth gritando por socorro e afirmando que estava sendo abusada ali no meio dos dois e que iria passar para baixo com Tom e Juliet. 
– Finalmeeente! – Juliet comemorou, ao ver que o aparelho havia resolvido aceitar o CD do filme inserido e já rodava os trailers. 
Assim que se sentou ao lado de Tom, se espremendo com ele por debaixo das cobertas e encostando sua cabeça em seu peito, para se esquentar,Danny começou a tacar pipoca nos dois, chamando-os de ‘pombinhos’, Elizabeth batia em Danny e Harry mandava todos calarem a boca porque queria ver como Loyd construía a máquina do tempo, alegando que queria construir uma também. 
Bastou chegar a parte em que Marty tocava guitarra que todos finalmente se calaram: os meninos dizendo que a guitarra dele era a mais maneira, e as meninas dizendo que achavam ele muito fofo, ignorando os comentários de Danny sobre como ele dava de dez em Marty. Quando estava tudo em completo silêncio, a não ser pelas vozes de Loyd e Marty, Tom apertou Juliet mais contra seu próprio corpo e sussurrou em seu ouvido, de modo que ninguém a não ser ela ouvisse. 
– Juh, posso te perguntar uma coisa? 
– Cala a boca, Fletcher, vai passar a cena mais emocionante do filme – Juliet sussurrou de volta, enfiando uma pipoca na boca do amigo para garantir que ele não falaria mais, e rindo ao vê-lo se engasgar. 
– Obrigado por quase me matar engasgado – Ele voltou a murmurar ironicamente, sorrindo ao ver a amiga ao seu lado abafar o riso nas cobertas. – Mas eu preciso te perguntar uma coisa, é sério! 
– Tá bom, vai Tom, pergunte. 
– Você... você gosta desse Don? 
Juliet congelou por alguns segundos com essa pergunta, ainda sem entendê-la. Não queria ter que responder, por mais que já soubesse a resposta. Encheu a mão de pipoca, enfiando-as em seguida na boca, e ficou por um ou dois minutos observando Marty conhecer sua mãe do passado. 
– Porque pergunta? – Ela finalmente disse, sem tirar os olhos da tela. Não queria olhar diretamente nos olhos de Tom; sabia que ele estava a encarando. 
– Porque eu preciso saber. 
– Precisa, é? – Juliet perguntou, ainda sem entender. Ouviu Tom fazer um barulho com a boca, confirmando, e voltou a se calar, apenas assistindo o filme como os outros três que se encontravam calados há um bom tempo. Enfiou mais algumas pipocas na boca e suspirou alto, rindo ao receber conseqüentemente uma almofadada na cabeça dado por Elizabeth. – Bom, eu... eu gosto sim, Tom. – A voz dela pareceu de repente ficar falha. – Muito. 
– Bom saber – Tom simplesmente disse, e para a surpresa de Juliet, ele se levantou e a puxou pela mão para fazer o mesmo. Assim que o fez, olhou para os três amigos, que apesar de terem levantado não falaram nada e nem tiraram os olhos da tela, e disse: – Hey, otários, nós já voltamos. 
– Certo – Danny falou em um grunhido, cheio de pipoca na boca. 
– O que ele disse, Danny? – Harry perguntou, desatento, assim que Juliet e Tom saíram da sala. 
– Que iam dar uns amassos lá no banheiro e já voltavam – Danny respondeu, sem ao certo perceber o que falava. O filme era bem mais interessante, fato. Elizabeth riu baixinho com isso e os três continuaram suas atenções silenciosas ao filme. 
Do outro lado da sala, Tom puxava Juliet pela mão, guiando-a por um lugar desconhecido pela menina. Assim que atravessaram o corredor inteiro,Tom empurrou-a para dentro da cozinha, encostando a porta, sem poder trancá-la: lembrou-se que ela e Elizabeth haviam estragado a fechadura da porta ao fazerem força demais sobre o objeto quando foram tentar entrar ali para ver o que se passava quando os meninos brigavam. 
– Tom, porque você me trouxe aqui? Eu queria ver o filme! – Juliet reclamou, mas aproveitou que estava na cozinha para pegar coca. – Meu deus, o que você pretende fazer comigo? 
– Nada, sua tosca – Ele respondeu enquanto ria, bebendo um gole da coca que a amiga havia acabado de colocar em um copo e recebendo um tapa por isso. – Certo, você disse que gostava do Don, não é? Gostava muito? – Tom perguntou, dando ênfase à última palavra. 
– Erm... certo. – Juliet respondeu, um tanto incerta pelo fato de não entender onde o amigo queria chegar. 
– Você diria que... o ama? 
– Tom! – A menina berrou, quase cuspindo o líquido que havia ingerido. 
– Você o ama ou não, Juliet? 
– Eu... – Juliet não sabia o que quiser. Sabia o que sentia por Don, sabia que era verdadeiro e que era muito parecido com amor, tinha certeza, mas não entendia o porquê de Tom fazer drama para saber daquilo também. Aliás, ele não sempre odiou Don? – Sim, Tom, eu o amo. 
Tom não fez nada, apenas suspirou profundamente e encarou a amiga em sua frente com carinho. Sorriu fracamente, acariciando-lhe o rosto com as costas do polegar, vendo-a fechar os olhos ao seu toque. Nem acreditava que sua pequena havia crescido tanto a ponto de amar alguém. Não, amar seu melhor amigo. E sabia que, por ser Dougie, tinha que ajudá-lo. Juliet o amava, por mais que não soubesse que era realmente ele, mas se amava o tal de Don e ele era o verdadeiro, era porque o amava também. Eles não eram tão diferentes na personalidade, e Dougie sentia o mesmo por ela, até mais. De repente, Tom sabia o que tinha que fazer, por mais que significasse que teria que admitir que a menina que antes era, aos seus olhos, ainda uma criança e inocente, havia finalmente crescido. 
– Bom, se é esse o caso... – Ele começou, suspirando mais uma vez e sentando Juliet na cadeira em sua frente, ao que fazia o mesmo. – Se esse é o caso, precisamos conversar, Juh. 


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Notas finais do capítulo

Postando para a Luh, porque ela é minha melhor amiga ;D



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