Janta escrita por Dark_Hina


Capítulo 21
Precisamos dele pra salvá-la




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Bruce se levantou abruptamente junto com Kate, ele voltou a cochichar algo em seu ouvido e veio na minha direção, se aproximou rapidamente me segurando pelo braço e me arrastando para fora do salão.

—Kate me disse que você já sabe. – Ele falou apressado.

—Sim. – Disse entre os dentes, tão atordoada que me permiti ser guiada por sua brutalidade.

Haviam pequenos lapsos na minha compreensão, eu estava verdadeiramente em choque, quando dei por mim estávamos no estacionamento e ele continuava me conduzindo.

—Você sabe aonde a Lena está? – Perguntei sentindo a lucidez me fugir aos poucos.

Ele sacudiu a cabeça negativamente, ainda me arrastando. Estávamos contornando o estacionamento no meio da escuridão, perto dos muros, na saída dos fundos. No extremo do horizonte avistei um carro encoberto pelas sombras da noite.

—Kara? – Escutei a voz de Alex me chamar pelo comunicador. Me desvencilhei de seu toque e parei tentando escutar minha irmã.

—Alex?

—Aonde você está? Eu não estou te vendo, acabei de cercar o salão com a minha equipe, estamos tentando não assustar os civis nem chamar atenção dos jornalistas, aqui... – Subitamente Alex parou de falar. – O que ela está fazendo? – Escutei Alex perguntar como se fosse um pensamento alto.

—Alex? – A chamei pelo comunicador e ela simplesmente resolveu me ignorar.

—Espera Kara, a Kate está com o microfone, ela está falando alguma coisa, eu vou saber o que é e já te falo.

—Kate está fazendo o que? – Ela não me respondeu mais. -  Alex?! Alex! – Quase gritei, mas logo percebi que não valia apena ficar inconformada.

Bruce estava parado ao meu lado, observando o momentâneo surto. Depois de uma cautelosa engolida a seco, ele resolveu se pronunciar.

—Eu pedi a Kate para avisar que a Lena estava indisposta, ela vai cancelar o evento e irá dispensar todo o público, ela também vai encaminhar convites por e-mail para um novo evento promovido pelas Empresas Wayne, tudo muito civilizado.

O tom de sobriedade de Bruce me incomodava mais que o normal, não era a frieza em seus cálculos que me despertava inquietação, era a maneira que ele contornava a situação como se já tivesse previsto várias possibilidades, como se o problema não fosse o desaparecimento de Lena em si, mas, na verdade, o real problema era qual o próximo passo a ser dado.

Parei em silêncio tentado recobrar minha compostura, ele não me esperou, saiu em disparada do meio das trevas abrindo o carro. Era um modelo que eu nunca tinha visto na vida, suas laterais pareciam asas e na parte de trás havia um grande turbo, abria-se pelo vidro do capô e inferi que era forrado de titânio e chumbo já que minha visão não penetrava a carcaça.

Ele saiu de lá com um pequeno quadrado translúcido que no ar projetou o que parecia ser um holograma em 3D de um mapa em relevo, com cores opacas e uma luz vermelha intensa que ficava se movendo lentamente pela imagem.

—O que é isso?

—Um rastreador. – Ele respondeu seco, passeando com seus dedos pela imagem que começou a recalcular seus traços e mudar o panorama dos contornos.

—Um rastreador? – Repeti computando a informação, demorou alguns segundos para que eu realmente assimilasse o que significava. – Esse ponto vermelho é a Lena?

—Sim. – Ele continuou mexendo na imagem.

—Quando você colocou isso nela?

—O colar. – Ele continuava em seu tom seco e ríspido.

Estreitei os olhos encarando sua insensibilidade, sua completa indiferença.

Eu fiquei tão imersa na minha indignação que não percebi Alex se aproximando.

—Você sabia que ela seria sequestrada hoje de noite?

—Eu imaginei que sim, era o melhor momento.

—E no lugar no lugar de nos avisar e colocar o dobro de proteção sobre ela você simplesmente resolve que a melhor saída é colocar um rastreador nela?! – Minha voz aumentou um tom.

—Sua irmã sabia que eu planejava isso, é tanto que ela colocou uma equipe inteira de incompetentes por aqui.  – Bruce parou por um instante me lançando um olhar desafiador. – Você também estava aqui para protege-la, por que você não ficou ao lado dela o tempo todo?

Eu engoli a seco sentindo meu sangue ferver. Ela sem dúvidas tinha desaparecido quando a Kate me levou para os fundos e fez o scanner, exatamente quando ela me beijou... Cerrei os dentes contraindo meu maxilar.

Ele exalou e recuou o tom.

—Você até pode ficar com raiva, mas é o melhor jeito que descobrirmos para onde a Gata vai e como ela está entrando em contato com os contratantes.

—Você consegue se escutar?! – Eu gritei sentindo a raiva me possuir. – Ela pode se machucar!

—Eles precisam dela viva. – Em nenhum momento ele tinha se dignado a olhar na minha cara, ele estava completamente atento ao rastreador, fiquei com tanta raiva que emburrei sua mão com força, jogando o dispositivo no chão, fazendo com que ele desligasse. Sem controle, o joguei contra a parede do muro, segurando-o pelo pescoço. O cimento trincou e as costas do terno rasgaram relevando parcialmente o seu traje de vigilante sob a roupa.

—Por sua culpa eles a capturaram. – Eu falei com a voz rouca, embargada pela ira, sentindo o calor chegar a superfície da íris, eu sabia que meus olhos estavam brilhando e o laser estava a ponto de transbordar das órbitas, como o magma disposto a transbordar do vulcão no momento da erupção, quase incontrolável.

—Kara! – A voz de Alex reverberou por todo o meu corpo, mas a única coisa a minha frente era face apática de Bruce, com seu cenho franzido irritantemente sério, como se tivesse certeza que nada lhe aconteceria, como se não tivesse medo de mim, pior, como se não importasse o que poderia lhe acontecer.

Senti a mão de Alex cair sobre meu braço, o mesmo que erguia Bruce contra a parede.

—Não se meta, Alex! – Esbravejei.

—Você vai matá-lo e depois vamos fazer o que? – Ela me perguntou séria, sentindo o calor dos meus olhos lhe banhar a face pela proximidade. -Kara, me escute, - ela pediu séria – ele pode descobrir aonde a Lena está, ele estava esperando por isso.

—Você não entendeu que é por isso que eu quero matá-lo?

—Eu entendi e é por isso mesmo que você tem que colocar a cabeça no lugar e deixar que ele nos leve até ela.

—Nós não precisamos dele para salvá-la.

—Se você realmente acreditasse nisso você já o teria matado.

—Ele ainda é útil gravemente ferido.

Alex olhou para Bruce.

—Diga a ela o que Kate me contou antes que eu mesma atire em você.

Seu olhar, que me mirava indiferente, pulou para Alex e finalmente recobrou vida, Alex finalmente disse algo que despertou seu interesse, depois ele procurou algo no horizonte e quando achou um ponto perdido na escuridão exalou irritadiço.

—Por que você contou a ela? – Ele perguntou ao ar, como se fosse direcionado a uma terceira pessoa.

Olhei de relance para trás e avistei Kate nas sombras, alguns passos atrás de Alex.

—Porque ela apontou uma arma laser pra mim e depois ameaçou chamar a irmã. – Ele disse em seu tom tipicamente cínico.

—O que porra está acontecendo? – Eu voltei a gritar e Bruce gemeu sentindo minha mão contrair em seu pescoço. Só quando ele tossiu sem ar foi que aliviei o enlace.

—O colar tem um pulso magnético.

—O que significa isso? – Voltei a fazer força no braço e ele se contorceu, foi a primeira vez que suas mãos reagiram segurando minha mão, tentando com muito vigor apertá-la.

—Significa que vai desligar todo sistema eletrônico perto, todo sistema eletrônico. – Alex se adiantou em falar. – Kara, mesmo que a Lena faça qualquer alteração nas plantas, a Mulher-Gato não vai conseguir enviar para a gangue. Vai ser o tempo em que vamos resgatar a Lena, prender a gata e rastrear a gangue.  Ele pensou em tudo, então você não vai machucá-lo hoje.

—Por que você está do lado dele?

—Eu não estou do lado dele, pode ter certeza que eu sou a pessoa que mais quer atirar na cabeça desse infeliz, mas nós temos um trabalho a fazer, você não pode ignorar isso. A Lena precisa da gente e a gente precisa dele inteiro.

Eu soltei minha mão a contragosto e ele caiu no chão fazendo subir uma nuvem de poeira, e tossiu se ar tentando recuperar sua compostura. Kate, que até então tinha ficado em silêncio atrás da Alex, se aproximou estendendo a mão para levantá-lo.

—Vamos lá, Garotão. – Ela disse colocando-o em pé.

Resignado, Bruce recolheu do chão o rastreador e voltou a mexer no holograma, traçando o caminho que o ponto vermelho havia seguido.

Alex virou para mim e me puxou pelo braço.

—Você deveria ter me deixado matá-lo. – Eu disse ainda contrariada.

—Sim, eu deveria, mas que bom isso iria trazer?

—Satisfação pessoal. – Sibilei as palavras sem produzir um real som.

—Certo. – Ela falou compenetrada, e exalou. –Kara, vai dar tudo certo.

—Como você consegue ficar tranquila assim? J’onn desapareceu, você está brigada com a Maggie, a Lena foi sequestrada...

—Como eu me recuperei depois que descobri a amante criminosa da minha namorada? Como eu estou conduzindo esse Titanic chamado DEO em meio a uma ameaça intergaláctica? – Ela me olhou com uma feição triste, tirou o cabelo do meu rosto e forçou um sorriso amarelado, muito cansado. –Os motivos que nos faltam para estarmos tranquilas nos sobram para resistirmos. Eu quero estar aqui em algum outro dia para resolver minhas coisas com a Maggie, você quer estar aqui outro dia para ver a Lena, então, no dia de hoje, nós vamos resistir e vamos dar um jeito, como nós sempre fazemos. – Seus olhos reviraram. – E não vamos matar morcegos, por mais irritantes que sejam.

Alex tinha aquele tom de sermão, de irmã mais velha que sempre estava segura e com confiança, mas eu sabia que não era bem assim, eu me lembrava vividamente de como ela estava acabada pela manhã, de como toda a situação estava lhe afetando. Mas Alex escolheu se reerguer. Alex escolheu respirar fundo e tomar as rédeas da situação.

Eu concordei com a cabeça.

—Nós deveríamos chamar reforços, eu poderia falar com o Clark e...

Ela sacudiu a cabeça rindo sem graça.

—Você vai querer qualquer pessoa que queira matar o Batman tanto quando você, eu seria voto vencido com vocês dois aqui.

—Eu estou falando sério, sem o J’onn o Clark seria uma ótima ideia pra lutar no espaço.

—Kara, nós vamos resolver isso e vai dar tudo certo.  Pelos céu, são ladrões, nós não estamos falando de terroristas ou de invasores. Eu não sei como uma besteira dessa ganhou essas proporções.

Um pigarreado alto chamou nossa atenção, nos viramos para o Bruce e ele estendia o holograma que projetava um amontoado de prédios, eu reconhecia o mais alto como o DEO, mas e a luz vermelha se aproximava dele numa velocidade assustadora.

—Elas estão indo pro DEO? – Alex perguntou e teve um aceno positivo de cabeça da Kate como resposta.

—Eu deveria ter pensado nisso antes. – Bruce disse irritado, tirando o terno rasgado e entregando a Alex o holograma.

—Deveria ter pensado em que? – Ela perguntou estreitando os olhos para a imagem.

—Que ela voltaria para o DEO depois que pegasse a Luthor. – Ele se jogou para dentro do carro fechando o vidro. Eu e Alex nos entreolhamos e sem perceber meu corpo já se jogava contra o vento num voo desenfreado a caminho do prédio.


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