Janta escrita por Dark_Hina


Capítulo 22
Eu sei que você está aqui




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Entrei pela pista de pouso. Mas não sabia exatamente aonde procurar. Se ela ainda tinha o acesso pela biometria de Alex ela poderia entrar pela porta da frente e ainda assim estaria tudo bem, eu não veria nada.

Voei até o painel de controle, encontrando Winn ressonando de frente aos monitores holográficos. A baba escorria seca pelo canto de sua boca enquanto os monitores ficavam repetindo as mesmas imagens paradas.

—Cancele o acesso de Alex. – Falei alto, rápido e ríspida.

Ele pulou da cadeira num grito assustado, piscou os olhos furtivamente sentindo as injeções de adrenalina acordarem seu sistema.

—Oi? Ahm? Ka-Kara? – Ele balbuciou as palavras tentando se endireitar na cadeira.

—Cancele o acesso de Alex. – Repeti impaciente.

—Cancelar o acesso de Alex? – Aquela frase soou pela terceira vez só que em tom de pergunta, sua voz reverberava sem convicção, perscrutando um sentido oculto que seus ouvidos não estavam captando.

—Você não entendeu? Não dê permissão para Alex entrar no prédio, a Mulher-Gato pode tentar entrar com o acesso dela.

Seus dedos voaram sobre as teclas, tamborilando por entre os comandos, as telas começaram a produzir códigos em letras vermelhas intensas e caixa de diálogos com erros de programação, simultaneamente uma sirene de segurança começou a soar alto.

—O que está acontecendo? – Perguntei agoniada já erguendo os pés do chão pronta pra voar na direção que fosse necessária.

—Os sistemas de segurança estão caindo. – Ele falou rápido. -Ela já está dentro? – A pergunta foi para o computador e não sei se a tela lhe respondeu porque seu silêncio me deixou impaciente.

—O que aconteceu? Tem como você localizar?

—Eu não sei, eu não sei. – Ela falou agoniado. Seus dedos dançavam freneticamente pelo painel de controle, havia aquela inconstância que eu não sabia ler nas imagens e as luzes pareciam mais poluição visual que qualquer outra coisa. – Aonde está Alex com a equipe tática especial? – Ele perguntou precipitado, com o suor frio escorrendo por sua têmpora. – Eu estou tentando não perder o sinal.

Engoli a seco pensando que se eu não fosse tão desesperada poderia ter trazido Alex comigo, ela talvez pudesse ajudar Winn nesse momento.

—Winn, peça pros agentes que sobraram fecharem a sala do gerador. Eu vou pra baixo, pro cofre do transportador. Se Alex ou Batman parecerem mande eles irem para lá também.

—Espera. – A tela do painel voltou a ficar azulada e novas caixas de diálogo abriram reduzindo a poluição visual. – A Alex já tinha emitido essa ordem, eu peguei o sinal dela, ela está voando para cá com a equipe, eles chegam em 10 minutos.

—Não sei se temos 10 minutos, não fazemos ideia de onde ela pode estar, ela pode...

 -Kara? – O Winn cortou minha fala, ele olhava pálido para os dados que seu computador emitia. – Que pulso magnético é esse que a Alex está falando?

Estreitei os olhos sem entender o que ele estava falando.

—O Batman colocou um colar em Lena, no colocar além do rastreador tem esse pulso.

—Tem certeza que é um pulso magnético?

Eu dei de ombros.

—Era um plano reserva, eu acho. – Engoli a seco. – Não sei bem, a Alex falou que ia impedir qualquer coisa elétrica de funcionar perto, se eles tentassem teletransportar a Lena para fora do planeta.

—Não, não, não. – O suor frio de Winn pingava por seu rosto..

—O que foi?

—É um pulso magnético, não anula, só confunde a carga. – Ele balançou a cabeça nervoso. -Ele deve querer rastrear ainda o sinal ainda.

—O que isso quer dizer o Winn? – A preocupação em seu tom começou a me preocupar também.

—Que temos um reator nuclear que pode explodir se ele colocar esse pulso magnético para funcionar.

—Como é?

—A energia está completamente instável aqui, eu não sei o que pode acontecer se ele ativar essa coisa aqui dentro.

—Então sem plano B para salvar a Lena?

Ele concordou com a cabeça, sua boa ainda entreabriu para dizer alguma coisa, mas não parei para escutar o que ele tinha a dizer, saí voando pelos andares, até chegar na sala no cofre com o transportador.

—Eu sei que você está aqui! - Gritei no meio da sala escura sentido o eco da minha voz reverberar pelas paredes de metal.

Enquanto eu descia as luzes piscavam e do nada o breu cobriu o prédio, a sensação de devajú conseguiu me atordoar ainda mais quando toquei com os pés no chão. Meus passos eram hesitantes e estranhamento cuidadosos no meio da escuridão, era muito esquisito que mesmo com minha supervisão eu não tivesse a nitidez dos contornos. Cambaleei pelo vão procurando aonde estava o transportador, sentindo uma estranha agonia formigando minhas mãos.

Foi sufocante. Um impacto bem no meu peito. Senti meu corpo ser jogado para trás trincando uma parede. Fiz força nos meus pés para sustentar meu corpo bambo, erguendo com dificuldade meu peso.

O miado baixo ecoou acompanhando de uma risada. E no meio da escuridão um brilho esverdeado pulava no ar, rodopiando. Ela jogava de uma mão para outra como um felino entretido com um novelo de lã.

—Você sabia que gatos enxergam no escuro? – Ela riu alto. – Mas parece que você é cega como um Morcego.

—Aonde está a Lena? – Perguntei com um gemido, fazendo pressão nos calcanhares para me manter em pé.

—Eu ADORO os brinquedinhos do Morcego, você vê como eles brilham? – Ela se aproximou em passos rápidos balançando a luz na minha cara.

Senti a radiação afetar minha pele, sendo absorvida por meu corpo, a doença infectando minhas veias. Gritei com meus joelhos fraquejando.

—Eu perguntei... Aonde está a Lena? – Ergui meu rosto reunindo forças para lhe lançar minha visão de calor. Ela desviou dando alguns passos para trás, o suficiente para que a pedra parasse de fazer tanto efeito, o suficiente para que eu finalmente conseguisse me colocar de pé e voltasse a lhe atacar com os lasers dos olhos. – Isso não é realmente kriptonita, é um genérico, não se confie nela para me vencer. – Continuei atirando e durante os jatos de luz vi o transportador no extremo da sala. – Eu estou cansada disso! – Esbravejei fazer um caminho de fogo até o transportador, finalmente vi a a Gata que estava no extremo da sala, chamas começaram a iluminar seus contornos com lambidas de luz inconstantes.

—Você vai quebrá-lo! – Seu grito foi estridente. Sem o sistema de segurança funcionando normalmente os sensores de fumaça não ativariam, e a Gata sabia disso.

—Eu não vou perguntar de novo, cadê a Lena?

—Ela está aqui. – Ela disse pegando uma esfera em algo que parecia um cinto na sua roupa de couro. Eu senti meu corpo gelar.

—O que é isso?

—Eu digo o que é se você apagar o fogo!

—Ela vai apagar o fogo, mas não é por sua causa. – A voz ecoou por trás da Gata, que ergueu os braços segurando a esfera, rendida.

—Eu senti sua falta. – A gata disse esboçando um largo sorriso irônico nos lábios.

—Maggie! – Exasperei.

A detetive estava com uma arma apontada para as costas a Gata e tomou de sua mão a esfera.

—Agora a pedra. – Maggie disse, e a Gata só fez mexer os dedos mostrando a pedra esverdeada. A mão livre de Maggie, contornou a cintura da ladra e extraiu de seu cinto um pequeno suporte quadrado, muito parecido com os quadrados de chumbo que Batman tinha em sua cintura. Maggie arrancou dela a pedra e colocou dentro do quadrado. Os poucos efeitos da kriptonita passaram quase imediatamente. Ele guardou em seu bolso o quadrado e voltou a se concentrar na esfera em sua mão. -Isso é sacola de ladra dela, Supergirl. – Maggie estreitou os olhos. – Cadê sua bomba de luz?

A gata miou animada.

—Você não me esqueceu, não é mesmo?

—A bomba de luz. – Ela repetiu enfática pressionando com mais força a arma contra suas costas.

—Na segunda caixa do cinto. – O sorriso da gata cedeu e ela respondeu no seca.

Maggie voltou a apalpar a cintura da gata.

—Supergirl, pode apagar o fogo.

Inspirei fundo e soprei forte quase congelando a sala. No mesmo instante que as trevas pareceram nos tocar, Maggie lançou algo no teto que me encandeou num primeiro momento, mas logo brilhou plenamente como uma luz de LED, clareando toda a sala.

Eu e Maggie nos entreolhamos, a Gata continuava calada e aquilo me soava estranho e suspeito.

—Obrigada Maggie. – Falei em um suspiro

—Não me agradeça ainda, você não escutou? Ela mandou as plantas para a gangue, eles podem produzir kriptonita sintética em larga escala. - Sacudi a cabeça me tremendo só de imaginar quantos inimigos meu primo colecionou ao longo da galáxia. Maggie me estendeu a esfera e eu a peguei desconcertada, sem saber exatamente como abrir aquilo, naquele meio tempo a detetive já tinha algemado a gata, que miava contraria.

—Maggie, eu não sei como isso funciona.

Ela tomou nas mãos a esfera.

—Cuidado com ela. – Falou empurrando a Gata para minhas mãos.

—Por quê? Eu não mordo. – Ela rosnou com sua língua pulando para fora da boca, molhando os lábios.

Maggie deu alguns passos para trás, parada onde o chão não estava completamente deteriorado pelo choque térmico entre as chamas e meu sopro no vão da porta. Ela estendeu a esfera que projetou uma espécie de luz, demorou alguns instante mas a imagem de Lena estava se formando numa refração de cores, seu corpo caído no chão, adormecido. Meu coração descompassou. Logo a luz ganhou matéria e ela estava lá jogada em meio a entrada.

Eu corri até ela, deitando-a nos meus braços.

—Lena? – Perguntei recostando sua cabeça em meu colo, sem ter nenhuma reação.

—Calma Supergirl, ela só está inconsciente, essa esfera é uma espécie de câmara dimensional, parece a sua zona fantasma.

Toquei em seu rosto com as costas da mão, percebendo que ela não acordaria nem tão cedo. No extremo do corredor uma luz se projetou e eu escutei passos apressados em nossa direção, na curva da escada com o elevador, a figura de Alex apareceu acompanhada de Batman e Kate, com uma dúzia de agentes, ela vinha com uma lanterna na mão e uma arma na outra.

Arranquei o colar de Lena antes de erguê-la nos braços e me virar para a entrada, fiz um aceno de cabeça para Maggie, um último gesto de agradecimento e levitei meu corpo indo de encontro a Alex.

—Maggie está com a Gata, sem ela eu não teria conseguido detê-la.

—Kara... – Alex tentou falar mas eu logo fiz um gesto com a cabeça para que ela parasse.

Me virei para Batman com os olhos estreitos, lhe jogando o colar nos pés, ligeiramente amassado por minha raiva inconsciente.

—Eu já volto Alex, nosso trabalho ainda não terminou. – Eu falei olhando para o Batman, enquanto meu pés descolavam do chão e eu carregava Lena até sua casa.

Saí pela pista de pouso, do mesmo jeito que entrei. Voei alto e me permiti voar lento, me permiti flutuar em pé sobre as nuvens com Lena em meus braços, me permiti sentir o momento, controlar o alívio em meu coração que descompassava suas batidas eufóricas.

Levei Lena até seu prédio, entrando pela varanda da sala. Caminhei com ela nos braços até seu quarto, deitando-a na cama ainda forrada. Deixei seu corpo inerte sobre os lençóis e sua cabeça leve escorada nos travesseiros. Ajeitei os cabelos negros que caíram desgrenhados sobre sua face, afastando a franja de seu rosto angelical.

Olhei para ela como quem admira uma paisagem estonteante, sem acreditar que cada um dos contornos fossem verdadeiros, sem me permitir o desvairo de realmente perceber que aquilo era real. Em seu sono, ela parecia em paz, ela parecia tranquila, desejei ficar por mais um pouco, desejei isso tanto quanto desejava que aqueles fossem os instantes finais do pesadelo que estávamos metidas.


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