A Missão escrita por Felipe Carvalho


Capítulo 2
Um objeto peculiar




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No caminho até o nordeste, eu percebia quanto tempo não visitara aquela região, muita coisa mudou desde que eu coloquei Anetryr na administração daquela região.

— Vejo que você fez um belo trabalho desde a ultima vez que vim aqui.

— Meu Senhor apenas fiz o que o senhor me encarregou, algumas obras de abastecimento de água para os vilarejos próximos, criação de poços, manutenção nas fronteiras litorâneas, porém a obra da qual eu mais me orgulho é essa da qual iremos passar – olhou Anetryr pela janela com um olhar de satisfação – Estamos em cima da ponte que atravessa o grande lago, mandei construírem ela a algumas luas. Antigamente, levava um dia inteiro para fazer o contorno neste lago, porém graças a esta ponte, leva apenas algumas horas.

Olhei pela janela admirado, realmente ele tinha feito muito pelo reino, porém o simples fato de ter acontecido um incêndio que devastou nosso plantio de ervas e verduras semestrais, era o suficiente para tirar qualquer atenção. Conforme fomos nos aproximando do castelo, ao horizonte dele, ainda se via a fumaça da terra subindo e uma vastidão de terra chamuscada pelo fogo. Aquilo me subiu um arrepio que se encerrou em minha nuca. Enfim, chegamos ao Castelo de Anetryr, construído pelos meus ancestrais para acomodar um senhor feudal e encarrega-lo da administração da área nordeste do reino. Como sempre, muito luxuosos eram os ancestrais, o castelo vingava de dentro de uma imensa sequoia, talvez a maior do mundo, o castelo foi moldado de dentro da grande arvore, valorizando sua vida e a vida de quem o abitasse, uma grande escadaria em espiral levava até o centro da arvore, onde continha diversos cômodos, porém, nenhum salão principal ou janelas, justamente para evitar matar a arvore. Uma imagem magnifica, porém eu não tinha tempo para me deleitar da construção ou quais magias foram usadas para preservar aquele lugar, houve uma grande catástrofe, e eu precisava investigar isto. Depois que as bagagens haviam sido retiradas e alocadas, retirei as túnicas reais e peguei a minha inseparável bengala, embora eu n fosse velho, ou aleijado, existem coisas peculiares, sobre mim. Depois de todos prontos, decidimos ir direto ao ponto, o local do incêndio.

— Meu senhor, acompanhe-me – disse Anetryr guiando-me até o outro lado da sequoia.

Conforme íamos atravessando as hortas, notei a presença de muitos elfos nas fronteiras de cada uma, nossas verduras e ervas, por causa do desenvolvimento, só cresciam próximas as fronteiras, porém o incêndio não poderia ter começado de dentro do reino, pois graças aos poderes que recebi de meus ancestrais, consigo sentir a presença de cada ser vivo que pisa dentro deste reino, além da intenção de cada, por isso é quase impossível mentir para mim, eu teria sentindo a presença de seja lá o que provocou o incêndio. As fronteiras litorâneas são fortemente vigiadas, muralhas de aproximadamente cinquenta metros faziam o contorno de todo o nosso litoral, assim como as muralhas do reino do sul, que embora não tenha litoral, foram construídas sem motivo algum, delimitando o avanço do reino para novas áreas ao extremo sul.

— Senhor chegamos, aqui é onde conseguimos conter o avanço do fogo, um dos sete magos antigos nos ajudou a conter o fogo. Um baita prejuízo.

— O mago ainda está aqui? – perguntei a Anetryr que olhava para as plantações queimadas – A propósito, irei atrás dele, reúna os elfos disponíveis, irei buscar a origem deste incêndio.

— Sim meu senhor, ele está buscando desde ontem o local de onde esse fogo começou. Infelizmente, até agora nada foi encontrado, más acho que o senhor pode encontra-lo mais a frente.

Em poucos instantes Anetryr estava com os elfos disponíveis para começar a busca, aproximadamente vinte e cinco elfos estavam de prontidão, então começamos a busca. Enquanto os soldados estavam procurando o ponto de origem, ao sul eu via um ser com uma longa batina azul com desenhos do mar nas extremidades dela, um grande cinturão e um cajado, o Mago elementalista da água, Posseudos. Ele estava fixado no horizonte, procurando algo, quando me aproximei fui surpreendido.

— Oras, não é sempre que eu vejo um rei elfo se preocupar tanto assim com lavouras de ervas e verduras – Ele se virou para minha direção, se aproximou e olhou firmemente para meus olhos – Não é mesmo Endoras?

— Um Rei precisa se preocupar quando descobre que sua lavoura que alimenta vilas e soldados é totalmente destruída. – Falei com tom autoritário, porém perante magos era quase impossível manter a postura.

— Interessante você não se parece com os demais de sua espécie, arrogantes e egoístas, sempre preocupados com a beleza de seus castelos e o bem de seu povo, independente de que tenha que passar por cima. – Olhava ele fixamente nos meus olhos.

— Bem, não é assim que um líder deve agir? Zelar sempre pelo bem de seu povo independente do que aconteça? De fato, você faz jus ao que dizem dos magos, nunca engolem palavras, independente do que ocorra ou com quem fale. Parecem anões, porém, maiores. – Retruquei suas palavras – De fato, não vim até aqui para ser recebido desta forma, porém não esperava uma boa recepção perante o ocorrido, deixamos este episódio de lado, sabes o que deve ter ocorrido aqui?

Posseudos me olhou pelo canto dos olhos, sua expressão era serena, assim como as marés do amanhecer, porém ele já era velho, o problema de ser imortal é viver até mesmo quando seu corpo não aguenta mais, e pela aparência do mago, ele já viveu mais do que qualquer elfo que habita nosso mundo.

— Infelizmente Endoras, não deu para se descobrir muita coisa, a sorte de vocês é que eu estava de passagem pelas fronteiras de seu reino e pude ajudar, porém nunca vi um fogo tão forte como aquele, até mesmo Folks, o mago do fogo, ficaria espantado com a cena. Chamas horríveis pareciam que devorava até mesmo a própria água, tive que conjurar um feitiço que fez água do mar brotar da terra, nunca vi algo assim. – olhou-me pelo canto dos olhos novamente.

— Muito estranho isso, não seria algum fogo enfeitiçado? Sabemos que é possível enfeitiçar elementos, mesmo não sendo um mago.

— Improvável este tipo de magia ficou restrita apenas para magos elementalistas uma era antes de você nascer, um forte feitiço foi lançado sobre as palavras de conjuração, apenas o mago do respectivo elemento conseguiriam quebrar, e eu já lhe aviso, Folks há anos que está a serviço dos progenitores no reino de Multidrya.

— Então só nos resta continuarmos nossa busca, não descansarei até encontrar o responsável por isto.  – comecei a andar rumo ao extremo das lavouras, próximo as fronteiras onde havia um grupo de soldados – Vocês me acompanhem – então comecei a andar em direção a fronteira que divide o reino.

— É perca de tempo Endoras, já procurei até mesmo nas proximidades da fronteira, não encontrei nada. – Disse Posseudos.

— Posseudos, você sabe muito bem que existe uma magia passada de geração em geração de reis elfos, que permite sentir a presença e a intenção de cada ser que pisa dentro deste reino, você realmente acha que se alguém ateou fogo em minhas lavouras, estava dentro do reino?

Então continuei a adentrar mais adentro da fronteira, após um tempo, era apenas mata queimada para todos os lados, arvores, casas abandonadas, e em fim, os pontos de observação, onde elfos ficavam observando as passagens e entradas. Quando olhei para trás percebi que o mago havia me acompanhado, talvez a minha dedução possa ter clareado mais a mente dele, já que quando se vive muito, muitas coisas se armazenam na cabeça, e por isso esquecemos diversos detalhes. Continuei a avançar, quando de repente um elfo desceu do ponto de observação na arvore e escorregou por um cipó e ficou em pé na minha frente.

— Senhor Endoras – Ele reverenciou – Desculpe lhe interromper, jamais achei que veria o senhor nesta região -Posseudos olhou para mim com uma cara de quem havia dito, “não lhe disse?” – Meu nome é Besiny comando esta área da vigília, e tenho algo a lhe contar.

— Então vamos caminhando, não podemos perder muito tempo, em breve ficará de noite, e por mais que seja uma fronteira élfica, não se sabe que bichos habitam estas terras à noite – afirmou Posseudos.

Concordei com a cabeça e continuamos nossa busca. Enquanto caminhávamos pedi para que Besiny contasse o que ele queria.

— Bom meu Senhor, há três dias que venho observado estanhas movimentações na cachoeira da divisa, existe uma mata muito densa, impossível de se ver o que está dentro dela.

— Besiny, receio que você não veio apenas me contar sobre isso, certo?

— Exato, o fogo surgiu de lá. No dia que o incêndio começou, pedi para que meus homens buscassem reforçar o perímetro na área. Então eu pessoalmente decidi avançar e descobrir o que tanto caminhava por aquela mata densa, quando me aproximei do mato, eu apenas vi o fogo subindo, e engolindo tudo pela frente, a propósito, eu fui o primeiro a avisar sobre o incêndio ao senhor Anetryr.

Naquele momento senti que nosso trabalho tinha ficado mais fácil, uma informação crucial como aquela havia resolvido talvez metade de nossos problemas naquele momento.

— Então cavalheiros, o que estamos esperando? - avançamos em direção ao topo da cachoeira que não ficava muito distante da fronteira, a cachoeira era formada graças ao canal que foi criado para abastecer o vilarejo próximo ao reino e graças a essas águas, abastecia vilarejos próximo ao rio formado pela queda d’água da cachoeira.

Quando chegamos no local, enfim havia um pouco de verde no chão, se havia uma mata densa naquela região, extinguiu-se com o fogo.

— Homens, vasculhem a área, encontre qualquer coisa que possa ter formado esse fogo.

— Acho que não será necessário – Afirmou Posseudos – veja isto.

Ele estava de frente ao penhasco onde havia a queda d’água da cachoeira, e exatamente a sua frente estava um objeto peculiar, era totalmente negro, muito semelhante a uma... Tocha, más eu nunca havia visto uma tocha daquele jeito, onde se ateava o fogo, na fonte, era totalmente pontiagudo, diferenciava da base da tocha, pela grossura entre a fonte e a base dele. Totalmente de ferro negro.

— Isto é uma tocha? - Perguntei a Posseudos, porém ele esteve calado e calado ficou. Olhei para sua expressão e era extremamente horrorizada. Sua pele bronzeada pelo sol parecia que enfim havia encontrado sua cor natural novamente. – Posseudos? – ele olhou para mim – Aconteceu alguma coisa?

 – Desculpe Endoras, más não consigo falar nada, veja a frente... Pegadas, talvez quem ateou fogo... Morreu durante a queda da cachoeira – Sua respiração era ofegante, como se ele estivesse segurando um peso em seus ombros.

— Talvez, tenha pegado fogo e caiu tentando se salvar – Besiny disse olhando para o objeto. – Quer que eu o recolha senhor?

— Não, deixe que eu o pego. – Então eu me abaixei em direção ao objeto, quando aproximei minha mão da tocha, minha magia arcana se ativou por si só, senti meu corpo paralisar e meus olhos mudaram de cor, de azul celeste para amarelo dourado, e então... Eu vi rápidas imagens em minha mente, uma terra onde o ar era vermelho, chamas, guerra, mais chamas, vulcões e rios de lavas, então uma voz grossa e maligna ecoou do lado de meu ouvido, e eu senti minha magia me puxar para a realidade.

Posseudos olhou para mim, viu que algo havia acontecido comigo e então se aproximou.

— Endoras, está bem? – Perguntou com preocupação.

— Sim, estou ótimo – respondi, então peguei o objeto e me dirigi de volta ao castelo de Anetryr.


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Notas finais do capítulo

Comentem e favoritem, somente assim saberei se vocês estão gostando o não da história :D



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