j a r d i m   d e   c i m a

Mesmo Cecily amando Bosquemel era ótimo estar de volta a sua antiga casa. Tudo parecia tão igual e as pessoas pareciam não envelhecer. Sempre gentis com ela, todos amavam a princesa.

Willas brincava ao sol radiante. Com gotículas de suor na testa, mas um imenso sorriso cheio de alegria na face. Como ela amava vê-lo feliz e alegre. Daria tudo para que a felicidade de seu filho nunca acabasse.

Junto do filho de Cecily haviam outras crianças. Todas eram reféns, contudo nem sabiam da condição em que estavam. Aquilo a entristecia, nem imaginava como ficaria se tentassem tirar Willas dela. Mas era um preço que a guerra trazia.

Seu pequeno lorde veio até ela e Cecily afagou seus cachos dourados. É tão parecido com o pai, pensou ela com um leve sorriso. Armand havia morrido há muito tempo, contudo ela ainda sentia falta do falecido marido. Os dois nunca tiveram uma relação romântica, mas sim uma relação de amizade e respeito. Ele sempre tentou de tudo para vê-la feliz e agradá-la.

Ela pegou o filho no colo e foi para um banco assombreado debaixo de uma figueira. Os frutos estavam maduros e Cecee deu um para Willas, o mesmo deu uma mordida fazendo o sulco escorrer pelo queixo. Ela sorriu e limpou com um pano que tinha.

— Cecily — Uma voz severa e áspera a chamou.

Ela suspirou já sabendo quem era, virou-se de frente para ver sua mãe. Desde que ela havia vindo para Jardim de Cima em busca de proteção tinha tentado evitar a mãe. A mesma era muito rígida e nunca demonstrou muito afeto a ela. Todo o amor e carinho vieram das septas e a ama que cuidavam dela na infância.

— Mãe... — Disse ela polidamente levantando-se, como se aquilo fosse apenas um encontro entre nobres e não de uma filha com sua mãe.

— Willas — Exclamou ela afagando o rosto do neto, mas ele parecia mais interessado na fruta que tinha em mãos. — Cresceu tanto desde a última vez que te vi!

A Rainha Elizabeth voltou ligeiramente sua atenção para a única filha.

— Seu pai lhe convidou para um jantar está noite, quer tratar de assuntos referentes aos rebeldes — Disse a mãe de Cecily austera.

— Diga a ele que será um enorme prazer — Respondeu Cecee.

Ao longe ela observou Gwayne vindo acompanhado de dois homens Beesbury. O Chefe da Guarda de Bosquemel se ajoelhou em frente à Rainha da Campina e os guardas também. Elizabeth olhou para Gwayne com um olhar cortante antes de se despedir da filha e sair do jardim.

— Você acha que sabe de alguma coisa? — Perguntou ele se colocando ao lado de Cecily com uma expressão preocupada.

— Com certeza, minha mãe sempre consegue saber o que quer! — Afirmou ela.

— Isso é perigoso, ninguém pode saber sobre nós. — Murmurou Gwayne nervoso.

— Não se preocupe minha mãe não iria sair contando isso para todo mundo. — Respondeu Cecily sorrindo — Venha, vamos caminhar.

Ela entrelaçou o braço com o de Gwayne e deixou os guardas cuidando de Willas.

— Tudo seria mais fácil se nós dois nos casássemos! — Disse ele olhando para Cecee.

— Seria... — Disse Cecily se colocando em frente a ele e afagando seu rosto — Mas mesmo eu querendo... seria impossível, você não tem terras ou títulos. Meus conselheiros em Bosquemel falam que eu devo me casar novamente para conseguir mais apoio e tenho certeza que meu pai dirá a mesma coisa.

— Isso pode mudar! — Afirmou Gwayne.

— Como? — Ela perguntou interessada.

— Isto é uma guerra Cecee, lordes perdem e ganham títulos a toda hora. — Falou ele destemido.

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Aliena escovava seus cachos e tirava todos os nos. Cecily tinha de ficar exemplar para o jantar com seus pais, mostrar que não era mais a garotinha que tinha partido dali com dezesseis dias de seu nome e sim uma mulher, a Senhora de Bosquemel.

Willas brincava e corria pelo quarto com uma pequena espada de madeira nas mãos. Divertia-se cortando o ar e gritando urros de guerra. Cecee tinha certeza que ele seria um ótimo guerreiro com a ajuda de Gwayne.

O Chefe da Guarda treinava no pátio, o que era constante ultimamente, ele se preparava para a guerra. Só a ideia de acontecer algo a ele na guerra já a estremecia. A verdade era que após a morte de Armand, Gwayne havia trago mais um pouco de alegria e amor para ela. Os dois nunca haviam passado dos beijos, Gwayne nunca tentou nada a mais e sempre a respeitou.

Cecily suspirou pensando em tudo que acontecia ao seu redor. Às vezes todos os fardos que ela tinha eram bem “pesados”, ser uma boa lady, uma boa mãe, uma governante e agora havia a guerra.

— Está pronta senhora — Informou Aliena tirando Cecee de seus devaneios.

Ela se olhou no espelho e observou o penteado que a dama havia feito. Por fim colocou uma tiara feita de ouro puro.

— Se me permite perguntar minha senhora, o que você irá tratar nesse jantar? — Perguntou a jovem com olhinhos curiosos.

— Vamos falar dos rebeldes que querem roubar o lugar de direito do meu pai. — Disse ela para a dama.

— A senhora acredita que eles podem vencer? — Questionou a mais nova.

Cecily deu uma risada leve antes de responder.

— Minha querida Aliena — Disse ela olhando para a garota — Os Hightower são como crianças usando coroas de papel! As coroas devem ser rasgadas e as crianças punidas.

Ela levantou-se e deu um último beijo em Willas antes de se retirar dos aposentos. Cecee seguiu para o pequeno salão, um local menor do que o Grande Salão e que ficava no alto da torre norte, acompanhada de dois guardas. Desde o incidente à duas noites atrás ela havia reforçado a segurança dela e deu seu filho, mesmo que o último caso tivesse sido de conhecimento do próprio rei.

Por conta de seus aposentos serem na ala sul, seu caminho foi um pouco longo. Mas ela aproveitou para observar o castelo, tudo era tão nostálgico e familiar para ela.

Ela subiu as escadarias que levavam ao alto da torre e abriu a porta de carvalho. Uma grande mesa estava repleta de pratos diversos, havia pato, cervo, porco, sopa, arroz de grão e muitas outras coisas. Seu pai, o rei, sentava-se em uma extremidade da mesa em um cadeirão, sua mãe, Elizabeth, ao seu lado direito. Ela sentou-se na outra extremidade.

Um criado encheu seu cálice e ela bebeu um gole, pronta para uma noite difícil.

— Cecily... — Falou seu pai cordialmente com um meneio, ela fez o mesmo.

— Onde está meu irmão? — Questionou a loira.

— Preferiu não se juntar a nós — Elizabeth respondeu.

— Bom, não viemos apenas por um jantar familiar — Afirmou Cecee — Tivemos noticias do inimigo?

— Duas vilas e um povoado nos seus domínios foram atacados por homens Hightower — Comunicou Garth — Foram massacres, homens, mulheres e até crianças.

Cecily colocou a mão sobre a boca completamente horrorizada por tal barbaridade. Mas logo a raiva veio.

— Não iremos fazer nada? — Questionou com uma expressão furiosa.

— Já enviei tropas para o sul para fortalecer a fronteira, contudo como você sabe, Bosquemel é a primeira coisa que impede eles de virem diretamente para Jardim de Cima. Suas tropas são poucas e não irão aguentar o exército que sobe rumo a este castelo e eu não posso ficar enviando tropas para lá infinitamente... — Murmurou o rei.

— O que o senhor está querendo dizer? — Murmurou ela confusa.

— Eu não posso ficar enviando tropas, contudo temos um novo lorde com um grande exército esperando alguma utilidade. — Declarou o pai de Cecily — Um casamento com Axel resolveria seu problema!

— Não há nenhuma possibilidade disso acontecer! — Afirmou ela.

— Querida, boatos correm sobre você e o seu Chefe da Guarda — Disse a rainha chamando a atenção de Cecily — Esse casamento acabaria com estes boatos e conseguiria tropas para você.

— Você diz ser a Senhora de Bosquemel e que quer garantir um futuro para seu filho. Se não conseguir mais homens para a fronteira logo não existirá um futuro para Willas. A decisão é sua, casa-se com ele ou Willas talvez tenha de pensar em uma vida diferente no futuro. — Falou o Rei da Campina.