A Rosa Dourada escrita por Dhuly


Capítulo 22
Noite de Despedidas


Notas iniciais do capítulo

Alguém ainda se lembra da fanfic?
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/728139/chapter/22

t o r r a l t a

Lyra ainda tinha a respiração descompassada, seu peito subia e descia em um ritmo frenético. O suor fazia com que seu cabelo castanho grudasse em sua pele e as cobertas que estavam sobre si não ajudavam muito, todavia ela não se atreveria a mover um músculo para removê-las, não com seu marido nu ao seu lado.

Ainda não sabia como havia chegado àquele estado. Talvez tivesse sido por conta do vinho excessivo que os dois tomaram durante o jantar, quem sabe a falta de carícia de que os dois precisavam. De qualquer forma não importava mais, ela havia feito “aquilo”. Sabia que não era errado já que eram casados, contudo ainda assim sentia-se impura ou estranha de certa forma.

Virou de costas para Niklaus devagar, não queria acordá-lo e ter de falar com o mesmo, não depois de tudo aquilo. Deuses, nem ela sabia como havia acontecido, só sabia que havia feito coisas da qual se arrependia ou talvez não…

Oh, onde havia me metido?

Suspirou e levantou-se o mais sorrateiramente possível, sua camisola estava jogada no chão e ela tentou não lembrar da forma quente em que havia se livrado enquanto a vestia novamente, colocou um pouco de água em uma das taças de prata que repousava no criado mudo e bebeu tudo rapidamente, ainda estava sedenta por mais. Saiu do quarto até a sacada onde estava mais fresco e ela respirava com mais facilidade.

A grande lua cheia iluminava a noite de Vilavelha, o céu sem nuvens e a brisa do mar faziam com que ela se sentisse um pouco mais livre depois de tanto tempo sendo jogada de um canto para o outro como um saco de farinha por sua mãe. Mordeu seu lábio inferior enquanto pensava na forma que ela havia ido embora da cidade como um furação, seu avô havia tentando convencê-la de que aquela decisão fora precipitada e que Lyra deveria mandar a mãe voltar, contudo seu orgulho impedia. Um hora dessas Terresa Tyrell deveria estar tomando uma taça de vinho na Fortaleza das Águas Claras.

Sentiu-se presa ali mais uma vez e percebeu que não poderia ficar ali nem mais um minuto, já que a mesma duvidava que poderia conseguir dormir naquele momento. Pegou uma pesada capa e saiu do quarto com pés leves. Os guardas no final do corredor olharam para ela com desconfiança, mas não poderiam fazer ou falar nada sobre seu passeio noturno, afinal, como sua mãe sempre quisera, ela era rainha. Desceu as escadas laterais que levavam para um corredor intermediário, ali o ambiente era escuro e amedrontador, a rainha apertou o passo até paralisar quando ouviu um “psiu”.

Lyra sentiu o coração apertar fortemente por um segundo e logo depois bater descompassadamente como a minutos atrás. Gerold havia morrido a poucas luas, e se agora fosse a vez dela? Pegou o primeiro castiçal que viu pela frente e se encostou em uma das paredes de pedra.

— Quem está aí? — Questionou com uma voz autoritária, ao menos o que ela conseguiu fazer com todo o medo que a preenchia.

O que está fazendo Lyra? Você já deveria estar gritando pelos guardas. Era o que ela estava prestes a fazer quando uma voz saiu das sombras.

— Um amigo. — O desconhecido tinha uma voz ainda de menino e ela sentiu-se um pouco menos assustada.

Uma das portas do corredor se abriu e ela viu um garoto, ele não tinha mais do que doze dias de seu nome, era franzino e tinha muita sardas pelo rosto, além de estar pobremente vestido com trapos, ele a lembrou de Lorien. O coração da Hightower se compadeceu, mas ela não deixou de segurar o castiçal com toda sua força.

— Perdão se a assustei milady — Ele tentou se aproximar, mas ela levantou o castiçal o avisando que não, o jovem obedeceu. — Tinha que encontrá-la quando não estivesse com mais ninguém e nenhum ouvido estivesse por perto, vim em nome de seu pai, Lorde Tyrell.

A morena deixou o ar que estava preso em seu pulmões sair de uma vez. Sentia tanta saudade de seu pai e de Barth, se não fosse pelas maquinações de sua mãe ela ainda estaria com eles. Contudo ela continuou em guarda.

— Como posso saber se é verdade?

Ele aproximou-se devagar e ela sentiu os músculos da mão enrijecerem, mas ele apenas deixou uma pequena carta selada sob seu pés antes de se afastar alguns passos. Lyra abaixou-se com cuidado e pegou o pequeno envelope com o selo da rosa dourada, quebrou o selo com rapidez e assim que leu a primeira linha sentiu as lágrimas caírem. Era a letra dele.

 

Minha querida filha, infelizmente tenho que ser breve pois não tenho permissão de mandar esta carta para ti. Sua posição é muito arriscada agora que é a rainha de Niklaus, o rei não está feliz e eu também não. Porém, talvez eu possa conseguir o seu perdão real caso você coopere e nos mande informação sobre as forças Hightower, assim quando esta guerra acabar você estará salvo em casa. O garoto tem todas as instruções necessárias.

De seu pai que te ama muito.

 

Ela limpou as lágrimas de seu rosto e segurou a carta sobre o peito. Aquilo parecia um sonho, voltar para sua antiga vida e ser feliz ao lado de sua família. Mas ela mesma sabia que isso não seria mais possível, ela não era mais a mesma garota que havia ouvido rumores sobre se casar com um príncipe em Jardim de Cima. Sua família estava mais separada do que nunca e agora ela tinha um esposo. Como ela poderia traí-lo quando a minutos atrás havia se entregado para ele totalmente? Como poderia trair suas cunhadas? Como faria aquilo com Arthur, seu avô, seu tio…

Pelos sete, desde o início ela havia sido contra tudo aquilo, mas era tola para deixar que sua mãe a manipulasse da forma que queria. Nunca verdadeiramente quis ser rainha ou sair de Jardim de Cima, nunca quis nada daquilo e agora poderia ter uma chance de pelo menos tomar as rédeas de seu futuro uma vez na vida.

— Milady, o tempo está passando e eu não posso ficar muito mais aqui, seu pai precisa de informações enviadas para ele daqui a dois dias, estarei aqui, na mesma hora esperando pela senhorita. — Então ele sumiu por uma escada escura para os confins de Torralta.

Lyra voltou para o quarto meio atordoada. Niklaus ainda dormia e ela olhou uma última vez para ele antes de tomar sua decisão. Que ele a desculpasse algum dia…

 

 

Era tarde da noite, mas mesmo assim Blair não parava de soltar a corda do arco e acertar flechas em pontos certeiros do alvo. Simplesmente precisava extravasar e liberar tudo o que havia segurado dentro de si por dias. Havia perdido sua mãe a tanto pouco tempo, seu pai também se fora e agora Nilklaus estava partindo para a guerra com o risco de nunca mais voltar para casa.

Ela via as pessoas que amava partirem uma atrás da outra e como sempre ela estava impotente. Tentava se manter firme por sua família e por ela mesma a tanto tempo que nem havia passado realmente pelo luto, quando sua mãe morreu ela teve que dar seu ombro para Armelyne, quando seu pai morreu ela teve de fazer isso de novo. Sempre ali para os outros, mas ela nunca via ninguém para ela, Niklaus estava muito ocupado com seu casamento e sendo rei, Lyne estava quase se casando e sempre permanecia em sua bolha fechada, por mais que as duas fossem próximas. Deuses, eu amo eles, mas será que podem ao menos pensar um pouco mais em mim uma vez na vida.

Soltou a respiração e mais uma flecha, ela acertou o alvo bem no centro e logo ouviu palmas atrás de si. Virou-se para ver Olyne Redwyne com um sorriso doce na face.

— Não sabia que a princesa era tão boa em arco e flecha. — É claro que Olyne sabia disso, mas achou educado dizer que não e engrandecer as habilidades da princesa.

Blair corou um pouco e deu um sorriso bobo, guardou a aljava e o arco.

— É muita gentileza sua — Agradeceu enquanto tirava as luvas de couro que usava enquanto atirava, para não machucar os dedos.

— Se não for muito intrometido de minha parte — Ela começou com um brilho sagaz em seus olhos verdes. — Poderia saber o que a princesa faz a essa hora da noite praticando arquearia?

— Eu acredito que para mim a noite é o melhor momento para espairecer, apenas eu e o céu sob minha cabeça. E você? — Questionou colocando as mãos na frente do vestido, agora já estava face a face da outra nobre.

— Oh eu? Apenas resolvi dar uma caminhada noturna antes de dormir. Sua alteza gostaria de me acompanhar?

Blair não viu porque não, logo as duas andavam juntas na silenciosa torre, apenas os guardas noturnos apareciam em seu caminho de vez em quando.

— Então, o que acha de toda essa guerra?

A princesa piscou um pouco e voltou sua atenção para a acompanhante.

— Eu não sou a favor de toda essa violência, principalmente quanto tantas vidas estão sendo ceifadas. Você com certeza deve se preocupar com seu irmão indo para o fronte não? Eu me preocupo com o meu…

— Otto treinou a vida inteira para momentos como esse, ele saberá se virar. Enquanto ao Rei Niklaus eu tenho certeza que nenhum mal acontecerá a ele, com certeza milhares de homens vão estar entre ele e todos os perigos do campo de batalha.

Blair apenas assentiu enquanto meditava sobre a moça ao seu lado. Lady Olyne já tinha vinte primaveras em sua vida e ainda não era casada, o que intrigava a mais nova já que a Redwyne era tão bela e carismática, sabia cantar como o rouxinol mais afinado e dançava a valsa como ninguém, com certeza algum nobre já deveria ter proposto a ela depois de tantos anos. A morena achou por bem não comentar sobre isso, poderia ser um assunto complicado, resolvendo mudar para outro assunto que ela achava menos embaraçoso.

— Soube que sua irmã está lutando pelos Gardener. — Levantou o olhar para ela esperando uma resposta.

Olyne foi pega de surpresa com a pergunta e teve de se segurar um pouco para não perder sua serenidade, a última coisa que queria conversar com a princesa era sobre sua gêmea problemática. Fazia tanto tempo que tivera notícias ou trocara cartas com ela, mesmo antes da guerra estourar e seu contato com a corte acabar. Pouco sabia do paradeiro dela e pouco se importava.

— Oh… é uma tragédia não é mesmo, sempre achei ela com uma personalidade forte e ideias estranhas, é realmente uma pena que ela traga tanto desgosto para meu pai. — A ruiva fingiu estar comovida e a princesa olhou para ela com curiosidade, não sabia se ela havia caído naquela ou não, parecia que sim pois a mesma soltou um “aham” apático e ambas continuaram seu percurso até um dos jardins elevados da fortaleza.

Sentaram-se em um dos bancos de mármore escuro e observaram as pequenas luzes lá em baixo na cidade, dali qualquer um poderia se sentir intocável.

— Diga-me vossa alteza, já esteve com um rapaz alguma vez?

Blair levantou a cabeça de supetão e olhou vermelha para a ruiva, Olyne não parecia envergonhada de forma alguma com a pergunta, apenas continuava olhando para a cidade calmamente, aguardando uma resposta.

— Não… — Respondeu com um misto de vergonha e confusão, qual seria o ponto daquela pergunta?

Surpreendeu-se ainda mais quando os lábios dela se fecharam sobre os seus. Arregalou seus olhos avelã e a empurrou em um instituto rápido. Olyne olhava para a mais nova com curiosidade e algo mais, talvez cobiça, mas a Hightower estava muito chocada para tentar decifrar.

Blair não sabia o que dizer, mas tentou optar pela calma e sensibilidade.

— Perdão Lady Redwyne, mas moças não me interessam.

Ela o olhou fria por mais alguns segundos antes de se levantar de súbito.

— Oh o que eu estava pensando? Aposto que tomei vinho demais esta noite, onde estava com a cabeça? Beijar a princesa? Oh perdão vossa alteza, eu com certeza ultrapassei os limites essa noite, mil perdões, vou me retirar imediatamente! — E assim ela se foi pelos corredores silenciosos, deixando uma Blair desconfiada e confusa no jardim.

A princesa começou a enrolar uma mecha ondulada de cabelo no dedo enquanto pensava no que havia acontecido. Percebeu que ainda estava sem sono e muito perturbada para dormir, iria para a biblioteca ler e tentar digerir o beijo da ruiva. Ela não é tão doce e ingênua quanto todos pensam, pensava consigo mesma enquanto descia as escadas.

 

 

O vinho da Árvore parecia ter um sabor mais doce aquela noite. O casal estava deitado sobre a grande cama de dossel, os lençóis e os travesseiros eram um emaranhado, mas não tão bagunçados quanto o cabelo de Armelyne. A princesa parecia qualquer coisa, menos uma nobre. Sua camisola mal cobria seu corpo delicado, um pouco de vinho escorria de seu queixo já que a mesma estava meio bêbada e meio sonolenta. Otto apenas a observava, admirava sua beleza e como ela era tudo o que ele não esperava.

Tudo havia começado algumas horas atrás, depois de seu passeio pelos jardins a tarde. Tentara ser cortês e nobre, afinal ele prezava muito pelo respeito às mulheres, principalmente aquela que seria sua esposa. Mas tudo havia mudado de tom depois do jantar dos dois, papo vai e papo, logo depois de algumas taças de vinho ele começou a perceber outra garota da qual ele idealizava. Uma Armelyne ousada, instigante e sensual, uma garota que havia tirado a roupa dele com a maior facilidade do mundo e que sabias de coisas que ele nunca havia visto nem uma meretriz fazer.

Depois de todo o clímax de sua relação ele não podia fazer mais nada além de vislumbrar que bela mulher havia encontrado.

— Porque você está me olhando com essa cara de bobo? — Ela questionou com um sorriso zombeteiro na face, seus lábios vermelhos foram em direção aos seus e os dois beijaram-se apaixonadamente mais uma vez.

— Estou apenas admirando a sorte grande que eu tive, você é tudo, menos o que eu esperava.

— Não seja por isso, eu também estou mais do que surpresa contigo, você é muito mais do que um jovem galante e rico.

— Então você me acha galante? — O sorriso dela era a coisa mais linda que ele já vira, era vivo, animado, emanava energia e contagiava as pessoas em volta.

— Não posso dizer que não… — Ela sussurrou em seu ouvido e ele se arrepiou por inteiro, sentindo cada parte de seu corpo chamando pela princesa mais linda daquele reino.

— Nós não devíamos estar fazendo isso, é errado já que ainda não estamos casados. Imagina se descobrirem? — Agora, depois de toda a noite que tiveram, ele percebeu que poderiam ter feito uma grande besteira.

— Oh não se preocupe, eu nunca fui pega — Ele semicerrou as sobrancelhas e ela riu, dessa vez não da situação, mas dele. — Ora não faça essa cara meu belo Otto, você não é a primeira pessoa com que eu fico.

Ele riu do comentário.

— Bom, você também não é o primeira garota com que eu fico.

Ambos riram um pouco e depois ele bebeu mais um pouco de vinho enquanto o silêncio preenchia o quarto, apenas o tilintar distante da armadura de um cavaleiro. Mas depois de alguns segundo ele ouviu fungados e então percebeu que alguém chorava, sua noiva chorava.

— O que foi? Fiz algo errado? — Ele ficou de joelhos na cama, de frente para a Hightower.

Ela levantou a cabeça para ele e fungou mais uma vez, as lágrimas descendo pela sua bela face. Pela primeira vez ele via ela se deixando levar, desde que chegara naquele castelo vira uma Armelyne decidida e animada, sempre feliz e andando pelos corredores com alguma garota grudada em seu braço.

— Não é você, sou eu, pensando bem, talvez seja você… — Ele não entendeu e ela chorou mais um pouco antes de continuar ao meio dos soluços. — Você é simplesmente uma pessoa maravilhosa, você é gentil e doce, me diz que eu sou bonita e, deuses, é ótimo na cama e eu tenho medo de que tudo isso acabe de uma hora para outra, de que você morra na guerra ou…

— Shh… — O ruivo a abraçou e percebeu o quão fragilizada aquela garota era, talvez ela não fosse tão inquebrável quanto tentava demonstrar. — Eu não vou morrer, você pode ter certeza que eu voltarei para ti.

Ele não poderia cumprir aquela promessa de verdade, mas pessoas apaixonadas dizem coisas loucas quando estão embriagadas de amor.

— Promete? — A princesa questionou com olhos brilhando de esperança.

— Prometo!

Ela sorriu e o beijou, se jogando em cima dele e fazendo ambos caírem sobre a cama.

— Bom, então eu acho que devo fazer você não se esquecer de mim durante a guerra. — Ela disse com um sorriso malicioso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Entãooooo, faz um bom tempo não é mesmo? Primeiramente eu gostaria de pedir perdão por ter desaparecido por tanto tempo sem dar satisfação, foram vários problemas naquela época que fizeram com que eu nunca mais conseguisse voltar a escrever nessa fanfic e começasse outros projetos e aí já sabe. Mas é claro que eu não poderia deixar essa fanfic sem um final, afinal ela foi a primeira fanfic (pra valer) que eu postei no Nyah e eu tenho um carinho especial por ela.
Bom, eu tinha altos planos para essa fanfic e ainda tenho vários, mas eu creio que irei cortar alguns para diminuir um pouco o número de capítulos. Tentarei voltar a postar periodicamente, mas depende se ainda estiver alguém lendo aí XD
E esse capítulo? O que acharam? A Lyra é uma personagem que eu amo e esse capítulo é um chave para a história dela, acham que ela foi vida loka? E as irmãs Hightower?
Logo eu volto para os outros núcleos mais esquecidos também.
Se você é um leitor antigo passe e dê um oi, caso você seja um novo sinta-se a vontade para comentar e dar sua opinião. Perdoem se acharem algum erro ortográfico.
É muito bom estar de volta! Beijos ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Rosa Dourada" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.