j a r d i m   d e   c i m a

Lyra Tyrell caminhava calmamente pelos jardins floridos e cheios de rosas douradas que eram o símbolo de sua casa. A jovem donzela apreciava o dia ensolarado e a brisa leve que mexia as mechas soltas de seu cabelo castanho e cacheado, que estava preso em um penteando alto e no estilo sulista.

Seus olhos observavam as donzelas, cavaleiros e escudeiros que também caminhavam pelo jardim. Os jovens soltavam gracejos e flertes para as jovens moças nobres, as fazendo sorrir timidamente. Lyra achava aquilo tudo uma perda de tempo, elas eram nobres e no fim seu casamento seria político, esse era o destino para as donzelas de grandes casas.

A jovem Tyrell já havia se conformado com seu destino e se mantinha afastada dos jovens sedutores. Um amor juvenil era uma das privações de uma lady. As camponesas podiam se casar com seus grandes amores, mas elas, as jovens nobres, tinham um dever a cumprir para com sua casa.

A comitiva Fossoway havia trago muitos visitantes, Jardim de Cima estava mais animada e alegre do que já era. Todas as noites o Rei Garth dava banquetes extravagantes e noites cheias de música. Os bardos tocavam com garra e enchiam os ouvidos de todos com várias melodias animadas.

Lyra já havia perdido a conta de quantas danças já havia tido. Parecia que os meninos faziam filas para dançar com ela. Será que acreditavam que poderiam conquistar seu coração com uma dança? Pois se pensavam nisso estavam enganados!

A moça continuou a caminhar em sua calmaria, não tinha nenhum compromisso durante à tarde e passear pelos jardins era agradável. Ela cumprimentou um grupo de garotos aspirantes a serem cavaleiros que passou por ela e continuou seu caminho sem se enrolar com os mesmos.

Seu vestido azul turquesa, cheio de detalhes em dourado no corpete apertado e nas bordas da saia, raspava levemente o caminho de pedras brancas, fazendo um som natural e agradável a seus ouvidos.

Enfim a garota chegou ao fim daquele jardim, as muralhas brancas e cheias de relva delimitavam o local. Ali existia uma fonte com uma truta e da boca da peixe de pedra saia água cristalina. Ela olhou para a fonte e viu pequenos peixinhos nadando na água límpida.

Lyra sentou-se na borda da fonte e olhou para cima onde ficava o castelo. Jardim de Cima era dividido em três muralhas, a primeira era pequena e não muito forte, tinha a altura de três homens com pequenas torres quadradas e com cones triangulares na ponta. Muitos poderiam dizer que aquilo era um muro e não uma muralha em si, mas o segredo do local era após a muralha onde existia um labirinto, apenas quem conhecia o palácio saberia andar por ali.

A muralha do meio vinha após o labirinto, essa sendo mais forte e mais alta, com torres redondas em todo seu perímetro. Após esta muralha vinha os jardins, cheios de fontes, flores, árvores e bancos feitos de mármore.

Por fim após os jardins vinha à última muralha, está a mais forte de todas, alta e grossa, com um grande portão levadiço feito de ferro. Depois dessa última muralha vinha o castelo em si e suas várias construções. O castelo era em si um grande palácio, sendo inteiramente feito de pedra branca, trabalhado em mármore e quartzo. Dali onde Lyra estava ela podia ver os telhados dourados como o sol.

Jardim de Cima era sem dúvida um castelo magnífico. Ela tinha sorte de ter crescido naquele lugar.

— Lady Lyra? — Alguém chamou a jovem, a fazendo olhar para frente.

O jovem a sua frente possuía olhos escuros e cabelos castanhos em um tom claro. Vestia um gibão na cor verde-relva e um broche de ouro mole no formato de uma rosa. Lorien continuava o mesmo garoto magrelo e tímido de sempre, trabalhava para os Tyrell há anos. Um menino que veio dos campos férteis de Solar Rosado e virou pajem, mas por sua esperteza logo se encontrou como uma parte dos servos da casa Tyrell.

— Sim, Lorien? — Perguntou a jovem com um sorriso doce na face.

— A senhora sua mãe está chamando-a para ir até os aposentos dela — Disse o jovem.

— Obrigada por avisar — Respondeu com outro sorriso — Já estou indo!

O mais novo curvou a cabeça e seguiu seu caminho. Lyra ergueu-se e seguiu o seu também. Ela se moveu rapidamente até a entrada mais próxima para o castelo. Sua mãe e seu pai tinham seu quarto numa ala perto dos aposentos reais, era para lá que a garota seguia. Os corredores de Jardim de Cima eram sempre bem iluminados, a luz vinha de enormes vitrais coloridos que contavam a historia dos Gardener ou por portais abertos onde muitas pessoas costumavam sentar para ler ao sol.

Pelos corredores Lyra via moças e homens andando para seus afazeres, sempre gentil ela cumprimentava todos com um meneio ou um sorriso para os conhecidos e amigos. Ela encontrava guardas Gardener pelo seu caminho, todos com a mão dourada bordada em gibões ou entalhada nas armaduras. Ela também via alguns poucos homens Fossoway e outros Tyrell, a maioria das forças de seu pai se encontravam na sede de sua casa, que era Solar Rosado. Uma pequeno castelo a poucos quilômetros dali que fora dado ao primeiro Tyrell.

Fazia tempo que ela não ia para lá, visitou o castelo poucas vezes com a família. Como intendente do rei, o pai de Lyra saia poucas vezes de Jardim de Cima. A Tyrell achava que o castelo na nascente do vago era agradável e calmo, contudo ela havia se acostumado com a sede dos Gardener e já havia considerado o lugar seu lar.

Após atravessar mais alguns corredores e um jardim interno, Lyra havia chegado à porta do quarto de sua mãe, Lady Terresa. Antes da casa Florente, agora uma Tyrell. Dois soldados com a rosa dourada no peito reverenciaram Lyra e abriram a porta de carvalho para ela.

Dentro do aposento ela encontrou a mãe sentada sobre a cama com uma carta em mãos. Lady Terresa já se encontrava com 40 dias de seu nome, todavia ainda detinha grande beleza e orgulho. Os olhos dela saíram da carta e repousaram em sua filha mais nova a espera na porta.

— Minha querida, sente-se ao meu lado — Disse a mais velha batendo na cama.

Lyra fez como pedido e sentou-se ao lado da mãe. Lady Terresa abriu um sorriso e pegou na mão da filha.

— Queria falar comigo mamãe? — Perguntou a jovem Tyrell.

— Sim, tenho boas novas — Respondeu a mãe de Lyra com um sorriso satisfeito em seu rosto — Está carta traz notícias de meu pai.

Ela mostrou a carta com o selo de uma raposa rachado para Lyra. A mais jovem olhou intrigada, curiosa para saber o assunto que estava escrito no pergaminho.

— Um mensageiro veio está manha, trouxe consigo um assunto muito delicado e de grande importância para a nossa casa — Falou Terresa olhando fixamente para a garota em sua frente.

— Não faça mais mistério, me diga do que se trata — Reclamou Lyra impaciente e curiosa.

A mais velha olhou em volta como se procurasse achar alguém escondido e murmurou baixo.

— Uma guerra irá acontecer! — Disse ela para a filha.

Lyra a principio não entendeu direto o que havia ouvido. Uma guerra? Mas contra quem? A jovem estava confusa, seria a guerra contra os Martell? Era verdade que há algumas semanas atrás salteadores dornenses haviam invadido Vilavelha e espalhado sangue pelas ruas da grande cidade. Os Hightower queriam vingança, seria essa a guerra?

— Guerra contra os dornenses? — Questionou a Tyrell confusa.

— Não, contra os Gardener — Disse Terresa — Os Hightower querem o controle da Campina.

— O que? Como assim? — Perguntou Lyra ainda mais confusa.

— Eu ainda não sei tudo por completo — Explicou Lady Tyrell — Mas seu avô vem cuidando das coisas, ele arrumou o seu casamento com o herdeiro Hightower.

— Como? — Ela já não estava entendendo mais nada.

— Você será rainha minha filha! — Disse a mãe de Lyra.

Lyra já havia se perdido no rumo daquela conversa confusa e cheia de intrigas. Mas pelo menos algo ela tinha acertado, casamentos não eram por amor e sim por política.