Entrevista com um garoto escrita por fckfic


Capítulo 7
7-9




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— Meu filho, você já arrumou essa mesa de três maneiras diferentes. Seu namorado nem deve se importar com isso.

— Eu preciso fazer algo pra me manter calmo. Já olhou a lasanha? Mãe, se você queimar a lasanha...

— Mais uns minutos e ela fica pronta. Acalme-se ou vai ter um ataque do coração.

— Vou mandar outra mensagem perguntando se ele já saiu de casa. Você consegue de cuidar de tudo aqui.

— Apesar de estar muito desacostumada, já que nunca cozinhei antes, acho que consigo sim. – minha mãe zombou e eu fui atrás do meu celular.

Finalmente chegou o dia do jantar em que o Gustavo conheceria a minha mãe. E o que eu mais quero é que seja confortável para os dois, porém mil maneiras disso dar errado estão passando pela minha cabeça. E se minha mãe não gostar dele? E se ele achar muito chato e resolver que não quer um compromisso sério assim?

— EU PERDI MEU CELULAR. – gritei desesperado do meu quarto após não achar o aparelho móvel.

— Está no sofá, querido.

— Okay.

Corri até o sofá e peguei meu celular, ligando imediatamente para o motoqueiro. Eu espero que ele já esteja a caminho se não quiser provar uma comida fria.

— Onde você tá?

— Boa noite amor, tudo bem?

— Diga que você tá chegando. Espera... você atendeu o celular enquanto dirigia?

— Não.

— E então?

— Eu tô aqui na frente da sua casa.

— Okay.

— Posso voltar outro dia se quiser.

— Espera um pouco, tem alguém na porta.

Coloquei o celular no bolso da minha bermuda e respirei fundo. Poucas vezes estivesse tão nervoso assim. É um sentimento bom, não é? Abri a porta e lá estava ele, que abriu um sorriso a me ver e me cumprimentou com um selinho.

— Nem vou perguntar se você tá nervoso.

— Eu nunca apresentei um garoto pra minha mãe antes então se considere muito especial.

— Já faço isso a todo o momento.

— Então você é o Gustavo. – minha mãe apareceu atrás de mim e quase dei um pulo de susto.

— É um prazer, senhora. – os dois deram a mão e se cumprimentaram.

— Pode me chamar de Cláudia. Não fique aí fora, sinta-se a vontade.

— Mãe, a lasanha?

— Não se preocupe, já desliguei o fogo. Podemos conversar um pouco enquanto esfria.

Conversar. É agora que começam as perguntas constrangedoras que só uma mãe consegue fazer. Às vezes as perguntas em si nem são tudo isso, mas uma mãe falando muda tudo. E sinceramente, estou com medo das respostas que o meu namorado motoqueiro irá dar. Pela sua experiência, ou falta de, em relacionamentos, com certeza ele não está preparado para o terremoto que vem a seguir.

— A casa é muito agradável. – comentário clichê, porém ponto positivo. Qual mulher não adora elogios a sua casa?

— Obrigada. Provavelmente você soube que meu filho tentou esconder você de mim. Mas se for inteligente, deve saber que nada escapa de uma mãe. -  e que comecem os jogos vorazes.

— Eu também não entendi essa atitude. Você tem vergonha de mim ao ponto de me esconder da sua mãe? – Gustavo olhou para mim e eu engoli em seco.

— Claro que não. Eu só não estava pronto pra dizer que estava namorando. Podemos mudar de assunto?

— Vou me esforçar ao máximo para que isso não pareça um interrogatório Gustavo. Toda mãe tem esse lado protetor, então se alguém está saindo com o meu filho, eu quero saber quem é essa pessoa.

— Eu entendo perfeitamente.

— O Beto sempre foi muito inteligente. Se ele escolheu você usando dessa inteligência, tenho certeza que é um ótimo garoto. Você faz o quê mesmo?

— Eu trabalho como entregador numa lanchonete e tô com uns planos para o futuro.

— Desejo que seus planos deem certo. Você mora com seus pais?

— Com a minha mãe.

— Precisa trazê-la aqui um dia pra eu conhecer.

— Será um prazer.

— Hora de comer, antes que precise esquentar a lasanha de novo. – falei quando o assunto pareceu ter acabado. Se for pra conversar sobre coisas aleatórias que seja com a barriga cheia.

[...]

— Sobrevivemos. – Gustavo disse quando chegamos à calçada da minha casa, onde a moto dele estava estacionada.

— Não foi um desastre como eu tinha imaginado. Agora eu me sinto bem melhor.

— Você me subestima demais. Achou que eu ia fazer besteira na frente da sua mãe.

— Apenas estava nervoso. Fico assim com algumas situações, então é melhor se acostumar.

— Pois eu adoro as carinhas que você faz quando fica nervoso. É adorável.

— Adorável?

— Sim. Tudo em você é adorável. Sua raiva, seu riso, sua expressão após gozar.

— Eu não esperava que essa conversa fosse por esse caminho, mas já devia imaginar. Você sendo fofo só leva a um lugar.

— Sexo. Eu estou louco pra...

— Okay. Estamos na calçada e as vizinhas podem estar com um copo atrás da porta. Falamos disso depois e prometo te compensar por ter comportado.

— Ainda bem. Estou casando de ser o bom garoto, quero ser mau com você.

— Tá na hora de você ir pra casa, não acha? Preciso colocar uma matéria em dia ainda hoje.

— Tudo bem, já vou indo. – o motoqueiro se aproximou e começou um beijo que achei que seria simples, mas a língua dele discordou meu pensamento.

— Vizinhas. – falei ao me separar do beijo.

Ele riu e colocou o capacete, subindo em sua moto e pegando estrada. Olhei para os lados, vendo se tinha alguém contemplando essa cena. Um grupo de garotos que estavam rindo apontou em minha direção. Eu apenas sorri de volta e entrei em casa.

[...]

— Então você e o Alex não vai rolar. Não acredito que meu shipp está morto. – meu objetivo de ter ido à casa da Carol foi realmente pra estudar para a tenebrosa prova de matemática, mas ela me joga uma bomba dessas.

— O Alex só quer saber do meu corpinho. Eu até compararia ele ao Diego, porém ele nunca me prometeu nada. Acabei me iludindo demais.

— Mas ele parecia super a fim de você. Que perfeita ilusão.

— Namoro não é pra mim. Deus me livre já casar com essa idade como algumas meninas da escola. Sou nova, ainda tenho muita boca pra beijar antes de me aquietar.

— Eu acho bom. Assim não tenho que dividi-la com ninguém.

— Ah tá. E é justo eu ter que te dividir com o Gustavo? Você também não deveria estar namorando.

— Se você quiser, eu termino com ele e voltamos a ser solteiro juntos.

— Seria o meu sonho? Como foi o jantar com ele e sua mãe?

— Tirando o meu nervosismo, correu tudo bem. Isso está ficando realmente sério.

— Ainda pode pular pra fora do barco. Não acredito que você vai virar uma dessas garotas da escola e se casar agora.

— Nunca pensei que um dia me casaria. Você sabe, na nossa infância ainda não era aprovado o casamento dos LGBT’s. Basicamente eu ficava pensando quantos graus de temperatura tinha o inferno.

— Felizmente estamos evoluindo. Ainda vou viver pra ser sua madrinha de casamento. Quem você acha que o Gustavo convidaria pra ser madrinha e padrinho?

— Não faço a mínima ideia.

— Você deve tendo em vista a proximidade com cada amigo.

— Eu nunca conheci um amigo do motoqueiro.

— Sério? E você nunca achou isso estranho?

— Nunca tinha parado pra pensar. Sei lá, não parecia importante.

— Vocês conhecem a mãe um do outro, mas você nunca conheceu nenhum amigo do cara. Nossa Beto, você é inacreditável.

— Talvez ele tenha amigos muito ocupados. O motoqueiro nunca falou muito deles. Eu sei que houve aquela viagem depois da festa que rolou a nossa treta. Eu liguei bêbado pra ele enquanto tava com os amigos. Parece que ficaram zoando ele.

— Se eu fosse você, pediria para ser apresentado. Esses amigos devem ser bem desconstruídos, a não ser que Gustavo esconda que é homossexual.

— Não acredito que seja assim, porém vou me certificar de conhecê-los. Agora vamos estudar pra prova porque o professor vai colocar pra lascar.

— Preciso que me explique novamente o primeiro assunto. Continuo sem entender.

— Tudo bem. – voltei minha atenção aos cadernos onde estavam as anotações resumidas que fiz especialmente para estudar pra essa prova.

Carolina disse que ia pegar algo para comer antes de nos afundarmos na matemática e eu parei pra pensar no que conversamos. Era realmente estranho eu não ter sido apresentado aos amigos do motoqueiro, mas eu nunca havia dado importância pra isso. Seja qual for a razão, eu não vou desistir até estar frente a frente desses caras.

[...]

Em um momento a sós com o namorado, eu relaxava em seu colo após a complicada prova de matemática. Estava contando com alguns pontos extras para conseguir uma nota satisfatória, já que havia deixado algumas questões em branco. Aproveitei a folga do cursinho para ficar com o motoqueiro.

— Fica comigo o resto da tarde. – pedi fazendo biquinho. Sentados na areia da praia com um vento refrescante e encostados a uma pedra. Tudo o que eu precisava após essa manhã.

— Tenho que voltar ao trabalho daqui a pouco. Se souberem que estou aqui, serei demitido.

— Às vezes eu penso que nunca tenho tempo suficiente contigo.

— Não é verdade. Até que a gente consegue contornar o nosso horário pra fazer dar certo.

— Você sabe que eu não posso mais faltar o cursinho né? Dei sorte que hoje eles não abriram por causa de algum problema na instalação.

— Está tudo bem. Antes do que você imagina teremos todo o tempo do mundo.

— Promete me aguentar nos próximos meses? Eu ficarei insuportável com a pressão do vestibular.

— Algo me diz valer a pena aguentar sua fase. Mas agora eu preciso voltar ao trabalho. Te deixo em um ponto de ônibus.

— Espera. – segurei as pernas do namorado quando ele tentou se levantar. – Antes de ir quero te perguntar uma coisa.

— Estou ouvindo.

— Quando vou conhecer os seus amigos?

— Quando você quiser.

— Você nunca me apresentou nenhum deles. Estou curioso pra saber como são.

— Eu acho que não é o tipo de pessoa com quem você faria amizade.

— Por que não me deixa tentar pessoalmente?

— Tudo bem, tem uma festa no sábado. Eu te levo e apresento você à galera.

— Obrigado. – abri um enorme sorriso e selei nossos lábios em um selinho. – Lembrei agora que te devo um agradecimento especial por ter se comportado no jantar com a minha mãe.

— E você vai me agradecer aqui? Agora?

— Não vejo por que não. – usou uma das mãos para fazer com que o namorado voltasse a se encostar à pedra enquanto desabotoava a bermuda dele com a outra mão.

— Tem certeza do que vai fazer?

— Agora é tarde pra arrependimentos.

Apertei o membro rígido e desci até ele dando alguns beijos por volta da cabeça. Não demorei a abocanhá-lo e tirar gemidos satisfeitos do garoto a minha frente. Estava sentindo uma sensação de liberdade em fazer aquilo num lugar onde poderia ser flagrado a qualquer momento. Mesmo com o pouco de medo que minha consciência insistia em alertar, continuei até o fim.

Talvez tivesse perdido todo o senso de limites que aprendi durante a vida. Mas nada poderia tirar o sorriso do meu rosto agora. Tão incrível o olhar que recebia que o desejava orgulhoso.

— Eu odeio ter que estragar esse momento, mas precisamos ir agora.

— Como você quiser. Havia outras coisas que eu queria tentar, mas fica pra próxima.

— Não me torture assim. Não vou conseguir parar de pensar nisso que aconteceu agora pelo resto da tarde.

— Que bom. Adoro quando você perde a cabeça por mim.

— Você parece mais confiante. O que foi que aconteceu?

— Estou feliz e isso ativa minha autoconfiança.

— Farei o possível pra te deixar o mais feliz sempre que puder então.

Vestimos nossas camisas e caminhamos até a moto estacionada entre duas árvores, onde minha mochila estava em cima. Subimos na moto e deixamos a praia. Fui deixado em um ponto de ônibus e acenei como despedida. Não sei se Gustavo sentia-se confortável em ser beijado na frente de outras pessoas, então preferi deixar os carinhos para quando nos vermos novamente na festa com seus amigos.


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Notas finais do capítulo

Comentem, por favor! Depois desse capítulo faltam mais 3 pra terminar a primeira parte, que dependendo do desempenho da história por aqui pode ser a única ou ter mais. Próximo capítulo deve sair na quarta.



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