Entrevista com um garoto escrita por fckfic


Capítulo 8
8-9




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Adentrei minha casa e larguei minha mochila no sofá. Tive pressa em me livrar dos meus sapatos e respirei aliviado quando senti o frescor em meus pés. Minha cabeça doía levemente, mas até o fim da noite essa dor se tornaria insuportável.

— Filho. – minha mãe saiu da cozinha em direção à sala. Vestia o típico avental que sempre usava quando estava cozinhando. – Ainda bem que chegou. Estou preparando algo especial. Tem uma surpresa pra você.

Atrás dela pude ver meu pai vir de encontro a mim com um sorriso tímido nos lábios. O que ele estava fazendo aqui?

— Beto! Não ganho um abraço? – levantei-me com má vontade e realizei seu desejo. Um rápido abraço e vários questionamentos rodopiando minha mente cansada.

— Você no Rio. Aconteceu alguma coisa?

— Estou aqui há negócios. Assim que pude quis passar aqui para dar um olá. Sua mãe e eu estávamos conversando sobre você. Ela me colocou por dentro das novidades, já que nossa conversa no feriado não foi tão produtiva.

— Achei que já sabia tudo o que lhe interessava sobre mim.

— Sempre há algo a mais. Você parece cansado. Soube que está se dedicando de corpo e alma aos estudos.

— Apenas o necessário para conseguir uma vaga na faculdade.

— Vamos sentar. A não ser que você precise de ajuda na cozinha Cláudia. – Chris virou-se para ela esperando sua resposta.

— Eu dou conta. Fiquem a vontade. Logo chamo vocês para jantar.

— Luana ficou inspirada com a sua visita. – sentamos no sofá e eu olhei atentamente para ele. – Está pensando em fazer faculdade aqui no Rio. Ela tem uma tia que mora aqui, não teria dificuldade com moradia.

— Interessante. Achei que ela não se importasse com isso por agora.

— Depois de uma conversa contigo, até mesmo eu seria convencido a dar uma chance pro ensino superior.

— Que exagero papai.

— Sua mãe me contou que conheceu o seu namorado. Ouvi apenas elogios sobre ele.

— Há muito que ser elogiado realmente. – abri um sorriso sarcástico. Por que Chris estava tentando forçar um clima de confiança que nunca existiu? De qualquer maneira, estava cansado demais para discutir. – Vai ficar por muito tempo.

— Amanhã a noite pego o voo de volta para Natal. Você quer que eu fique por mais alguns dias?

— Não é preciso. Como pode ver, estou muito cansado e ocupado. Não poderei te dar atenção.

— Eu estava pensando em aparecer mais vezes por aqui. Os feriados passam rápido e mesmo neles, nunca temos tempo para conversar o suficiente.

— E o que Laura acha disso? Não acho que ela vá gostar de ver o namorado viajando o tempo todo.

— Espero que ela entenda. Você é o meu filho e minha prioridade. – deixei um riso escapar. Chris bufou frustrado. – Quantas vezes precisarei te pedir perdão? Eu estou fazendo o meu melhor Beto, mas nunca parece o bastante. Te peço que me deixe fazer parte da sua vida. Não é minha atenção magoa-lo novamente.

— Aprecio o seu esforço. Porém as coisas não vão acontecer tão cedo como você imagina. Pode demorar um tempo pra que nossa relação evolua. A questão é: Você será paciente e irá esperar esse tempo ou desistirá?

— Nunca vou desistir de você meu filho. Tome o tempo que precisa, estarei aqui sempre que quiser o meu apoio.

— Agora sim, estamos fazendo um avanço.

— Rapazes, o jantar está pronto. Não demorem ou vai esfriar.

[...]

Estava mais ansioso do que admitia para a festa de hoje. Minha indecisão na hora de escolher a roupa só reforçava isso. Não queria usar minhas melhores roupas e acabar parecendo um metido. Mas também não sabia qual tipo de festa era. Pra todos os casos, uma calça jeans deve dar conta do recado.

Escolhi uma camisa violeta com o desenho de uma ponte e o nome Arizona, que representava o estado dos EUA. Peguei um tênis Nike preto com detalhes em vermelho. Comecei então por vestir a calça e depois calçar o tênis. Coloquei a camisa e parei em frente ao espelho. Era o momento mais demorado em se arrumar. Observei meu cabelo ainda molhado já que saí do banho há poucos minutos.

Gel não era uma opção. Acabei penteando para o lado esquerdo com uma pequena franja ocupando parte da minha testa. Saí do espelho e sentei na cama, tomando o celular em mãos e desbloqueando a tela. Eram 21:21, o que indicava que o motoqueiro estava atrasado em seis minutos. Pensei em ligar para saber se ele já estava chegando, mas desisti ao pensar que passaria a impressão de que estava ansioso demais.

Era apenas uma festa onde eu conheceria seus amigos, nada demais. A opinião que eles teriam de mim não afetariam em meu relacionamento, não é? O quão influente eles são para o motoqueiro? Talvez eu tivesse razões óbvias para me preocupar sim.

O celular tocou e o nome Carol apareceu no visor. Por que ela me ligaria agora se eu tinha contado que hoje iria para a festa?

— Olá. – atendi curioso.

— Pronto para passar horas conversando sobre futebol?

— Você sabe que eu não entendo de futebol. Por que eu teria que conversar sobre isso?

— Algo me diz que é isso que os amigos do seu namorado fazem. Conversam sobre futebol enquanto bebem sua cerveja e azaram mulheres, ou homens. Ou os dois.

— Logo saberei seus costumes. Não me deixe mais ansioso.

— Não há nada com o que se preocupar. Se não gostarem de você, é só dar o melhor sexo que o Gustavo já teve. Ele nunca largaria você depois.

— Nem tudo é sobre sexo.

— Errado. Absolutamente tudo é sobre sexo.

— Vou desligar. Tenha uma boa noite.

— Você também amor. Espero que se divirta. – conclui a ligação e respirei fundo.

Será que Carol estava certa sobre tudo ser sobre sexo? Pra alguém que desde que iniciou a vida sexual nunca teve relações com apenas uma pessoa por muito tempo, isso poderia ser uma verdade. Mas agora que estou namorando, há coisas que considero bem mais importante que o sexo. Não rebaixando essa obra de arte criada por, acredito que, Deus. O sexo tem um poder inquestionável, mas não é apenas o necessário para uma relação dar certo.

Ouvi duas batidas no meu quarto e em seguida a voz de minha mãe avisando que Gustavo já me esperava. Coloquei o celular no bolso da calça e saí do quarto em direção à sala de estar. Lá estava ele de pé, usando uma calça bege e uma camisa listrada com as cores verde escuro e preto. O sorriso em seu rosto deu espaço a uma expressão que parecia ser de surpresa.

— Incrível como você consegue ficar ainda mais atraente quando está arrumado.

— Ótimo jeito de dizer que estou sempre uma bagunça.

— Você entendeu. O que achou de mim?

— Um lindo acessório para abrilhantar mais minha presença. Mamãe, eu já estou de saída. Não me espere acordada.

— Tudo bem filho. Confio ele a você, Gustavo.

— Tchau Cláudia. – a despedida utilizando o primeiro nome, como minha mãe pedira que ele a chamasse no dia do jantar, me roubou um sorriso.

Deixamos a minha casa e o motoqueiro me imprensou na porta do lado de fora me roubando um beijo. Durou pouco e olhei para os lados ao me afastar. Não havia ninguém olhando para nós.

— Não consegui controlar. – e caminhou em direção à moto.

— Estou começando a cansar de andar de moto. Quando você vai evoluir e comprar um carro.

— Pode esquecer. Essa belezinha aqui faz parte do meu charme. Talvez você não se encantasse por mim se eu usasse um carro.

— Quem sabe. – peguei o capacete que ele me ergueu e coloquei na cabeça. Subi na moto e partimos em direção a festa.

A sensação de andar de moto em alta velocidade na minha cabeça só se igualava a liberdade. E poder colocar os braços em volta do corpo daquele que se ama, sentir o forte cheiro de seu perfume apesar do capacete. Um sopro de confiança me atingiu e eu tentei manter apenas o positivismo.

Em vinte minutos paramos numa enorme casa, quase uma mansão. Já com o capacete fora da cabeça pude observar a altura da música, um típico funk carioca, e pessoas agitadas conversando, dançando ou bebendo. Ou fazendo os três ao mesmo tempo.

— Eles devem estar lá dentro.

— De quem é a casa? – eu não lembrava muito bem desse bairro, mas se não fosse a festa, diria que era bem calmo.

— Da namorada de um amigo. Os pais dela têm dinheiro e ela adora confrontá-los dando festas quando eles saem de viagem.

— Típica mimadinha.

— Você prometeu que não julgaria ninguém até conhecer a pessoa.

— Vamos em frente então.

Só a porta da casa parecia ter uns três metros. Quando entramos, a primeira coisa que notei foi a decoração. Alguns quadros enfeitavam a sala, mas muita coisa deve ter sido tirada de lá para poder dar a festa. O globo pendurado no teto, o DJ em um canto da parede e uma tenda improvisada onde serviam bebidas completavam a grande sala, além das pessoas que se divertiam.

Com um pouco de dificuldade, conseguimos atravessar pela sala e por outros cômodos até chegar ao lado de trás da casa, onde ficava uma grande piscina. Havia alguns garotos fazendo churrasco com suas latinhas de cerveja na mão, enquanto conversava com outros. Eles deveriam ser os amigos de Gustavo, pois estávamos indo em sua direção e eles pararam de conversar assim que nos viram.

— Aí está ele. – um dos rapazes disse quando nos aproximamos.

— Essa festa promete. – Gustavo tomou a vez. – Quero apresentar o meu namorado, esse é o Beto.

— O famoso Beto. – outro disse com um sorriso no rosto. – Diga a verdade, ele te pagou pra que você fingisse que namoram?

— Cinquenta reais a hora. Nenhum serviço extra incluso no acordo. – resolvi entrar na brincadeira. Talvez fosse a maneira mais fácil para me enturmar.

— Ele tem senso de humor. – o que havia cumprimentado o Gus primeiro voltou a falar. – Sou o Caio. Estes são Sandro e Erick.

Caio era alto, cabelos castanhos com algumas mechas loiras, tinha a pele bronzeada e os olhos pretos. Vestia uma camisa cinza e calça preta. Sandro era negro, olhos castanhos num contraste entre claro e escuro. Um boné na cabeça virado para trás, usava uma camisa cor vinho e bermuda jeans. Já Erick, o que fez a piada, era branco, olhos azuis e boca fina. Um topete perfeito em seus cabelos loiros, vestia uma camisa azul e uma bermuda florida.

— Querem uma bebida? – Sandro perguntou e nós assentimos que sim. Ele então saiu para pegar duas latinhas.

— Quando o Gustavo falou que estava namorando a gente não levou a sério. – Erick tomou a vez. – Ele sempre foi um galinha da pior espécie. Deixou muitos corações partidos pelo Rio.

— Vamos falar sobre outra coisa? – o motoqueiro parecia um pouco envergonhado ao meu lado. Resolvi ignorar seu pedido.

— Então vocês nunca conheceram ninguém especial pra ele antes?

— Você deve se orgulhar de ser o primeiro a ser apresentado como namorado. Sempre que ele aparecia com algum cara na nossa frente, mal sabia o nome. E não era por conta de vergonha, a gente nunca ligou pro gosto pessoal dele, mas esse aí não tinha jeito. Uma vez, a mãe de um cara que ele tava ficando foi até a festa onde a gente tinha ido...

— Já chega. Por que não nadamos um pouco?

— Eu quero saber o fim dessa história. – provoquei a onça que me recriminou com o olhar.

— Bom, o filho tinha dito a ela que ia pra casa de uma amiga. Ela nem sabia que ele era gay. De algum jeito, a mãe descobriu que era mentira e conseguiu o endereço da festa e foi até lá pra armar a maior confusão. Quebrou várias coisas no lugar, enquanto o filho tava transando num mato. A treta foi tão séria que a mulher só se acalmou quando chamaram a polícia.

— Parece que foi engraçado.

— Eu lembro que o Gustavo apanhou dessa mulher nesse dia. Ela arremessava tudo que via nele. – Caio completou.

Depois de ouvir a história Sandro voltou com duas latinhas e eu abri a minha, bebendo um gole. Gustavo estava calado e eu sabia que tinha ficado chateado comigo. Por que ele se incomoda comigo ouvindo suas antigas histórias? Talvez tivessem coisas que era melhor eu não ouvir.

Os garotos começaram a falar sobre histórias que só eles entendiam. Gustavo vez ou outra pegava uma latinha de cerveja e eu estava literalmente sobrando ali. Decidi que dançaria um pouco com o pessoal que tava na sala.

— Vou dançar um pouco. Você vem? – perguntei no ouvido dele.

— Não. Eu vou ficar por aqui um pouco.

— Acho bom maneirar um pouco na bebida. Como vai me levar de volta pra casa?

— Qualquer coisa eu deixo minha moto aqui e peço carona a alguém. – suas respostas eram frias e eu resolvi ignorar para não começar uma discussão na frente de seus amigos.

Eu não queria dançar. Não sozinho. Mas me parecia uma ideia melhor que me sentir um estranho junto com os garotos. Também tinha medo de falar alguma besteira e ganhar a antipatia deles. Já bastava o motoqueiro bravo comigo, porém isso eu resolvo depois.

O DJ apostava em sertanejo para animar a galera que correspondia cantando, algumas claramente bêbadas pela forma como embolavam as palavras. Pior coisa era ficar sozinho numa festa onde você não conhece ninguém. Encostei-me a uma parede e fiquei olhando as pessoas se divertindo, enquanto vez ou outra dava um gole na latinha que segurava.

— Isso aqui tá uma loucura. Tem um cara me perseguindo e eu não aguento mais dizer que não quero ficar com ele. O típico hétero curioso que acha que todo gay tem que ficar aos pés dele – um garoto parou ao meu lado, encostando-se a parede. Ele estava suado e um pouco bêbado.

— Que situação! – não pensei em outra coisa para falar. O garoto, cabelos castanhos e olhos verdes, me fitou e sorriu.

— Não me lembro de ter te visto em alguma outra festa.

— É a primeira vez que venho. Sou o namorado do Gustavo, não sei se conhece.

— Quem não conhece o Gustavo? Ele é bem desejado. Você é uma gracinha.

— Obrigado. – sorri sincero com o elogio. – Você também é muito bonito.

— O que está fazendo aqui sozinho?

— Não sei bem na verdade.

— Ah não. Lá vem aquele chato. Vou procurar alguém para beijar e vê se ele sai do meu pé. Foi bom falar com você... – ele parou a frase e percebi que ainda não tínhamos nos apresentado.

— Beto, prazer.

— Jefferson. Nos vemos por aí, Betinho.

O garoto sumiu assim como tinha chegado. Então o Gustavo era famosinho por aqui? Não tenho dúvida de que devem dar em cima dele o tempo todo. Será que eu deveria ver onde ele está e o que está fazendo? Sei que ele não me trairia, pelo menos assim espero, mas não tenho outra coisa a fazer aqui.

— Aí está você meu amor. – o motoqueiro se aproximou já me beijando e eu senti aquele bafo forte de bebida.

— Hey. Você exagerou, hein? – me afastei do beijo e ele me abraçou. Era a primeira vez que o via assim, carente. E devo dizer que estava gostando disso.

— Eu te amo, sabia? Acho que nunca falei isso pra nenhum garoto até agora. – foi um choque ouvir a declaração. Meu coração bateu mais forte e uma emoção tomou conta de mim, apesar de minha cabeça dizer que era tudo efeito da bebida.

— Você vai se lembrar disso quando acordar?

— Talvez não me lembre de ter dito, mas é o que sinto. E isso eu não vou esquecer.

— Vamos lá pra fora. Tô com medo de você começar a passar mal aqui.

— Por que não me disse que também me ama? 

Tentei arrastar meu namorado até fora da casa, mas ele permanecia no mesmo lugar e eu não tinha tanta força. Segurei em seu rosto fazendo ele me olhar.

— Eu também te amo Gustavo. Mais do que queria. Mais do que acho saudável amar alguém. Você me conquistou completamente.

— Então eu vou te pedir algo. – um arrepio percorreu pelo meu corpo. O que ele iria me pedir? Imaginei mil coisas, mas não acho que ele seria capaz de pedir o que estou pensando. – Vamos lá pra fora.

Fomos até o lado de fora abraçados de lado. Minha cabeça estava perdida em tanta coisa que eu pensava ao mesmo tempo. Na melhor das hipóteses, amanhã Gus acordaria com uma ressaca dos infernos e esqueceria isso. Mas eu não gostaria que ele se esquecesse de ter dito que me amava. Apesar do momento não ser exatamente como imaginei, a sensação foi mil vezes mais avassaladora.

— Eu acho que vou vomitar. – falei assim que senti uma brisa sob mim.

— Vamos viajar. Podemos dar uma volta pelo Brasil, percorrer algumas fronteiras. Tenho a minha moto e você, vai ser a melhor coisa da minha vida.

— O que você bebeu? Acho que já tá na hora de irmos.

— Eu posso estar embaralhando um pouco o que quero dizer, mas é exatamente isso. Não tive coragem de te pedir antes porque sabia que as chances de você recusar eram altas. Só pensa nisso. Alguns meses curtindo a vida sem nenhuma preocupação. As férias que você nunca deve ter tido.

— Parece ótimo de imaginar, porém você sabe que isso não é possível. Meus planos são outros, mas prometo que quando der, a gente viaja pra onde você quiser. Eu quero muito isso também.

— Você não entende? Tem que ser agora, não sabemos o que pode acontecer depois. Eu só quero aproveitar o máximo você ao meu lado antes que não tenha tempo pra mim. Antes que eu estrague tudo isso com alguma atitude idiota. Antes que um meteoro caia sobre o planeta. – abaixei a cabeça. Gustavo não parecia tão bêbado quanto imaginei. Tudo que ele falava era tão pensado, como se ele tivesse planejado tudo.

— Entende como é difícil o que está me pedindo? Eu não posso arrumar uma mochila com minhas roupas, subir na sua moto e sair pelo Brasil a fora. Tenho planejado minha vida há tanto tempo. Se eu passar no vestibular, próximo ano estarei na faculdade. Se não, eu vou me dedicar ainda mais no próximo até eu consegui entrar. O que você tá me propondo acaba com todo esse meu planejamento.

— Só tô pedindo que atrase tudo por um ano. Você é inteligente, pode realizar seus planos no ano que vem.

— Então eu vou abandonar a escola, o cursinho, todo o dinheiro que já gastei pra viver uma aventura? Não é assim que eu pretendo fazer. Você faz parecer que é a coisa mais fácil do mundo e não é.

— É loucura tentar convencer o Senhor Certinho de esquecer por algum tempo a merda de ciclo da vida que nos impõe e ser feliz.

— Você disse que me ama e agora estamos discutindo. Pra que foi tocar nesse assunto? Se ao menos conheceu um pouco de mim nesse tempo que estamos juntos sabe que eu nunca toparia isso.

— Por que caralhos você tem tanto medo de viver? Não é uma missão suicida, eu só quero te mostrar que não precisa de muito pra ficar de boa.

— Temos pensamentos diferentes. Foi por isso que apaixonei por ti. Mas não tente me forçar a pensar igual a você. Se não consegue lidar com a maneira que eu vivo a minha vida, é só me dizer. Eu só não quero que isso nos desgaste até a gente perceber que não dará certo.

— Vamos voltar pra festa?

— Eu vou pegar um táxi e ir pra casa. Não tem mais clima pra me divertir.

— Faça o que achar melhor. – Gustavo deu a volta para entrar novamente na casa.

Suspirei derrotado e deixei as lágrimas que eu estava fortemente segurando caírem. Sentei na calçada e não sei bem quantos minutos fiquei por ali, me questionando sobre várias coisas. Uma vez ele já tinha falado algo do tipo, mas eu não levei a sério. Imaginei que era uma brincadeira, ou que ele sabia que eu não aceitaria essa proposta.

Afinal, era tão recusável assim? Conhecer todo o país ao lado de alguém que eu amo e que já confessou que também me ama. Não era pela vida toda, só alguns meses pra fugir de toda essa pressão que eu tô passando. Uma válvula de escape é tudo o que eu quero agora, principalmente sabendo que as coisas tendem a piorar nos próximos meses.

Minha mãe nunca concordaria com isso. Faria um discurso sobre o quanto irresponsável eu estaria sendo em largar tudo agora. Meu pai talvez me apoiasse, seria um passo pra no futuro nos aproximarmos. A Carol talvez já tivesse arrumando a mala se a tivessem pedido isso.

O problema é que eu não sou assim e um dos meus princípios é não mudar por ninguém além de mim. Todas as minhas decisões eu procuro ser racional e perfeccionista como um bom virginiano. Talvez isso não tenha ficado claro para o motoqueiro ou talvez eu tenha sido muito rude ao explicar.

E como odeio ficar brigado com alguém, entrei na casa para procura-lo e tentar acertar as coisas. Procurei por ele na sala e fui para o quintal. Os amigos estavam lá, Caio e Erick se divertiam na piscina e Sandro conversava com eles do lado de fora.

— Vocês viram o Gustavo? – todos eles negaram e eu voltei para sala.

Todo aquele barulho e o calor das pessoas começavam a me incomodar. Senti minha cabeça latejar e fiquei um pouco tonto, provavelmente resultado da minha choradeira há alguns minutos.

— Você sabe onde fica o banheiro? – perguntei para a primeira pessoa que apareceu na minha frente, era uma menina.

— Lá em cima, mas sinceramente, deve tá uma sujeira. Vem comigo. Sou amiga da Jéssica e sei onde fica a suíte dela.

— Jéssica? – perguntei confuso.

— A dona da casa. – concordei com a cabeça e acompanhei a garota subindo as escadas.

Andamos por um corredor até parar de frente a porta de um quarto. Ela abriu e entramos.

— Aquela é a porta do banheiro. Se precisar de alguma coisa me procure. Sou a Hannah.

— Beto. – Hannah saiu do quarto e fui até a porta que ela me indicou.

Assim que cheguei perto da porta ouvi um gemido de dor e abri a porta rapidamente pensando que alguém precisava de ajuda. Porém eu nunca imaginaria o que acontecia ali naquele banheiro. E demorou segundos até cair a ficha do que estava acontecendo.

Lembram-se do garoto que parou ao meu lado na parede e reclamou sobre algum hétero o seguindo? Pois bem, Gustavo estava fudendo com ele.


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Notas finais do capítulo

E aí? Capítulo novo (o último) sai na sexta.



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