Sexta-feira. Isso significava que a festa seria amanhã e que eu teria que fingir estar animada. No mínimo se fosse uma festa normal, em que meninos não ficassem te passando cantadas baratas quando na verdade nem conseguiam falar direito de tanto álcool que já tinha bebido. Eu não era nenhuma moralista, mas eu realmente não me sentia agradável em locais assim. Nina também não, apesar dela beber – e não saber beber -, ela só iria por causa do tal Josh. Aliás ela não tinha vindo para aula, disse que tinha que se preparar emocionalmente para a festa de amanhã. As seletivas do time estavam chegando e estava pensando se eu ia conseguir entrar e eu sabia que tinha que treinar mais, mas mamãe estava reclamando tanto por causa dos meus treinos depois do que aconteceu com meu nariz que isso tirava completamente a minha atenção. O professor de física explicava algo enquanto eu fazia vários 7 na folha do caderno. Eu estava tão dispersa essas semanas, aquilo não era meu normal. O sinal bateu e fui até meu armário pegar alguns cadernos e livros, quando senti uma pequena cutucada no ombro.
— Oi...- era Elliot. – Você está na aula de redação certo? – ele perguntou.
— Sim, estou.
— Eu procurei o professor Michael e ele disse que seu caderno estava completo, será que você poderia me emprestar? Eu faltei muitas aulas nessas duas semanas então me sugeriu que pedisse seu caderno. – ele dizia com certa calma e sem olhar nos meus olhos.
— Ah sim, tudo bem. – peguei meu caderno de redação e o entreguei. – Só não se esqueça de me devolver. – dei um risinho.
— Claro. Eu te ajudei ontem e nem te perguntei seu nome. – ele riu.
— É Claire.
— Ok Claire, obrigado. – ele disse e foi embora. Fechei meu armário e fui para a próxima aula.

Já estava no intervalo, sentada em uma mesa quando Jessica Carter, Louise Hills e Amy Gonçalez sentam na minha mesa com seus respectivos almoços. Nina era minha melhor amiga, mas isso não significava que eu não conversava com outras pessoas além dela. Conhecia as três desde o jardim de infância, eu só não era amiga porque elas tinham um assunto muito diferente do meu e da Nina. Só ficavam falando de meninos e sexo e peitos e pênis. Ok não vou ser hipócrita, eu e Nina conversávamos sobre meninos mas parecia que elas só falavam disso e isso me irritava um pouco então por isso eu não era tão próxima delas e nem Nina.
— Ei Claire – disse Jessica – amanha você vai na festa do Josh com Nina, certo?
— Sim vou sim. Amanha estarei lá – bufei.
— Já sabe com que roupa vai? – pergunto Amy.
— Ah normal sabe? Blusa e calça.
— Ah sim. – disse Jessica – Olha Claire, porque você não vai mais “arrumadinha” sabe?
— Não, não sei – disse irônica. Eu nem queria ir na festa e agora ficam reclamando com que roupa eu vou? Que merda.
— Vai de vestido, ou algo mais decotado. Tem gente que vai ficar mais interessado do que já está. – Jéssica deu uma piscadela de olho e se levantou com suas duas amigas.
— Obrigada do mesmo jeito meninas. – forcei um sorrisinho para tentar ser simpática e elas sorriram de volta.

Independente de quem estivesse interessado eu não ia toda arrumada pra ir numa House Party há 5 minutos da minha casa. As aulas passaram normalmente e a optativa também. Fui para treinar no ginásio quando meu celular começa a tocar.
— Claire cadê você? – era mamãe.
— Tô no ginásio treinando.
— Ah não Claire, minha filha você precisa descansar
— E eu preciso entrar no time, beijos – desliguei sem esperar pela resposta. Ela já estava começando a ficar preocupada demais com isso. Eu só queria treinar em paz para conseguir uma vaga no time. Só isso.
Corri em volta da quadra praticamente umas 20 vezes antes de começar a aumentar a velocidade. Treinei saques, manchetes, levantamento, ataque, bloqueio. Ainda bem que tinha várias bolas no chão do ginásio, facilitava mais o treino. Corri mais um pouco e decidi parar quando já estava dando 07:00 p.m. Fui ate o chuveiro do vestiário e tomei um banho rápido. Eu não era a única ali treinando, lideres de torcida e jogadores de futebol estavam treinando no campo, alunos que faziam parte da aula música andavam pelos corredores com seus instrumentos. Sai da escola e fui andando até em casa. Cheguei em casa e tomei um banho decente, fiz alguns deveres e me deitei na cama. Quem será que estava “interessado” em mim? Será que era alguém interessante também? Eu não linda, nada demais. Era normal, cabelo liso, um pouco alta demais, um pouco magra até demais – como dizia mamãe – olhos verdes e só. Eu me sentia bem comigo mesma, mas não me achava interessante para alguém se interessar. Será que eu realmente deveria ir mais arrumada? Revirei os olhos só de pensar. Ok poderia comprar uma blusa nova. Conversei com Nina por mensagem e bufei ao lembrar que Elliot não tinha me devolvido meu caderno. Deixei pra lá, poderia simplesmente pegar com ele segunda na aula de redação.

Acordei no horário de sempre, fiz uma vitamina e fiquei deitada na sala. Meus pais provavelmente ainda não tinham acordado então voltei pro meu quarto e decidi pegar um bloco de papel de maior gramatura e fiquei fazendo alguns esboços de ambientes. Eu sempre me interessei por arquitetura e eu já tinha estabelecido na minha mente que era aquilo que eu ira fazer de faculdade e que eu não tinha dúvida que era aquilo que eu queria fazer pelo resto da minha vida. Ouvi barulho vindo lá de baixo então tirei meu pijama e coloquei uma roupa normal. Desci as escadas e papai estava tomando café junto com mamãe.
— Mãe, você pode me levar ao shopping? – perguntei me juntando a eles.
— Claro, o que vai fazer lá? O que vai comprar? – perguntou dando uma golada em seu café preto e amargo. O de sempre.
— Uma blusa nova. Nina me chamou para ir em uma festa hoje.
— Olha que novidade. Você não se interessa muito em comprar roupa para ir em uma festa de bairro – disse papai dando um sorrisinho. – Tem algum menino envolvido nessa história que eu deveria saber?
— David! – minha mãe o repreendeu mas acabou rindo.
— Não. Só quero comprar uma blusa mesmo. – eu respondi. Querendo ou não eu queria impressionar quem estava interessado.
— Ok querida, eu te levo lá – ela disse por fim e fiquei a esperando terminar seu café e trocar de roupa.
Fomos ao shopping e comprei tipo um corpete. Não era exatamente um corpete, não era tão justo ao ponto de me deixar com uma cintura que eu não tinha. Eu não ficava com peitões. Era um corpete, mas não era um corpete. Tinha uma cor de creme e uma estampa delicada pequena de rosas vermelhas. Comprei dois sutiãs. Claro que não eram escandalosos igual os de Nina, mas não era igual os de cor de pele que eu sempre comprava.

Já era 08:00 p.m e eu estava na casa de Nina, deitada em sua cama esperando ela se arrumar. Eu apenas tinha passado um lápis preto na linha d’água e secado meu cabelo no secador invés de deixar naturalmente igual eu sempre fizera nas outras vezes. Nina ainda estava de roupão, ou seja, se ela ainda não tivesse decidido sua roupa, ficaríamos ainda mais 1 hora esperando. Stevie estava ansioso para vê-la e queria nos levar de carro mesmo que fosse só atravessar a rua e andar por 3 minutos. Ele se preocupava com nossa segurança e queria deixar claro para o tal do Josh que ela tinha um pai protetor.
— Que tal? – ela perguntou se virando finalmente para mim. Nina estava linda, ela já era bonita o suficiente sem maquiagem mas agora sua beleza estava mais destacada. Ela tinha passado um delineador e esfumado com pouco de sombra preta em baixo fazendo seu olho ficar um pouco maior.
— Uau. Tá bem gata – disse sorrindo. Ela ficou um pouco vermelha e foi até seu closet pegar sua roupa. Era uma roupa básica, calça jeans uma camiseta preta que era um pouco brilhante e uma sapatilha preta. Ela se vestiu e descemos para o primeiro andar.
— Uau, minhas princesas estão lindas – ele disse dando um abraço em nós duas.
— Obrigada – dissemos juntas.
— Você está parecendo uma mulher – disse ele a analisando. O brilho em seus olhos era inegável que ele realmente está vendo ela se transformar em uma mulher a cada dia. – Está parecendo sua mãe – ele disse e Nina abaixou a cabeça.
Era um pouco desconfortável esse assunto pros dois, porque era obvio que Stevie ainda amava muito sua ex-esposa, mas Nina não queria que ele ficasse se sentindo triste pela mãe ter o largado em troco de uma oferta de emprego na Escócia sem ao menos se importar com a família.
— Vamos – ele disse por fim e saímos. Entramos no carro e já dava para ouvir a música alta vinda da festa. – Espero que os vizinhos não chamem a policia – ele disse e nós rimos.
Chegamos a nem ficar dois minutos dentro do carro e já tínhamos chegado. Nina deu um abraço apertado em seu pai e eu fiz o mesmo. Saímos do carro em frente a casa. Algumas pessoas conversando fora mas parecia que não estava extremamente cheia por dentro.