O Casarão escrita por Aurora


Capítulo 3
A Hora do Chá


Notas iniciais do capítulo

Olá CupCakes, voltei com esse breve capítulo! Daqui uma semana tem mais! Beijos!



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CAPÍTULO DOIS

A HORA DO CHÁ

 

Aurora sentia-se deslocada a cada palavra da Duquesa.

O chá havia chegado, porém até mesmo o jeito como Aurora segurava sua xícara era motivo para a Duquesa ralhar-lhe ou olhar-lhe com desaprovação. A menina sentia-se completamente e exposta, e o chá só melhorava por conta de Viola, que sorria enquanto contava sobre a gravidez.

—Bem, Valentin está tal qual uma criança! – riu-se Viola. – Quer uma menina, para chamar de Viola também. E claro, mimá-la como qualquer primogênita. – ela olhou para sua barriga como se desconfiasse que não era uma menina. – Mas eu acho que vai ser um menino, forte e bonito como o pai. Já até pensei em alguns nomes; Edward, Nicholas, Henry... – ela sorriu pronunciando o último nome.

—Henry...Refere-se à Henrique? – disse a Duquesa com desdém. – Que nome horrível, Viola! Por favor, seu filho merece um nome melhor. É um nome um tanto comum entre pessoas que me dão nos nervos.

Viola olhou-lhe divertida.

—Eu gosto. É bonito. É o nome do avô materno do Valentin. – ela disse ainda sorrindo.

A Duquesa estreitou os lábios como se reprovasse, mas a mera menção ao nome do Valentin fez-a calar-se.

—Gosto de Artur, - disse Aurora, - é o nome do meu irmão.

A Duquesa encarou-lhe.

—Então, tem família? – perguntou com desdém e depois lançando um olhar para Viola mudou sua expressão e desculpou-se. – Oh querida, não me interprete mal! Sinto muito se pareci grosseira ou indelicada, mas nunca poderia imaginar que uma moça de família... Bem...

—Trabalhasse. – Aurora completou a frase sorrindo.

—Sim, - e novamente a Duquesa sorriu maldosamente. – É de se esperar que mulheres não façam esse tipo de coisa. Sabe... Esse tipo de coisa chega a ser...

—Decente? – completou novamente, a garota. – Porque é assim que eu chamo ganhar dinheiro com suas próprias mãos e não ser sustentada por ninguém.

A Duquesa sorriu novamente, com ainda mais malicia.

—Talvez tenhamos conceitos diferentes de decência, querida.

—Com certeza temos.

Viola que entre essa breve discussão se encontrava bebericando o chá como se não estivesse ouvindo aquilo, colocou a xícara na mesa.

—E você, Genevieve? – sorriu Viola enquanto despistava a discussão que com certeza se seguiria. - Me conte mais sobre sua vida. Está há tantos meses sem dar notícias, faz mais de um ano! E quando volta... Bem, não fala nada sobre você... – perguntou Viola muito displicente e animada.

—Oh Viola! Como sempre, atenciosa comigo! Bem, tem sido diferente de tudo que já vive, acredite-me! Tornou-se minha obrigação cuidar da casa e dos criados, é um trabalho exaustivo! – disse a Duquesa se abanando com seu leque. – Claro que eu trabalhava assim mesmo antes de ser Duquesa, afinal, era governanta da casa do Duque. Mas pelo menos, a falecida mulher dele me ajudava em algumas questões. – ela disse como se aquilo não fosse bem uma verdade. – Pobrezinha, a coitada mesmo no final da vida se preocupava tanto.

—Nunca entendi como uma mulher tão jovem pode morrer daquele jeito. – observou Viola. – Hemorragia, pelo o que ouvi dizer.

—Sim, a coitada não aguentou. – disse a Duquesa enquanto bebericava o chá. – Mas concordemos que não era nenhuma moça Viola. Tinha mais de quarenta anos.

—Mesmo assim... – dessa vez foi Aurora que palpitou – Pelo o que dizem, a doença se manifestou e ninguém conseguiu curá-la. É no mínimo estranho.

A Duquesa acenou a mão como se dissesse para pararem de falar tolices.

—Ouçam, ela estava uma senhora já. Estava condenada, a pobrezinha. Os médicos não sabiam o que ela tinha até o dia que faleceu. – a Duquesa abaixou a cabeça como se respeitasse ainda a memória da antiga patroa. – Tem sido exaustivo, essa é a verdade. – disse a Duquesa quase parecendo humana dessa vez. – Cuidar do Duque, esperar que ele melhore dessa tristeza. Acho que ele só me aceita porque dou-lhe apoio. Mas estou exausta.

—Bom, sabe que se quiser descansar, será muito bem quista aqui. – retornou Viola, que agora estava concentrada inteiramente na Duquesa.

—Eu até viria, mas não sei se aguentaria ficar tão longe de uma igreja, me sinto mal sem orar pelo menos uma vez por dia. – disse a Duquesa.

—Tem tantos pecados assim a serem confessados, madame? – Aurora perguntou um pouco alto demais. O olhar da Duquesa recaiu sobre a moça e logo depois sorriu. Um sorriso falso e dissimulado.

—Ora, não tanto quanto qualquer moça, mas claro, fui criada como uma boa dama, e assim sendo, sou uma boa cristã. – respondeu. – Bem, meu chá acabou! – ela anunciou e levantou-se. – Vou buscar mais um bule, para continuarmos a conversa agradável.

—Não precisa Genevieve, eu chamo a Tia Isabela para nos servir algum chá e... – Viola começou quando a Duquesa ergueu a mão.

—Não, eu sou a visita, mas não quero atrapalhar os empregados de seus serviços habituais! – respondeu a mulher. – Volto em um zás trás! – e dizendo isso, saiu pomposa.

Viola suspirou e recolocou sua xícara na mesa, e logo depois olhando para sua dama de companhia.

—Não devia ter dito aquilo Aurora. Genevieve sempre foi muito religiosa, e depois de sua decepção amorosa e a morte da sua mãe, ela simplesmente, só achou auxilio na igreja. – Viola, ao contrário da Duquesa, não estava zangada, ou fingia ser doce e compreensiva, ela era doce e compreensiva, e Aurora sentia isso. – Ela é forte, determinada, conheço-a desde menina e nunca a vi desistir de nada que quisesse, usava de todos os métodos que podia. Já me ajudou tantas vezes... – ela sorriu e segurou entre as mãos a mão de Aurora. – Queria que tentasse, embora eu saiba que seja difícil, não falar tudo que pensa para ela. Ela não aprecia isso tanto quanto eu. Tente ser amiga dela. Você é uma ótima dama de companhia, detestaria que minha amiga mais antiga te odiasse.

Aurora apenas abaixou a cabeça e assentiu.

—Eu farei isso, senhora.

—Fico feliz. – ela soltou a mão da menina sorrindo. – Por que não vai atrás dela e oferece-lhe ajuda? Pode ser um bom primeiro passo. – Aurora concordou em silencio e se levantou, indo para a cozinha em seguida enquanto Viola sorria ainda sentada à mesa.

Enquanto Aurora caminhava pensava que Viola era muito compreensiva com ela, e que era sortuda por isso, afinal... Qualquer uma no lugar de Viola teria a demitido na mesma circunstância.

A garota ia adentrar a cozinha quando viu a Duquesa preparando as xícaras de chá enquanto cantarolava. Genevieve colocou a água quente e por último  adicionou o conteúdo de um pequeno saquinho em uma das xícaras, logo depois misturou o conteúdo com uma colher.

—Duquesa? – Aurora perguntou antes que ela se virasse. A mulher em um pulo virou para trás e quando viu Aurora sorriu.

—Ah menina! – ela riu. – Me assustou. – ela colocou a mão no coração e seus lábios ainda formavam um riso falso. – Não deveria se anunciar assim, tão próxima à pessoa! Eu poderia ter me queimado com o chá.

—Desculpe, mas... – Aurora olhou das xícaras para a Duquesa. – Vim perguntar se a senhora gostaria que ajudasse-lhe a servir o chá. – vendo a cara da Duquesa se fechar em uma expressão de dúvida, acrescentou - Seria uma honra.

—Ora, não se preocupe! Sei que provavelmente Viola a mandou! Ela adora que eu faça amizades com os serviçais. Mas menina, me escute, não se preocupe com isso, posso ser um pouco mais rígida do que minha amiga, mas entendo você muito bem, não precisa se esforçar para me agradar.

Dizendo isso a Duquesa pegou a bandeja onde encontrava-se o bule e outras três xícaras.

—Eu mesma levo! – e reparando o olhar de Aurora sob as xícaras continuou – São novas, as borras de chá sempre me irritam, e tenho certeza que irritam a Viola também.

—Claro, senhora. Fico feliz que possa conversar tão abertamente com a Duquesa. – a menina não queria ser indiscreta, mas não pode deixar de se perguntar o que havia naquela xícara em que a Duquesa mexera. – Mas eu levo a minha própria xícara então... – ela disse subitamente tendo uma ideia. E agarrou a xícara em que vira a Duquesa despejar o conteúdo. E de imediato a resposta veio.

—Essa não, querida. Não essa. – a Duquesa exclamou sorrindo novamente. – Essa está com o meu adoçante preferido, preparei especialmente para mim. – disse a mulher tomando um grande gole e sorrindo. – Uma xícara de chá com esse adoçante mantém a pele jovem. – ela sorriu e olhou para o alto como se aquilo fosse uma grande piada. – Quando chegar na minha idade, querida, vai desejar colocar esse adoçante até na comida.

Aurora sorriu. Não achava que vaidade fosse um dos atributos mais especiais em uma mulher. Assim a Duquesa lhe deu uma outra xícara e levou as outras duas na bandeja.

Viola as esperava, pegou a xícara ao lado da xícara da Duquesa e bebericou um pouco. O mesmo fez a Duquesa e sorriu.

Aurora pensou consigo que talvez fosse implicância sua a desconfiança com a xícara, ela havia odiado a Duquesa com todas as suas forças. Mas vendo-a tomar todo o conteúdo da xícara em que colocou o adoçante, percebeu que não havia mal algum, a Duquesa não havia sequer empalidecido.

Com o passar do relógio a conversa decorria ora sobre a vida de Viola, ora sobre a da Duquesa, e algumas vezes, com perguntas direcionadas à Aurora. Que pelo que pode perceber, a Duquesa estava tratando muito melhor (o que com certeza era para agradar Viola).

O sol não tardou a ficar perto da linha do horizonte, e só ali que a conversa se deu por encerrada.

A Duquesa foi embora e Viola foi lavar-se e preparar-se para o jantar.

Já a menina Porter foi para a cozinha conferir se Tia Isabela precisava de algo antes de recolher-se, mas não encontrou a senhora em lugar algum. “Com certeza está andando por aí um pouco despenteada e arfante encontrando algo para chamar de peste em algum lugar” – pensou Aurora rindo-se, enquanto subia para o quarto, onde mal entrou e reparou um embrulho muito bem feito com um cartão acima do mesmo.

“Caso a senhorita queira algo mais emocionante do que bordar...” – dizia o cartão em uma caligrafia forte e ligeiramente torta.

Aurora sorriu, pois sabia exatamente de quem viera o presente. Abriu o embrulho e dentro havia um livro muito bonito, com a capa ilustrada de dourado, que se intitulava As Viagens de Gulliver.

—Ora, ele sabe escolher afinal. – Aurora disse rindo-se admirando a capa do livro e o foleando.

***


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Gostaram do capítulo?



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