O Casarão escrita por Aurora


Capítulo 2
Apenas Dois Meses


Notas iniciais do capítulo

Olá Cupcakes! Vi que temos um favorito, demorei para postar, mas volteeeeiiiii! ♥
Obrigada á Lia24578! ♥
Espero que gostem!



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CAPÍTULO UM

APENAS DOIS MESES

 

É óbvio que contar a história inteira, faria desses documentos quase do tamanho de uma enciclopédia. Então me permita pular algumas partes as quais não são relevantes para a história, sim?

Pois bem, como puderam observar com o decorrer da apresentação das personagens, a vida no casarão não era ruim. Viola era doce e Valentin dedicado, os empregados quase sempre tinham tanta liberdade quanto os patrões, o que ao ver de Aurora era bem importante. E ela definitivamente gostava de lá. E talvez por esse fato, a garota, em apenas dois meses, já havia se adaptado a rotina da casa e conversava livremente com todos.

—Bom dia, senhorita. – disse a Ama à garota assim que esta entrou na cozinha.

—Bom dia! E que belo dia hoje, Ama! – ela respondeu.

—Realmente... – uma voz parecida com um trovão ressoou no ambiente. – Um belo dia, babá. – ao se virar Aurora deu de cara com Valentin na porta, sorrindo enquanto saboreava uma maça verde. Este fez um leve aceno com a cabeça e depois passou a fitar a mulher de pele negra e sorriso afetuoso que estava a sua frente. – Ama, estamos indo para a cidade, a senhora precisa de algo?

—Não meu filho, eu não preciso de mais nada. – ela respondeu. – Afinal, fomos na feira anteontem. – dito isso solto uma gargalhada gostosa de ouvir.

—Pois bem... – ele disse indo até ela e dando-lhe um beijo na testa. – Estou de saída. – ao virar-se em direção a porta parou e fitou Aurora que estava em pé imaginando o que viria a seguir. – E você, babá? Deseja algo? – ele perguntou.

—Se houver algo bom para ler, eu adoraria. – ela respondeu sem hesitar. Valentin sorriu.

—Um livro? – ele perguntou. – Me ofereci para comprar algo do seu desejo e me pede um livro?

—Algumas pessoas gostam de exercitar a mente e não os músculos. – Aurora respondeu com o mesmo tom. Mais uma vez Valentin sorriu enquanto sacodia a cabeça.

—A senhorita quem sabe, babá.

—Claro senhor. Agora se me der licença, devo ir atrás de algo que damas façam. Talvez um bordado? – a reverencia sarcástica finalizou o dialogo e a estadia de Aurora no ambiente.

Assim que a garota estava longe a Ama comentou:

—A menina tem um gênio forte, uma sorte ser bonita, ou não arrumaria pretendentes.

—Sim, ao que parece ela tem. – Valentin ainda sorria. A garota era divertidamente irritante para ele. Alegre, jovial. Ele sentia muita afeição pela menina, mas ao mesmo tempo era engraçado vê-la irritada. – Bem, estou indo. Até tarde.

***

Aurora nunca gostou muito do modo como os homens a tratavam. Não gostava, na realidade, do jeito que todo aquele conjunto de pessoas se comportavam em relação umas as outras. Então depois das respostas dadas ao patrão se dirigiu ao cômodo que Viola tinha lhe oferecido para repousar.

Em seu quarto, a garota lia escorada na pequena penteadeira, que também lhe pertencia de acordo com sua patroa, um livro sobre plantas existentes apenas em uma pequena parte da Inglaterra. O quarto era espaçoso o suficiente para que Aurora se sentisse sozinha naquele cômodo, mas não solitária. Em sua penteadeira repousava um dos únicos bens materiais, tirando roupas, livros e sapatos, que a senhorita Porter havia trazido para a casa dos Montes; uma linda caixinha de música que também servia como porta-joias. Era lá onde ela guardava tudo de mais importante que tinha: um anel que pertencera a sua avó, um colar dado por seu pai com um pingente de uma pequena rosa e uma única foto de uma mulher bem parecida com ela, porém com os olhos mais claros, que mesmo com a foto em preto era visível. Elizabeth era o nome que estava assinado atrás da foto, junto com uma dedicatória que dizia “Para minha sempre Aurora”. Eram esses seus pertences mais valiosos, ela realmente os amava, o anel era herança de família e tinha passado diretamente para Aurora, pois a avó dela não tivera filhas ou netas mulheres além dela. O colar foi dado por seu pai no dia de seu nascimento.  A foto... Bem, Elizabeth era o que na época Aurora tinha de chamar de amiga. Uma velha amiga.

—Aurora! Senhorita Porter! – de longe a menina podia ouvir Tia Isabela chamando-a. – Aurora!

—Estou indo! Até parece que vai morrer se esperar um minuto.

—Aurora! – uma Tia Isabela um pouco despenteada e no mínimo ofegante, apareceu na porta. – Onde você estava? Estou te procurando há horas! Olhe pra você! Está parecendo uma empregada qualquer! – com essa frase especifica Aurora fechou a cara e respondeu com ousadia.

—Pois é o que sou! Uma empregada! E me orgulho, melhor do que ser uma mulher que depende de outra pessoa para sobreviver e vive a fazer mexericos! Quanto onde eu estava.... Bem, a senhora, me desculpe, mas não parece obvio a senhora vir me procurar no único cômodo da casa em que posso ficar pois é considerado meu até segunda ordem?

Tia Isabela a olhou de cima a baixo.

—Ora menina! Deixe de falar tolices e vista-se! Anda! Ou eu mesmo troco-lhe as roupas! Deus sabe que fiz muito isso quando era criança e sua finada mãe que Deus a tenha, a deixava aos cuidados de nosso convento para que você lhe desse um pouco de sossego, pestinha.

Aurora sorriu, enquanto ia em seu baú e pegava seu melhor vestido.

—Não teriam que me aturar se me tivessem me deixado brincar com os meninos!

—Você sempre teve cada ideia, garota! Imagine. Que mundo seria esse?

—Meu irmão sempre pôde brincar na rua! E ele brincava comigo. Até entrar para o exército!

—Seu irmão é outro desajuizado! – exclamou Tia Isabela que agora estava a ajudar Aurora a desfazer o corset da roupa para que pudesse colocar a outra.

—Posso pelo menos saber para que ocasião estou vestindo essa roupa tão chique? – perguntou Aurora assim que se despiu e começou a colocar o vestido.

—A Duquesa de Wellington veio falar com Viola, ela soube que a amiga estava grávida e veio dar seus parabéns. Não é uma graça?

—A Duquesa? – perguntou Aurora. – A Duquesa não morreu ano passado com uma forte hemorragia interna?

—Não seja indiscreta Aurora! – ralhou Tia Isabela. – O Duque casou-se novamente. Ou melhor, acomodou-se, é o que dizem, o pai do Duque não aceitou bem quando Eliza morreu, e este prometeu ao pai no leito de morte que não se casaria novamente. Porém a Duquesa é uma mulher muito dedicada em cuidar do marido, creio que lhe devemos respeito.

—É claro, jamais pensaria em tratá-la mal. Pensa que sou algum bicho selvagem, Tia Isabela? – perguntou Aurora com um tom o qual nem mesmo a senhora conseguia dizer se era ironia ou realmente uma pergunta sincera.

—Penso que está atrasada! Anda, menina! Viola quer que você se sente ao lado dela! – continuou Tia Isabela com a energia de um leão enquanto empurrava Aurora quarto afora.

—Tia Isabela, preciso confessar algo. – falou Aurora por um instante com uma voz tensa o que fez a senhora parar de empurrá-la para olhar-lhe nos olhos.

—O que foi, menina? Sente-se mal?

—Não! Tem a ver com a senhora...

—Comigo? Ora! Então, fale logo!

—Quando dissertem-lhe que está velha, não acredite, suas perninhas ainda conseguem correr uma olimpíada. – ela disse em tom de brincadeira e, quando a senhora estendeu o leque que sempre a acompanhava para bater-lhe, Aurora desviou e acrescentou – Porém não posso dizer o mesmo de seus braços! – e mostrou-lhe a língua.

—Vá ser boba assim com teus parentes, menina! – ralhou Tia Isabela por fim rindo também.

—Boba é a senhora, que acha que eu realmente estou falando sério. – retrucou Aurora em tom carinhoso.

—Claro que não, sei que é tudo brincadeira sua, peste.

—Óbvio que é brincadeira. Suas pernas não aguentam nem correr atrás de mim, quanto mais uma olimpíada! – e dizendo isso a menina desatou a correr, deslizando pela escadaria, passando pela sala de estar e finalmente chegando na cozinha.

Um barulho estridente de prata caindo no chão, porcelana quebrando e um grito agudo, acompanhado de uma frase com um sotaque tão puxado que Aurora demorou algum tempo para entender que era “Que desastre! ”. Aurora esbarrara com uma dama de cabelos castanhos avermelhados, olhos de tubarão e uma pele que embora fosse muito bem cuidada, era claramente de uma mulher com pelo menos trinta e sete anos que estava segurando uma bandeja de chá.

Tia Isabela chegou logo atrás junto com a Ama que com certeza escutou o barulho e veio correndo.

—Dios mío! – exclamou a Ama.

—Oh Duquesa, a senhora está bem? – perguntou Tia Isabela enquanto analisava as mãos da Duquesa e olhava com reprovação para Aurora que agora estava com a cabeça baixa.

—Estou bem! Por sorte! – respondeu a Duquesa. – Deveria ensinar sua sobrinha a ser mais cuidadosa.

—Oh não.... Aurora não é minha sobrinha, é a dama de companhia de Viola. – respondeu Tia Isabela rapidamente.

—Pois nesse caso, creio que minha amiga estaria mais segura sozinha do que acompanhada! Essa menina é um perigo! – falou a Duquesa como se Aurora não estivesse na sala. – Veja só esses modos, e o que ela causou! Isso são modos de uma moça? Nunca!

—Ora Genevieve, como se você não fosse tão estabanada quanto ela na sua juventude! – a voz calma e doce de Viola anunciou sua chegada, parada sorrindo na porta da cozinha, acompanhada de uma pequena menina de pele e cabelos negros com flores nas mãos. – Vai, pode colocá-las lá, naquele vaso. Mas tome cuidado. – disse ela para a menina que correu para perto do vaso, depositou as flores e logo após isso retirou ele da mesa e saiu apressada murmurando um “obrigada, senhorita”.

—Senhorita? – riu-se a Duquesa. – Acaso ela esqueceu-se que você é uma mulher casada e já tão velha quanto eu?

—Com todo o respeito que poderia ter... – interrompeu Aurora. – Ela não parece ter metade da sua idade, e mesmo casada continua tendo o ar de uma donzela.

—Você é gentil, Aurora. – disse Viola com afeição. – Mas não fale que pareço ter metade da idade da Duquesa ou ficarei muito convencida. Somos quase da mesma idade, ela é apenas sete anos mais velha. – Viola tinha tato para reparar as frases cortantes de Aurora, diplomacia era a palavra que a garota usaria para descrever sua patroa. – Bem, mas já que se conheceram! Vamos para fora, para a estufa, tomar um chá e falar sobre a novidades! Quero que Aurora conheça bem meus hábitos antes que a barriga cresça para que possa cuidar melhor de mim e do bebê quando nascer.

—Se você insiste, Viola. – a Duquesa obrigou-se a sorrir para Aurora. Um sorriso falso. – Vão na frente. Eu cuido do chá.

—Não, não, não! Eu preparo o chá! – diz Tia Isabela. – As meninas vão fuxicar e deixem que as senhoras trabalham nos quitutes.

—Muitíssimo obrigada, Tia Isabela. – falou Viola pegando Aurora e Genevieve pela mão para dirigi-las para fora da casa, para dentro da estufa.

As três damas se dirigiram a uma mesa localizada no centro da estufa, Viola sentou-se e deu duas batidinhas na cadeira sinalizando que onde Aurora deveria sentar-se. A Duquesa por sua vez, tirou um lenço de sua bolsa, estendeu sobre sua cadeira e sentou-se.

—Parece que depois que desposou o Duque, até mesmo seus gestos correspondem a de uma Duquesa. – riu Viola. – Nem parece mais aquela mesma Genevieve que cavalgava junto comigo e Valentin durante os feriados na fazenda da sua mãe.

—Sou uma mulher mais velha, Viola, e não ei de me casar oficialmente, tenho que me esforçar para merecer o título que levo por ser a única mulher na vida do Duque. – respondeu ela.

—Ora! Mas isso é injusto! – retrucou Viola. – Peça pra ele! Diga que está infeliz! Faça ele casar contigo, já dividem o leito mesmo, que mal faz dividir o espaço em um altar.

—Viola, sejamos sinceras querida, já sou motivo de piada, não quero casar-me, não desejo mais isso. Não desejo nem mesmo dar um herdeiro ao Duque. Que este porco fique sem herdeiros para aquele sobrinho dele, o Henry, assumir o título.

—Porco? – interrompeu Aurora. – Desculpe-me a intromissão, mas não ama o Duque?

A mulher riu-se com a pergunta.

—Acaso você acha que é possível que eu ame um homem que não me dá o casamento que mereço?

—Acaso a senhora acha que amor pode ser comprado com festas, joias e casamentos? – retrucou Aurora.

A Duquesa a fuzilou, mas logo depois se acalmou e sorriu.

—Escute menina, eu sou uma mulher madura, não me casei com o amor de minha vida, mas arrumei o melhor partido que podia.

—Um partido que não te faz feliz! – retrucou Aurora. – Do que que adianta?

—Pobre jovem de mente em Contos de Fadas. Essa é a realidade, querida. Mulheres maduras precisam de partidos bons mesmo que estes as façam infelizes. O amor da sua vida pode nunca ser seu.

Um silencio cortante pairou no ar.

—E não dói? – perguntou Aurora antes que Viola pudesse interromper e começar outro assunto.

—O que? Me casar com alguém por comodismo ou ver o amor da sua vida amando outra pessoa? – perguntou a Duquesa. E Aurora quando olhou dentro de seus olhos podem ver a raiva e o rancor que a mulher tinha sobre aquele assunto, e após a Duquesa desviar o olhar e sorrir Aurora jurou para si mesma que nunca mais tocaria no assunto.

Viola segurou a mão da amiga.

—Pobre Genevieve. Sou sua amiga mais antiga, e nem mesmo eu sei quem é esse amor não correspondido. Mas te juro! Ele é um tolo por não ter ficado com você e ter escolhido outra a quem amar.

—Não faz mal Viola, não faz mal. Eu estou feliz, não poderia estar mais perfeito! Você não precisa saber, apenas saiba que estou bem, agora eu estou bem. – respondeu a Duquesa acariciando a mão da amiga e sorrindo, mas Aurora reparou quase momentaneamente quem era o amor não correspondido da Duquesa, porque seus lábios sorriam, mas em seus olhos havia não apenas uma raiva disfarçada de tristeza, mas também um ciúme gritante.

Viola não poderia saber, pois se soubesse isso seria como uma facada. Genevieve perdeu o amor de sua vida para Viola, e esta nem mesmo desconfiava.


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Notas finais do capítulo

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