A Morte Floresce escrita por Seok
— Dize-me: Conheceste muitos suicidas?
— Não, senhor. Eles já estavam mortos.
— Conheceste muitos suicidas antes de enterrá-los?
— Não, senhor. Eles já estavam mortos.
Sangue.
Dos pulsos de Peter, jorravam sangue.
E ele gostava.
Um oco verídico preenchia seu coração, amaldiçoando-o com uma dor que em nada se igualava àquela em seus pulsos; era muito mais sufocante… insuportável.
O que é estar vivo?
Peter não podia dizer com exatidão. Há muito esquecera-se do significado de viver. Nada mais fazia sentido.
O garoto olhou-se no reflexo do espelho, e foi encarado de volta. Encarado, sim, mas não por si mesmo. Nas lágrimas, um grito mudo de socorro.
A escuridão da noite o abraçava penosamente. Sua ansiedade proporcionava um jeito melancólico de fazer a lua fazer a companhia perfeita. Não queria mais que ela fosse sua única e fiel amiga.
Entretanto, não importa o quão dura fosse a realidade, aquela era sua vida; Peter não era o garoto mais animado da turma,o que sempre levantava a mão quando lhe era perguntado algo, o que beijava todas as garotas ou garotos, ou até mesmo o que saía com os amigos e só voltava ao amanhecer. Não. Peter era o menino que sempre estava sozinho, que nunca beijou uma garota. Era o garoto que nunca levantava a mão, e que só falava com quem falava com ele. Olhar no rosto das pessoas era uma tarefa impossível de se realizar. Falava baixo, quase sussurrando, sempre agarrado ao casaco. Talvez o casaco fosse o único que nunca o abandonava; sempre, quando tímido, Peter abraçava sua própria vestimenta e sentia-se mais seguro, protegido.
Mas o casaco não poderia proteger-lhe para sempre. A dor que sentia era imensurável.
O pai de Peter, renomado policial, sempre guardava sua arma na gaveta de meias, onde em tempos passados o jovem rapaz costumava espiar. A lembrança de um passado distante o deixara de joelhos. Tempos em que era feliz e costumava imaginar-se como um policial, tal como aquele em que se espelhava.
Mas agora não mais ansiava por nada. Estava isento de sentimentos; sem dúvidas, a única coisa que sentia era dor.
Ele não sabia o que viria depois e isso era intimidante. Peter não sabia se o que o esperava era a escuridão eterna ou um paraíso que acalmaria seu sofrimento. No entanto, a eterna penumbra não o assustava; ela o acertava dia após dia, deixando-o exausto… Todo o tempo.
Estava assustado, mas animado. Sentou-se sobre sua cama e fechou os olhos, a arma mirada para o céu da boca. As lágrimas deslizavam pelo rosto moreno do rapaz, atribuindo uma coloração vermelha às suas bochechas. Existem lágrimas, mas debaixo delas há isso…
Todas as mágoas e dores e a necessidade constante de se comparar a todas as pessoas normais que já conheceu estavam prestes a acabar.
E o disparo ecoou.
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