Anoitecer escrita por Lynx Melnik


Capítulo 3
Capítulo Três — Uma linha fina me separa de explodir.


Notas iniciais do capítulo

Obrigada os comentários, mais uma vez ♥
Vocês estão me dando forças para continuar e muitas, muitas, ideias!
Então, boa leitura ♥



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Eu estava sentada na sala de estar de Sam, encolhida no sofá, enquanto via alguns dos meninos brincarem de lutinha no chão. Brincarem. Revirei os olhos. Não sei como, mas pude ouvir o som de alguns ossos fraturados e senti o cheiro de sangue.

Ainda estava me acostumando com os novos poderes.

Se eu me concentrasse, conseguia ouvir facilmente o que estava acontecendo lá fora — nem que seja o farfalhar das folhas e a vida cotidiana dos animais.

Assim como os cheiros. Eu conseguia captar tudo. E, no momento, meu olfato estava todo concentrado no cheiro dos bolinhos que Emily, mulher de Sam, estava fazendo.

Emily era uma mulher gentil e eu a adorei assim que conversei com ela. Era minha prima, não sei de quantos graus, mas era parente mesmo assim. E mesmo com uma cicatriz horrível deformando um lado de seu rosto, ela era bonita.

E fora essa cicatriz que me deixara quieta no canto.

Os meninos me contaram por cima a história de como Emily a arranjou: Sam acabou ficando irado e a atacou. Parece que nossos lobos interiores estão ligados a nós de uma maneira completa. Se está com raiva, o lobo vem à tona para lutar suas batalhas.

Passei as mãos no rosto, respirando fundo.

Eu já tinha problemas com estresse o bastante para uma garota humana, mas, agora com isso, eu praticamente andaria numa corda bamba para não machucar aqueles que conviviam comigo.

E quando eu fosse para Londres nas férias da escola, para visitar minha mãe? O que eu faria? Chegaria lá e diria: “Olá mãe, como vai? O tempo em La Push está sendo muito bom! Sabia que me transformo numa loba e caço vampiros?”. Ela me internaria no hospital psiquiátrico mais perto.

Vampiros.

Sam me contara sobre eles. Sobre o tratado suportável que mantinham com os Cullen, sobre eles não caçarem em nossas terras e que eles deviam ficar longe dos humanos — pelo menos de seus pescoços saborosos.

Meu estômago roncou. Eu não estava conseguindo lidar com aquilo; com aquela fome desenfreada. Eu havia comido antes de dormir, e, geralmente, isso é mais que suficiente para que eu possa ficar firme durante o dia todo.

Às vezes eu jantava. Mas, no total, eu apenas almoçava.

Eu estava sentindo o pequeno ataque que estava cozinhando em banho maria e que viria à tona assim que eu encontrasse meu pai e soltasse um: “VOCÊ ME TROUXE AQUI SÓ PARA CONTINUAR A LINHAGEM ANIMAL DA FAMÍLIA?”.

Isso não saiu de minha cabeça, também. Era como um turbilhão de pensamentos rondando por minha cabeça e quando eu esquecia de um, tadã: lá estava o outro para me ocupar a mente.

— Serena, querida. Quer um bolinho? — Ouvi a voz de Emily me chamar e retirei as mãos do meu rosto, olhando-a. Ela tinha um sorriso amigável no rosto e me estendia uma bandeja de bolinhos tamanho GG.

Peguei dois. E, pensando melhor, peguei mais um.

Eu realmente estava com fome.

Os meninos me olharam e riram.

Revirei os olhos enquanto dava uma mordida no primeiro. Sabia o nome de todos, mas, não conseguia assimilar eles aos donos — eles eram praticamente todos iguais. Dizem que Deus parou no Japão/China/Coréia e, cansado, resolveu apenas ir no Ctrl c Ctrl v — mas, quem disse isso, com toda a certeza não conhecia La Push. Um era a cópia do outro.

Ouvi a porta se abrindo e o cheiro de um perfume amadeirado entrar pelas minhas narinas, mas ignorei. Não era nenhum cheiro conhecido então continuei a comer meus bolinhos — coisa que estava muito interessante no momento.

Caraca, que bolinhos gostosos.

Vou pegar a receita com Emily depois.

— Mandou me chamar, Sam? — Uma voz masculina perguntou, dirigindo-se para o líder da alcateia.

Alcateia.

Me sentia um animal quando falava isso.

— Serena. — A voz retumbante de Sam me chamou, fazendo-me levantar os olhos dos meus bolinhos e o encarar.

Numa fração de segundos, meus olhos se encontraram com o do convidado recente.

E foi como se eu levasse um soco no estômago.

Tudo ao meu redor parecia ter sumido e ali, na minha frente, só existia ele. Ele, que me encarava com seus olhos amendoados arregalados, a boca levemente entreaberta e a respiração descompassada.

E eu tinha quase certeza que estava assim, também.

Corri os olhos por todo o seu corpo. Era alto, musculoso. Seu cabelo estava curto, assim como o dos outros garotos e sua pele era a mesma coisa do resto do povo de La Push — de um tom marrom-avermelhado, bonito.

Até que um pigarro nos fez desviar nossos olhos e eu olhei para Sam, sentindo todo meu rosto corar.

Por que? Eu não sei.

— Serena, esse é Jacob Black. — Ele disse com um sorriso estranho no rosto.

Virei instantaneamente os olhos para Black novamente, colocando meu bolinho em cima da mesa e levantando do sofá. Em passadas rápidas parei em sua frente, a mão estendida em comprimento e com meu rosto numa careta estranha.

Eu nunca quis tocar alguém como eu queria tocar Jacob Black nesse momento.

Ele parecia sentir a mesma coisa, segurando minha mão, olhando-me atentamente e dando um passo para frente.

Pude ver seu peito subir e descer em um suspiro, seu coração acelerar e vê-lo engolir em seco.

— Oi. — Sussurrei.

Ele me olhou por um tempo indeterminado, olhos nos olhos. Quando, me pegando de surpresa, um sorriso nasceu em seus lábios. Arfei.

Puta merda. Existia sorriso mais bonito que de Jacob Black?

— Oi. — Ele respondeu, sua voz soando baixa e calorosa. Meu coração deu um salto.

Que merda estava acontecendo?

Franzi o cenho, voltando a razão e separei minha mão da dele, afastando-me alguns passos para trás e encarei Sam.

— Estou indo para casa. — Disse, ignorando os olhos dele sobre mim.

Sam assentiu, seu semblante se tornando sério de repente. Ignorei ele, me dirigindo até a porta e saindo, não me despedindo de ninguém.

Pelo amor de Deus, que merda foi aquela?

Que merda é isso?

Assim que pus os pés para fora da casa de Sam, tive que lutar contra meu corpo e boa parte da minha mente, que queria que eu voltasse para dentro e me jogasse nos braços de Jacob.

Ajeitei minha postura, andando a passadas rápidas para longe dali. O quanto mais longe do perfume amadeirado dele, melhor.

Minhas passadas eram longas, precisas, pesadas.

Puxei o ar com força, repetindo as palavras que tanto usava para me acalmar.

Não se preocupe. Não perca o controle. Você é dona de si mesma. Você rege seu corpo e sua mente.

Comecei a correr até em casa, abrindo a porta com certa agressividade e encontrando Will na cozinha. Ele virou pra mim, com um sorriso no rosto. Seus olhos brilhavam, parecia animado em ter uma cachorrinha na casa.

— Vou arrumar minhas malas. Estarei no próximo voo para Londres. — Avisei, me encaminhando até meu quarto. Entrei, indo direto para as malas, pegando uma e a jogando aberta na cama.

Eu não precisava levar tudo o que trouxe.

— Querida... — Will começou, preocupado. Podia ouvir seus batimentos cardíacos acelerarem.

Senti meus ombros começarem a tremer.

— Não me chame de querida! — Sibilei. — Isso não acontecia em Londres. Não faz nem um dia que estou aqui e já não sou a mesma! — Gritei, jogando minhas roupas na mala de qualquer jeito e fechando-a. Peguei meu celular e calcei os tênis. Apertei a discagem rápida, esperando minha mãe atender enquanto colocava a mala de qualquer jeito na sala e começar a procurar as chaves do meu carro.

Serena, meu...

A interrompi.

— Quero uma passagem para Londres o mais rápido possível. Agora mesmo, se puder. Quero dar o fora desse lugar. — Falei para ela, ainda procurando as chaves do carro.

Até que ouvi um tilintar logo atrás de mim.

Will estava com o semblante sério, segurando minhas chaves na mão direita. Estendi a mão, pedindo a chave, mas ele negou.

Querida?

— Espere um momento, Mariza. Já retorno à ligação, enquanto isso vá agendando minha passagem. — Disse, seca. Mas, me arrependendo logo depois, acrescentei: — Por favor. — E desliguei, sem esperar uma resposta. — Me dê as chaves, Will.

— Não me chame de Will.

Pai. Me dê as malditas chaves. — Rosnei.

A raiva estava me cegando. Meus ombros tremiam mais intensamente, enquanto eu parecia perder aos poucos o controle sobre mim mesma.

— Você não vai embora. — Ele falou firme, colocando as chaves no bolso de trás e cruzando os braços em frente ao peito. — Eu sou seu pai e estou dizendo que você não vai embora.

— Oh, por favor! Não venha impor essa falsa autoridade de pai em mim! — Gritei. — Você me trouxe para cá! Por isso insistiu tanto! Queria que eu me tornasse parte dessa... — Puxei o ar, tentando manter a calma. — Eu vou embora e você não vai me impedir, Will.

A porta de casa foi aberta bruscamente e Sam entrou num rompante, indo para trás de mim, segurando meus braços e arrastando-me para fora de casa. Tentei me debater, mas, mesmo com toda a força que ganhei ele ainda era mais forte do que eu.

Me soltou quando já estávamos um tanto longe de casa e me empurrou para frente, mas, antes que eu pudesse perceber, já não era eu mesma.

Rosnei, encarando com o olhar mais mortal que eu conseguia fazer.

Mais lobos foram chegando perto, me cercando. Rosnei para eles também, virando-me hora ou outra.

— Jacob! — Sam gritou, e, mesmo irada, meus olhos percorreram todos os lobos, detendo-me no lobo que deu um passo para frente.

Seu pelo erra marrom-avermelhado e seus olhos eram escuros, parecendo enxergar a minha alma.

Serena, a voz de Jacob soou em minha mente.

Rosnei. Não, não queria que essa merda viesse agora.

Me deixe em paz. Eu só quero ir embora!, exclamei, com raiva.

Serena, por favor, se acalme, ele pediu, suavemente, dando dois passos para frente e ficando cara a cara comigo.

Me deixem ir embora...

Pedi. Minha voz quase um sussurro.

Se acalme. Vamos conversar sobre isso, ok?

Ele deu mais meio passo para frente e olhou para baixo, para mim. Era um lobo grande, e eu tive que levantar minha cabeça um pouco.

Vem. Vamos conversar com privacidade, tudo bem?

Olhei ao redor, minha ira sendo aplacada pelo tom ameno de Jacob.

Ele virou-se, indo em direção a floresta e depois parou, olhando para trás, me esperando.

E, cegamente, eu o segui.


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Notas finais do capítulo

Então, pessoal. O que acharam? ♥
Comentem! :3