Paralelos escrita por Feluriana


Capítulo 2
Bilhetes, lendas e uma garota no espelho - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Então gente, algumas coisinhas a serem ditas. Primeiramente, eu to bem feliz em voltar a mexer em Paralelos, é uma grande motivação no meio de tanta coisa que eu tenho que fazer.
Meu motivo principal em não querer postar no Nyah de novo era o fato de que meus capítulos acabaram ficando muito grandes etc e eu não sei se alguém teria paciência de ler. Antes, eu escrevia bem aleatoriamente e sei lá... Não tinha muita narrativa. Tentei melhorar isso em novembro e não sei se a leitura continua fluindo facilmente. Moral da história: eu to bem insegura, mas to fazendo meu melhor.
Também preciso agradecer Cherry Pitch que me chamou no twitter, me mandou uma capa e me deixou completamente surpresa! Obrigada mesmo!
Sem mais delongas...



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Lembre-se de que as histórias verdadeiras raramente seguem em linha reta.

O Nome do Vento. Patrick Rothfuss.

Ó céu azul – o mesmo da minha infância - eterna verdade vazia e perfeita.

Lisbon Revisited. Fernando Pessoa.

 

Gosto da confusão temporal dos livros. Agrada-me saber que posso dizer “uma semana se passou” ou talvez “anos e anos se passaram” e que ninguém possa contestar. O tempo significa uma coisa completamente diferente nas páginas, posso avançar e retroceder quantas vezes quiser. Sou um relógio divino cheio de caprichos. Os livros são nossos buracos de minhoca.

Mas é claro que você não se importa com isso. Deve estar ocupado demais com coisas que realmente existem e não são somente uma projeção. Aos 25 anos, descobri que minha existência era um desvario. Talvez você pense “puxa, que terrível descobrir que não existe quando se tem 25 anos! Logo na flor da idade”. Suponho que tomar consciência dessa preciosa informação seja realmente frustrante, entretanto, pensando bem, aliviou um pouco a pressão das coisas. De uma pessoa irreal derivam problemas irreais. No entanto, não posso mentir: a inexistência continuou doendo tanto quanto a existência. Essa é uma das constâncias humanas, reais ou não, a dor é nossa droga favorita; capaz de despertar ou entorpecer-nos.

Contudo, vamos retroceder um pouco. Como disse antes, isso aqui é um buraco de minhoca e tempo não significa nada. Posso avançar e retroceder o quanto quiser – na verdade, essa é só uma desculpa para acobertar o fato de que sou uma péssima contadora de histórias. Minha mente trabalha mais rápido do que meu corpo pode suportar e costumo pular detalhes, esquecê-los, lembrar e jogá-los no meio da trama para que eles mesmos rastejem para suas ocasiões próprias. Detalhes, entretanto, são diabretes que se recusam a obedecer e acabo me deparando com algo desconexo que faz sentido somente na minha cabeça.

Se coisas perfeitamente organizadas lhe agradam, sinto dizer que essa narrativa foi machucada, retalhada, esquecida com completo descaso tantas vezes que se tornou áspera; crua. Uma história fragmentada que somente pessoas fragmentadas podem compreender.

 

**

Lembro-me de como meus cílios transformavam a luz conforme eu despertava preguiçosamente naquele dia. Antes mesmo que me habituasse à prepotência da claridade soube que algo estava errado. Não somente errado, impossível.

Sempre imaginamos que seremos capazes de manter a racionalidade em situações de pânico. Nunca fui dada a emoções fortes, minhas alegrias e tristezas eram comedidas para o mundo exterior, pois o verdadeiro campo de batalha estava dentro de mim. Sempre calma e lúcida, nunca me imaginei perdendo a perspectiva em eventos extremos. Sempre respirar fundo e encarar os fatos da melhor forma possível. Que grande idiota.

Não há racionalidade no pânico. Você simplesmente entra em pânico. Não há racionalidade na fobia. O seu corpo congela e nenhum sistema do seu organismo parece funcionar, suas opções de racionalidade evaporam e tudo disponível no seu campo de visão é o causador do medo. Não há racionalidade no ataque de ansiedade. Não há racionalidade quando se trata de ser. As coisas são o que são. Indiferentes a uma mera lógica.

De olhos arregalados e um coração que ribombava no peito, fitei o quarto ao meu redor. Lembrei perfeitamente dos últimos instantes antes de adormecer. Estava lendo O Guia do Mochileiro das Galáxias, mesmo sabendo que a prova de matemática seria no dia seguinte e eu não havia decorado nenhuma das fórmulas solicitadas, no entanto, aquele era meu livro de crises. Sempre que as coisas estavam ruins, a ideia de um Universo absurdamente enorme era capaz de me transportar direto para a realidade de que, no plano cósmico, nada daquilo importava.

Mas algo estava diferente. Eu pude sentir.

Levantei da cama e senti uma dor latente nas juntas. Não consegui emitir nenhum ruído de pavor quando olhei no espelho da penteadeira e vi uma senhora de idade avançada me encarando, tão perplexa quanto eu. Senti a nunca esquentar – minha primeira reação em tempos de desespero – mas antes mesmo que pudesse formular uma ideia concreta, eu estava de volta de onde não deveria ter saído. Estava no espelho, fitando meu eu verdadeiro de 13 anos que, por sua vez, fitava seu gêmeo do espelho. Normal, como as coisas deveriam ser.

E elas, de fato, foram normais por mais alguns anos. Tive uma adolescência pacata – entediante – que poderia facilmente ser confundida com um filme existencialista daqueles onde nada acontece e todos parecem letárgicos. Antes que você revire os olhos pensando que a próxima frase será “até que algo extraordinário aconteceu” saiba que eu também sempre odiei contos desse tipo. Sempre me passou uma ilusão de espera, que o meio externo seria o responsável pelas aventuras de minha vida e por mais que eu diga que me orgulho em dizer que nunca esperei um grande amor, uma grande amizade ou um grande emprego que mudasse minha existência, confesso que caí nessa armadilha. Esperei. Por nada em particular. Por qualquer coisa. Na verdade, não sei se realmente cheguei a ansiar por algo concreto, infelizmente sou platônica e indecisa demais para isso. Para passar uma ilusão de controle, digo que espero somente por mim e, enquanto nada espetacular me acontecia, fiz um trabalho razoável até o dia em que cheguei em casa, uma semana depois do meu aniversário de 25 anos, e encontrei minha antiga persona de 13 anos me encarando através do espelho. Mas, obviamente, daquela vez aquilo não era muito natural, certo?

Havia também um bilhete.

Odeio admitir, mas aquele bilhete realmente mudou minha vida. Ou, pelo menos, a minha compreensão do mundo ao meu redor. O que já é bastante coisa.

**

Pausa para uma perspectiva.

É estranho, mas nunca consegui me imaginar como uma mulher idosa, por algum motivo minha fantasia é limitada aos cinquenta anos – espero que isso não seja um sinal ruim. Mesmo tendo vislumbrado uma senhora em meu espelho, nunca cheguei a compreender o que aquilo significava. Para ser honesta, não pensei sobre isso. Não queria, de forma alguma, questionar minha sanidade. Era o estresse das provas. A fertilidade de minha imaginação traindo minha confiança. Arquivei a lembrança em recantos inacessíveis do meu subconsciente; esquecida até que a represa rompesse mais uma vez.

Você tem algum pressentimento sobre como vai morrer?

Você não ouve, exaustivamente, uma voz irritante na sua cabeça que sempre parece imaginar o seu fim nas mais diversas situações?

“E se eu sair de casa e hoje, justo hoje, for atropelada por um ônibus?” “E se, naquela manhã em que adoeci, escapei da morte porque aquele seria o dia que alguma coisa ruim se abateria sobre mim?”. Esses hipotéticos encontros mortais são parte do nosso destino e, ao evitá-los, criamos uma realidade própria com uma autonomia conquistada pelo acaso?

Nosso corpo vai morrendo a cada segundo em que respiramos, nossas células envelhecem, porém, com sorte, o mesmo não acontecerá com sua alma. É tudo uma questão de resiliência. Adaptação. No entanto, na maioria das vezes, essa tal resistência estoica serve somente para acobertar o segredo de que cada impacto deixa uma marca irremediável e que estamos todos habilmente fingindo estarmos bem e conformados. Fingimos que sabemos o que estamos fazendo. A mentira universal.

Às vezes, surpreendo-me pensando em meus ecos de universos paralelos; quais decisões tomaram? Eles realmente existem? São mais felizes que eu? Que escolha, em particular, me trouxe até onde estou, dessa forma, me tornando única perante outros ecos? Falar em ecos faz com que eu me sinta um ruído sendo propagado pelo Universo, existindo em várias repetições. Inúmeras projeções. Um pouco mais a frente em nosso caminho tortuoso, você perceberá que ruídos são importantes para essa história. São os pilares sustentando as possibilidades dos acontecimentos. O murmúrio é a linguagem que o Universo encontrou para se comunicar com quem estivesse disposto a ouvir. Uma garota o fez.  E, claro, ela teve que bagunçar tudo ao seu redor.

 Pergunto-me como teria sido minha vida se eu nunca tivesse voltado a Paralelos. Se não estivesse tão fragmentada e perdida naquela época. Se não precisasse desesperadamente deixar de existir. Talvez esse tenha sido o cataclismo da minha existência, o marco zero que me distinguiu de todos os meus ecos.

Tudo bem, fim da perspectiva.

**

Aquele fora um dos raros dias em que consegui levantar da cama e sair de casa. Agora estava de volta. Recebida por uma casa vazia, reflexos impossíveis e um recado que não deveria existir. Contemplar um antigo rosto de meu passado no espelho aguçou a lembrança de uma ocasião parecida, despertando algo dentro de mim que passara anos incônscio. Era como se uma parte de minha mente tivesse sempre temido a repetição daquilo. Como se tivesse me preparado sem eu saber. Por isso, não entrei em pânico imediatamente e pude notar o singelo bilhete. Fitei-o por minutos a fio enquanto vários pensamentos cruzavam minha mente. Eu o deixei lá? Ana – a única pessoa além de mim que possuía a chave da casa – deixara lá? Ninguém gostava mais de mandar recados à mão para os outros. É muito pessoal, preferimos mensagens instantâneas fáceis de esquecer. Estou soando como uma velha rabugenta ressentida com a tecnologia, não estou? Mas não deixe essa primeira impressão lhe ludibriar, eu estava ressentida com tudo naquele momento.  Talvez ainda esteja.

Era um papel de seda, frágil e quase transparente. Estava preso na moldura do espelho. A mensagem avivou um instinto primitivo e selvagem, meu corpo assumiu uma postura de defesa.

“Você também pode me ver?”

Eu ainda não tinha me recuperado absolutamente da confusão causada pela visão de uma adolescente familiar me fitando através do espelho, contudo o mecanismo de defesa que me ajudou a encontrar o bilhete me fez reagir instantaneamente e sair correndo de casa. A simples ideia de trancar as portas com a possibilidade de ter algum estranho lá dentro me deixava apavorada. “Você também pode me ver?” Significava que alguém estava me vendo.

Era a hora morta do dia, quando o sol se põe, mas sua luz perdura. Liguei para a polícia que não tardou a chegar visto que o caminho do centro da cidade até minha casa era sempre em linha reta e sem grandes perturbações.

O policial era um antigo amigo do meu pai – de alguma forma, todos os moradores fixos da cidade possuíam alguma conexão. Após checar a casa, me fez perguntas do tipo “algum conhecido tem agido de uma forma estranha? Algum tipo de assédio? No trabalho? Ninguém em mente?”. Para tudo a resposta era negativa. Essas coisas não aconteciam em Paralelos. Talvez acontecessem, mas bem... Ninguém chamava a polícia. Tudo era muito reservado. Um lugar pacato e perdido no tempo onde as pessoas ainda lidavam com seus problemas à moda antiga. Era de se esperar que, como na maioria das pequenas cidades, todos soubessem algo da vida de todo mundo, todavia a realidade não poderia ser mais díspar. Eram todos desconexos. Não havia um morador que não parecesse fora de lugar, como uma concha do mar no meio do deserto. Meus pais eram uma exceção. Nunca haveria duas pessoas mais perfeitas para Paralelos como eles.

—Eu sinto muito por tudo que aconteceu – o homem tinha um tom de condescendência ao qual eu estava ficando habituada. – Por tudo mesmo. Como está sua mãe?

—Bem – respondi, acidentalmente ríspida demais.

—Se precisar de qualquer coisa...

O oficial prosseguiu aconselhando que eu não pernoitasse lá. Eu poderia ficar na casa de Ana. Ela estava viajando, mas ambas possuíamos chaves reservas da casa uma da outra, no entanto havia algo...  É difícil descrever a sensação, a palavra mais apropriada que posso encontrar é magnético. Algo magnético. Eu já estava me sentindo arrependida de ter chamado a polícia, sentia como se tivesse interrompido algo importante. Imagine que você está em um capítulo eletrizante de um livro e alguém começa a conversar sobre coisas que não lhe interessam. Era essa a minha sensação, como se eu houvesse deixado algo incompleto dentro de casa e o policial era uma visita irritante que eu lamentava ter convidado. Um chamado baseado no repentino e peculiar medo de ficar sozinha.

Tal qual uma criança à procura de monstros, certifiquei-me de espiar os possíveis esconderijos que um estranho poderia abrigar-se. Logo percebi a futilidade daquilo. Quem passa muito tempo sozinho consegue distinguir a presença de uma outra pessoa. Não sei explicar, mas é possível. Uma espécie de vibração destoando da nossa solidão. Eu sabia que não havia ninguém além de mim na casa. Tampouco achava que alguém tivesse entrado para me deixar aquele bilhete enigmático. Não somente porque a casa não fora arrombada, mas acima de tudo pelo fato de que ninguém tinha motivo para fazer algo parecido.

**

Uma semana havia se passado quando entrei no quarto e não me surpreendi ao encontrar um segundo bilhete. Amassei-o sem ler e joguei fora. Todo o sentimento palpitante de esperar por algo havia sido substituído pelo pavor de estar finalmente perdendo o domínio das marionetes na minha cabeça. Por um momento, ao conversar com o policial sete dias atrás, eu sentira vontade de voltar a aguardar que algo acontecesse, não sei dizer exatamente o quê. Talvez que alguém com as chaves para grandes aventuras se revelasse escondido no meu guarda-roupa. Era impossível que aquilo fosse uma brincadeira de Ana, então eu considerara aquela uma situação improvável que não deveria e nem estava acontecendo. A indolência do meu espírito era tanta que nem as situações impossíveis conseguiam aguçar minha vitalidade.

Você já tentou guardar um segredo da sua própria mente? Era o que eu estava me empenhando em realizar. Fiz um exercício mental para imaginar aquele papel como sendo somente uma sujeira aleatória pela casa e descartei-o. Meu maior arrependimento era a ligação para a polícia que eu fizera na semana anterior, isso tornava as coisas reais e, acima de tudo, não queria que elas fossem.

**

Na manhã seguinte, fui despertada por batidas insistentes em minha porta. Tentei ignorá-las, achando que isso exerceria influência suficiente para que somente cessassem – uma esperança vã. Relutante, levantei-me e não me preocupei em melhorar minha aparência sonambula para ir até à porta. No meio do caminho, reparei o quanto minha casa estava bagunçada e suja, quase não se assemelhava ao lugar onde eu havia crescido, mas estava cansada demais para me importar.

—Bom dia. Espero não ter acordado você – minha visitante surpresa cumprimentou enquanto sorria largamente. Usava terninho bem passado e tinha grossas armações de óculos. Foquei naquele detalhe para me escusar da necessidade de olhar em seus olhos e ao mesmo tempo tentar não parecer uma presa assustada.

Era um dia ensolarado, mas a manhã ainda conservava um pouco da frieza da noite. Deduzi que era muito cedo para estar fora da cama.

—Bom dia – impeli-me a dizer, com dificuldade. Minha voz estava rouca e esfreguei os olhos para deixar claro que tinha sido arrancada do sono.

—Você se incomoda se eu entrar? – indagou arqueando as sobrancelhas de um jeito alegre e cheio de expectativa. Pensei na sujeira que acabara de ver somente no percurso do meu quarto até a porta, porém antes que pudesse achar uma razão educada pra dispensar o convite, a mulher impôs-se e abriu passagem através de onde eu estava. Notei seu nariz arrebitado se franzir ao ver o estado da minha sala. –Nossa...

Parecia tentar encontrar palavras que educadamente expressassem o nojo que estava sentindo. Eu a conhecia. Qual era o nome dela? Alguma coisa com V. Vera... Vanessa? Vanessa. Definitivamente Vanessa. Trabalhava como conselheira na escola em que frequentei o ensino médio. Ah, claro. Casada com o policial Fernandes, que atendera ao chamado que eu fizera na semana passada. Claro, eles achavam que eu estava tendo um surto psicótico. Por um momento questionei se havia a possibilidade de mandarem me internar contra minha vontade. Descartei a ideia, parecia absurda demais.

—Querida, fiquei sabendo que você não está se sentindo muito bem. Minhas portas estão sempre abertas se quiser conversar – agora sua voz estava coberta de um tom profissional que julguei ser ensaiado demais para ser verdade.

—Eu estou me sentindo bem – redargui depois de perceber que estivera muito tempo em silêncio.

—Não é vergonha nenhuma pedir ajuda, sabe disso. Pela situação que estou vendo aqui, você não pode estar inteiramente bem.

Era verdade, nunca há nada de errado em reconhecer que precisamos de um impulso para continuar seguindo em frente, mas eu ainda precisava de um tempo para acreditar naquilo. Ninguém fica confortável ao confrontar a própria fragilidade. Ela colocou seu cartão em minha mão antes de sair e me ofereceu um sorriso cheio de piedade, o gesto mais sincero até aquele momento. Amassei o pedaço de papel e voltei a dormir. Estava começando a ficar boa em amassar e jogar papéis importantes fora. É uma pena que não havia nenhuma condecoração para isso.

**

“Não quis assustar você. Por favor, não tenha medo. Fale comigo.”

  Aquele era o quinto bilhete. Li-o por acidente e subitamente tudo se tornara real. Não havia como ignorar que eu estava rompendo algum limite dentro da minha lucidez.  Não sou corajosa, contudo não estava com medo naquele momento. Para ser sincera, senti-me ansiosa para confrontar meu ponto de ruptura e desafiá-lo. Aumentar a fissura entre a realidade e a loucura, ver até onde eu aguentava antes de sucumbir. 

  Você não pode definhar nessa casa, vai acabar enlouquecendo, foi o que minha mãe dissera. Obviamente, como todos os filhos, eu almejava sofregamente contraria-la, mostrar que ela não me conhecia tão bem como pensava. Uma pequena rebeldia sem sentido para me fazer sentir o controle das coisas.

 Retirei o bilhete do espaço entre o vidro e a moldura; guardei-o na gaveta e arranquei uma página de uma agenda qualquer.

Não posso vê-lo, escrevi.

Olhei para o absurdo em minhas mãos e meditei sobre a estranheza do que estava prestes a fazer. Um pouco envergonhada, coloquei o papel no mesmo lugar em que havia encontrado as mensagens anteriores.

O que exatamente esperava que acontecesse? Não sei. Mas parte de mim, alguma que ainda possuía vida, desejou com muita força que fosse algo extraordinário.

C.S Lewis escreveu que jamais temos ideia do que poderá nos ocorrer daqui a pouco.

Ele tinha razão.


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Notas finais do capítulo

*observa sorrateiramente atrás de um arbusto*
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Abraços de luz!