Ego escrita por Nipatsu
O cubo ainda pairava no ar, como se estivesse em um tipo de estado de espera.
— Ok, que seja. Quais as chances de vocês sumirem caso encontrem o tal do Burning Canyon?
— Isto não pode ser contabilizado por falta de parâmetros.
Ugh, toda essa mecanização me irrita, e olha que não faz nem um dia completo que estamos tendo contato! Talvez eu consiga convencer o Zero a partir esse treco no meio de uma vez.
— Que seja, você não consegue ser mais natural? Você parece falso com toda essa história de automatização! Olha pra mim, sou uma espada mas consigo ser mais gente que você!
O cubo seguia pairando no ar, em silêncio.
— Acorda logo esse anão e vamos embora. Zero, acorda logo, inferno!
O andarilho deu um longo bocejo.
— Levanta daí, porra! Temos um maluco pra caçar!
Zero se sentou, esfregando os olhos dourados e pegando sua máscara. O filtro presente nela servia para que a luz forte não machucasse sua retina.
— Para onde vamos agora, Gran?
— Seguir o rastro daquelas duas. Não sei exatamente aonde iremos parar.
O garoto se levantou, pegando a espada pelo cabo e a realocando em suas costas. Lançou um olhar um tanto confuso ao pequeno asmodiano adormecido.
— Eles vão com a gente?
— Sei lá, só vamos vazar.
Zero obedeceu o comando, saindo da caverna. O céu estava claro e sem mais sinais de tempestades. Haviam alguns galhos no chão, que foram derrubados pelo vento e poças d’água esparsas.
— Vamos seguir pelo noroeste. O anão e o cubo mágico que fiquem aí, se quiserem seguir a gente esse é o momento.
Assim, nossa jornada atrás daquele espadachim asmodiano voltou ao “normal”.
[...]
— Estou com sede.
Virei meu olho na direção da voz. O pirralho também sabia flutuar, tal qual seu brinquedo.
Por estas razões, eu não havia ouvido passos nos seguindo e nem imaginava que estariam mesmo conosco – jurava que tinham ficado na caverna!
— Vamos encontrar algum lugar com algo para lhe saciar, Lorde Terr. Imagino que a substância que os humanos chamam de “água” seja o necessário para tal.
— Foda-se, quem liga pro anão? Nem me interessa se ele está com sede ou com fome.
— Eu também estou, Gran...
Ok, aí a coisa toda muda de figura. Um espadachim com fome e desidratado é a pior coisa que pode acontecer. A incompetência acaba sendo tanta que ele nem vai conseguir lutar direito. Se eu acabar perdendo o Zero, vou ficar jogado até outro alguém digno de me empunhar apareça.
— Tá bom, vamos procurar alguma vila aqui por perto-
— A vila mais próxima está a aproximadamente 3000 passos de onde estamos, na direção norte.
— Vai me dizer que agora você também é um mapa?
— Busquei por dados enquanto você caminhava com Zephyrum, Grandark.
— Agora você consegue ir sozinho com o anão pra Elyos, certo? É uma boa notícia!
— Negativo. Os dados colhidos são parciais demais, e por enquanto não tenho acesso a um posicionamento correto ou completo.
Mas que merda. Era a chance que eu estava esperando pra conseguir me livrar do almofadinha. Sequer vou responder esse idiota, vamos apenas buscar algum lugar pra comer e vazamos de novo.
[...]
Após um período de caminhada, chegamos a uma pequena vila. Claramente estava abandonada há tempos. Não há certeza de que acharemos água ou comida neste local, então o melhor modo de otimizar tempo e energia é nos separarmos em dois grupos e fazer uma coisa por vez.
— Vão procurar água, nós dois vamos caçar algo. Vamos, Zero.
Nos dividimos e deixamos o anão e o senhor forma geométrica na vila, enquanto voltamos para a floresta.
— Eu não suporto estes dois.
— Por que estamos indo com eles?
— Porque o anão tem cara de rico, Zero! Se a gente chegar em algum lugar que tenha gente eu posso até mesmo vender ele e alugar um quarto pra você dormir de forma decente!
— Ah...
A floresta no entorno da vila era um tanto fechada, sinal de que a natureza está intocada e de que poderemos ter algum animal para caçar.
— Mantenha a atenção aos sons, especialmente de animais pequenos. São mais fáceis de pegar.
Zero parou e restou imóvel por alguns minutos, concentrando-se nos sons que nos cercavam. Em um ato repentino, sacou a espada e deu um grande corte à frente, derrubando uma árvore.
Após, aproximou-se da clareira aberta, pegando dois coelhos que haviam sido atingidos pela queda. Isto acabou sendo muito bom, um sinal de que o garoto está aprendendo a usar mais a sua concentração para resolver coisas de pequeno porte, não gastando sua energia com ataques de grande potencial destrutivo em ocasiões desnecessárias.
— Isso deve servir, vamos retornar e você dá um jeito de cozinhar isso.
— Eu não sei cozinhar, Gran...
— Se vira.
Retornando ao vilarejo, buscamos o nanico para apresentar o que tínhamos de comida para o dia. O ponto positivo de ser uma vila abandonada é que temos aparatos grátis para utilizar, nos poupando gastos de grande extensão.
— ... O que é isso?
— São coelhos, Lorde Terr. Coelhos são mamíferos lagomorfos da família dos leporídeos, em geral dos gêneros Oryct-
— Corta essa, Machina. Como se come isso? Parece nojento.
Zero entregou um dos coelhos a Veigas, que intensificou a expressão de nojo.
— São diversas as formas de preparo da carne de coelho, podendo ser assado, frito, cozido ou até mesmo servido como acompanhamento de algum outro prato.
— Faça o que tiver que fazer, e espero que fique bom. – disse, jogando o animal sobre uma mesa empoeirada.
— Como é, você vai fazer o cubo cozinhar? – não aguentei e soltei uma risada alta. – Ele nem tem braços pra isso, como que vai deixar ele preparar algo? É sua obrigação, ô salva-vidas de aquário! Se não quer morrer de fome, trabalha aí! E nem pense em pedir parte do coelho que o Zero estiver preparando, ele não vai dividir pois você tem um só pra você!
Uma luz começou a emanar do cubo, porém.
À sua frente, algo começou a acontecer. Eu não sabia ao certo o que estava acontecendo, mas quadradinhos começaram a aparecer de forma engraçada, sumindo e reaparecendo aleatoriamente, enquanto algo se materializava no local.
Era um homem, aparentando possuir média estatura. Seus cabelos arroxeados ultrapassavam um pouco a altura de seu ombro, e o mesmo possuía a face delicada marcada por olhos heterocromáticos e óculos que aparentavam ser de grau.
As roupas que trajava indicavam ser exatamente o que eu imaginei que era.
— A propósito, nós encontramos água e outros mantimentos. Por favor, acendam a lareira para que eu possa começar a preparação dos pratos.
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