A Vampira e o Tenor escrita por Nívea Raimundo


Capítulo 10
Tiro No Escuro




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Quando Jane acordou, Christopher ainda dormia ao seu lado. Ela sorriu com pesar para a imagem tranqüila do vampiro, mas não tinha muito tempo a perder, “hora de mexer os pauzinhos!”. Pegando o celular, Jane ligou para quase todos os  vampiros com os quais ainda mantinha certo contato. Ao conversar com a maioria dos vampiros búlgaros, teve a revelação que o italiano Truzzi tinha se tornado inimigo de grande parte deles, o que deixou Jane animada por um lado, porém desanimada ao saber que por toda Itália, Truzzi tinha aliados suficientes para avisá-lo de movimentações estranhas que poderiam ameaçá-lo.

—Querida, o melhor que você tem a fazer é sair daí o quanto antes, se ele mal fechou negócio e já apunhalou seu clã pelas costas – aconselhou uma das vampiras búlgaras das qual Jane mantinha contato. – Truzzi não se atreve a sair das fronteiras da Itália porque sabe o que vai enfrentar.

—Mas Ivana, se eu precisar... – começou Jane, e foi interrompida pela vampira do outro lado da linha.

—Só me mande uma mensagem por celular que vou com todo meu covil até você! Nossas portas estarão sempre abertas para a filha de Nádia. E temos alguns bruxos e viajantes que podem nos ajudar. Posso pedir que alguns se adiantem.

Jane agradeceu Ivana, comovida com a atitude da vampira. Ela sabia que poderia ter procurado Ivana quando Nádia morreu, mas estava tão desorientada que se esqueceu onde poderia ter sido mais bem-vinda. Pensando se adiantava o assunto com Rebekka Mikaelson, Jane começou também a arquitetar seus próximos passos, enquanto assistia Christopher acordar.

—Nossa. Ainda é cedo. Por que você está acordada? Volte para cá e vamos recomeçar de onde paramos. – chamou Christopher, se arrastando na cama e puxando Jane, fazendo-a cair por cima dele, porém Jane rapidamente se desvencilhou e ficou de pé.

—Estou preparando nosso ataque enquanto pesquiso sobre o campo inimigo. Falando em pesquisa, eu vou sair para um reconhecimento enquanto você acorda. Trate de pensar numa maneira para recuperarmos o Breat! – respondeu Jane, pegando sua jaqueta de couro.

—Leve o Sully pelo menos! – pediu Christopher, ficando de pé e alcançando Jane antes dela sair e acariciando o rosto da vampira ao ver o olhar contrariado dela – Se o Truzzi fizer algo a você, eu mesmo mato ele!

—Então você está atrasado, porque ele já declarou guerra contra mim! – respondeu Jane, não mencionando o recado que o vampiro de Truzzi tentara dar ao atacar Piero. Dando um rápido selinho confortador em Christopher, Jane saiu, tomando cuidado para não ser vista por Sully, que já estava no saguão do hotel tomando café.

Destrancando um carro aleatório que estava estacionado na rua,  Jane partiu em direção a Naro para reconhecer o domínio de Truzzi e checar se Piero poderia estar em perigo. Antes de chegar à casa do tenor, Jane passou em algumas delegacias até encontrar a delegacia onde Piero havia feito o boletim de roubo. Compelindo o policial, Jane conseguiu que ele lhe passasse os dados de Piero, já que ela ainda não tinha o contato dele. Com o número em mãos, assim que chegou às redondezas da casa de Piero, mandou uma mensagem para ele, enquanto procurava por algum movimento estranho.

“Buon Giorno! Que tal um café da manhã? Eu pago! Bjs, Jane.”

Piero acordou com o barulho do celular velho que teve que substituir enquanto seu Iphone estava na assistência. Ao ver de quem era a mensagem, salvou o contato e logo respondeu, já ficando desperto.

“Claro que sim! Onde te encontro?”

“Só me avise quando estiver pronto, eu pego você.”

“Certo. Em menos de meia hora te aviso! =)“

Piero saltou da cama e se deu uma rápida chuveirada, colocando a primeira roupa que encontrou no armário. Enquanto descia as escadas, Piero avisou Jane que estava pronto, e ela pediu que ele ficasse dentro de casa, que ela tocaria a campainha. Piero estranhou, não queria na verdade que seus pais vissem Jane, mas fez como ela pediu. Seu pai porém, já estava acordado, preparando o café.

—Caiu da cama? – perguntou Gaetano, mas antes que Piero respondesse, a campainha tocou – Ma che...

—É pra mim. – respondeu Piero, com olhar de culpado, e Gaetano entendendo do que se tratava, acompanhou o filho até a porta. Piero segurou a respiração ao ver Jane parada à sua porta. Finalmente seus pensamentos estavam se tornando realidade – Come stai, bella?

—Meravigliosa! – respondeu Jane, retribuindo o sorriso de Piero, e ao ver Gaetano ao fundo, acenou para ele – Signore Gaetano, come stai? Bom te rever também!

—É, acho que sim. – resmungou Gaetano, olhando desconfiado para Jane – Onde vocês vão?

—Pai!

—Só queria levar o Piero para tomar café comigo, senhor. – respondeu Jane, sendo a mais educada possível – Nunca tive a oportunidade de agradecer todos vocês pelo que fizeram por mim em 2013. E já que estou na cidade por alguns dias...

—Então vamos lá, eu conheço o melhor lugar em Naro para tomarmos nosso café! Tchau, pai! – exclamou Piero, tentando escapar logo com Jane, porém foi interrompido pelo seu pai enquanto ele tentava fechar a porta.

—Na na na... Vocês podem tomar café aqui em casa! Não falta comida aqui! – retrucou Gaetano, enquanto Piero olhava consternado para o pai, e Jane sorria amarelamente para o pai de Piero – Entra, ragazza.

—Obrigada, Signore Barone! – respondeu Jane, conseguindo entrar na casa de Piero após o convite de seu pai – Aposto que o café daqui será melhor do que o qualquer um da cidade.

—Claro! Vou avisar sua mãe que temos visita. – subindo para o quarto e deixando o filho e Jane a sós.

Assim que Gaetano sumiu de vista, Piero puxou Jane para que eles saíssem, mas Jane impediu, puxando Piero de volta, e falando para ele deixar de ser tonto. Se dando por vencido, o rapaz levou Jane até a cozinha onde o café acabava de ser coado. Sendo pro ativa, Jane colocou o café na garrafa térmica, e ajudou Piero a preparar a mesa para o café da manhã.

—Piero, respira! Não é o fim do mundo! – zombou Jane, apertando o braço de Piero para tranqüilizá-lo.

—É um pouco... Todo mundo meio que está... – começou Piero, tentando achar palavras que não magoassem ou pior, afastasse Jane dele – Eu só não quero que você suma!

—Não vou sumir! –respondeu Jane, dando em Piero um rápido selinho. “Não pelo menos até tirar o Truzzi da sua cola”, pensou a vampira.

Piero sorriu, sentindo o coração acelerado e ao mesmo tempo aliviado. Não se importando se poderiam ser vistos, Piero tomou o rosto de Jane em suas mãos e a beijou novamente com toda vontade que havia reprimido naqueles anos, assim como fizera na noite da festa. Jane correspondeu ao beijo, mas como prestava atenção a barulhos de passos com sua audição vampirica, se afastou de Piero a tempo de não serem pegos por Maria Grazia, que primeiro sentiu-se sem graça por atrapalhar o irmão, mas ao mesmo tempo animada por enfim conhecer a tal da louca do ônibus. Logo após da irmã, Francis apareceu e em seguida os pais, Gaetano e Eleonora, trocando olhares após breve análise visual de Jane quando elas foram apresentadas.

—Então, Jane, o que você faz mesmo da vida? É Jane do que? – perguntou Eleonora, servindo café à Jane após todos terem se sentado para o café da manhã.

—Mãe, isso é necessário? – cortou Piero, enquanto servia-se de alguns pães e estendia a xícara para a mãe encher com café.

—Piero, relaxa! Sua família só me conhece como a louca que invadiu o ônibus do Il Volo  - interrompeu Jane, após bebericar o café. “O que eu respondo? Eu não tenho sobrenome! Não lembro!” se perguntou Jane, e então inventou se baseando numa série que havia assistido recentemente– Swan. Jane Swan. Eu trabalho com... Logística de Segurança.

—Logística de Segurança? Parece importante! – exclamou Francis, olhando todo à mesa e sorrindo para Jane – Deve ser estressante também.

—Bastante. – afirmou Jane, querendo rir de sua quase mentira.

Após mais algum tempo de interrogatório, “E o que aconteceu com você? Depois, sabe...”, e terem todas as respostas de Jane, “Eu denunciei ele para polícia, ele está preso”, a família de Piero, principalmente Gaetano e Eleonora relaxaram. Jane explicou a coincidência da “Empresa” estar fechando negócios na Itália, ainda mais em Agrigento, e que ela e mais alguns “funcionários” estavam tentando fechar o contrato.

—Se tudo der certo, eu mato essa! Mato no bom sentido claro, quis dizer, fecho.

—Entendemos essa expressão, querida! – riu Eleonora. – Ah, sim, e sua família?

—Oh... hum... – surpresa com a pergunta quando pensou que o interrogatório havia acabado, Jane hesitou em responder, sentindo-se pressionada pelos olhares curiosos de todos à mesa, até de Piero. Suspirando, Jane respondeu – Eu não me lembro de meus pais, sabe, sempre fui sozinha. Eu tinha uma irmã de... consideração, ela me acolheu, só que ela... – Jane parou, pegando um guardanapo para enxugar uma lágrima teimosa que rolara de seu rosto por pensar em Nádia.

—Tudo bem, Jane! Não precisa continuar! Já chega, não é? Vocês já perguntaram tudo o que queriam saber, perceberam que não tem nenhum problema! – interrompeu Piero, se levantando da mesa, e Jane o seguiu.

—Tudo bem! Não se preocupe com isso! – respondeu Jane, sorrindo compreensiva para Piero, e se virando para Eleonora, que levantara também, com o semblante ainda preocupado, assim como estava Gaetano. Nesse momento, Francis e Maria pediram licença, voltando para os seus aposentos. Jane, olhando nos olhos de Eleonora e então de Gaetano, compeliu-os dizendo – Não tem nada que temer, eu sei que vocês acreditam que eu posso proteger o Piero e ser de confiança, não é?

—Acreditamos – responderam Eleonora e Gaetano, em uníssono, surpreendendo Piero. Então Eleonora continuou – Filho, mostre a casa para sua amiga enquanto arrumamos a cozinha, sim!

Antes que Piero perguntasse algo, Jane segurou sua mão, sorrindo encorajadoramente para ele, e o tenor a guiou para brevemente apresentar a sala, o jardim e o quintal pelas janelas (onde Jane aproveitou para verificar se não havia alguma ameaça), e então partiram para o andar de cima, onde Piero guiou Jane diretamente ao seu quarto.  “A parte mais interessante da casa”, disse o tenor, puxando a vampira para mais perto dele, enquanto ela voltava a dar mais uma conferida pela janela e confirmar que havia nenhuma movimentação estranha, “Não tem nenhuma fã ou paparazzi a espreita, não tem perigo”, afirmou Piero, fechando a cortina, enquanto afastava o cabelo de Jane para beijá-la no pescoço, “Você não tem idéia do que é perigo!”, respondeu Jane, ficando de frente para Piero. Trocando olhares sugestivos, o tenor rapidamente foi até a porta trancá-la, e quando se virou, Jane num piscar de olhos já o puxava para trocarem outro beijo como o da noite da festa.

Ainda se beijando, Piero ajudou Jane a se livrar da jaqueta, e logo a vampira o ajudava a se livrar da camiseta e da blusa de lã que o garoto vestia, e ele a despi-la da blusa que ela vestia por debaixo da jaqueta. Não conseguindo segurar seus instintos vampirescos, Jane utilizou sua super velocidade para acabar de despir Piero e a si própria, jogando-o na cama e ficando por cima. Ao olhar para Piero, porém, ficou confusa com o olhar assustado dele para ela. Colocando a mão em seu rosto, Jane entendeu o que Piero havia visto.

—O que, que diabo é você? –exclamou Piero, se desvencilhando de Jane, fazendo a vampira sentir que estava levando um soco no estômago.

—Piero... Você viu nada... – tentou Jane, mas Piero ousadamente segurou-a pelos ombros.

—Chega de mentiras! – exclamou Piero, não alto para que seus pais escutassem. – Eu estava disposto a arriscar muita coisa por você, mas eu não posso agüentar você balbuciando mais mentiras!

—Eu sou uma vampira. – respondeu Jane, sendo direta e revelando novamente sua natureza ao tenor, que voltava a olhá-la num misto de medo e incredulidade. Voltando o rosto ao normal, Jane continuou – Estou andando por esse mundo há séculos, Piero. Eu vi e fiz muitas coisas, mas eu nunca tinha sido burra o suficiente para me deixar ficar vulnerável para os meus inimigos por causa de um humano que pela primeira vez me fez sentir algo que nunca senti nos meus quase 400 anos.

—O que você quer dizer? – perguntou Piero, engolindo em seco, e pensando se acreditava ou não nos absurdos que Jane dizia. “Vampiros, cazzo, é sério?”

—É uma longa história, mas resumindo, o fato de você ser importante demais para mim torna você, sua família, seus amigos alvos fáceis para meus inimigos me atacarem. Aquela festa onde nos encontramos? Estava cheia de vampiros, eu te abordei na fila de pagamento porque meu inimigo me provocou, te colocou em perigo. – contou Jane enquanto Piero se esforçava para se lembrar desse detalhado – Você não vai lembrar, o segurança era um vampiro compelindo todos os humanos a esquecerem da festa.

Piero parou para pensar na confusão que ele e seus amigos passaram após a festa, dele não se lembrar de ter deixado o carro com Dário, assim como o próprio não se lembrara o porque havia ficado com o carro. Ocorreu a Piero então sobre sua falta de memória sobre o assaltante do seu celular.

—Um...vampiro tentou me roubar e me compeliu para não lembrar dele, isso foi ontem! Você..você? – Piero se interrompeu ao ver Jane o olhar com culpa – Você me compeliu?

—Sim. Para esquecer o que você me viu fazendo! – respondeu Jane, se levantando e buscando suas roupas para vesti-las – E eu vou fazer isso de novo, eu faço você me esquecer, e você vive sua vida, e garanto que você e sua família não vão correr perigo nenhum.

—Não! – exclamou Piero, indo até Jane, e por fim sentindo o ar que estava prendendo se soltar – Eu devo estar muito maluco, mas eu quero correr o risco por você, por nós dois, Jane! Nós precisamos disso!

—Piero, você não tem idéia do que está dizendo, no que está se metendo. Eu não te contei nem um terço!

—Não importa Jane! Eu não posso perder a única mulher que me fez sentir algo que nunca senti nos meus 23 anos! – respondeu Piero, utilizando as mesmas palavras de Jane, fazendo-a bufar em risada – Você não acha que isso significa alguma coisa?

—Acho que vamos descobrir o que significa. – respondeu Jane, sorrindo para Piero, enquanto ele segurava seu rosto e a beijava.


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