A Vampira e o Tenor escrita por Nívea Raimundo


Capítulo 11
Confissões




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Ainda no quarto com Piero, Jane resolveu ser sincera e contar partes de sua história para que o tenor compreendesse mais sobre sua vida, e sobre a encrenca a qual ele estaria se metendo, e por conseqüência arriscando também a segurança de sua família. Jane revelou a ele que na noite que invadira o ônibus ela estava fugindo do clã o qual atualmente fazia parte, e confessou que havia ido até São Francisco para garantir que seus inimigos não haviam seguido o grupo.

Contou como se transformou, como Nádia havia a encontrado em estado miserável e a transformado. Não havia mentido quando disse que não se lembrava de sua família, se nem como humana tinha lembrança deles, após 400 anos dificilmente se lembraria. Repassou rapidamente sobre quem fora Nádia, como havia perdido a criadora, e esses foram os tempos difíceis que ela havia passado enquanto o Il Volo estava em ascensão. Resolveu não falar sobre Christopher.

—Nós vampiros podemos desligar nossa humanidade. Eu nunca senti a minha até conhecer você e Nádia morrer. – continuou Jane, aninhada nos braços de Piero, enquanto eles permaneciam deitados na cama, apesar de não terem feito nada. Se levantando, a vampira olhou o humano que a ouvia como se de repente os vampiros fossem rotina de seu dia a dia – Só que nosso novo sócio resolveu fazer de você um alvo para me atacar.

—Mas por quê? Ele decidiu fazer isso de graça, só porque é divertido para ele? – indagou Piero, não conseguindo desgrudar os olhos de Jane. Ele não conseguia mentir para si, ele estava completamente atordoado em saber que vampiros e mais o que realmente existia, e com tudo o que Jane estava contando, medo por ele, por sua família e amigos e por ela. Mas ao olhá-la, ele sentia aquela certeza de que o mundo estava no lugar certo só pelo fato de estar ao lado de Jane. – Não importa na verdade, eu posso enfrentar seja lá quem for por nós!

—Tão corajoso e inocente! Você não tem idéia do que pode enfrentar e ver. – respondeu Jane, sentindo-se com culpa por estar envolvendo Piero ainda mais na confusão quando deveria poupá-lo. Olhando o relógio do celular, Jane soltou um palavrão. Apesar de não estar arrependida de estar com Piero, ela havia perdido tempo para achar uma maneira de resgatar Breat – Eu tenho que ir agora! Ainda tenho assuntos a resolver.

—Giusto! Eu hã... dentro de alguns dias terei alguns eventos do Il Volo pela Itália, e logo começaremos a tour nos Estados Unidos. – comentou Piero.

— Sei que você não pode deixar de fazer suas coisas. Eu vou garantir para que sua vida não mude tanto! – respondeu Jane, abraçando Piero, enquanto ele se abaixava para beijá-la.

Piero acompanhou a vampira até a porta, após ela se despedir de seus irmãos e de seus pais que estavam na sala. Apesar de insistir para que Piero ficasse em casa, o tenor insistiu em acompanhá-la até o carro. Ao avistarem o carro, porém, viram também Christopher e Sully encostados no automóvel emprestado. Enquanto Jane soltava um palavrão, ela tomava a frente para que Piero ficasse sob sua proteção.

—Então é essa a sua forma de reconhecer o campo inimigo? – indagou Christopher, olhando com deboche de Jane para Piero – Tietando?

—Vocês estão aqui desde que horas? – perguntou Jane, parando a alguns passos de Christopher e Sully, e Piero parando ao seu lado, tendo um dejavu ao olhar o vampiro com traços orientais.

—Tempo suficiente. – respondeu Sully olhando para Piero e mostrando sua face vampírica.

—Eu já sei sobre o que vocês são. Não precisa se incomodar. – retrucou Piero à ameaça de Sully.

—Ah, você sabe? Então você sabe que eu e sua preciosa invasora de ônibus somos bem mais que apenas parceiros nos negócios? – rebateu Christopher, rindo ao ver a expressão surpresa de Piero e raiva de Jane – Ops!

 -E você descobriu algo ou só me seguiu? – perguntou Jane, com uma expressão desinteressada, e sorrindo sarcasticamente para Christopher quando ele não respondeu – Claro que você não fez nada!

—Mas estou prestes a fazer. Truzzi quer sua chave em troca de Breat. Troca justa, eu levo o tenorzinho, e recupero quem realmente é leal a mim! – vociferou Christopher, mostrando suas presas para Jane e Piero, fazendo a vampira ter a mesma reação.

—Isso não se trata de lealdade, se trata do seu ego ferido por eu preferir estar com ele, um humano a você! – respondeu Jane, recuando uns passos e fazendo Piero recuar com ela. – Independe da minha lealdade ao clã!

—Você não é mais parte do clã a partir de hoje, Swan. – exclamou Christopher, enfatizando o sobrenome inventado pela vampira, fazendo-a rir, contrariando a reação que ele esperava. –Sully, pega o garoto!

“Corre para casa, Piero!”, mandou Jane, e Piero, sem pensar duas vezes, correu com todas as forças que podia, olhando para trás para ver o que aconteceria. Jane corria logo atrás, parando para interceptar Sully com uma rasteira, e um golpe que quebrou o pescoço do vampiro. Piero ficou estático ao ver que Jane matara o vampiro tão facilmente, a sangue frio, porém ao se virar quase trombou com Christopher, que prestes a mordê-lo, foi facilmente interceptado por Jane com mesmo golpe que ela usou em Sully. Vendo seu espanto, a vampira explicou que apenas os havia apagado e que eles estariam vivos novamente em breve.

—Eu explico depois, mas sua casa é o lugar mais seguro agora. Vai logo! – insistiu Jane, empurrando Piero.

—Mas e você? – perguntou Piero, sentindo-se confuso sem saber se obedecia a Jane ou se ficava com ela.

—Piero, eu já lidei com esses dois antes de você sequer estar pronto para nascer! Por favor, vai logo! – pediu Jane novamente, não segurando algumas lágrimas, e sendo beijada por Piero antes dele se virar e correr para casa.

Sem demorar mais, Jane pegou os corpos de Christopher e Sully pelos pés, e os arrastou até o carro, dirigindo de volta ao hotel.

****

Ao chegar próximo da porta de casa, Piero diminuiu o ritmo da caminhada e respirou fundo ao entrar em casa. Trancou as portas com todas as trancas, e olhou pela janela da sala para identificar algum movimento estranho. Tentando agir normalmente, passou pela mãe que preparava a comida, e parou no começo da escada ao ver sua irmã descendo arrumada para sair.

—Aonde você vai? – perguntou Piero rispidamente, surpreendendo a irmã e mãe pelo seu tom de voz.

—Não é da sua conta também! Ciao, Mamma! – se despediu Maria, mas tendo o caminho bloqueado pelo irmão – Piero! Mamma!

—Piero, que atitude é essa com sua irmã? Que aconteceu? – perguntou Eleonora, sendo ríspida também, olhando confusa e brava para o filho – Já deve ser influência daquela americana.

—Ela é não tem nada a ver, eu só...  – “Como eu vou proteger minha família disso?”, Piero então suspirou, e abraçou a irmã. – só é difícil ver minha irmãzinha tão crescida! Quer que te leve?

—Não, eu já chamei o Uber, ainda vou pegar outra amiga no caminho. – retribuindo novamente o abraço do irmão, e se despedindo da mãe, Maria Grazia saiu.

Assim que Eleonora tentou argumentar com Piero sobre sua reação, o jovem já estava se esquivando do assunto, subindo para o quarto, mentindo estar com dor de cabeça. Se trancando no quarto, Piero foi até a janela e pensou na reviravolta que sua vida deu em praticamente algumas horas com Jane e o que acontecera quando os outros dois vampiros.

—Se existe vampiro, o que raios mais existe nesse mundo... – murmurou Piero para si mesmo, fazendo o sinal da cruz e olhando para o céu. Mandou uma mensagem para Jane, pedindo que a vampira mandasse notícias assim que ela pudesse. Pegando seu notebook e sentando na cama com o aparelho no colo, começou a pesquisar sobre lenda de vampiros e formas de combatê-los. Mas como saber se tudo era verdade? Jane teria que explicar ainda muita coisa, assim como sua relação com o vampiro de traços orientais, o tal do Christopher. Piero sentia-se tolo pelo fato de Jane já estar envolvida com outro perturbá-lo mais do que o fato dela ser uma vampira. Sentindo a necessidade de desabafar com alguém, Piero olhou seus contatos, mas para quem acreditaria nele?

****

Jane havia parado o carro numa rua sem saída próxima ao hotel, onde poderia esperar que Christopher e Sully voltassem à vida após ela ter quebrado seus respectivos pescoços. Com a chave em mãos, manteve o carro trancado para se proteger o tempo que conseguisse. Estava encarando Christopher desacordado, pensando em como traria ele para o seu lado novamente, quando seu celular vibrou com a mensagem de Piero. Mandou um breve “Estou bem, tudo sob controle.” e emoticons fofos para soar mais afetiva, e logo guardou o celular quando percebeu a movimentação dos vampiros acordando.

—Finalmente! Agora podemos conversar civilizadamente! – exclamou Jane, cruzando os braços e sorrindo para Christopher e Sully que falharam em abrir a porta– Ah garotos! Trava anti-crianças. Adoro essas modernidades.

—Acha que uma merda dessas pode manter você segura de mim por muito tempo, Swan? – indagou Christopher, desistindo de abrir a porta, e só não a chutando por estar fraco ainda de sua recente morte. – Ou manter seu humano de estimação seguro?

—Hey, eu entendo que você esteja chateado comigo, Christopher, mas deixa o Piero fora disso! Você acha mesmo que seria fácil assim só entregá-lo ao Truzzi? Não é o Piero que ele quer, sou eu, nós! O Clã a mercê dele! Não é assim que vamos recuperar o Breat daquele maldito! – bravejou Jane, batendo no carro, amassando a lataria. – E o que eu faria se além do Piero, ele decidesse ficar com você também? Com o Sully?

—Como se você se importasse! A primeira coisa que você fez foi correr para o humano, Jane! – bravejou Christopher de volta, enfim chutando a porta e saindo do carro, enquanto Sully decidiu permanecer onde estava.

—Depois de ligar para meio mundo de vampiros da Europa e entender qual a influência do Truzzi por aqui! E eu fui sim até o Piero, eu estava decidida a compelir ele a me esquecer, ontem eu salvei ele de um ataque de retaliação daquele bastardo, além de prender o Breat, ele mandou um vampiro atacá-lo, o que eu poderia fazer? Só que nada saiu como eu planejei, e deu no que deu, eu meti ele ainda mais fundo nessa encrenca. – respondeu Jane, sentindo-se cansada. – Nós não podemos perder força, Chris. O Truzzi é seu inimigo, não eu.

—Não podemos contar com você, Jane. Você vai estar distraída agora. – comentou Sully, saindo do carro e parando ao lado de Christopher, que o olhou repreensivamente – Eu tenho direito de dar minha opinião já que ela quebrou meu maldito pescoço!

—Eu não vou me desculpar por isso, por nada! – respondeu Jane, olhando de Sully e então para Christopher – Eu não me arrependo de nada sobre nós dois, mas eu não esperava reencontrar o Piero, e que as coisas acontecessem dessa forma. Eu preciso dele tanto quanto eu preciso de você, Chris, nós somos melhores como cúmplices do que como inimigos.

 -Eu não quero mais nada de você, Swan, além da sua colaboração em recuperar o Breat. Após isso, nós voltamos a ser os velhos inimigos. Se você pisar no Brooklyn, eu vou caçar você e vou fazer pedaços daquele tenorzinho. – respondeu Christopher, aproximando seu rosto do de Jane, esbarrando nela ao seguir rumo ao hotel.

Sully murmurou a palavra “ciúmes” para Jane, e então seguiu Christopher para o hotel. Olhando os dois se afastarem, Jane ligou para Ivana, perguntando se havia algum viajante ou bruxa na região com quem Jane poderia se aliar e pedir alguns favores. “Em Palermo, cerca de duas horas de onde você está agora, existe uma bruxa que nos deve uns favores e é uma inimiga de Truzzi, irá te ajudar sem hesitar. Envio por mensagem o nome dela, endereço e telefone”. Após agradecer Ivana, desligar o telefonema, apoiada no carro Jane pensou o que mais poderia fazer além da viagem a Palermo. Telefonou para quem mais precisava estar naquele momento.

—Piero?

—Jane! Está tudo bem mesmo? Os outros dois... – Piero ia começar a tagarelar de nervoso, mas Jane o interrompeu “Você ainda tem um tempo livre para viajar comigo até Palermo antes de correr com a sua agenda do Il Volo? – Tenho sim! Quando?

—Amanhã de manhã passo aí para te pegar.

—Combinado!

Não voltando para o hotel, Jane apenas avisou Christopher por mensagem que viajaria até Palermo para encontrar uma bruxa indicada por Ivana que poderia ajudá-los. “Ok, cuide-se.”, respondeu o vampiro, fazendo Jane rir.


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