Através do Espelho escrita por Duda Braga


Capítulo 4
O equívoco dançante


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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— Quem é você? - Oswin perguntou novamente, o maxilar cerrado em desconfiança enquanto olhava para o homem.

Lorde Collins, o famoso Lorde Collins estava mudo. Olhava para Oswin com as órbitas azuis arregalados, os lábios finos tremiam, em um sinal de que queria dizer algo porém não conseguia pronunciar nenhuma palavra. E Isso foi a confirmação para Oswin. Ele sabia quem era ela.

 -LORDE COLLINS! - uma voz irritante soou ao que pareceu ser há dez metros de onde eles estavam.

O homem ruivo suspirou entediado, porém não desviou os olhos de Oswin. O barulho de saltos contra o granito do chão, chegou aos ouvidos dos dois. Oswin, repetindo a ação do homem ruivo, suspirou e revirou os olhos, já sabendo que se tratava da princesa.

— Princesa Ambre. - o homem se curvou para a mulher loira, quando ela chegou até eles. - Por favor, já disse para me chamar de Castiel, e nada mais. - ele disse, e por um momento Oswin pôde jurar que ouviu uma entonação de nojo na voz do homem, porém apareceu e desapareceu tão rápido que Oswin nunca soube se era real ou não.

A princesa Ambre deu um sorriso radiante, e assentiu.

— Tudo bem, Castiel. - ela disse, frisando essa última palavra.

Castiel deu mais um de seus brilhantes - e falsos - sorrisos.

— Estava agora mesmo conversando com a Senhorita... - ele olhou para Oswin, franzindo a testa, confuso quando percebeu que não sabia o nome da garota.

— Montgomery. - Oswin respondeu, com o mesmo sorriso falso que o homem exibia no rosto agora.

Castiel percebeu o sarcasmo, mas apenas sorriu e se virou para Ambre novamente.

— Estava exatamente agora, conversando com a Senhorita Montgomery sobre o baile. - ele disse, sorridente. - Está fantástico, princesa, seu pai se superou como sempre.

Ambre assentiu sorrindo, porém quando seus olhos se viraram para Oswin, ela fez uma mínima careta de nojo. Se Lorde Castiel Collins percebeu algo, não disse nada.

 Nessa mesma hora, Oswin percebeu que era a hora de ir em bora dali, e deixar o Lorde nas garras da princesa. Claramente isso não mudava a curiosidade de Oswin em saber quem era aquele homem, porém teria que aborda-lo sozinho em um lugar aonde ele estivesse sem suas admiradoras.

Viu Rosalya ao longe, descer a escadaria de mármore e entrar no salão de braços dados com um homem de cabelos negros. Aproveitou sua chance e se virou para o Lorde e a princesa que estavam entretidos em uma conversa.

— Majestade. - ela se curvou para a loira. - Lorde Collins. - se curvou novamente. - Acho que estão em boa companhia um com o outro, devo deixá-los e procurar minha amiga.

Ela se virou para ir em bora, porém uma mão forte a segurou pelo braço.

— Senhorita Montgomery. - o homem ruivo disse. - Gostaria que me desse a honra de sua primeira dança na corte. - ele disse, e Ambre que estava ao seu lado arregalou os olhos e olhou para Oswin com ódio.

 Oswin se controlou para não gargalhar. Ao invés disso sorriu educadamente e assentiu.

— Seria uma honra, Lorde Collins. - ela disse. - Mas preciso encontrar minha amiga primeiro.

O homem assentiu compreensivo.

— Entendo. - ele disse. - Esperarei e após isso, lhe chamarei.

Oswin exibiu um sorriso irônico.

— Me surpreenda senhor. - ela disse e se virou para ir em bora, porém jurou que pôde ouvir o homem gargalhar à suas costas.

***

Oswin só foi se lembrar de suas boas maneiras quando quase se chocou com as costas do homem que acompanhava Rosalya.

Após ter deixado Lorde Collins na companhia da princesa, ela fez o possível para sair dali o mais rápido que podia. Sentia seu coração disparado, suas bochechas queimavam, e seu cérebro latejava tentando entender a confusão em que havia se metido desde que havia atravessado aquele maldito espelho.

— Oswin! – Rosalya exclamou, horrorizada ao ver que sua amiga estava assustadoramente pálida. –Você está bem?

Oswin, incapaz de pronunciar uma palavra, assentiu com a cabeça freneticamente. Ainda muda, começou uma sequência exagerada de gestos com as mãos. Rosalya franziu a testa confusa, até que ela percebeu que Oswin apontava para a figura alta e ruiva de Castiel Collins.

Rosalya exibiu um sorriso maldoso.

— Vejo que conheceu o Senhor Collins. – ela disse, sua voz era arrastada e lenta, formulando um tom conspiratório junto ao sorriso malicioso em seus lábios rosados.

Oswin revirou os olhos, um gesto puramente teatral e dramático.

— Tive o desprazer. – ela resmungou, mexendo avidamente com alguns cachos que caiam de seu penteado.

Rosa estreitou os olhos, ainda desconfiada de Oswin. E o fato de seu rosto estar totalmente corado não ajudava a desfazer nenhuma impressão que a loira pudesse ter a respeito da conversa que Oswin e o Lorde haviam tido.

 Porém como uma boa amiga que era, Rosalya fingiu esquecer do assunto e se virou com um sorriso para o homem de cabelos negros que continuava parado ao lado de Rosalya, olhando de Rosa para Oswin em uma silencio respeitoso.

— Oz, quero que conheça Leigh Campbell. – ela disse animadamente, entrelaçando o braço com o do homem.

Oswin sorriu e se curvou para Leith, que apenas meneou com a cabeça educadamente. Ele era um homem atraente, e ficava claro pelo jeito que olhava para a garota dos cabelos platinados, que ele a amava. Mas Oswin não pôde deixar de se perguntar o porquê de ainda não estarem propriamente casados.

— Então você é o noivo de Rosa? – Oswin perguntou quase cinicamente

Pôde perceber pela expressão de surpresa de Rosalya, que de fato, ela havia cutucado o monstro com vara curta. Observou calmamente a expressão de Leigh Campbell se transformar lentamente de surpresa para constrangimento, e então por fim para divertimento.

— Sim. – ele respondeu calmamente, e apertou a mão da garota ao seu lado. – Sou o noivo de Rosalya.

Desta vez quem arregalou os olhos foi Oswin, um sorriso brotou de seus lábios ao ver Rosalya olhando surpresa para Leigh.

— Eu... eu sou mesmo? – ela perguntou, paralisada.

Leigh sorriu, pegou a mão direita da garota e plantou um suave beijo nas costas de sua mão.

— Deixe-me fazer um pedido formal?

Sem hesitação nenhuma Rosalya assentiu. Leigh sorriu e olhou para Oswin.

— Com licença. – ele disse para a garota. – Eu e Rosa precisamos resolver algo importante.

 Oswin ergueu uma das sobrancelhas e balançou a cabeça afirmativamente.

— Toda. – ela disse.

E como se fosse sua deixa, Leigh desapareceu no meio da multidão, puxando uma Rosalya mais do que alegre pelo braço.

Oswin suspirou, porém antes que realmente pudesse se sentir entediada ou talvez solitária, algo surgiu em seu campo de visão. Uma taça, com um conteúdo translucido verde menta e borbulhante. Oswin ergueu os olhos e flagrou o dono da mão que segurava a taça a sua frente.

Era um homem alto, os cabelos eram loiros platinados, quase cinzentos, e possuía - para o espanto e extrema admiração de Oswin – heterocromia. Um dos olhos era azul como o céu em dia de primavera, e o outro era amarelado como o de um gato, um âmbar quase ouro.

O homem sorriu para ela, e aproximou mais a taça de seu rosto para que ela pudesse pegá-la. Oswin pegou o objeto - que tilintou em contato com seus anéis – e examinou o conteúdo de um verde claro, quase transparente com certa desconfiança. Levou a taça perto do nariz e inalou o aroma do liquido. Ele cheirava a álcool, bala de menta e orvalho.

— Isso vai me transformar em um sapo? – Oswin olhou para o homem de olhos bicolores, com uma digna curiosidade.

O homem gargalhou. Oswin não pôde deixar de observar que ele possuía uma única covinha do lado esquerdo do rosto.

— Por que eu faria isso? – ele perguntou, ainda se recuperando do acesso de risos.

Oswin deu de ombros despreocupadamente, querendo desesperadamente disfarçar sua curiosidade a respeito do homem.

— Não sei, apenas conheci coisas estranhas desde que cheguei aqui. – ela disse, constatando no fundo de sua mente que era realmente verdade. – Durmo em um quarto que parece estar no espaço, e conheci um garoto elfo de cabelos azuis.

O homem arqueou as sobrancelhas e riu novamente.

— Ah não! – ele disse, abanando as mãos. – Alexy apenas diz isso para atrair clientes, ele é tão humano quando nós. – ele disse, e então seus olhos de cores diferentes brilharam, pensando em algo. – Acredito que se ele fosse algum ser mágico, Rei Francis não o deixaria vivo... sim, ele com certeza já teria o matado há tempos.

Oswin arregalou os olhos. E o homem percebendo seu sobressalto, logo tratou de mudar de assunto.

— Acredito que ainda não me apresentei. – ele disse, e se curvou em uma profunda reverencia. – Me chamo Lysandre Campbell, senhorita.

Oswin se curvou para o homem também. Estava seriamente ficando cansada de se curvar para cada maldita pessoa que passava por ela.

— Oswin Montgomery. – ela se apresentou.

Lysandre sorriu mais uma vez.

— Eu sei. – ele disse, e Oswin ergueu uma sobrancelha. – Castiel me disse sobre você. – ele refletiu. – Devo dizer que ele está ansioso para dançar com você.

Oswin revirou os olhos e resmungou algo sobre “estar ferrada” e “odiar homens” baixinho.

— Não olhe agora. – Lysandre disse, em um tom de voz baixa. – Mas o maldito está te encarando fixamente. – ele disse, e suspirou pesadamente, como se reprovasse a atitude do amigo. – Castiel não é nada vitoriano quando se trata de um rabo de saia. – ele negou com a cabeça, se lamentando.

Oswin bufou impacientemente. Era verdade, ela percebera que o homem ruivo estava a olhando desde que chegara para conversar com Rosalya. Sentia seu olhar queimando suas costas, nuas pelo modelo do vestido, sentia-se cada vez mais desconfortável com isso. Pretendia ignorar, porém não estava obtendo êxito em sua tarefa.

Se virou lentamente para olhar na direção que Lysandre falara, porém Lorde Collins não estava mais no lugar que estava à momentos atrás. O homem vinha na direção deles, desviando habilmente de casais que dançavam e garçons com torres de taças de champanhe em bandejas. Ao contrário de suas costas, o que ardia sob o olhar azul do homem agora era todo seu corpo. Dos mais unidos fios de cabelo em sua cabeça, até os dedos dos pés apertados nos sapatos de classe.

Oswin estremeceu involuntariamente dos pés à cabeça, e se sentiu sem ar. Cambaleou um pouco para frente, e foi segurada a tempo por Lysandre, que a segurou pelos braços antes que mais alguém do baile percebesse que havia algo errado com ela.

— Você está bem? – ele perguntou à seu ouvido, a respiração do homem fazia cócegas em sua nuca.

Oswin se livrou dos braços do homem e ficou de pé com o máximo de dignidade que conseguiu reunir. Olhou para a taça intocada que ainda segurava e virou todo o liquido de uma vez, garganta a baixo. Sentiu-se tonta novamente por alguns segundos, porém a tontura rapidamente passou e deu lugar a uma repentina coragem.

Lysandre revirou os olhos e foi em direção a Castiel Collins. Ele o parou à cinco metros da garota. O homem ruivo olhou em direção à ela por um segundo, mas depois retornou sua atenção para Lysandre. Os dois permaneceram assim, conversando um com um outro, numa distância segura para que não tivesse o perigo de Oswin ouvir.

Por fim os dois se viraram, como se nada tivesse acontecido, e caminharam até ela. Castiel se curvou elegantemente para ela, Oswin não retribuiu a delicadeza.

O homem ruivo pareceu se divertir com o mal humor da garota, e apenas estendeu a mão para ela.

— Me daria a honra dessa dança? – ele perguntou.

Oswin não respondeu, apenas ergueu o queixo e aceitou a mão de Castiel e ele a conduziu para onde os outros casais já aguardavam em formação, para que os músicos começassem a próxima música do repertorio.

Dançar não era tão difícil quanto as donzelas retardadas dos filmes faziam parecer ser. Não era fácil como respirar, porém também não era um bicho de sete cabeças. E apesar de ter pisado no pé de seu parceiro de dança cerca de três vezes, após alguns momentos, eles conseguiram estabelecer um ritmo confortável e fácil na dança. Ágeis e leves como se estivessem flutuando, assim como os outros casais ali.

— Lysandre disse que você tem medo de mim. – ele disse, calmamente e Oswin arregalou os olhos ao ouvir sua voz. – É verdade?

Oswin suspirou impacientemente. Já estava quase derretendo de curiosidade de saber quem exatamente quem ele era. Não se deu ao luxo de ter outra vertigem, não agora. Queria saber quem ele era.

— Quem é você, afinal? – ela perguntou, impacientemente.

Castiel a pegou pela mão e a fez girar em um rodopio belamente coreografado. As saias leves e escarlates da garota flutuaram a redor dos dois como um redemoinho. Finalmente ele a puxou de volta para ele, desta vez de costas. As costas da garota se chocaram contra o peito musculoso do homem, fazendo com que ela soltasse um ruído de surpresa.

— Pelo que estou sentindo por cima desse vestido. – ele disse ironicamente, sua voz soando terrivelmente alta ao ouvido da garota. – Seu traseiro deve ser realmente muito bonito.

Oswin abriu a boca indignada, se virou abruptamente para o homem e levantou a mão para lhe dar um tapa no rosto. Porém ele foi mais rápido e pegou sua mão no ar, a girando novamente, depois a pegando pela cintura e a levantando no ar.

Eles ouviram exclamações de admiração dos telespectadores, e isso fez com que Oswin cerrasse o maxilar com raiva.

— Quem é você? – ela perguntou novamente, com raiva, quando ele a colocou de volta no chão.

Castiel aproximou o rosto do dela, a examinando atentamente.

— Você não respondeu à minha pergunta. – ele disse serenamente.

Oswin revirou os olhos, desistindo de argumentar.

— Qual pergunta?

— É verdade? – Castiel perguntou. – Que você tem medo de mim?

Oswin soltou um som estrangulado da garganta, uma simulação de um riso irônico, e olhou para o homem, parecendo genuinamente incrédula com que ele havia acabado de perguntar a ela.

— É bem difícil não ter medo de alguém que te derrubou de um cavalo, e te deixou inconsciente em uma estrada deserta para morrer. – ela disse, sua voz transbordando sarcasmo.

Castiel ergueu as sobrancelhas ruivas.

— Você arrancou o capuz do meu rosto! – ele disse, indignado.

—  Isso não é um pretexto para jogar alguém de um cavalo! – ela reclamou.

Castiel assentiu, tendo a decência de parecer envergonhado por seu ato de selvageria na estrada dias atrás. Ele arrancou uma adaga da bainha de sua cintura, e se abaixou ficando ajoelhado de frente para a garota. Segurou a adaga com ambas as mãos e estendeu o objeto pontiagudo para ela, acima de sua cabeça.

A essa altura, todos do baile já haviam parado para observar o que um homem gigante, musculoso e ruivo estava fazendo ajoelhado no meio da pista de dança. Oswin olhou da multidão para Castiel, envergonhada por ser o centro das atenções.

— Levante-se já! – ela sussurrou, em um tom suplicante.

Mas ele não o fez.

— Senhorita Montgomery. – ele disse, em alto e bom som. – Juro pela minha honra, e a honra que minha família carrega nesse reino, que não irei machuca-la de nenhuma maneira. – ele continuou, olhando para ela, absorto em sua citação. – E se um dia, por um acaso eu quebrar esse juramento, peço que me mate com essa mesma lâmina.

Ele abaixou a cabeça e deu um leve beijo na lâmina da faca, e a estendeu de volta para Oswin, para que ela fizesse o mesmo.

Vendo que não tinha outra opção, Oswin se ajoelhou de frente para ele, seu vestido se transformava em um mar vermelho vivo à medida que se esparramava pelo chão. Oswin pegou a adaga das mãos do homem, e o olhou com raiva e incredulidade.

— Eu devia enfiar isso na sua garganta. – ela sussurrou rispidamente.

Castiel esboçou um meio sorriso, porém não disse nada.

Oswin abaixou a cabeça, e encostou os lábios na lâmina. Ela estava fria ao toque da pele delicada de seus lábios, sentiu uma corrente elétrica percorrendo seu corpo. Era como se algo a dissesse que aquilo era importante, antigo e mágico. Agora ela e o homem que estava à sua frente partilhavam algo, um juramento de vida um com outro.

Aquele pensamento em particular a assustou, e ela se afastou da lâmina, que estava marcada com seu batom vermelho, e a entregou de volta para Castiel. Sua respiração se acelerou, e ela arriscou um olhar para o homem. Percebeu que ele a encarava seriamente agora, sem nenhum resquício de sarcasmo em seu olhar.

Ele a ajudou a se levantar. E as pessoas explodiram em aplausos, maravilhadas com o show que haviam acabado de ter. Um show, era isso o que eles viam, apenas um show. Nada de importante.

— É o suficiente para você? - Castiel perguntou, o olhar azulado a perfurava como a faca que havia acabado de segurar.

— Por que você fez isso? - ela perguntou, sua voz soava baixa e frágil.

Castiel a encarou de cima a baixo. Principalmente seu rosto, encarou tão minuciosamente seu rosto que poderia até mesmo ver algumas sardas despontando por baixo da maquiagem que ela usava.

— Eu não sei. - ele confessou, despreocupadamente.

Oswin franziu o cenho.

— Foi um showzinho, um espetáculo para entreter os convidados. - ela concluiu reflexiva.

Castiel piscou, parecendo confuso.

— Não para mim. - ele disse por fim.

Pegou uma das mãos da garota, e os dois saíram de braços dados da pista de dança. A multidão de pessoas que assistira ao show oferecido por eles a poucos momentos atrás, já havia se dissipado, então eles podiam andar mais tranquilamente.

— Quantos anos você tem? - Oswin perguntou repentinamente para o homem. Se não podia obter o que queria com perguntas diretas, iria arrancar informações dele por meio de perguntas triviais. - Quero dizer... você parece ser novo para ser um Lorde com tanta importância que tem.

Castiel exibiu um sorriso.

— Tenho 27 anos. - ele respondeu. - Tinha 9 anos quando meu pai morreu, e minha mãe é muito doente para cuidar de tudo, então... aqui estou eu, honrando o nome da família.

Oswin baixou os olhos. Ela sabia como ninguém como era horrível perder os pais.

— Sinto muito. - ela murmurou.

Mas Castiel apenas assentiu vagamente, parecendo distraído com outra coisa.

— E você? - ele perguntou. - Quantos anos você tem?

Oswin franziu a testa, desconfiada.

— Que tipo de pergunta é essa? - ela perguntou.

— Quantos anos você tem? - ele repetiu, ignorando a pergunta da garota.

Oswin revirou os olhos.

— O que você vai ganhar sabendo minha idade? - ela perguntou.

— Ah! - ele disse. - Eu apenas queria ter certeza que não estaria cometendo pedofilia se fizesse o que quero fazer com você.

Oswin piscou lentamente, absorvendo as palavras, e não as entendendo.

— 18. - ela disse, lentamente. - O que você quer fazer comigo?

Um sorriso puramente malicioso se abriu no rosto do homem. Ele aproximou o rosto do dela, a deixando inquieta.

— Use sua imaginação. - ele sussurrou.

O homem se afastou dela, se curvou novamente e foi para o outro lado do salão, por onde desapareceu por uma das enormes portas de madeira.

Oswin suspirou e se sentou em uma das muitas cadeiras dispostas ali perto da parede. Aquela última frase do homem, a havia feito se arrepiar dos pés à cabeça, mesmo que não fosse capaz de admitir nem em um milhão de ano, aquele maldito estava a tirando dos eixos, fazendo com que ela se sentisse estranha.

— Sua vadia. - escutou a voz irritante mais uma vez e levantou os olhos para ver a princesa Ambre se aproximar dela a passos largos.

Oswin se levantou desanimadamente e se curvou para ela quando a loira chegou.

— Majestade. - ela disse calmamente.

Ambre soltou um grito de frustração que atraiu a atenção de muitas pessoas. Levantou a mão e sentou um tapa com toda força no rosto de Oswin.

— Você não é nada. - ela disse, colocando o rosto na frente do de Oswin. - Eu sou a princesa daqui e mando em tudo! Em tudo! Portanto fique longe dele! Você ouviu?

Oswin a olhou incrédula. Sua bochecha ficara dormente, ela colocou a mão, massageando o local dolorido. Seus olhos faiscaram de raiva, queria avançar nela e arrancar até o outro fio de cabelo loiro de sua cabeça. Mas Ambre tinha razão, ela era a princesa, e atacar uma autoridade como ela era pedir para morrer.

Oswin pegou tudo o que sobrara de sua dignidade em frangalhos, juntou as saias nas mãos e saiu correndo daquele lugar, sob os olhares espantados das pessoas.

Correu cegamente pelos corredores do palácio. Não fazia ideia de para onde estava indo, nem se importava. Queria gritar, gritar muito até perder as cordas vocais. Queria socar algo, socar algo que se parecesse com a princesa.

Entrou na primeira porta que conseguiu visualizar no meio de sua névoa de ódio. Era uma sala de visitas. Com poltronas de couro e peles de animais felpudos nos encostos. Uma tapeçaria bonita e estampada se estendia no chão entre as poltronas e a lareira acesa. Acima de lareira possuía um espelho.

Olhou para seu reflexo e percebeu que haviam trilhas escuras por suas bochechas aonde as lágrimas haviam escorrido. Se sentiu mais furiosa ainda. Levou as mãos aos cabelos e começou a desmanchar o coque em puxões violentos e raivosos.

Não aguentou mais, viu pelo reflexo quando as veias de seu pescoço e rosto brilharam em um azul intenso. Seus olhos faiscaram em um azul, e ela gritou. Não de dor, mas de raiva.

Parou de gritar abruptamente. As lâmpadas a gás nas paredes explodiram de repente, em uma sequência melódica de caos. Oswin olhou para frente, para o espelho. Ele havia se trincado.

Arregalou os olhos e se jogou no chão no exato momento em que o espelho explodiu em milhares de cacos, inundando toda a sala com os estilhaços mortais.

Oswin ergueu a cabeça lentamente, se ajoelhando no chão. Pegou um caco de vidro do espelho e olhou seu reflexo. As veias azuis brilhantes já começavam a sumir de seu rosto. Olhou para seus braços, as veias serpenteavam por eles também. Dos braços, passando pelas mãos e indo até as pontas dos dedos e então sumiam lentamente.

Oswin passou as mãos pelo rosto freneticamente. Lágrimas escorriam pelo seu rosto, não de raiva, mas de medo.

— O que está acontecendo comigo? - ela sussurrou enquanto se encolhia em posição fetal no mar de cacos de vidro.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Comentem e favoritem!
Até o próximo!



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