— Duas semanas? Ano passado foram duas também?

— Não, esse ano meu pai conseguiu uma folga maior. Quando eu voltar a gente se vê!

— Ok...

Quando eu já tinha feito de tudo que poderia sozinho o calendário ainda mostrava que faltava uma semana pra ele voltar. Tudo correu devagar demais antes de Will retornar.

— Eae Nico, se sente como se tivesse passado muito tempo também? Sentiu a minha falta?

— Na verdade não.

— Sabia! Bom, que seja, vamos nadar?

Eu só conseguia pensar no que era aquele sentimento, era como se o céu estivesse mais azul do que o normal.

***---***

Estava na sala de aula esperando o intervalo acabar quando me avisaram que tinha alguém do lado de fora me esperando.

— Hey, vim devolver isso. – Will disse me cumprimentando e entregando o dicionário que tinha lhe emprestado no começo do dia. – Valeu. Eu quase esqueci que tinha que trazer na verdade, já que estamos em salas diferentes agora você não pode simplesmente me deixar dar uma olhada quando eu precisar.

Peguei o dicionário sem saber o que responder.

— Pois é.

— É um tema estranho para a gente falar né? Como é sua classe? Se acostumou a ela? Provavelmente é meio tarde pra perguntar sobre isso. – Will me interrogou apoiado na parede com seu costumeiro sorriso leve desenhado nos lábios.

— Todos são bem barulhentos, mas tem uns caras legais. É divertido. – Respondi.

— E tem a sua namorada. – Will sussurrou no meu ouvido piscando em seguida. Senti um calafrio descer a espinha. – Bom, eu vou indo. Te pedirei emprestador outra vez se esquecer.

— Está bem, mas não esqueça. – Falei vendo-o se afastar.

— Esse era o Will Solace não? – Assim que voltei para a sala o menino que tinha vindo me chamar perguntou.  – Ouvi dizer que estudaram sempre juntos, é verdade?

— Sim, sempre as mesmas escolas e mesmas salas.

— Uau, são muito próximos então.

— Dizem isso bastante. – Ri.

— Como ele é? Vocês não se parecem muito. – Riu também.

— Como ele é? Acho que falador, sem dúvidas. Foi a minha primeira impressão, ele fala pelos cotovelos. Também é incrivelmente relaxado, mas sempre me escuta. Ele faz amigos muito rápido também. Como eu não saio muito Will me leva por ai com ele. Ainda que não pareça já o vi ficar bem irritado. É fácil ser você mesmo com ele, ele um cara reconfortante sabe? – Quando terminei de falar notei que o menino parecia impressionado. – Que?

— Nada. Só que é raro que você fale tanto. Vocês são muito bons amigos.

— Somos normais. – Falei desviando o olhar.

— Está ficando envergonhado? – Perguntou procurando me encarar.

— Não.

— Sério? Eu senti como se você estivesse se gabando dele, vai deixar sua namorada com ciúmes. – Ele riu.

O professor entrou na sala logo em seguida, me salvando, e cada um foi para seu lugar de forma que eu não precisasse dizer nada diante de sua ultima declaração.

***---***

— Eeei!

— Nicooo!

— Porque estão todos reunidos aqui? – Perguntei me aproximando dos três que estavam me chamando.

— Só estávamos falando de você. – Will respondeu.

— De mim? – Indaguei novamente.

— Eu já disse para eles, mas como continuam muito barulhentos sobre isso, é melhor que perguntem vocês mesmos. – Will falou indicando os outros dois.

— Você tem uma namorada Nico? – Percy perguntou me encarando com os olhos semicerrados. – Eu os vi ontem.

— Sim, eu acho. – Respondi desconcertado.

— Eu não estou com ciúmes, definitivamente não estou com ciúmes. – Jason começou a fazer drama com uma cara nada amistosa.

— Boa cara, felicidades. – Percy desejou.

— Morra. – Jason desejou.

— Sinceramente, não sei como reagir a isso. – Falei e todos riram.

— Então você está mesmo interessado em alguém... – Percy comentou. – O que isso significa? Pensei que só se interessava pelo Will.

Imediatamente escondi o rosto com uma súbita vergonha.

— O que foi isso? – Jason perguntou divertido e notei que Will tinha reagido da mesma forma que eu. – Vamos lá, você sabe o que fazer nessa situação não Will?

Fiquei perdido no que aquilo poderia significar e quando vi o braço de Will estava me abraçando por trás e ele sussurrava “Não pode ser eu?”.

— Abraço por trás? Essa é muito antiga não? – Percy provocou.

— Não reclame. – Ele resmungou e sua respiração bateu no meu pescoço me arrepiando.

— Tire suas mãos. – Sussurrei com a voz entrecortada.

— Ah? Desculpa. – Will disse confuso me soltando.

Virei-me para ir embora sem dizer nada e ouvi Percy perguntar onde eu estava indo.

— Vou ao banheiro e então voltar pra sala. – Acenei com a mão e continuei em frente.

Isso era algo que nós sempre fazíamos, então porque eu estava tão nervoso? Se acalme Nico, nada mudou.

***---***

Estava sentado em uma cafeteria com minha namorada para onde tínhamos ido logo depois da escola, mas a única coisa em que conseguia pensar era no que Will tinha dito quando avisei que não iria ir com ele hoje.

“Vai com ela? Então não ficarei no caminho. Cuidado para não ser chutado em!” O sorriso que mostrou quando o disse parecia normal, mas seu olhar estava apagado.

— Oe, está me escutando? – Ela interrompeu meus pensamentos.

— O que? – Resmunguei perdido. – O que estava falando?

— Você realmente não estava prestando atenção em.

— Desculpa. – Pedi.

— Você gosta de estar comigo? – Perguntou. Sem entender direito confirmei com a cabeça. – Você sente que quer mesmo ficar comigo?

***---***

A escola de noite era definitivamente assustadora. Eu tinha voltado para pegar o livro do teste de amanhã e tinha sorte de que ali ainda estava aberto. A sala estava vazia e não foi difícil acha-lo de baixo da mesa do professor onde costumavam colocar as coisas esquecidas para que pegássemos no dia seguinte.

Quando estava com o livro em mãos ouvi o barulho estranho da porta rangendo e a encarei assustado. Ouvi um grito da pessoa que estava entrando e percebi que a reconhecia.

— Will?

— Nico? É você? Caraca, não me assuste desse jeito.

— Digo o mesmo. – Revirei os olhos ainda com o coração disparado.

— O que faz aqui? – Perguntou se aproximando de onde eu estava.

— Tinha esquecido então vim buscar. – Mostrei o livro. – E você?

— Eu nem sai ainda. Fui entregar um negócio nas salas dos professores e eles me pegaram pra ajudar a organizar o monte de papeladas que eles tinham. Acabei de ser liberado.

— Ótimo, vamos junto então. – Falei aliviado.

— Isso é medo? – Perguntou zombeteiro.

Mostrei o dedo do meio e fui me aproximar para ir em direção a porta quando tropecei no pé da mesa, que eu não vi que estava ali, e cai me apoiando em Will que perdeu o equilíbrio  e acabou indo junto comigo.

Bati as costas na parede e a usei para me apoiar de forma a me endireitar. Quando abri os olhos a escuridão não me permitia ver nada, só distinguir um vulto perto. Muito perto. Quando me acostumei a ela Will estava ali, na minha frente parecendo preocupado e envergonhado.

— Desculpa, eu tropecei na mesa. – Falei nervoso.

Lá estávamos nós de novo.

Ele continuou me encarando e então aproximou a mão direita da minha cabeça e eu instintivamente me esquivei. Ele parou no meio da frase “sua cabeça está b...?” e me encarou com o que pareceu mágoa, mas era difícil distinguir na escuridão.

— Você percebeu não é? – Perguntou com a voz cansada. Não respondi.  – Diga algo. Foi agora? Ou antes?

— Will...

— Você fingiu que não notou mesmo sabendo de tudo? Se divertiu vendo minhas reações?

— Não foi...

Eu não conseguia responder porque não sabia dizer quando foi que no fundo eu já tinha percebido...

— Isso significa que todos os meus esforços foram em vão ah? – Queria dizer algo, mas estava paralisado. Ele apoiou a cabeça no meu ombro. – Que raios. – Resmungou e levantou caminhando em direção a porta de costas para mim. – Suponho que não deveria ter me apaixonado por você, mas não se preocupe não vou me envolver com você mais do que o necessário.

Will virou-se para me dar um sorriso dolorido e sussurrou um “desculpe” saindo e me abandonando ainda sentado no chão gelado da escola.

A pergunta da minha namorada voltou a minha cabeça “Você sente que quer mesmo ficar comigo?”.

A verdade era que eu tinha escolhido aquela escola por capricho. Não tinha nenhuma para a qual eu queria ir e eu não me imaginava indo para uma diferente. Nós sempre fomos os mesmo de sempre, quando foi que ele começou a ver as coisas de outro jeito?

Quando foi?